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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O governo controla o gasto, não o déficit

No livro "Teoria geral sobre o emprego, o juro e a moeda", Keynes destruiu vários mitos sobre o funcionamento de uma economia capitalista. Hoje, em plena crise e com discussões acaloradas sobre finanças públicas, há outra ideia igualmente perigosa que Keynes combateu com tenacidade. Consiste na comparação das finanças públicas com o orçamento de qualquer família. Com essa ideia falaciosa, hoje se insiste que o déficit público e o endividamento são insustentáveis. Nos Estados Unidos e na Europa, o argumento é o mesmo: como qualquer família, o governo tem que reduzir seus gastos. O artigo é de Alejandro Nadal.

Alejandro Nadal – La Jornada
Em 1936, John Maynard Keynes publicou sua Teoria geral sobre o emprego, o juro e a moeda. É o livro de economia mais importante do século XX. Nele, Keynes destruiu vários mitos sobre o funcionamento de uma economia capitalista. Por isso a academia se encarregou de distorcê-lo, desvirtuá-lo, cooptá-lo e, quando isso não foi possível, relegá-lo ao esquecimento.

Uma das lendas mais importantes destruídas pela obra de Keynes foi a crença de que, quando existe flexibilidade nos salários, se reestabelece o pleno emprego. Baseado em sua análise da demanda agregada, o multiplicador e sua teoria monetária do investimento, Keynes demonstrou que a flexibilidade dos salários não só permite alcançar uma posição de pleno emprego, mas também pode conduzir para uma situação de crise. A razão, em poucas palavras, é que ao derrubar-se a demanda efetiva, o investimento e o emprego caem juntos.

Mas esta mensagem de Keynes (como outras) foi considerada demasiado subversiva. A academia, sempre tão preocupada com a ciência, dedicou-se a distorcer a mensagem das instituições keynesianas. O resultado foi um período de cinco décadas nas quais os economistas acadêmicos construíram e refinaram modelos cada vez mais inúteis sobre o funcionamento das economias capitalistas. Esses modelos foram utilizados pelos bancos centrais e ministérios de finanças de todo o mundo para o desenho e aplicação de políticas econômicas.

A base desses modelos é que as economias capitalistas são sistemas de equilíbrio geral, mas com fricções. Ou seja, o capitalismo é sempre bem comportado. Mas deixa de sê-lo quando enfrenta essas fricções que podem ser de todo tipo: desde regulações impostas pelo governo, passando pelos “perversos sindicatos” e chegando aos choques externos. Assim, a academia passou os últimos 50 anos refinando modelos sobre economias capitalistas de equilíbrio com turbulências. Esse esquema mental impede pensar a economia capitalista como fonte de instabilidade perigosa.

Hoje, em plena crise e com discussões acaloradas sobre finanças públicas, há outra ideia igualmente perigosa que Keynes combateu com tenacidade (mas parece que sem êxito). Consiste na comparação das finanças públicas com o orçamento de qualquer família. Com essa ideia falaciosa, hoje se insiste que o déficit público e o endividamento são insustentáveis. Nos Estados Unidos e na Europa, o argumento é o mesmo: como qualquer família, o governo tem que reduzir seus gastos.

No ano passado as economistas Ann Pettifor e Victoria Chick divulgaram uma pesquisa sobre a política tributária, a redução do gasto e a redução do endividamento na Inglaterra. Examinaram dados dos últimos 100 anos das contas públicas e analisaram os episódios nos quais o governo buscou melhorar sua posição fiscal e reduzir o nível da dívida por meio de cortes nos gastos. Os episódios de consolidação fiscal, nos quais o gasto público efetivamente caiu, foram comparados com períodos de expansão fiscal (nos quais o gasto aumentou). Os resultados contradizem de maneira irrefutável o que hoje se considera o ponto de vista dominante. A conclusão é que, quando se aumenta o gasto mais rapidamente, o nível de endividamento público (relativo ao PIB) cai e a economia prospera. EM troca, quando o gasto é reduzido, o coeficiente dívida/PIB piora e os demais indicadores (sobre PIB e emprego) evoluem desfavoravelmente.

Quando se quer reduzir o déficit, nem sempre é uma boa ideia cortar o gasto público. Para uma família a redução do gasto quase sempre conduz diretamente à redução de seu endividamento ou de seu déficit. Mas para um governo, as coisas não são tão simples. O que o trabalho de Pettifor-Chick demonstra é que o governo só tem controle sobre o gasto, não sobre o déficit. O déficit depende do que ocorre em toda a economia. Quando existe capacidade instalada ociosa (como é o caso na atualidade) um programa de investimento público é produtivo e gera maior atividade no setor privado por meio de um efeito multiplicador. Tudo isso gera maior arrecadação, reduz a necessidade de endividamento, assim como o pagamento de juros mais adiante.

Outra descoberta de Pettifor-Chick é que a redução do investimento público contribuiu para deprimir os ingressos fiscais. Um corte no gasto público só é acompanhado de aumento de arrecadação fiscal se há uma contrapartida de um aumento importante no investimento privado. Mas, na maioria dos casos analisados, a contração no gasto público esteve associada com um comportamento letárgico do investimento privado. Neste caso, os efeitos adversos do multiplicador são uma má notícia para o emprego e as contas públicas. A mensagem para o debate sobre o estímulo fiscal é bastante clara. Mas talvez chegue demasiado tarde.

Tradução: Katarina Peixoto

Relações perigosas entre a “dissidência” cubana e o imperialismo - Portal Vermelho

Relações perigosas entre a “dissidência” cubana e o imperialismo - Portal Vermelho

O capítulo “Os peões do Império” da série Razões de Cuba, transmitido no último sábado (26) pela Televisión Cuba, revela os estreitos vínculos da contrarrevolução interna com o governo dos Estados Unidos.



Moisés Rodríguez e Carlos Serpa (na foto), dois agentes cubanos infiltrados nas fileiras da chamada “dissidência” cubana, reconheceram no documentário que muitas destas pessoas são capazes de vender sua alma ao diabo, e são animadas a partir dos Estados Unidos.

Moisés Rodríguez, um trabalhador da Alfândega do aeroporto internacional José Martí, em Cuba, estabeleceu vínculos na prisão com o contrarrevolucionário Elizardo Sánchez e a partir daí, teve a oportunidade de receber instruções para desenvolver atividades conspirativas inclusive dos funcionários do Escritório de Interesses de Washington em Havana.

O agente Vladimir, para la Segurança cubana, foi até enviado por esse Escritório a Miami onde teve conversas com conhecidos terroristas, entre eles Luis Posada Carriles e tomou conhecimento dos planos para tratar de consolidar em Cuba um movimento desestabilizador.

Para isso, se utilizariam como ponta de lança contra Cuba, as denominadas Damas de Branco, financiadas diretamente pelos Estados Unidos por meio de uma fundação dirigida por outro terrorista, Santiago Alvárez, subordinado a Posada Carriles.

Os nomes de Marta Beatriz e Laura Pollán, dirigentes desse grupo, surgiram nas gravações das conversações telefônicas com os Estados Unidos e nas imagens de distribuição de dinheiro que continuamente era enviado para pagar as Damas de Branco.

Carlos Serpa provou para a filmagem do documentário,com a transmissão de uma inexistente detenção pela policia cubana e a imediata reprodução pela Rádio Martí de tal notícia falsa, que jamais foi contratada.


