A crise entre Argentina e Estados Unidos - causada pela apreensão de equipamentos bélicos e drogas não declarados em um avião norte-americano que ingressou em Buenos Aires - ganhou novos contornos com a presidente Cristina Kirchner clamando pela defesa da soberania nacional. Na véspera, o chanceler argentino, Héctor Timerman, anunciou o envio a Washington de uma nota de protesto formal. "Os Estados Unidos nos devem uma resposta”, afirmou.
Sem citar diretamente o episódio, Cristina Kirchner declarou nesta terça que nenhum país dita as regras na Argentina. "Quem toma as decisões é a Casa Rosada. A defesa nacional não pode ter cor nem bandeira política", declarou. Na sexta-feira passada, a Argentina apreendeu parte da carga de uma avião militar norte-americano.Segundo a Chancelaria argentina, um terço do material foi apreendido porque não estava declarado à aduana. Havia na carga, segundo a denúncia, armas e uma maleta com equipamentos de espionagem e drogas vencidas.
“Quase um terço da carga não figurava na lista de boa fé” que havia sido entregue à embaixada, detalhou Héctor Timerman. Ele também esclareceu que “tudo o que estava na lista tinha sido autorizado” a ingressar no país, no entanto, foram retidas drogas, psicotrópicos, elementos para interceptar comunicações, equipamentos de GPS e manuais de operação em distintos idiomas, que não figuravam no manifesto.
Timerman afirmou que a aeronave levava "material camuflado dentro de um carregamento oficial". Ele afirmou que havia "desde armas a diferentes drogas, incluindo morfinas, material medicinal vencido e aparelhos tecnológicos com códigos e marcados como secretos".
Apesar dos reiterados pedidos do Departamento de Estado norte-americano, este material não será devolvido até que “as autoridades argentinas que investigam este caso não necessitem mais”, sustentou o chanceler, que voltou a pedir aos estadunidenses “colaboração” para esclarecer o episódio o mais breve possível.
“O Governo da República Argentina expressa seu mais enérgico protesto frente à situação que se colocou com a verificação da carga”, sustentou a carta formal que a chancelaria enviou na segunda-feira à noite. “Até o momento, nem a embaixada nem o governo dos Estado Unidos pronunciaram explicações satisfatórias que esclareçam a presença do material não declarado no carregamento que chegou ao Aeroporto de Ezeiza (internacional de Buenos Aires), assim como tampouco o uso que se pretendia dar ele”.
O comunicado também “lamenta” as “imprecisões e omissões" na informação proporcionada pelas autoridades estadunidenses sobre o tema. “Temos toda a disposição de poder seguir colaborando em forma respeitosa em um tema que é tão importante para todos como é a insegurança cidadã", havia assegurado algumas horas antes o subscretário de Estado Adjunto para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela.
Nesta terça, contudo, os EUA reagiram, cobrando a devolução do material apreendido. Segundo os americanos, os equipamentos são usados em cursos de preparação e eram do conhecimento do governo argentino.
A Argentina, contudo, advertiu que as leis do país consideram a possibilidade de destruir o material ilegal. O Código Alfandegário assinala que "caso se declarar uma importação e transportar outro material, é atribuição da Alfândega confiscar o material e dispor dele até chegar a sua própria destruição", afirmou nesta quarta-feira o chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, em declarações à emissora oficial "Rádio Nacional".
Fernández apontou que o avião militar americano cometeu uma "infração alfandegária" ao entrar no país com material não declarado e insistiu que a Argentina "há de cumprir a lei no marco da soberania nacional".
Com agências
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