Por que o salário mínimo é pauta exclusiva das centrais sindicais?
Encerrado o mês de janeiro, prossegue a indefinição sobre o valor do salário mínimo de 2011. Fevereiro se inicia com poucas chances de acordo entre as centrais sindicais e o governo federal. Diante desse cenário, não custa nada perguntar: por que tal assunto só vem à tona por iniciativa do movimento de trabalhadores do país?
Antes que as centrais sindicais se tornem a Geni dessa história, algumas perguntas precisam ser feitas. Onde estão os formadores de opinião progressistas do país neste momento? Eles concordam com o reajuste miserável proposto pelo governo? Discordam da importância que a política de valorização do salário mínimo teve para o reaquecimento de nossa economia em meio à recente crise? Por que não se manifestam a respeito?
OK, as entidades que fazem parte da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) recentemente se reuniram e deram seu apoio ao mínimo de R$ 580,00 e à correção da tabela do Imposto de Renda. No entanto, isso é pouco e nada além daquilo que se esperava delas. É preciso mais do que isso neste mês de fevereiro. Estudantes, jornalistas, líderes dos mais diferentes setores da sociedade e parlamentares precisam entrar nesse debate, expor seus pontos de vista e argumentar sobre um assunto que não pode ser decidido exclusivamente pelas centrais sindicais e pela equipe econômica da presidenta Dilma.
Em comunicação há uma teoria chamada “espiral do silêncio”. De forma resumida, é um estudo sobre a tendência de acompanhar a opinião dominante sobre determinado assunto. Aparentemente, esse fenômeno está ocorrendo no Brasil. Alguns “experts” atestaram a necessidade do controle de gastos do governo, a obrigação de se cortar o Orçamento de 2011 e alertaram para o risco da inflação dominar o país. Assim sendo, seria impossível conceder um reajuste maior para o salário mínimo.
Um detalhe importante é preciso ficar claro nessa discussão. Ao contrário do que tenta disseminar parte da imprensa tradicional, não se trata de bater de frente com o novo governo – e muito menos de fazer o jogo aproveitador da oposição, que só fala em aumentar a renda do trabalhador para sair bem na foto. A questão é clara: é preciso tão-somente discutir, de modo responsável, sobre um tema que influencia diretamente a vida de quase 50 milhões de brasileiros, sejam aposentados ou trabalhadores da ativa.
Demonstrar unidade contra Serra e os demais tucanos, contra a chamada mídia golpista, contra o imperialismo e outros inimigos do desenvolvimento brasileiro é tarefa para a qual não faltam voluntários. Isso ficou para trás, já tivemos êxito na eleição mais importante. É preciso, agora, vencer o debate junto à equipe econômica do novo governo, com argumentos sólidos e maturidade, de modo que a mesma unidade demonstrada em outros momentos seja repetida, desta vez em nome da classe trabalhadora, do desenvolvimento e da economia do país.
Fernando Damasceno é subeditor do Portal CTB.
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