Carlos Manuel Serpa teve acesso aos mais altos chefes da SINA, entre eles Michael Parmly

Outro caso similar era o de Laura Pollán falando com os meios de comunicação estadunidenses sobre a repressão que sofria nesse momento por parte da segurança cubana enquanto as câmaras revelavam que nem um só agente se encontrava em toda a área em que se concentravam as Damas de Branco.

“Para mim Cuba está em primeiro lugar e continuará assim”, disse Serpa, recordando os momentos difíceis que viveu do ponto de vista familiar, pois enquanto realizava a tarefa encomendada, sua pequena filha escrevia na frente de sua casa uma mensagem pedindo liberdade para os cinco antiterroristas cubanos presos no Estados Unidos.

A contrarrevolucionária Martha Beatriz entregava dólares a 18 Damas de Branco para mantê-las ativas, afirma um dos agentes, que asseguraram que estes grupos formam parte da estratégia de subversão dos Estados Unidos contra Cuba.

Carlos Serpa declarou que a SINA é o estado maior da contrarrevolução em Cuba, e que o jornalismo “independente” em Cuba tem tutores norte-americanos. Acrescentou que a contrarrevolução interna o chamou para “inventar supostos atos de provocação”.

Fonte: Cubadebate, tradução da Redação

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Al Jazeera promove "príncipe" da Líbia que quer intervenção no país - Portal Vermelho

Al Jazeera promove "príncipe" da Líbia que quer intervenção no país - Portal Vermelho

A Al Jazeera recebeu um bocado de louvores pela sua excitante cobertura das intifadas na Tunísia e no Egito. Muitos de nós, no Ocidente, descobriram que era uma fonte de informação útil, uma vez que a cobertura dos veículos ocidentais, amplamente moldada como sempre pelas preferências imperialistas, foi quantitativamente menor e qualitativamente pior do que a da Al Jazeera. 






Por Yoshie Furuhashi*, em resistir.info

Contudo, a cobertura da Revolta Árabe feita pela Al Jazeera começou a deteriorar-se quando fagulhas revolucionárias principiaram a esvoaçar na direção dos estados do golfo, os quais acabaram por atear um levante sem precedentes (e politicamente muito promissor) no Bahrain, constituído por mais de 100 mil manifestantes num país cuja população é de cerca de 800 mil apenas. Tendo prestado muita atenção ao papel da Al Jazeera na Revolta Árabe, As'ad AbuKhalil criticou a reviravolta no seu blog Angry Arab News Service:





“GCC emite uma declaração em apoio ao Bahrain. O povo do Bahrain está agora por conta própria: não há uma Aljazeera para apoiar a sua causa e desmascarar o regime, e os EUA e a UE farão todo o possível para racionalizar e apoiar a repressão do governo. É vergonhoso que a Aljazeera em árabe tenha abandonado o povo do Bahrain e também invocado um elemento sectário na sua cobertura, implicando que apenas os xiitas estão a protestar”. (17/Fevereiro/2011)



Aproximadamente ao mesmo tempo, eclodiu um levantamento na Líbia. A violenta repressão do regime Kadafi, mais o contínuo espectáculo de aparentemente infindáveis defecções de oficiais de alta patente e militares do regime, demonstraram-se um presente dos céus para todos aqueles cuja maior preocupação é o que pode acontecer à sede da Quinta Frota dos EUA – e, ainda mais importante, ao seu vizinho da Arábia Saudita, cuja população xiita própria não só partilha dos mesmos agravos dos seus vizinhos do Bahrain como também está concentrada em uma da suas regiões produtoras de petróleo.



Esqueçamos o Bahrain, vamos centrar-nos na Líbia! 

Foi aproximadamente essa a diretiva, suspeita-se, de Sheikh Hamad bin Thamer Al Thani, patrão da Al Jazeera. 

Não há nada de errado em falar sobre a Líbia, se o objetivo é transmitir informação exata acerca dela. Mas está tudo errado ao se fazer propaganda acerca de um caminho para colocar o seu povo em risco. Receio que seja exatamente isso que a Al Jazeera começou a fazer. Tanto em árabe como em inglês, a estação tem estado a apresentar membros destacados da National Front for the Salvation of Libya , uma organização financiada pela CIA e a Arábia Saudita durante a Guerra Fria, como fontes críveis de notícias e pontos de vista, tal como os veículos ocidentais têm feito. 




Isto já é bastante mau. Ontem, a Al Jazeera atingiu um novo ponto baixo: deu ao pretenso "príncipe coroado" da Líbia – Muhammad as-Senussi – uma plataforma a partir da qual apela "à comunidade internacional para ajudar a remover Kadafi do poder e parar o massacre em curso". Por "comunidade internacional", naturalmente, ele não se refere àqueles de nós que podem organizar protestos em embaixadas líbias ou essa espécie de coisa. Ele quer dizer a grande e as não tão grandes potências que podem ser persuadidas a instalar as suas forças armadas na Líbia.





"Príncipe coroado": O que tento fazer é parar o massacre – tento fazer pressão e apelar à comunidade internacional para parar esta matança. Kadafi – ele deve abandonar [o poder]. E é o que tento fazer todo dia. 


Barnaby Phillips, Al Jazeera: Então, o que a comunidade internacional deveria fazer e o que a comunidade internacional pode fazer? 


"Príncipe coroado": A comunidade internacional – eles sabem o caminho para parar o massacre. 


Barnaby Phillips: Mas está a favor da intervenção militar da comunidade internacional? "Príncipe coroado": Eu penso que a apoiarei, qualquer coisa que pare a matança.



E o entrevistador da Al Jazeera deixou o "Príncipe coroado" sair-se com essa, sem desafiá-lo de todo quanto a este ponto. (É desnecessário dizer, ele não pôs uma questão que destrói a estrutura narrativa da intervenção militar estrangeira: uma vez que seções das forças armadas já aderiram à revolta, o que está a acontecer agora na Líbia não será tanto o regime a ceifar manifestantes desarmados e mais uma guerra civil entre dois campos armados, cada um controlando vastos territórios com recursos valiosos?) 





Com seriedade: qual é o significado de um levante para recuperar o país do seu governante atual – e de fato já o conseguiu recuperar em grandes partes do mesmo – se potências estrangeiras obtêm a entrada no país por insistência do seu pseudo-rei, para tomá-lo outra vez? Estará a Al Jazeera pela revolução ... ou pela contra-revolução? 





Agora, ninguém à esquerda deveria perder o sono quanto ao destino de um homem que ergueu demasiadas tendas em demasiados campos contraditórios . Mas temos toda a razão para estarmos preocupados quanto ao que o império, ajudado pelos mass media, pode tentar na Líbia, desde obter os seus ativos para aproveitar-se de um levante para o qual, estando seguramente no exílio, eles não fizeram quaisquer sacrifícios pessoais, até arrancar do controle da Líbia regiões produtoras de petróleo, ou talvez mesmo todo o país, das mãos não só do seu dentro em breve antigo regime, como também do seu povo.

Sobre a galeria:Saga do Partido Comunista do Brasil 1962-1977


Paulo Vinícius


O Centro de Documentação da Fundação Maurício Grabois avança. Vem trazer a público para a nova geração da internet toda uma história de heroísmo de gerações de revolucionários brasileiros que navegaram por meio da luta geopolítica do Século XX. Sua determinação e a correção de sua política foram as únicas garantias de continuidade da referência nacional dos comunistas do Brasil.

