Cerca de quarenta dirigentes de todo o país participam neste sábado (19) da reunião do Fórum de Movimentos Sociais do PCdoB. Presidido pelo presidente do partido, Renato Rabelo, o fórum é uma instância criada com o objetivo de intensificar o debate entre os dirigentes comunistas que atuam diretamente nos movimentos para orientar a ação dos militantes.
Luana Bonone
A mesa do Fórum de Movimentos Sociais do PCdoB foi composta por Renato Rabelo, Lúcia Stumpf e o presidente da CTB, Wagner Gomes.
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Renato Rabelo fez a abertura da primeira reunião do Fórum de Movimentos Sociais do PCdoB com uma rica análise de conjuntura, na qual apresentou a leitura do partido acerca do contexto internacional e também das atuais condições da luta política no Brasil.A linha de sua intervenção, fundamentada na resolução da Comissão Política Nacional de 18 de fevereiro, ressaltou o momento de instabilidade internacional causada pela crise sistêmica do capitalismo, que teve o seu epicentro nos países centrais, e destacou o surgimento de potências médias na periferia do sistema, as quais passam a adquirir papel importante no cenário mundial. O exemplo citado foi a China, que “começa a rivalizar com a superpotência mundial, os Estados Unidos”, nas palavras de Renato. Para o presidente do PCdoB, o fortalecimento das relações sul-sul tem norteado as ações do governo Dilma Rousseff, embora veículos de comunicação tentem fazer parecer o contrário.
Renato Rabelo: "movimentos sociais têm que construir uma plataforma comum, um movimento único, e a CMS é um passo para isso". |
Sobre o governo Dilma, Renato considera que é muito cedo para se ter uma opinião assertiva. Na sua avaliação, entretanto, a política de ajuste fiscal e “racionalidade dos gastos” que vem sendo adotada neste início de governo segue uma lógica de concepção monetarista de desenvolvimento. “Por que não faz parte do arrocho fiscal essa verba utilizada para pagar juros? Trata-se de uma decisão política”, afirmou Renato, para em seguida defender: “manter essa linha, transfere renda em grande volume para um punhado, que são os rentistas, enquanto a grande maioria perde essa renda, que poderia ir para a produção. Assim, a lógica neoliberal permanece”.
O PCdoB defende uma linha desenvolvimentista, com centro em taxas de investimento crescentes, a fim de conquistar índices médios de 6% a 7% de crescimento anual do PIB. Além de defender o investimento voltado à produção, o presidente do PCdoB pautou a importância das reformas estruturais democráticas, como a política, a tributária, a agrária, a da educação, a da saúde e a urbana.
Caráter revolucionário
Por fim, Renato Rabelo reafirmou o caráter revolucionário da atuação do partido e falou brevemente sobre a tática de acumulação de forças e acerca da atualidade do Programa do PCdoB, que estabelece três frentes de disputa política: institucional, movimentos sociais e luta de ideias, “que devem ser intimamente articuladas, estando uma a serviço da outra”. A partir deste fundamento, Renato elencou as principais tarefas atuais do PCdoB, listadas na resolução da comissão política de 28 de janeiro. Entre as tarefas, ele falou da absorção de lideranças populares para o partido, citando Netinho de Paula como exemplo. "A gente debate com ele a linha do partido e quando ele fala o povo ouve", contou.
Para Renato, “o movimento popular é a força motriz que transforma”. Entretanto, ele acredita que os movimentos sociais só terão condições de influenciar na política nacional e pressionar o governo se conseguirem unificar as suas bandeiras e a sua agenda política. Para tanto, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e o Fórum das Centrais Sindicais foram pautados como importantes instrumentos e a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) foi citada como exemplo de unidade.
Para Lúcia, Fórum de Movimentos Sociais deve constituir também instâncias estaduais. |
Após a intervenção de Renato Rabelo, a secretária de movimentos sociais do PCdoB, Lúcia Stumpf, também realizou sua intervenção, demarcando o campo dos movimentos sociais em que o partido atua como aquele que “luta pela vitória do governo”. No entanto, Lúcia fez questão de qualificar o que representa a vitória do governo Dilma na concepção dos comunistas: “a vitória do governo Dilma só se dará pela implementação do projeto de transformação para o qual foi eleito. Para isso, precisa vencer a atual política macroeconômica, que já teve o seu ciclo esgotado no Brasil, e fazer as reformas democráticas que pautamos desde o início do primeiro governo Lula”.
A secretária de movimentos sociais avalia que a responsabilidade dos movimentos sociais em pressionar pelas mudanças é maior do que em outros momentos, visto que os primeiros sinais do governo não são positivos; mas ponderou, assim como Renato, que “é cedo para dizer se esta será a lógica do governo Dilma ou se tais medidas serão a marca apenas do início do governo”.
Aumentar tom do discurso e intensidade das mobilizações
A consequência de tal avaliação, orienta Lúcia, é que os movimentos sociais e populares devem “aumentar o tom do discurso e a intensidade das mobilizações em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento com distribuição de renda e reformas democráticas”.
Lúcia acredita que o movimento social brasileiro tem uma formulação unitária “como em raros momentos”. Reafirmando a importância da autonomia e independência das entidades, ela convocou os militantes à participação na assembléia da CMS marcada para 25 de fevereiro e pautou algumas tarefas da militância, definidas no 3º Encontro Nacional de Movimentos Sociais do partido, realizado em março de 2010: fortalecer a CMS; fortalecer o Fórum das Centrais em atuação conjunta com a CMS; participar das conferências e conselhos nacionais e fortalecer as entidades dos movimentos sociais em que o PCdoB atua.
De São Paulo, Luana Bonone
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