Luta antiimperialista e contra o colonialismo, diáspora negra e combate ao racismo, construção de um novo mundo possível a partir da perspectiva socialista e consolidação do Fórum Social Mundial (FSM) enquanto espaço de articulação dos movimentos e construção de lutas de alcance global. Segundo a secretária de movimentos sociais do PCdoB, Lúcia Stumpf, essas são as pautas sobre as quais o partido leva as suas opiniões ao FSM 2011, que ocorre entre 6 e 11 de fevereiro em Dacar (Senegal).
Com DNA anti-neoliberal, o FSM já permite até mesmo um debate aberto sobre a perspectiva socialista, o que não acontecia há dez anos, avalia Lúcia: “o Fórum surgiu em um momento em que era necessário se contrapor ao neoliberalismo, então ele nasceu para se contrapor ao Fórum de Davos e ainda tem essa perspectiva. É um Fórum que se contrapõe ao neoliberalismo, dizendo que o neoliberalismo não é o caminho dos avanços sociais, e hoje tem condições de aprofundar ainda mais esse debate. Hoje o Fórum permite, o que há 10 anos atrás, nas primeiras edições, não permitia, essa perspectiva de apontar uma alternativa de rumo, como a alternativa socialista”. Ao fazer essa análise, Lúcia lembra que o FSM permanece sendo um espaço heterogêneo e com diversas visões, não se trata de um fórum de defesa do socialismo, mas reforça que este debate é feito de forma mais clara e com mais força, após 10 anos de realização do FSM.
De volta à África
Como é a segunda vez que o encontro acontece na África, os debates e ações se voltarão também a questões mais específicas do continente, “como não poderia deixar de ser”, diz Lúcia. O primeiro FSM realizado na África ocorreu no Quênia, em 2007, momento em que temas como Aids, migrações e guerras no continente apareceram com bastante força. Neste ano, dois temas relacionados ao continente africano devem assumir protagonismo: descolonização e diáspora africana.
A delegação brasileira, que já foi anfitriã diversas vezes do FSM e geralmente tem uma participação expressiva em suas edições, pretende promover um importante debate sobre combate ao racismo a partir da compreensão do que foi a diáspora negra. “Foi da ilha de Goré, no Senegal, que saiu grande parte dos navios negreiros que trouxeram escravos para o Brasil, então a gente tem uma ligação muito forte com o povo do Senegal”, destaca Lúcia. A diáspora africana (ou negra) é o nome que se dá à dispersão dos povos africanos pelo mundo por conta do processo de escravidão implementado por séculos.
Outro ponto muito forte em relação à luta dos povos africanos é a libertação de uma colonização ainda hoje promovida por países ricos: “o Fórum com certeza vai discutir a questão da descolonização daquele continente, que ainda sofre com governos e com uma influência direta muito grande, principalmente da Europa”, avalia a secretária, agregando que as recentes revoltas ocorridas na Tunísia e no Egito serão um elemento novo neste debate.
Tunísia e Egito
Lúcia Stumpf considera o caráter das revoltas em curso no Oriente Médio muito próximo à concepção de movimento que deu origem ao Fórum: “acho que são revoltas que trazem de volta e que reascendem o objetivo do Fórum, que é a possibilidade de mobilizações populares transformarem a realidade política dos espaços onde acontece; a possibilidade do povo, quando se une, quando se revolta, quando sai às ruas, ter essa perspectiva de alterar a realidade, de construir uma alternativa na busca da democracia, na busca de resultados mais positivos diante de governos muitas vezes ditatoriais, governos tiranos que vêm sendo depostos”.
A secretária valorizou também o fortalecimento das relações sul-sul e acredita que este será também um tema importante, reforçado inclusive pela delegação do governo brasileiro que estará presente ao Fórum. “O governo federal atual estará representado por ao menos quatro ministros, dirigidos pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Além disso, Lula fará a sua primeira aparição como ex-presidente em uma atividade do movimento social durante o Fórum, em um debate que vai discutir a busca de soluções, de saídas para a questão da miséria e da fome no mundo”, conta Lúcia.
