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sábado, 17 de janeiro de 2015

O papa Francisco preocupa à direita católica - Por Bernardo Barranco V. -LA Jornada - ADITAL



Adital
Por Bernardo Barranco V.
Tradução: ADITAL


Desde que o Papa Francisco começou a gerar expressões e declarações que anunciam mudanças na vida da Igreja, as correntes conservadoras católicas começaram a manifestar sua inquietação. Depois de suas mensagens no Brasil e da multientrevista no avião de regresso a Roma, agora, o papa Francisco concede uma extensa entrevista à famosa revista jesuíta Civiltà Cattolica, fundada em 1850, na qual continua com surpreendentes revelações e atitudes para as necessárias mudanças requeridas pela Igreja Católica.
Para começar, Francisco se deslinda dos setores conservadores, de maneira contundente: Jamais fui de direita, disse. Sem dúvida, dito deslinde incomodou aos setores que predominam na estrutura não só da Cúria Romana, mas de muitos episcopados, incluindo à conservadora hierarquia mexicana. Após sua viagem ao Brasil, diferentes meios ultraconservadores pediam moderar as leituras dos discursos do sumo pontífice e evitar má interpretações, como muitos jornalistas tendenciosos, que, segundo portais direitistas, como Aciprensa, pretendem construir agendas que não são as da Igreja. Setores recalcitrantes começam a sentir-se desconsolados pelas posições polêmicas do Papa, que, sem chegar a ser revolucionárias, têm outro tom e novas tessituras. Refiro-me concretamente às novas atitudes proclamadas por Francisco em torno às mulheres, aos divorciados que casaram-se novamente e aos homossexuais.
Sobre o tema, o papa Francisco vai mais longe e questiona como obsessão a insistência quase enfermiça que a Igreja havia tido em torno a questões de controvérsia moral. Em dita disputa, os valores católicos politizaram-se no espaço público, a Igreja enfrentou as culturas seculares imperantes na maioria dos países sob a globalização. De maneira clara, diz: Não podemos continuar insistindo somente em questões referentes ao aborto, ao matrimônio homossexual ou ao uso de contraceptivos. É impossível. Já falei muito sobre essas questões e recebi reproches por conta disso. Porém, ao falar sobre essas coisas, deve-se fazer em um contexto. Já conhecemos a opinião da Igreja e eu sou filho da Igreja; porém, não é necessário estar falando dessas coisas sem parar. Francisco sugere um giro nos seguintes termos: Temos, portanto, que encontrar um novo equilíbrio, porque, de outra maneira, o edifício moral da Igreja core perigo de cair como um castelo de naipes, de perder o frescor e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais simples, mais profunda e irradiante. Dessa proposta é que surgem as consequências morais.
Francisco propõe com outras palavras o que aqui externamos; modera, sem mudanças doutrinais a agenda moral da Igreja. Não se trata de mudá-la ou repensar seus fundamentos; porém, convida a não absolutizá-la. Em troca, como ressaltou no Brasil, posiciona seu evangelho social baseado na solidariedade com os pobres, com os direitos humanos e com a justiça social. Porém, requer que os episcopados, os bispos e os fieis entrem em novas lógicas.
Por exemplo, é patente que o papa argentino foi muito mais sensível do que os próprios bispos mexicanos, ao solidarizar-se de imediato com as vítimas e penúrias extremas dos danificados, adiantando-se aos prelados locais. E tendo a Igreja mexicana a vasta rede social de recursos e de infraestrutura, parece ter feito muito pouco ou quase nada pelas desgraças que dezenas de milhares de vítimas de furacões e inundações.
A direita católica pode padecer histeria e até depressão ao imaginar a possibilidade de uma abertura da Igreja em termos de moral sexual. Duvidamos de uma revolução doutrinal imediata. Mas, Francisco vai insistir em uma revolução da pastoralidade da Igreja. Esse é um dos grandes déficits pouco reconhecidos ou enfrentados com honestidade; os números são frios, porcentualmente a Igreja vai em queda e em precipitada decadência. Se a essa cascata de novidades do papa somamos as fortes apreciações do futuro secretário de Estado, Pietro Parolin, sobre o celibato, os tempos da Igreja estão, parece, mais abertos para colocar esses dilemas que vêm desde o Concílio; porém, que foram calados e arquivados por uma Cúria conservadora que precipitou a atual crise da Igreja.
Diferente de Bento XVI, há uma clara ruptura, Bergoglio não quer converter a Igreja em uma seita iluminada por uma casta sagrada de leigos muito formados e disciplinados à hierarquia. Rechaça a ideia de uma Igreja capela por uma Igreja povo, seguindo o Concílio Vaticano II. Francisco não deixou de exortar aos bispos para que mudem suas posturas, muitas vezes de burocratas ou pastores de vitrine; para que tenham uma maior proximidade com os fieis.
Isso propõe o papa, na referida entrevista: Eu sonho com uma Igreja mãe e pastora. Os ministros da Igreja têm que ser misericordiosos; cuidar das pessoas, acompanhando-as como o bem samaritano, que lava, limpa e consola seu próximo. Isso é Evangelho puro. Deus é maior do que o pecado. As reformas organizativas e estruturais são secundárias; ou seja, vêm depois. A primeira reforma deve ser a das atitudes.
Tudo parece indicar que há tempos de mudança na Igreja e que se matizará a pretensão conservadora de inverter a equação, ao insistir em mudar o tempo. Um furacão categoria 4 está agitando as águas tranquilas de uma catolicidade anquilosada na tradição, na nostalgia. E no conforto.

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