Uma geração formada na luta contra o fascismo e que nucleou uma corrente marxista desde a Conferência da Mantiqueira: Amazonas, Grabois, Prestes, Pomar, Diógenes Arruda, Marighela estavam juntos no maior partido da esquerda Brasileira de então. Com cerca de 10% dos votos, Prestes Senador e 15 deputados comunistas Uma galera engenhosa. Amazonas foi propor o apoio a JK. Cerca de 200 mil votos o elegeram, talvez os mesmos duzentos mil que o próprio JK cria que teriam os comunistas numa eleição nacional.  João Amazonas foi um destacado líder entre os comunistas e deixou sucessores.

O PCdoB é a continuidade desse caminhar do movimento comunista no Brasil. Com a deserção do PCB no princípio dos anos 90, sob comando de Roberto Freire, o PCdoB já era uma força decisiva da juventude brasileira, destinada, portanto, a ter futuro, e sem perder os vínculos com o passado. Surgiu com uma Carta de 100 contra a mudança de nome e pela realização de um Congresso do Partido, que foi firmada na verdade por 99 assinaturas, já que um, pressionado, fugiu. O PCdoB são aqueles que não aceitam o revisionismo soviético. Muita ousadia desses brasileiros não admitirem essa sorte de tutelagem externa e terem  independência de trilhar um caminho próprio.

Tempos de Mao, Fidel, Che, Tito, Ho Chi Min, Enver Hoxha, Kruschev, Brejnev, de Samora Machel, de Arafat e Nelson Mandela.

Àquela época alertava-se sobre Kruschev e o risco para os comunistas a adesão àquele golpe de Estado e às teses assumidas, a desarmar o povo enquanto se gestava a Ditadura de 1964. Estavam ali as razões da crise de 1991. Profunda crise. O equívoco de Prestes em seu seguidismo cego à URSS cobrou caro à sigla, de que saiu, isolado, ainda em 1980. Filiou-se ao PDT de Brizola, herdeiro político de Vargas. O PC Brasileiro foi de concessão em concessão, até por fim, como muitos partidos pelo mundo, decidiu por maioria abandonar símbolo, nome, mudando o caráter. Hoje, o PPS é força auxiliar do bloco de oposição, com democratas e tucanos.

Em paralelo houve uma outra uma geração de mártires na luta contra a Ditadura: Carlos Nicolau Danielli, Lincoln Oest, Bicalho Roque, Osvaldão, Bergson Gurjão Farias, Helenira Rezende, Jânia Moroni Barroso, Custódio Saraiva, Ângelo Arroyo, o deputado e jornalista, o organizador Maurício Grabois e seu próprio filho André Grabois, Rui Frazão e tantos outros a cair pelas cidades e na Guerrilha do Araguaia.

O PCdoB de hoje é das raras organizações que participaram da luta armada contra a Ditadura Militar a manterem obstinada continuidade histórica. O PCdoB, quando atacado no Araguaia, onde prestava inequívoco apoio à comunidade de ribeirinhos do Pará, enfrentou e por duas campanhas, repeliu a agressão, apesar de claríssima inferioridade, pelo conhecimento da religião e a solidariedade. Viveram como o povo, eram gente querida. Souberam ler as reivindicações do povo e escreveram a carta da União pela Liberdade e Direitos do Povo, com uma pauta que até hoje faz sentido, encarnando bandeiras até hoje ainda válidas para os povos da floresta. E depois incorporaram a Ação Popular, incorporando a permanente ligação com a juventude estudantil até hoje.

Paulo Fonteles, a Família Canuto, o Zezinho, sobrevivente do Araguaia.

E depois a resistência ao neoliberalismo nos anos 90.  Em meio à crise dos 90, o Partido sustentou a sua identidade, símbolos e organização próprios, sem se abalar ou dividir, ao contrário do terremoto que atingiu os Partidos Comunistas de todo o mundo. O PCdoB não se abala e lança, em meio à crise, a insígnia do 8º Congresso: O Tempo não para. O Socialismo Vive!

E somos parte destacada das mais importantes organizações de luta do povo e participamos da vitória do povo com Lula.

Acompanhem conosco a galeria de parte dessa fecunda trajetória do Partido Comunista do Brasil.

Imagens da saga do Partido Comunista do Brasil 1962-1977
               http://grabois.org.br/portal/cdm/galeria.php?id_sessao=36&id_galeria=11

Morte de jovens negros tem cenário de 'extermínio'

A morte entre os jovens negros

Por Danilo Morais
Gostaria de chamar a atenção para um dos dados desta pesquisa, que é a alarmante constatação de que na média nacional morrem mais que o dobro de jovens negros em comparação com os jovens brancos. É importante salientar que os movimentos sociais da juventude negra, destacando aqui o Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE) e a Juventude da Coordenação Nacional de Entidades Negras (JCONEN), entre outros tem nomeado este fenômeno de extermínio ou mesmo de "genocídio" da juventude negra.
Envio abaixo o link e a matéria da agência Estado descrevendo mais esta flagrante demonstração da desigualdade racial no Brasil.




Para cada jovem branco assassinado morrem dois negros; proporcionalmente, número chega a 20 na Paraíba24 de fevereiro de 2011 | 12h 11Lisandra Paraguassu, Rafal Moraes Moura e Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O Mapa da Violência 2011 mostra que a vitimização juvenil por homicídios continua a crescer. O número de homicídios entre a população negra é explosivo e, o que é pior ainda, a vitimização entre jovens negros tem índices muito altos, beirando um cenário de "extermínio". Após uma década (1998-2008), continua praticamente inalterada a marca histórica de 92% da masculinidade nas vítimas de homicídio.
Levando em conta o tamanho da população, o Mapa mostra que a taxa de homicídios entre os jovens passou de 30 (em 100 mil jovens), em 1980, para 52,9 no ano de 2008. Já a taxa na população não-jovem permaneceu praticamente constante. O estudo concluiu que o incremento da violência homicida no Brasil das últimas décadas teve "como motor exclusivo e excludente a morte de jovens".
Em 1998, a taxa de homicídios de jovens (idade 15 e 24 anos) era 232% maior que a taxa de homicídios da população não-jovem. Em 2008, as taxas juvenis já eram 258% maiores. Essa é média nacional, mas há Estados com índices de vitimização jovem acima de 300%, como Paraná e o Distrito Federal.
Na população não jovem, só 9,9% do total de óbitos são atribuíveis a causas externas (homicídios, suicídios e acidentes de transporte). Já entre os jovens, as causas externas são responsáveis por 73,6% das mortes. Se na população não-jovem só 1,8% dos óbitos são causados por homicídios, entre os jovens, os homicídios são responsáveis por 39,7% das mortes.
O Estado de menor vitimização juvenil, Roraima, no ano de 2008, tinha proporcionalmente 66% mais vítimas juvenis. No outro extremo, Amapá e Paraná e Distrito Federal ostentam quatro vezes mais mortes juvenis do que as outras faixas.
Negros e jovens. A partir de 2002 fica evidente um forte crescimento na vitimização da população negra. Se em 2002 morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos, esse percentual eleva-se para 67% em 2005 e mais ainda, para 103% em 2008. Assim, morrem proporcionalmente mais do dobro de negros do que brancos.
Segundo o Mapa da Violência/2011, isso acontece porque, por um lado, as taxas de homicídios brancos caíram de 20,6 homicídios em 100 mil brancos em 2002 para 15,9 em 2008. Já entre os negros, as taxas subiram: de 30 em 100 mil negros em 2002 para 33,6 em 2008.
Entre os jovens, esse processo de vitimização por raça/cor foi mais grave ainda. O diferencial (índice de vitimização) que em 2002 era também de 46% eleva-se para 78% em 2005 e pula para 127% em 2008. Mas essas são médias nacionais.
"Esmiuçando os dados, vemos que há estados como Paraíba ou Alagoas em que por cada jovem branco assassinado morrem proporcionalmente mais de 13 jovens negros (13 em Alagoas, mas são 20 na Paraíba", descreve o Mapa.

