Península Coreana: 2011 foi mais um ano de tensões - Portal Vermelho
A situação na Península Coreana termina o ano como começou: as tensões persistem e a retomada das conversações de seis partes ainda está por tornar-se realidade.
Por Luis Melián *
Todo isso apesar de acontecimentos em meses recentes que prognosticavam alguma mudança favorável para romper o estancamento nesse processo lançado em 2003 e assim contribuir para a necessária distensão.
É necessário recordar que 2011 foi precedido por dois incidentes que agravaram a situação no mencionado território.
Em março de 2010, o afundamento da fragata Cheonan, atribuído à República Popular Democrática de Corea (RPDC), que rechaçou a acusação e pediu para que os fatos fossem investigados, mas a solicitação foi negada, o que elevou as tensões a níveis históricos.
Em 23 de novembro daquele mesmo ano, forças sul-coreanas dispararam contra as águas sob jurisdição do Norte, que revidou a ação. Pyongyang qualificou o incidente de provocação instigada pelos Estados Unidos e sua reação de ato de defesa.
Com esses antecedentes é difícil avançar para um reinício das citadas conversações, estancadas desde dezembro de 2008 e nas quais participam também Estados Unidos, Rússia, Japão e China, sendo esta o país anfitrião.
Tudo se agravava diante do fortalecimento militar da Coreia do Sul, sobretudo nas regiões fronteiriças, incluídas as ilhas no mar Ocidental e as frequentes manobras entre esse país e os Estados Unidos, que o Norte denunciou como ensaios de guerra contra seu território.
Embora as relações intercoreanas passassem por um maior distanciamento, os esforços por reiniciar as citadas conversações nunca cessaram, favorecidos pela posição reafirmada pelo líder norte-coreano, Kim Jong Il, durante uma visita à Rússia em agosto.
Dos pronunciamentos feitos nessa ocasião, ressaltou a coincidência entre Moscou e Pyongyang em retomar o quanto antes o mencionado processo.
Pouco depois, a China organizou um seminário pelo aniversário da Declaração Conjunta desse foro, firmada em 19 de setembro de 2005 e considerada pelos anfitriões como o resultado mais importante das conversações.
Nessa ocasião o chanceler chinês, Yang Jiechi, reiterou o chamado a reativar o processo, reconhecido por todos como válido para o mencionado objetivo.
O encontro precedeu uma reunião entre os máximos negociadores nucleares de Seul e Pyongyang também em Pequim, o qual, embora sem resultados transcendentais, trouxe otimismo pelo fato de ser um segundo diálogo entre essas partes.
O anterior se efetuou em julho em Bali, Indonésia, onde ambas as autoridades assistiram a uma conferência de segurança regional.
Em finais de outubro, o primeiro vice-chanceler norte-coreano, Kim Kye Gwan, e o enviado especial dos Estados Unidos à RPDC, Stephen Bosworth, mantiveram uma segunda rodada de conversações em Genebra. A primeira teve lugar em Nova Iorque, em julho.
Na cidade suíça se aprofundou na compreensão das respectivas posições, incluídos avanços e o compromisso de continuar os contatos para solucionar problemas pendentes e criar confiança mútua, segundo informou Pyongyang.
Ao se pronunciar sobre esse encontro, um porta-voz da Chancelaria reafirmou a invariável posição de retomar imediata e incondicionalmente as conversações de seis partes para a desnuclearização da Península Coreana, em cuja parte meridional o Pentágono mantém 28,5 mil soldados.
Mas os Estados Unidos e a Coreia do Sul pedem ao Norte que interrompa seu programa de enriquecimento de urânio como um dos requisitos para reiniciar o referido processo, exigência à qual a RPDC respondeu nos seguintes termos em 30 de novembro último:
A energia nuclear constitui a única via para resolver o problema de eletricidade do país e seu uso com fins pacíficos um direito legítimo de todo Estado soberano.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores explicou que diante da "muito obscura perspectiva da construção de reatores de água leve, que deviam ser entregues a nosso país", se tomou a decisão de fabricá-los por conta própria segundo a estratégia de desenvolvimento econômico.
Recordou que assegurar à RPDC o direito ao uso de energia nuclear com fins pacíficos é algo reconhecido como uma premissa indispensável para o mencionado objetivo desde os primeiros momentos das negociações.
Agregou que o referido processo enfrenta dificuldades porque os Estados Unidos se dedicam a violar a soberania da Coreia Democrática e impedir seu desenvolvimento pacífico sem cumprir seus compromissos e obrigações.
Nesse sentido, enfatizou que somente quando todos os países interessados cumprirem com sinceridade, segundo o princípio de ação simultânea, os deveres assumidos na mencionada declaração, se abrirá a perspectiva da desnuclearização da Península Coreana.
Os acontecimentos associados a este processo tiveram como fatos recentes visitas do enviado especial dos Estados Unidos para a RPDC, Glyn Davies, a Seul, Tóquio e Pequim.
Apesar de todos esses contatos e da coincidência quanto à validade do foro das seis partes, tudo continua praticamente igual.
Termina assim mais um ano de muitas gestões diplomáticas mas sem conseguir nada concreto que conduza à distensão necessária para favorecer a retomada das referidas conversações e avançar para o objetivo de estabelecer uma zona livre de armas nucleares nesse território.
*Chefe da Sucursal da Prensa Latina na China.
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domingo, 25 de dezembro de 2011
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