“Os líderes não criam o contexto em que operam. Sua contribuição consiste em operar no limite do que uma determinada situação autoriza. Se o líder excede esse limite, ele cai; se fica atrás do limite, provoca a estagnação. Se, porém, constrói de forma consistente, ele pode criar um novo conjunto de relações que vai elevá-lo acima daquele momento histórico, porque todas as partes envolvidas considerarão que aquilo é de seu interesse.”
“On China” , Henry Kissinger, The Penguin Press, New York, 2011, pág. 215.
Essa frase faz parte do capítulo em que Kissinger descreve os passos que levaram à visita de Nixon à China.
Antes, ele tinha descrito de forma impecável a genialidade do diplomata Mao Tsé Tung.
Cercado por quatro gigantes – URSS, Índia, Japão e EUA – , Mao se aliou ao mais forte – EUA – para enfrentar o que mais o ameaçava – URSS.
E isso, quando a China tinha saído da crise da Revolução Cultural, e mergulhava num impasse sucessório, já que o herdeiro-aparente, o Ministro da Guerra, Lin Biao, morreu num suspeito desastre de avião quando fugia para a URSS.
E foi aí que Mao seguiu o que ele próprio pregava: o Grande Timoneiro navega a favor da corrente. E, não, contra.
A Presidenta Dilma Rousseff tem diante de si o momento de assumir um papel que transforme a liderança do Brasil em beneficio para todas as partes.
A hora não poderia ser melhor.
O Brasil vai sair da crise econômica mais forte.
Como na crise de 2008, o desempenho do Brasil será exemplar.
As potências de antanho – aquelas que servem de bússola aos neolibelês (*) – sairão da crise enfraquecidas.
Dos BRICs, o Brasil é o único país ocidental.
Está ao lado da África – onde se trava, hoje, uma parte significativa da batalha pelo domínio econômico, amanhã.
O Brasil, como os Estados Unidos, será, breve, do Atlântico e do Pacífico.
O Brasil tem essa formidável Classe C, invenção do Nunca Dantes, que desconcerta os Neolibelês, e funciona como um arsenal dissuasivo, atômico.
O único defeito, ao se comparar com os outros dos BRICs, é que o Brasil não tem (ainda) bomba atômica.
(Por obra e graça de dois desastrados presidentes – Collor e seu discípulo, FHC.)
Nesta crise corrente, a Presidente já mostrou as garras.
Não vai pagar pela crise dos Estados Unidos e da Europa – dois relapsos.
Quer estar na mesa da Reconstrução.
No novo Bretton Woods.
E vai jogar pesado nos organismos internacionais – ONU, FMI, G20.
Dilma pode ser a timoneira do Brasil na nova Ialta .
(Clique aqui para ler na Wikipedia sobre a Conferência de Ialta, que reuniu os vencedores da II Guerra – Stalin, Roosevelt e Churchill, nessa ordem de importância .)
Há algumas pré-condições.
Contornar a furiosa resistência da elite brasileira, que se materializa no PiG (**) e na formação PSDB-DEMOS.
São os colonizados, os vira-latas, que querem ainda um Brasil de 20 milhões, e o resto trancado numa Soweto.
Eles são poucos.
Mas ladram e mordem.
Como enfrentá-los ?
Não será com o Paulo Bernardo.
Esses colonizados querem que o Brasil fique encarcerado na discussão da “meta inflacionária” e da pesquisa Focus, o “mercado”.
E fazer como o PSDB, que, rabo de fora – clique aqui para ler sobre os novos anões do orçamento – só fala em corrupção.
Essa é a turma ancorada em 1964, quando derrubou Jango com a mão dos americanos.
E em 1994, quando o brasileiro votaria num poste, desde que a inflação acabasse.
Votou em FHC.
A Presidenta também terá que superar o legado do Nunca Dantes.
A agenda social está posta.
O Brasil sem Miséria será cumprido.
O Nunca Dantes manteve a Petrobras no Brasil – não entregou à Chevron, como fariam o Farol e o Cerra.
O Nunca Dantes criou o maior programa de intervenção social em atividade no mundo – o Bolsa Família – e deu um prato de comida, educação e vacina a milhões de famílias brasileiras.
E o Nunca Dantes inventou a Classe C.
(Esta frase tem o objetivo de irritar os tucanos e seus trombones no PiG (**) – o Lula inventou a Classe C ! )
Agora, a tarefa da Presidenta é seguir adiante.
O passo à frente.
Empurrar o barco na direção da corrente.
Levar Brasil a Ialta.
À África.
América Latina.
Deixa a Colômbia fazer um acordo de livre comércio com o Obama.
O amigo navegante sabia que a fuga de mexicanos para os Estados Unidos, em busca de emprego, caiu a zero, segundo entrevista do presidente Calderon ao New York Times ?
A Colômbia precisa mais do Brasil do que dos Estados Unidos.
A Hillary disse que os Estados Unidos deveriam imitar o Brasil e colocar a Economia acima da Diplomacia.
Tai.
Uma boa ideia.
Botar o Patriota, tão discreto, tão more of the same, sob as ordens do Mantega.
O Mantega, sim, fala grosso lá no FMI e no G20.
Botar o Patriota para fazer fonoaudiologia com o Mantega.
O Kissinger descreve o Mao com a ajuda de uma lenda chinesa.
Tinha dois sábios que viviam atras da montanha.
O Sábio Neolibelês (essa é uma contribuição à narrativa chinesa secular, modestamente …) e o Sábio Idiota.
Os habitantes do vilarejo não conseguiam ampliar a área de cultivo, porque a montanha os emparedava no vale apertado.
O sábio idiota propôs que ele e os filhos começassem a cavar a montanha.
O sábio neolibelês caiu na gargalhada: vocês jamais vão conseguir remover a montanha.
Os sábio idiota e os filhos, mesmo assim, começaram a cavar.
Depois deles, os filhos e netos.
Depois, os filhos e netos.
E o vale se ampliou – sem a montanha.
Este ansioso blogueiro desconfia que a Presidenta simpatize com o sábio idiota.
Paulo Henrique Amorim
(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
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