O destaque brasileiro na programação do FSM deverá girar em torno da presença do ex-presidente Lula, que promete fazer no FSM sua estreia em eventos do movimento social fora da presidência. Está prevista a sua participação em uma mesa que debaterá as estratégias da luta contra a miséria e a fome no eixo sul-sul, fortalecendo assim a pauta que deverá ser o centro de atuação também dos ministros do governo Dilma.
As disputas do Fórum
Além das questões mais convergentes, instigadas pela própria experiência e história do continente africano, o FSM 2011 será palco também de algumas disputas, notadamente uma sobre a visão do momento que vive a luta antiimperialista no mundo e outra sobre a própria concepção do papel do Fórum Social Mundial.
A discussão sobre o momento da luta antiimperialista é marcada pela diferença de visão de grande parte dos movimentos da Europa em contradição com a visão de movimentos da América Latina. Os movimentos populares europeus vivem um momento de resistência a políticas de austeridade impostas pelos governos como resposta à recente crise sistêmica do capitalismo, assim, analisam que o momento da luta antiimperialista e anticapitalista no mundo é de resistência, sem possibilidade de construção de alternativas imediatas. A secretária de movimentos sociais do PCdoB faz questão de lembrar, entretanto, que “é uma Europa descrente, mas que mesmo assim tem feito grandes mobilizações sociais”.
Por outro lado, os movimentos sociais na América Latina participam do processo de construção de alternativas de desenvolvimento diferentes do modelo neoliberal e experimentam a implementação de mudanças importantes a partir da eleição de governos democráticos e progressistas, argumentando, portanto, que embora o momento histórico seja de defensiva, é necessário e está em curso em diversos países a construção de modelos alternativos ao neoliberalismo e ao próprio capitalismo.
Esta diferença de leitura entre Europa e a América Latina, entretanto, não chega a ser um antagonismo. Os movimentos realizarão este debate, mas tendem a se unificar em uma grande campanha mundial antiimperialista, colocando no centro questões como o combate às bases militares estrangeiras dos Estados Unidos e da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) espalhadas em diversos países do mundo. Esta foi a campanha proposta e organizada pelo Conselho Mundial da Paz (CMP), presidido pela brasileira Socorro Gomes, que é presidente também do Centro Brasileiro de Luta pela Paz (Cebrapaz) nas atividades descentralizadas do FSM 2010 em que participou. Agendas globais deste caráter devem ser articulados durante a Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, que ocorrerá no dia 10 de fevereiro, penúltimo dia do FSM 2011.
Para que serve o Fórum?
A outra disputa de concepções é em relação ao próprio papel do Fórum Social Mundial: se ele deve servir apenas para um debate conceitual sobre as alternativas de desenvolvimento dos países, ou se ele deve ter uma plataforma que consolide jornadas de luta globais unitárias e que impulsione mobilizações locais a partir dos debates realizados durante as edições do Fórum.
Lúcia explica que as entidades da América Latina sempre vão ao FSM buscando reforçar o papel do Fórum de ter uma plataforma dos movimentos sociais, de ser um espaço “de luta e de ação mais do que de debate, porque não temos dúvidas que é com o povo organizado nas ruas que a gente consegue transformar a realidade”, avalia. Para ela, a América Latina leva ao Fórum a sua alternativa, que é apresentar o papel que os movimentos sociais e o povo organizado têm a cumprir nas transformações institucionais: “é possível, sim, um projeto alternativo passando pelas vias institucionais, um projeto voltado ao povo ainda dentro do capitalismo. Projetos eleitos pelas vias institucionais, mas que têm uma ação diferenciada, uma visão diferenciada de governo, e uma relação diferenciada com o povo, é isso que a América Latina leva para o Fórum”. Lúcia considera ainda que as revoltas recentes que acontecem no mundo vão servir para incentivar esse debate e reforçar essa concepção no FSM 2011: “essas revoltas trazem essa perspectiva da necessidade da luta, do recrudescimento das lutas populares para que as transformações aconteçam”.