A herança maldita de Lula?

A herança maldita de Lula? - Gilson Reis


O PIG (Partido da Mídia Golpista), articulado com os demotucanos e assessorado pelos neófitos neoliberais do PPS, desenvolve nas últimas semanas dois movimentos políticos simultâneos.

Primeiro, transformar a presidenta Dilma Rousseff na representante dos interesses do mercado, na gestora competente, discreta, eficiente e dura. Editorialistas da grande mídia, que até pouco tempo a tratavam como uma mulher despreparada e artificial, tratam-na agora como a dama de ferro dos trópicos, pragmática, pouca afeita a badalações e discursos desconexos e rudes do seu antecessor.

Segundo, transformar o presidente Lula e seu governo no grande responsável pela crise artificial que passa o país e o mundo nesse início de ano, provocada principalmente pela especulação de commodities agrícolas. Conforme os golpistas de plantão, o aumento dos juros ocorrido no último período, a alta da inflação, o descontrole dos gastos públicos, o aumento do custeio da máquina pública, tudo isso decorre do desgoverno e da irresponsável gestão do ex-presidente Lula. O mais incrível dessa onda artificial é identificar que um dos mentores e garoto-propaganda da campanha é o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Embora tenha governado o país por longos oito anos, FHC foi obrigado a ficar no anonimato da luta política brasileira no curso dos dois mandatos do presidente Lula. A solidão imposta ao sociólogo originava das pesquisas de opinião pública, que confirmava a cada nova amostragem o extraordinário nível de rejeição do grão-tucano perante a população brasileira. O PSDB, partido do presidente FHC, teve que escondê-lo nas duas últimas eleições, pois suas aparições representavam desgaste para os candidatos do partido.

O motivo que levou FHC a esse descrédito incomparável está relacionado ao modelo de gestão praticado em seus oito anos de governo neoliberal, que ficou nacionalmente conhecido como a herança maldita de FHC.

Governo FHC: privatizações, aumento da dívida pública, endividamento externo, acordos com o FMI, crescimento médio de 2% do PIB, destruição do estado nacional, terceirização da máquina pública, demissão de 98 mil servidores, mercantilização da saúde e da educação, destruição das universidades públicas e dos Cefets, submissão do país aos interesses dos EUA na Alca e na base militar de Alcântara, relações de desprezo com nossos vizinhos da América Latina. Sem contar a reforma da previdência, a desregulamentação dos direitos trabalhistas e previdenciários, a criminalização dos movimentos populares, desemprego, apagão, destruição da infra-estrutura do Estado brasileiro e inúmeras outras ações que tanto mal fizeram ao país e aos brasileiros.

Conforme FHC e seus interlocutores da mídia golpista, vivemos nesse início de ano as conseqüências de uma gestão pública irresponsável e contrária aos interesses do Brasil. Nesse cenário de intrigas e pressões, crescem as manobras de uma elite sedenta de vingança. Para alcançar seus objetivos, tenta de forma desesperada atacar a gestão do presidente Lula com a seguinte palavra de ordem: a herança maldita de Lula. Todavia, é preciso afirmar que entre o real e a fantasia temos um largo caminho.

Governo Lula: geração de 14 milhões de empregos, formalização do mercado de trabalho, aumento real de 74% do salário mínimo, aumento da participação dos salários na renda nacional, aumento médio do PIB de 4%, exportações e balança comercial com superávit recorde, reserva de 300 bilhões de dólares, controle da inflação, redução da taxa básica de juros, controle da dívida interna, menor risco país na história, aumento de 132%, em termos nominais, do investimento em saúde, e de 360% no investimento na educação, expansão das universidades e da educação profissional, 500% de aumento de investimento na cultura, 12,6 milhões de famílias incluídas no Bolsa-família. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) investe bilhões de reais em energia, saneamento, rodovias, ferrovias, indústria naval, aeroportos. O programa Minha Casa Minha Vida disponibiliza recursos para a construção de três milhões de moradias, aumento de dois milhões de barris de petróleo, descobrimento e exploração do pré-sal. Contratação de 67 mil servidores públicos federais, investimento exponencial na agricultura familiar, realização de dezenas de conferências públicas, relação cordial e respeitosa com os movimentos popular e sindical, além de muitos outros benefícios para o país e para o povo.

Vivemos nesses quase dois meses de governo Dilma um cenário muito nebuloso. De um lado, um governo que assimila o programa e a prática da oposição derrotada, e uma permanente e midiática tentativa de cooptação do governo para prevalecer os interesses do mercado e da elite nacional, em detrimento dos trabalhadores. O palocismo germinando nas entranhas do Palácio de forma incontestável e incontrolável. Finalmente, podemos considerar que a herança maldita de FHC, que Lula absorveu e que Dilma sinaliza a sua continuidade, situa-se é justamente na política macroeconômica: política cambial, fiscal e monetária. Essa política é em síntese a responsável por todos os desajustes da economia nacional e internacional.

Enquanto isso, FHC reaparece nos holofotes da grande mídia como o injustiçado. FHC é agora o líder político mais preparado da história recente do país. E lula? Ah! Não passa de um metalúrgico que precisa ser esquecido pelo país. Lula não passa, conforme eles, de um despreparado líder que tanto mal fez ao Brasil.

Acorda, Dilma, o Brasil precisa avançar. Ou você se esqueceu da herança maldita de FHC?

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Gilson Reis é Presidente do Sinpro Minas Gerais e da CTB-MG

    A ação (endinheirada) da ClA para promover a cultura apolítica

    A página da Fundação Maurício Grabois é um baú de tesouros intelectuais a desvendar! Vejam a seguinte resenha de James Petras, traduzido ao Português por Luciana Cristina Ruy e que desmascara gente muito incensada na academia, literalmente a soldo da CIA.

    Bom proveito!

    Paulo Vinícius

    A ação (endinheirada) da ClA para promover a cultura apolítica


    Por James Petras*
    Hannah Arendt, George Orwell, Isaiah Berlin, Sidney Hook, Daniel Bell e muitos outros, e suas revistas, foram financiados pela CIA para se oporem aos artistas e escritores engajados na luta contra o capitalismo
    Foi publicado recentemente, em Londres, o livro Who Paid the Piper: The ClA and the Cultural Cold War (Quem paga a orquestra: a ClA e a guerra fria cultural), de Frances Stonor Saunders, que faz uma detalhada estimativa das formas pelas quais a CIA atuou e influenciou em um grande número de organizações culturais, através de seus agentes ou por meio de organizações filantrópicas, como as fundações Ford e Rockefeller. A autora dá detalhes de como e porque a CIA organizou congressos culturais, montou exibições de arte e organizou concertos.

