Tânia Gurjão (e) relembra angústia da família em busca de informações do irmão desaparecido na ditadura (IGOR DE MELO)
Do O Povo
Os dados são inconclusos, mas estima-se que passe de mil o número de pessoas atingidas pela ditadura militar no Ceará. Os números ocultam histórias de famílias que, até hoje, aguardam notícias sobre o paradeiro de parentes
Pela versão de revistas e jornais, o cearense Teodoro de Castro foi capturado em 1973, na Guerrilha do Araguaia, um dos principais movimentos da oposição ao regime militar no País. Faminto, doente de malária, teria sido levado de helicóptero até uma fazenda, onde, afastado da casa grande, foi posto de joelhos e morto com um tiro na parte da frente do corpo.
Teriam cogitado disparar a bala na nunca, mas desistiram, possivelmente para afastar a hipótese de extermínio. Da história, não se sabe o que é ficção ou realidade. Entretanto, trata-se da explicação que, hoje, 28 anos após o suposto episódio, a família encontrou para amenizar a angústia sobre o paradeiro de “Téo”, desaparecido desde então.
A Guerrilha do Araguaia foi ambientada na região da tríplice divisa entre Pará, Maranhão e Tocantins, para onde parentes do cearense têm viajado, com certa frequência, em busca de informações. “A gente sabe o que a população conta. De concreto, nada. Só se abrissem os arquivos da ditadura”, diz uma das irmãs do ex-combatente, Eliana Castro.
Daí a expectativa pela Comissão da Verdade – cujo modelo que está para ser aprovado é avaliado com algumas restrições por Eliana. “Mas, se passa, a gente aceita”, conforma-se. Os restos mortais de Téo, ex-aluno de Farmácia da Universidade Federal do Ceará, nunca foram encontrados.
É pela escassez de dados oficiais que o Araguaia se torna um ponto de interrogação na história. Apenas dois de seus mortos foram localizados e identificados: Maria Lúcia Petit e Bérgson Gurjão Farias. Esse último, também ex-aluno da UFC – cursava Química – teve a ossada devolvida à família apenas em outubro de 2009. Porém, as dúvidas não se evadiram com o fim das buscas. “A mamãe era uma que dizia: e se não for ele? Se não for, mãe, fica sendo”, relata uma das irmãs de Bérgson, Tânia Gurjão farias, ao lembrar a angústia da mãe falecida apenas quatro meses após o recebimento dos restos mortais do filho.
Mais casos
Assim como Tânia e Eliana, milhares de parentes de desaparecidos desde a época do regime militar aguardam o início dos trabalhos da Comissão da Verdade. Os números são inconclusos, mas, de acordo com o ex-presidente da Associação 64/68, Mário Albuquerque, passa de mil o número de pessoas no Ceará atingidas pela ditadura. “Às vezes fala-se no Estado como se aqui não tivesse havido perseguição política. Sei de mais de 300 pedidos de anistia e indenização. Não é um número pequeno e, com as investigações, novos casos devem vir à tona”, prevê a socióloga e professora da UFC Danyelle Nilin. No Chile, por exemplo, a Comissão da Verdade fez duplicar o número oficial de vítimas do regime do general Augusto Pinochet. (Hébely Rebouças -hebely@opovo.com.br)
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