O resultado desta concepção de que o Fórum deve ser um espaço de articulação de lutas é concretizado na Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, onde organizações de todo o mundo apresentam propostas de pautas, campanhas e ações unificadas. Lúcia considera este o momento mais importante do Fórum, “porque promove uma certa concretização de uma agenda do Fórum”, diz ela. “A Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, no dia 10 de fevereiro, vai servir para fazer o debate do papel dos movimentos sociais no mundo e para tentar consolidar agendas, tentar se solidarizar com as revoltas em curso, tentar reforçar aquelas revoltas que sejam de fato democráticas, populares, e impulsionar grandes mobilizações globais, que precisam ser feitas para reforçar o nosso projeto, de perspectiva socialista, das transformações vindas pelas mãos do povo organizado, que a gente sempre leva e reforça no Fórum”, completa Lúcia.
Alternativa socialista
Este é o debate que a delegação brasileira do PCdoB pretende levar ao FSM 2011: a alternativa socialista aos problemas estruturais que o Fórum costumeiramente debate: “o PCdoB vai com a perspectiva e com o papel de reforçar o socialismo como alternativa real e concreta, a mais sólida para responder a essas mazelas que são apresentadas no Fórum. Vai também jogar papel importante no reforço das relações sul-sul, apoiando as iniciativas neste sentido, e pautaremos a discussão da luta contra o racismo, luta tão presente entre o povo brasileiro, por conta da questão histórica que a gente carrega, dessa necessidade de discutir de fato a diáspora africana que aconteceu há séculos e que ainda hoje deixa marcas no continente e nos países que receberam negros da África”, afirma Lúcia.
A dirigente estima a participação de cerca de mil brasileiros no Fórum, dos quais ao menos três dezenas são do PCdoB, mobilizados pelo movimento social e por delegações do partido. Estão sendo esperadas cerca de 60 mil pessoas no total. Entre os movimentos, destacam-se o comunitário, o negro, o sindical, o de mulheres e o de juventude. Uma representação do Comitê Central do partido, integrada, entre outros, pela própria Lúcia, coordenará os trabalhos.
Em síntese, Para Lúcia o Fórum Social no Senegal permitirá “aprofundar e acumular mais nessa luta contra o racismo, na luta pelo fortalecimento do continente africano com soberania, com a descolonização do continente e o fortalecimento do eixo sul-sul, com um diálogo maior entre os continentes ao sul do equador, entre a América Latina e a África, que os países consigam dialogar cada vez mais e criar redes de ação comum, de luta comum e de solidariedade entre os continentes”.
PCdoB no FSM 2011
Para tanto, o PCdoB prioriza as atividades promovidas pela Fundação Maurício Grabois (FMG) em conjunto com a Fundação Perseu Abramo (FPA) dentro da programação do FSM 2011, que inclui temas como o reforço das relações sul-sul e a valorização da experiência latino-americana de construção de alternativas de desenvolvimento a partir da eleição de governos progressistas. Além disso, a marcha de abertura e a Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais serão espaços privilegiados pelos comunistas e por todos os movimentos sociais e forças progressistas brasileiras, assim como as atividades promovidas pelas entidades dos movimentos sociais, sobretudo os latino-americanos e africanos.
Serviço:
Agenda do PCdoB no FSM 2011
Domingo (6 de fevereiro)
Marcha de abertura
Segunda-feira (7 de fevereiro)
Participação das atividades que marcam o Dia da África e da Diáspora
Terça-feira (8 de fevereiro)
12h30 a 15h30 - Seminário Conem/Unegro: Lutas e alternativas frente ao racismo
16h a 19h - Debate FMG/FPA: Relações Brasil-África: Balanços e desafios.
16h a 19h - Seminário AIH/Conam: Brasil-África: O desafio da Reforma Urbana no projeto de desenvolvimento
16h a 19h - Assembléia Mundial das Mulheres - FDIM
Quarta-feira (9 de fevereiro)
12h30 a 15h30 - Debate FMG/FPA: O projeto alternativo dos setores populares, progressistas e das esquerdas latino-americanas.