    A CIA também publicou e traduziu autores conhecidos que seguiam a linha de Washington, financiou a arte abstrata contra a arte com conteúdo social e, pelo mundo, subsidiou jornais que criticavam o marxismo, o comunismo e políticas revolucionárias. Justificou também, ou ignorou, as políticas imperialistas violentas e destrutivas dos EUA. A CIA criou um biombo para alguns dos principais expoentes da liberdade intelectual no Ocidente, colocando-os a seu serviço, a ponto de incluir alguns desses intelectuais em sua folha de pagamentos. Muitos eram conhecidamente envolvidos em "projetos" da CIA, e outros circulavam em sua órbita, alegando desconhecer a ligação com a CIA depois que esses financiamentos foram denunciados no final da década de 1960 e durante a guerra do Vietnã, quando a onda política virou-se para a esquerda. Publicações anticomunistas americanas e européias receberam fundos diretos e indiretos, incluindo Partisan Review, Kenyon Review, New Leader, Encounter e muitas outras.

    Entre os intelectuais financiados e promovidos pela CIA estavam Irving Kristol, Melvin Lasky, Isaiah Berlin, Stephen Spender, Sidney Hook, Daniel Bell, Dwight MacDonald, Roberto Lowell, Hannah Harendt, Mary McCarthy e numerosos outros, nos EUA e na Europa. Na Europa, a CIA estava particularmente interessada em promover a "esquerda democrática" e ex-esquerdistas, como Ignacio Silone, Stephen Spender, Arthur Koestler, Ràymond Aron, Anthony Crosland, Michael Josselson e George Orwell.

    Sob o estímulo de Sidney Hook e Melvin Lasky, a CIA teve importante papel no financiamento e promoção do Congresso Para a Liberdade Cultural, uma espécie de OTAN da cultura, que reuniu toda a sorte de "anti-stalinistas" de direita e de esquerda. Eles tinham toda a liberdade para defender valores políticos e culturais do Ocidente, atacar o "totalitarismo stalinista" e tagarelar suavemente sobre o racismo e o imperialismo americanos. Ocasionalmente, críticas marginais contra a sociedade de massa americana apareciam nos jornais subsidiados pela CIA.

    O que era particularmente bizarro nesse conjunto de intelectuais financiados pela CIA não era só seu sectarismo político, mas a pretensão de serem pesquisadores desinteressados da verdade, humanistas iconoclastas, intelectuais de espírito livre ou artistas adeptos da arte pela arte, que se contrapunham aos artistas corrompidos, comprometidos e prostituídos pelo aparato stalinista.

    É impossível acreditar quando eles juravam ignorar as ligações com a CIA. Como poderiam ignorar a ausência, em seus jornais, de qualquer crítica mesmo elementar aos numerosos linchamentos que ocorriam em todo o sul dos EUA nessa época? Como poderiam ignorar a ausência, em seus congressos culturais, de críticas à intervenção imperialista na Guatemala, Irã, Grécia e Coréia, que deixaram milhões de mortes? Como poderiam ignorar as grosseiras desculpas, nos jornais onde escreviam, para os crimes imperialistas? Eles eram soldados: alguns lisonjeiros, cáusticos, rudes e polêmicos, como Hook e Lasky; outros, ensaístas elegantes, como Stephen Spender, ou informantes donos-da-verdade, como George Orwell.

    Saunders retrata como a elite wasp (sigla de White, Anglo-Saxon, Protestant, expressão que designa a elite americana, branca, protestante e anglo-saxã) manipula os cordéis da CIA; descreve também o rosnar de antigos esquerdistas contra aqueles que permanecem atuando nos movimentos de esquerda.

    Quando a verdade sobre esses financiamentos da CIA veio à tona, no final da década de 1960, alguns "intelectuais" de Nova York, Paris e Londres fingiram indignação, alegando terem sido manipulados. Foram desmentidos por Tom Braden, ex-dirigente da Seção das Organizações Internacionais da CIA, que os desmascarou dando detalhes de como eles, na verdade, sabiam quem pagava seus salários e bolsas. De acordo com Braden, a CIA financiou sua "conversa fiada literária", frase usada pelo dirigente linha dura da CIA, Cord Meyer, para descrever os exercícios intelectuais antistalinistas de Hook, Kristol e Lasky. Ele revelou que as mais prestigiosas e conhecidas publicações da chamada "esquerda democrática" (Encounter, New Leader, Partisan Review) foram financiadas pela CIA, e que "um agente se tornou diretor da Encounter". Em 1953, escreveu, "estávamos operando ou influenciando organizações internacionais em todos os campos".

    O livro de Saunders dá informações úteis sobre as formas como esses trabalhadores intelectuais da CIA defendiam os interesses imperialistas dos EUA nas frentes culturais, e abre uma importante discussão sobre as conseqüências a longo prazo das posições ideológicas e artísticas defendidas por esses agentes intelectuais do imperialismo.

    Saunders refuta as afirmações de Hook, Kristol e Lasky de que a CIA e as fundações a ela ligadas promoviam ajuda sem exigir contrapartida. Demonstra que, ao contrário, "esperava-se que os indivíduos e instituições subsidiados pela CIA fossem ( ... ) parte de uma propaganda de guerra". A propaganda mais eficiente era definida pela CIA como aquela em que "o sujeito se move na direção em que você deseja, por razões que ele acredita serem as suas próprias". A CIA dava dinheiro para a tagarelice da esquerda democrática sobre reforma social, mas o que lhe interessava mesmo eram as polêmicas "anti-stalinistas" e as diatribes literárias contra os marxistas ocidentais e os escritores e artistas soviéticos. Os autores dessas diatribes recebiam financiamentos mais generosos e eram promovidos com maior visibilidade. Para Braden, elas refletiam a "convergência" entre a CIA e a esquerda democrática na luta contra o comunismo. A colaboração entre a esquerda democrática e a CIA incluía ações anti-greves na França, deduragem contra stalinistas (Orwell e Hook), e campanhas difamatórias disfarçadas para evitar que artistas de esquerda tivessem reconhecimento (como ocorreu quando Pablo Neruda foi indicado para o prêmio Nobel de literatura, em 1964).

    A CIA, como arma do governo norteamericano mais envolvida na luta cultural durante a Guerra Fria, centrou sua o que interessava mesmo à CIA eram as polêmicas 'antistalinistas' e a verborréia literária contra marxistas ocidentais e escritores e artistas soviéticos ação na Europa após a 11 Guerra Mundial. Depois de quase duas décadas de guerra capitalista, depressão, e ocupação pós-guerra, a grande maioria dos intelectuais e sindicalistas europeus eram anticapitalistas e particularmente críticos das pretensões hegemônicas dos EUA.

    Para combater a atração do comunismo e o crescimento dos partidos comunistas na Europa (especialmente na França e Itália), a CIA criou um programa de mão dupla. Por um lado, diz Saunders, certos autores europeus foram promovidos como parte de um "programa anticomunista" explícito. O critério cultural adotado pela CIA para "textos adequados" incluía "críticas contra a política externa soviética e contra o comunismo como forma de governo, desde que considerados objetivos e escritos de maneira convincente e oportuna". A CIA gostava especialmente de publicar textos de autoria de ex -comunistas desiludidos, como Silone, Koestler e Gide. A CIA promoveu escritores anticomunistas, financiando generosamente conferências em Paris, Berlim ou Bellagio, às margens do Lago Como, na Itália, onde cientistas sociais e filósofos como Isaiah Berlin, Daniel Bell e Czeslow Milosz pregavam seus valores (e as virtudes da 'liberdade e independência intelectual do Ocidente', dentro dos parâmetros anticomunista e pró-Washington definidos pelos seus patrões da CIA). Nenhum desses intelectuais de prestígio teve coragem de levantar a menor dúvida ou questionamento sobre o apoio dos EUA aos assassinatos em massa na Indonésia e na Argélia, a caça às bruxas contra intelectuais norte-americanos ou os linchamentos paramilitares promovidos pela Ku Klux Klan no sul dos EUA, assuntos "banais" que deviam ser deixados aos comunistas, segundo Sidney Hook, Melvin Lasky e o grupo do Partisan Review, que procurou avidamente recursos financeiros para evitar a falência da revista. Aliás, muitas dessas famosas revistas anticomunistas teriam falido sem o dinheiro da CIA, que comprou milhares de exemplares e, mais tarde, distribuiu-os gratuitamente.