12h30 a 19h - Campanha Fora Bases militares estrangeiras
16h a 19h - Debate FMG/FPA: Desafios da esquerda africana, latino-americana e caribenha
Quinta-feira (10 de fevereiro)
Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais
Sexta-feira (11 de fevereiro)
Assembleia das Assembleias – encerramento do FSM
De São Paulo, Luana Bonone
Reprodução
O momento que vivem os países, imediatamente após o período mais dramático de uma crise sistêmica do capitalismo, marcará esta edição do Fórum Social Mundial. Ao menos esta é a opinião do PCdoB, expressa pela sua secretária de movimentos sociais, Lúcia Stumpf. A dirigente considera que a quadra pós-auge de uma crise do capitalismo reforça o caráter do FSM de ser um espaço de alternativa a este sistema no mundo.Marcha de abertura da primeira edição do Fórum Social Mundial, realizada em 2001, em Porto Alegre
Com DNA anti-neoliberal, o FSM já permite até mesmo um debate aberto sobre a perspectiva socialista, o que não acontecia há dez anos, avalia Lúcia: “o Fórum surgiu em um momento em que era necessário se contrapor ao neoliberalismo, então ele nasceu para se contrapor ao Fórum de Davos e ainda tem essa perspectiva. É um Fórum que se contrapõe ao neoliberalismo, dizendo que o neoliberalismo não é o caminho dos avanços sociais, e hoje tem condições de aprofundar ainda mais esse debate. Hoje o Fórum permite, o que há 10 anos atrás, nas primeiras edições, não permitia, essa perspectiva de apontar uma alternativa de rumo, como a alternativa socialista”. Ao fazer essa análise, Lúcia lembra que o FSM permanece sendo um espaço heterogêneo e com diversas visões, não se trata de um fórum de defesa do socialismo, mas reforça que este debate é feito de forma mais clara e com mais força, após 10 anos de realização do FSM.
De volta à África
Como é a segunda vez que o encontro acontece na África, os debates e ações se voltarão também a questões mais específicas do continente, “como não poderia deixar de ser”, diz Lúcia. O primeiro FSM realizado na África ocorreu no Quênia, em 2007, momento em que temas como Aids, migrações e guerras no continente apareceram com bastante força. Neste ano, dois temas relacionados ao continente africano devem assumir protagonismo: descolonização e diáspora africana.
Lúcia reforçou a importância das atividades de caráter antiimperialista durante o FSM. |
Outro ponto muito forte em relação à luta dos povos africanos é a libertação de uma colonização ainda hoje promovida por países ricos: “o Fórum com certeza vai discutir a questão da descolonização daquele continente, que ainda sofre com governos e com uma influência direta muito grande, principalmente da Europa”, avalia a secretária, agregando que as recentes revoltas ocorridas na Tunísia e no Egito serão um elemento novo neste debate.
Tunísia e Egito
Lúcia Stumpf considera o caráter das revoltas em curso no Oriente Médio muito próximo à concepção de movimento que deu origem ao Fórum: “acho que são revoltas que trazem de volta e que reascendem o objetivo do Fórum, que é a possibilidade de mobilizações populares transformarem a realidade política dos espaços onde acontece; a possibilidade do povo, quando se une, quando se revolta, quando sai às ruas, ter essa perspectiva de alterar a realidade, de construir uma alternativa na busca da democracia, na busca de resultados mais positivos diante de governos muitas vezes ditatoriais, governos tiranos que vêm sendo depostos”.
A secretária valorizou também o fortalecimento das relações sul-sul e acredita que este será também um tema importante, reforçado inclusive pela delegação do governo brasileiro que estará presente ao Fórum. “O governo federal atual estará representado por ao menos quatro ministros, dirigidos pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Além disso, Lula fará a sua primeira aparição como ex-presidente em uma atividade do movimento social durante o Fórum, em um debate que vai discutir a busca de soluções, de saídas para a questão da miséria e da fome no mundo”, conta Lúcia.
O destaque brasileiro na programação do FSM deverá girar em torno da presença do ex-presidente Lula, que promete fazer no FSM sua estreia em eventos do movimento social fora da presidência. Está prevista a sua participação em uma mesa que debaterá as estratégias da luta contra a miséria e a fome no eixo sul-sul, fortalecendo assim a pauta que deverá ser o centro de atuação também dos ministros do governo Dilma.
As disputas do Fórum
Além das questões mais convergentes, instigadas pela própria experiência e história do continente africano, o FSM 2011 será palco também de algumas disputas, notadamente uma sobre a visão do momento que vive a luta antiimperialista no mundo e outra sobre a própria concepção do papel do Fórum Social Mundial.
A discussão sobre o momento da luta antiimperialista é marcada pela diferença de visão de grande parte dos movimentos da Europa em contradição com a visão de movimentos da América Latina. Os movimentos populares europeus vivem um momento de resistência a políticas de austeridade impostas pelos governos como resposta à recente crise sistêmica do capitalismo, assim, analisam que o momento da luta antiimperialista e anticapitalista no mundo é de resistência, sem possibilidade de construção de alternativas imediatas. A secretária de movimentos sociais do PCdoB faz questão de lembrar, entretanto, que “é uma Europa descrente, mas que mesmo assim tem feito grandes mobilizações sociais”.
Por outro lado, os movimentos sociais na América Latina participam do processo de construção de alternativas de desenvolvimento diferentes do modelo neoliberal e experimentam a implementação de mudanças importantes a partir da eleição de governos democráticos e progressistas, argumentando, portanto, que embora o momento histórico seja de defensiva, é necessário e está em curso em diversos países a construção de modelos alternativos ao neoliberalismo e ao próprio capitalismo.
Esta diferença de leitura entre Europa e a América Latina, entretanto, não chega a ser um antagonismo. Os movimentos realizarão este debate, mas tendem a se unificar em uma grande campanha mundial antiimperialista, colocando no centro questões como o combate às bases militares estrangeiras dos Estados Unidos e da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) espalhadas em diversos países do mundo. Esta foi a campanha proposta e organizada pelo Conselho Mundial da Paz (CMP), presidido pela brasileira Socorro Gomes, que é presidente também do Centro Brasileiro de Luta pela Paz (Cebrapaz) nas atividades descentralizadas do FSM 2010 em que participou. Agendas globais deste caráter devem ser articulados durante a Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, que ocorrerá no dia 10 de fevereiro, penúltimo dia do FSM 2011.
Para Lúcia, em seu 11º ano, o Fórum está mais maduro e permite um debate franco sobre a alternativa socialista para a construção de "um outro mundo possível". |
A outra disputa de concepções é em relação ao próprio papel do Fórum Social Mundial: se ele deve servir apenas para um debate conceitual sobre as alternativas de desenvolvimento dos países, ou se ele deve ter uma plataforma que consolide jornadas de luta globais unitárias e que impulsione mobilizações locais a partir dos debates realizados durante as edições do Fórum.
Lúcia explica que as entidades da América Latina sempre vão ao FSM buscando reforçar o papel do Fórum de ter uma plataforma dos movimentos sociais, de ser um espaço “de luta e de ação mais do que de debate, porque não temos dúvidas que é com o povo organizado nas ruas que a gente consegue transformar a realidade”, avalia. Para ela, a América Latina leva ao Fórum a sua alternativa, que é apresentar o papel que os movimentos sociais e o povo organizado têm a cumprir nas transformações institucionais: “é possível, sim, um projeto alternativo passando pelas vias institucionais, um projeto voltado ao povo ainda dentro do capitalismo. Projetos eleitos pelas vias institucionais, mas que têm uma ação diferenciada, uma visão diferenciada de governo, e uma relação diferenciada com o povo, é isso que a América Latina leva para o Fórum”. Lúcia considera ainda que as revoltas recentes que acontecem no mundo vão servir para incentivar esse debate e reforçar essa concepção no FSM 2011: “essas revoltas trazem essa perspectiva da necessidade da luta, do recrudescimento das lutas populares para que as transformações aconteçam”.