    O outro caminho usado pela CIA para a intervenção cultural foi muito mais sutil. Ele envolvia a promoção de sinfonias, exibições de artes plásticas, balé, grupos de teatro, e a apresentação de músicos de jazz famosos e cantores de ópera, com o objetivo explícito de neutralizar o sentimento antiimperialista na Europa e criar um ambiente favorável à cultura e ao governo norte-americanos. A idéia que orientava essa política era difundir a cultura norte-americana, para alcançar a hegemonia cultural em apoio ao império militar e econômico dos EUA. A CIA gostava especialmente de enviar artistas negros para a Europa particularmente cantores (como Marion Anderson), escritores e músicos (como Louis Armstrong), para neutralizar a hostilidade européia contra a política interna racista dos EUA. Se os intelectuais negros não aderiam ao script artístico e faziam críticas explícitas, eram banidos da lista, como foi o caso do escritor Richard Wright.

    O nível de controle político da CIA sobre a agenda intelectual dessas atividades artísticas aparentemente apolíticas foi demonstrado claramente na reação dos editores de Encounter (Lasky e Kristol, entre outros) contra um artigo proposto por Dwight MacDonald. Ele era um dissidente anarquista e antigo colaborador do Congresso Para a Liberdade Cultural e de Encounte r para a qual escreveu, em 1958, um artigo intitulado "America America", criticando a cultura de massa americana, seu materialismo rude e falta de civilidade. Era uma negação dos valores americanos, a matéria-prima da qual era feita a propaganda da CIA e da Encounter na guerra cultural contra o comunismo. O ataque de MacDonald ao "decadente império americano" foi demais para a CIA e seus intelectuais empregados na Encounter. Embora Braden tenha escrito, nas instruções para os intelectuais, "que não se pode exigir, das organizações financiadas pela CIA, o apoio a todos os aspectos da política dos EUA", esse era geralmente o quesito mais importante quando estava em jogo a política externa dos EUA. Apesar de MacDonald ser um ex-editor de Encounter, seu artigo foi recusado, mostrando que as queixas piedosas contra a guerra fria feitas por escritores como Nicola Chiaromonte, publicadas na segunda edição de Encounter, segundo as quais "nenhum intelectual pode deixar de aceitar, sem degradar-se, o dever de desmascarar ficções, não aceitando 'mentiras úteis' apresentadas como verdades", certamente não se aplicava a Encounter e sua famosa lista de colaboradores quando se tratava de lidar com as "mentiras úteis" do Ocidente.

    Uma discussão importante e fascinante no livro de Saunders revela a ação da CIA e seus aliados no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que aplicaram muito dinheiro para promover as pinturas e os pintores do expressionismo abstrato como antídoto contra a arte de conteúdo social. Nessa ação, a CIA chocou-se com a direita no Congresso dos EUA. Ela viu nessa arte uma "ideologia anticomunista, a ideologia da liberdade e da livre empresa. Não figurativa e politicamente silenciosa, era a perfeita antítese do realismo socialista" . A CIA e o MoMA viram essa arte como a verdadeira expressão da vontade nacional americana. Para enfrentar a crítica da direita parlamentar, a CIA voltou-se para a iniciativa privada (isto é, o MoMA e seu co-fundador, Nelson Rockefeller, que se referia ao expressionismo abstrato como "a pintura da livre empresa"). Muitos diretores do MoMA tinham ligações antigas com a CIA, e apoiavam a promoção do expressionismo abstrato como arma da guerra fria cultural. Mostras dessa arte foram organizadas em toda a Europa, sendo gasto muito dinheiro para isso. Críticos de arte foram mobilizados, e revistas de arte publicaram artigos com generosos elogios. A combinação dos recursos econômicos do MoMA com a ajuda da Fundação Fairfield, ligada à CIA, assegurou a colaboração das galerias européias de maior prestígio que, por sua vez, puderam influenciar a estética em toda a Europa.

    O expressionismo abstrato, como ideologia de uma "arte livre" (como disse George Kenan), foi usada para atacar politicamente os artistas engajados na Europa. O Congresso Para a Liberdade Cultural (ponta de lança da CIA) deu grande apoio à pintura abstrata, contra a estética figurativa e realista, numa atitude explicitamente política. Comentando o papel político do expressionismo abstrato, Saunders diz que "um dos papéis extraordinários que a pintura americana teve na guerra fria cultural não foi o fato de participar daquela jogada, mas sim o de um movimento tão deliberadamente apolítico ter se tomado tão intensamente politizado." A CIA associou artistas apolíticos e arte com liberdade para neutralizar os artistas da esquerda européia. A ironia aqui, é claro, era que a postura apolítica só valia para o consumo da esquerda.

    A CIA e suas organizações culturais puderam, com isso, moldar profundamente a visão da arte no pós-guerra. Muitos escritores de prestígio, poetas, artistas e músicos proclamaram sua independência política, declarando sua crença na arte pela arte. O dogma do artista ou intelectual livres, isto é, sem engajamento político, ganhou força, e ainda hoje é muito difundido.

    Saunders apresenta um balanço muito detalhado das ligações entre a CIA e os artistas e intelectuais do Ocidente, mas não explorou as razões estruturais pelas quais a espionagem dos EUA tinha de controlar os dissidentes. Sua discussão é amplamente emoldurada pela competição política e do conflito com o comunismo soviético, sem nenhuma tentativa séria de colocar a guerra fria cultural no contexto da luta de classes, das revoluções do Terceiro Mundo e dos desafios dos marxistas independentes à dominação do imperialismo econômico dos EUA. Isso leva Saunders a privilegiar algumas aventuras e operações da CIA em detrimento de outras. Ao invés de ver a guerra cultural da CIA como parte de um sistema imperialista, Saunders tende a criticar sua natureza reativa desigual e enganadora. A conquista cultural do Leste europeu e da ex-URSS pela OTAN deveria dissipar rapidamente a noção de que a guerra cultural foi uma ação defensiva.

    As raízes da guerra fria cultural estão fincadas na luta de classes. Muito antes, a CIA e seus agentes na central sindical americana AFL-CIO, Irving Brown e Jay Lovestone (ambos ex-comunistas), usaram milhões de dólares para corromper sindicatos militantes e acabar com greves comprando sindicatos social-democratas. O Congresso para a Liberdade Cultural e seus intelectuais eruditos eram financiados pelos mesmos funcionários da CIA que em 1948 contrataram gangsters de Marselha, na França, para acabar com uma greve de estivadores.