O resultado desta concepção de que o Fórum deve ser um espaço de articulação de lutas é concretizado na Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, onde organizações de todo o mundo apresentam propostas de pautas, campanhas e ações unificadas. Lúcia considera este o momento mais importante do Fórum, “porque promove uma certa concretização de uma agenda do Fórum”, diz ela. “A Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, no dia 10 de fevereiro, vai servir para fazer o debate do papel dos movimentos sociais no mundo e para tentar consolidar agendas, tentar se solidarizar com as revoltas em curso, tentar reforçar aquelas revoltas que sejam de fato democráticas, populares, e impulsionar grandes mobilizações globais, que precisam ser feitas para reforçar o nosso projeto, de perspectiva socialista, das transformações vindas pelas mãos do povo organizado, que a gente sempre leva e reforça no Fórum”, completa Lúcia.
Alternativa socialista
Este é o debate que a delegação brasileira do PCdoB pretende levar ao FSM 2011: a alternativa socialista aos problemas estruturais que o Fórum costumeiramente debate: “o PCdoB vai com a perspectiva e com o papel de reforçar o socialismo como alternativa real e concreta, a mais sólida para responder a essas mazelas que são apresentadas no Fórum. Vai também jogar papel importante no reforço das relações sul-sul, apoiando as iniciativas neste sentido, e pautaremos a discussão da luta contra o racismo, luta tão presente entre o povo brasileiro, por conta da questão histórica que a gente carrega, dessa necessidade de discutir de fato a diáspora africana que aconteceu há séculos e que ainda hoje deixa marcas no continente e nos países que receberam negros da África”, afirma Lúcia.
A dirigente estima a participação de cerca de mil brasileiros no Fórum, dos quais ao menos três dezenas são do PCdoB, mobilizados pelo movimento social e por delegações do partido. Estão sendo esperadas cerca de 60 mil pessoas no total. Entre os movimentos, destacam-se o comunitário, o negro, o sindical, o de mulheres e o de juventude. Uma representação do Comitê Central do partido, integrada, entre outros, pela própria Lúcia, coordenará os trabalhos.
Em síntese, Para Lúcia o Fórum Social no Senegal permitirá “aprofundar e acumular mais nessa luta contra o racismo, na luta pelo fortalecimento do continente africano com soberania, com a descolonização do continente e o fortalecimento do eixo sul-sul, com um diálogo maior entre os continentes ao sul do equador, entre a América Latina e a África, que os países consigam dialogar cada vez mais e criar redes de ação comum, de luta comum e de solidariedade entre os continentes”.
PCdoB no FSM 2011
Para tanto, o PCdoB prioriza as atividades promovidas pela Fundação Maurício Grabois (FMG) em conjunto com a Fundação Perseu Abramo (FPA) dentro da programação do FSM 2011, que inclui temas como o reforço das relações sul-sul e a valorização da experiência latino-americana de construção de alternativas de desenvolvimento a partir da eleição de governos progressistas. Além disso, a marcha de abertura e a Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais serão espaços privilegiados pelos comunistas e por todos os movimentos sociais e forças progressistas brasileiras, assim como as atividades promovidas pelas entidades dos movimentos sociais, sobretudo os latino-americanos e africanos.
Serviço:
Agenda do PCdoB no FSM 2011
Domingo (6 de fevereiro)
Marcha de abertura
Segunda-feira (7 de fevereiro)
Participação das atividades que marcam o Dia da África e da Diáspora
Terça-feira (8 de fevereiro)
12h30 a 15h30 - Seminário Conem/Unegro: Lutas e alternativas frente ao racismo
16h a 19h - Debate FMG/FPA: Relações Brasil-África: Balanços e desafios.
16h a 19h - Seminário AIH/Conam: Brasil-África: O desafio da Reforma Urbana no projeto de desenvolvimento
16h a 19h - Assembléia Mundial das Mulheres - FDIM
Quarta-feira (9 de fevereiro)
12h30 a 15h30 - Debate FMG/FPA: O projeto alternativo dos setores populares, progressistas e das esquerdas latino-americanas.
12h30 a 19h - Campanha Fora Bases militares estrangeiras
16h a 19h - Debate FMG/FPA: Desafios da esquerda africana, latino-americana e caribenha
Quinta-feira (10 de fevereiro)
Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais
Sexta-feira (11 de fevereiro)
Assembleia das Assembleias – encerramento do FSM
De São Paulo, Luana Bonone
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