    Depois da II Guerra Mundial, com o descrédito da velha direita na Europa Ocidental (comprometida por suas ligações com o fascismo e com um sistema capitalista enfraquecido), a CIA percebeu que, para submeter os sindicatos e intelectuais contrários à política dos EUA e à OTAN era preciso encontrar (ou inventar) uma esquerda democrática disposta a se engajar na luta ideológica. Foi criada então uma seção especial da CIA para neutralizar a resistência dos políticos de direita no Congresso dos EUA. A esquerda democrática foi usada essencialmente para combater a esquerda radical e dar um verniz ideológico à hegemonia norte-americana na Europa. Mas não cabia a esses pugilistas ideológicos moldar as estratégias políticas e os interesses dos EUA. Sua tarefa não era questionar ou exigir, mas servir ao império em nome dos "valores democráticos ocidentais". Somente quando a oposição em massa à guerra do Vietnã tomou conta dos EUA e da Europa, e suas ligações com a CIA foram reveladas, muitos dos intelectuais financiados e promovidos por ela abandonaram o barco e começaram a criticar a política externa dos EUA, como Stephen Spender que, depois de passar a maior parte de sua carreira na folha de pagamentos da CIA, tomou-se um crítico da política norte-americana no Vietnã; alguns editores da Partisan Review fizeram o mesmo. Alegavam inocência, mas poucos críticos acreditaram que um namoro com tantas publicações e conferências, antigo e com um envolvimento tão profundo, pudesse ter acontecido sem um grau mínimo de conhecimento.

    O envolvimento da CIA na vida cultural dos EUA, Europa e outros lugares teve importantes conseqüências em longo prazo. Muitos intelectuais foram recompensados com prestígio, reconhecimento público e dinheiro para pesquisas precisamente por trabalhar dentro do cabresto ideológico imposto pela agência. Alguns dos grandes nomes da filosofia, ética política, sociologia e arte, que ganharam visibilidade com as publicações e seminários financiados pela CIA, foram quem definiram as normas e padrões para a formação das novas gerações, seguindo os parâmetros políticos criados pela CIA. Não foi o mérito ou o talento, mas a política - a linha definida por Washington como "verdade" ou "excelência" - que abriu caminho para postos em universidades, fundações e museus de maior prestígio.

    A retórica anti-stalinista dos EUA e da esquerda democrática européia e suas proclamações de fé nos valores democráticos e libertários foram uma cobertura ideológica útil para os horríveis crimes cometidos em nome do Ocidente. Isso repetiu-se na recente guerra da OTAN contra a Iugoslávia, quando muitos intelectuais da esquerda democrática puseram-se ao lado do Ocidente e do ELK (Exército de Libertação de Kosovo), apoiando o sangrento expurgo de milhares de sérvios e o assassinato em massa de civis inocentes. Se o anti-stalinismo foi o ópio da esquerda democrática durante a guerra fria, o intervencionismo a pretexto de defesa dos direitos humanos tem hoje o mesmo efeito narcotizante e ilude membros da esquerda democrática contemporânea.

    As campanhas culturais da CIA criaram o protótipo de intelectuais, acadêmicos e artistas que, hoje, se dizem apolíticos, divorciados das lutas populares, e cujo valor aumenta na medida em que se distanciam das classes trabalhadoras e se aproximam das fundações de prestígio. O modelo que a CIA fixou, de profissional de sucesso, é o do leão de chácara ideológico, e exclui intelectuais críticos que escrevem sobre a luta de classes, a exploração dos trabalhadores, e o imperialismo norte-americano categorias consideradas "ideológicas" e não "objetivas", como eles dizem.

    A pior e mais duradoura influência do pessoal do Congresso para a Liberdade Cultural não foi a defesa das políticas imperialistas dos EUA, mas o êxito em impor, para as gerações seguintes de intelectuais a idéia de excluir toda discussão sobre o imperialismo norte-americano, sua influência cultural e sua ação através dos meios de comunicação de massas. A questão não é se os intelectuais ou artistas podem ou não tomar partido ou assumir uma posição progressista numa ou outra questão. O problema é a crença difundida, entre escritores e artistas, de que expressões sociais e políticas antiimperialistas não devem aparecer em suas canções, pinturas e escritos, se querem ter sua obra valorizada como trabalho de substancial mérito artístico. A vitória política duradoura da CIA foi a de convencer intelectuais e artistas de que um engajamento sério e firme à esquerda é incompatível com arte e conhecimentos sérios. Hoje, na ópera, teatro, galerias de arte, nas reuniões profissionais nas universidades, aqueles valores culturais que a CIA promoveu na guerra fria cultural são visíveis: quem ousará dizer que o rei está nu?

    James Petras é sociólogo norte-americano. Esta resenha foi publicada originalmente em Monlhly Review, vaI. 51, n° 6, novembro de 1999. Tradução de Luciana Cristina Ruy.

    EDIÇÃO 56, FEV/MAR/ABR, 2000, PÁGINAS 70, 71, 72, 73, 74

    sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

    Pochmann: Tendências da revolução na base técnico-científica - Portal Vermelho

    Pochmann: Tendências da revolução na base técnico-científica - Portal Vermelho

    Tal como nas duas revoluções tecnológicas anteriores, o desenrolar de uma profunda mudança na base técnico-científica, neste início do século 21, gera tendências, que acentuam ainda mais rapidamente a natureza desigual e combinada do desenvolvimento nas economias capitalistas.

    Por Márcio Pochmann*

    Na segunda metade do século 18, o curso da revolução tecnológica, concentrada fundamentalmente na Inglaterra, foi acompanhado pelo surgimento de novos setores de atividade, que inovaram e ampliaram o conjunto do setor produtivo. Por meio de uma nova fonte de energia decorrente da descoberta do motor a vapor, o transporte e a logística ganharam impulsos inéditos. Com a indústria das ferrovias, o transporte terrestre de cargas e de pessoas evoluiu modernizando e ampliando o valor agregado do sistema econômico como um todo, especialmente para os poucos países que naquele período conseguiram se industrializar. Em síntese, o nascimento de novos setores durante a primeira revolução tecnológica foi responsável pela ampliação da competição inter e intra-setores da economia.

    Da mesma forma, a evolução da segunda revolução tecnológica no último terço do século 19 trouxe, por consequência, a explosão de novos setores econômicos, que se aliaram e modernizaram o conjunto das atividades produtivas. Naquela época, o surgimento dos setores de energia elétrica, petróleo, motor a combustão, telefonia, entre tantos outros, transformaram e tornaram bem mais complexas as estruturas produtivas, sobretudo dos países que se industrializavam ou já contavam com sua indústria avançada.

    Todavia, o aparecimento de grandes empresas – capazes de suportar os investimentos da revolução tecnológica e, especialmente, o tamanho das escalas de produção – terminou por alterar a competição dita perfeita, que até então se realizava por meio das forças de mercado (milhares de ofertantes e demandantes que competiam, sem que nenhum tivesse capacidade de estabelecer o preço final). A concorrência se manteve, porém, cada vez mais imperfeita, uma vez que o preço final passou a depender cada vez mais do grau de monopólio da empresa (estabelecimento de uma margem de lucro sobre o custo total de produção), tendo em conta a organização de estruturas de mercado em oligopólios (oligopsônios) e monopólio (monopsônios).

    Em função das crescentes falhas no funcionamento das forças de mercado e da maior manifestação de crises, a presença do Estado assumiu papel estratégico. A regulação pública das atividades econômicas se mostrou eficiente e pertinente em todas as sociedades capitalistas, que se transformavam em urbano-industriais ao longo do século 20. Mas desde a virada para o novo século 21, houve embutida a força de uma nova revolução na base técnico-científica das economias modernas, motivada pela maior pujança dos setores terciários no interior da estrutura produtiva. Ou seja, a transmutação dos setores eletroeletrônicos em novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), da forte evolução da nanotecnologia e do aparecimento de novos materiais, principalmente.

    Na realidade, a evolução desta nova revolução tecnológica não se traduz – até o momento – no aparecimento de novos setores econômicos, que modernizem e ampliem o conjunto das atividades produtivas como nas revoluções anteriores. De um lado, a expansão das TICs não consagra um novo complexo produtivo, mas, sim, o seu infiltramento engajado em setores econômicos já existentes. Isso ocorre muito rapidamente e é conduzido por poucas e grandes empresas, que embora possam ter nascido pequenas (Google, Facebook, entre outras), crescem ligeira e praticamente sem competição. O resultado disso tem sido a brutal concentração da renda, riqueza e propriedade, motivada por uma revolução tecnológica assentada na hipermonopolização do capital. E porque não dizer do poder privado.

    De outro lado, a proliferação das cadeias de produção, integradas globalmente por parte das grandes corporações transnacionais, permite cada vez mais a produção centrada fundamentalmente sobre custos mais eficientes, verificados em distintas realidades do mundo. Com isso, o comércio externo cresce ligeiramente, porém, cada vez menos realizado entre países e mais centrado no conjunto de trocas intraempresas transnacionais. São elas que lideram e conduzem os rumos do comércio internacional. O reconhecimento a respeito das novidades mais concentradas de funcionamento do capitalismo neste início de século leva à identificação de duas tendências da revolução técnico-científica atual. Inicialmente, o predomínio do ambiente de crise contínuo nas economias, recorrentemente associado à crescente presença do Estado a serviços das grandes corporações. Exemplo disso foi o tipo de intervenção estatal observada na crise global de 2008 quando, por meio do uso do fundo público, foi possível transferir parcelas significativas de recursos para a salvação de grandes empresas do colapso. Essa associação entre o fundo público e as finanças do setor privado, sobretudo das grandes corporações transnacionais, revela a força do processo de hipermonopolização do capital. Recursos que anteriormente eram escassos para as áreas de educação, saúde, saneamento, trabalho, entre outras, apareceram abundantemente, para solver do prejuízo grandes bancos e empresas não financeiras.

    Convém também ressaltar o aparecimento, posteriormente, de sinais que afirmam o estabelecimento de uma classe burguesa de dimensão mundial, a partir da dissolução das fronteiras nacionais, motivada pelo avanço da revolução tecnológica, produtiva e comercial. Poucas e grandes empresas dominam cada vez mais os setores econômicos e já respondem por quase a metade do Produto Interno Bruto mundial.

    No Brasil, o segmento de telefonia móvel, por exemplo, que faz parte do setor de tecnologia de informação e comunicação, tem em apenas 15 dos mais de 5 mil municípios do país a presença de mais de uma empresa em regime de competição. Ou seja, em mias de 99% dos municípios brasileiros predomina o monopólio na oferta dos serviços de telefonia móvel. Em grande medida, essa realidade sustenta serviços de baixa qualidade, aliados à exclusão social, sobretudo aos segmentos de menor renda e mais distantes geograficamente dos centros metropolitanos do país. A ausência de competição expressa os problemas do modelo de privatização escolhido pelo Brasil, indicando o simples deslocamento do antigo monopólio público (empresa estatal) para, cada vez mais, o monopólio privado (empresas privadas).

    Na trajetória apresentada até o momento, a confrontação e a rebeldia deixarão de ocorrer, na medida em que o Estado tenha capacidade de interferir positivamente em função do fortalecimento dos setores produtivos e da redução da exclusão social, que marca o avanço da revolução técnico-científica. O Brasil tem condições objetivas de atuar positivamente no enfrentamento das tendências da nova revolução tecnológica.


    *Presidente do Ipea


    Fonte: CartaCapital (originalmente publicado na revista Forum)

    1º de Maio reúne 5 centrais e é o mais representativo em 30 anos - Portal Vermelho

    1º de Maio reúne 5 centrais e é o mais representativo em 30 anos - Portal Vermelho



    Com a participação de todos os movimentos sociais e de cinco das seis centrais sindicais – CTB, Força, UGT, Nova Central e CGTB –, o 1º de Maio Unificado de 2011 deve ser a mais ampla e representativa celebração do Dia do Trabalhador nos últimos 30 anos. Desde o histórico 1º de Maio de 1981, em São Bernardo do Campo (SP), uma comemoração da data não reunia um conjunto tão diversificado de forças e tendências do movimento.
    A programação deste ano ocorre na Avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste de São Paulo (SP), e tem como eixo o lema “Desenvolvimento com justiça social”. As centrais deliberaram nove bandeiras de lutas, como a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, o fim do fator previdenciário, a política de valorização do salário mínimo e o trabalho decente
    A logomarca oficial do 1º de Maio Unificado não contará com o nome das centrais, de modo que cada estado possa adaptá-la, de acordo com as adesões. Segundo as entidades, a orientação é para que as comemorações nos estados trabalhem o mesmo eixo, de maneira preferencialmente unificada, sem prejuízo dos pleitos e das realidades regionais.

    “Reunir cinco centrais num 1º de Maio é um grande feito para os trabalhadores”, analisa o presidente da CTB, Wagner Gomes. “Estamos dando um passo importante para reafirmar essa unidade de ação das centrais. Esse 1º de Maio Unificado era uma vontade histórica do movimento sindical”, agrega o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulino.

    A ideia de centralizar as comemorações do Dia do Trabalhador ganhou força com a unidade do movimento sindical, que começou a se desenhar em 2006, quando a Força deixou a oposição ao governo Lula. Desde então, as centrais promoveram, em conjunto, três bem-sucedidas Marchas do Salário Mínimo em Brasília (2007, 2008 e 2009).

    O auge da articulação se deu em 2010, com a mobilização de 30 mil lideranças sindicais na 2ª Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), em 1º de junho, no Estádio do Pacaembu. O encontro aprovou a Agenda da Classe Trabalhadora, com 249 reivindicações, debatidas ao longo de seis meses e apresentadas à então candidata a presidente Dilma Rousseff.

    A ausência da CUT

    A CUT, embora tenha participado de todas essas atividades em comum, é a única central ausente do 1º de Maio Unificado. Às demais entidades, alegou que já tinha iniciado os preparativos para seu próprio 1º de Maio. Na data, vai promover um evento temático, batizado de “Brasil&África”.

    Nos bastidores, circulam outras versões. “A ideia da central é sair do pacote ‘os sindicalistas’ e recuperar o espaço que perdeu no governo Lula. Além disso, se aceitasse participar do evento, seria a primeira vez, em 28 anos de história, que não organizaria o seu próprio evento”, registrou a jornalista Thais Arbex, no site Poder Online, do iG.

    Na opinião de Paulinho, a CUT vive “uma guerra interna” e jamais aceitará participar de um 1º de Maio Unificado enquanto não resolver “os típicos problemas que ela trouxe do PT, com seus grupos e suas tendências”. A seu ver, essa divisão deixa o presidente cutista, Artur Henrique, com “pouca margem de manobra” para avançar. “A CUT quer fazer as coisas dela, aparecer sozinha. Eles achavam que o movimento sindical era todo deles e talvez tenham a avaliação de que perderam com a legalização das centrais.”

    Já Wagner Gomes faz um apelo aos “companheiros da CUT”, já de olho no Dia do Trabalhador do próximo ano. “Nossa intenção era que as seis centrais participassem do 1º de Maio Unificado, mas, lamentavelmente, uma força tão importante como CUT preferiu ficar de fora. Esperamos que eles façam um esforço e estejam junto conosco em 2012.”

    De São Paulo,
    André Cintra