Substituição de Sader por Wanderley neutraliza "festa" da direita - Portal Vermelho
Os direitistas raivosos, que estavam sem rumo desde a derrota presidencial de José Serra em outubro passado, voltaram a dar o ar da graça ontem (2), para "festejar" a não nomeação do sociólogo Emir Sader para a direção da Casa de Rui Barbosa. No Twitter, nos blogs da direita e em outras redes sociais, o episódio era citado como uma "vitória" contra o "esquerdismo".
No contexto em que o governo Dilma é claramente um governo "em disputa", Emir Sader é visto pelos setores reacionários como um "inimigo" a ser combatido por sua firmeza ideológica, a defesa que faz do marxismo e das bandeiras mais avançadas da esquerda e sua rotineira crítica à mídia hegemônica. A possibilidade que ele apontou de dar um rumo mais progressista para a acanhada, burocratizada e academicista agenda da Casa de Rui Barbosa soou como sinal de alerta para o conservadorismo intelectual. Isso talvez explique por que o imbróglio de sua não nomeação ganhou tanto espaço na mídia.
"O ódio da direita contra Emir Sader não é novidade. Ela nunca tolerou suas críticas ao 'pensamento único' emburrecedor do neoliberalismo. Ela também nunca aceitou o papel ativo do intelectual, que não se enfurna na academia e procura transformar suas reflexões críticas em ação política transformadora. Mesmo com ressalvas a vários limites do governo Lula, o sociólogo teve papel destacado na mobilização da intelectualidade para evitar o retrocesso demotucano no país. A mídia nunca o perdoou", avalia o jornalista Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, em artigo publicado em seu blog. (leia aqui).
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Ainda que os reais motivos da não nomeação de Sader estejam recobertos por uma nuvem de intrigas e informações desencontradas, o fato é que a festa da direita não durou muito. No lugar de Emir Sader, foi nomeado o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, um intelectual que critica e denuncia o pensamento único conservador com a mesma convicção que Sader.
De acordo com o site da fundação, subordinada ao Ministério da Cultura, a Casa de Rui Barbosa tem por finalidade "promover a preservação e a pesquisa da memória e da produção literária e humanística, bem como congregar iniciativas de reflexão e debate acerca da cultura brasileira". Assim como a campanha que fizeram contra a permanência de Marcio Pochmann na presidência do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), os direitistas também não gostariam de ter um pensador de esquerda à frente da Casa de Rui Barbosa. Daí que a substituição de Sader por Wanderley é uma péssima notícia para os defensores do pensamento único.
Wanderley Guilherme dos Santos
Wanderley Guilherme dos Santos é pesquisador da Universidade Cândido Mendes, no Rio, e doutor em Ciência Política pela Stanford University, com pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Notabilizou-se a partir do texto "Quem Vai Dar o Golpe no Brasil" – que prenunciou a derrubada do presidente Goulart em 1964 e se tornou referência bibliográfica nos meios acadêmicos.
Algumas das obras de autoria de Santos são "Décadas de espanto e uma apologia democrática", "Roteiro bibliográfico do pensamento político-social brasileiro", "O ex-leviatã brasileiro: do voto disperso ao clientelismo concentrado", "Paradoxos do liberalismo: teoria e história, "Horizonte do desejo – instabilidade, fracasso coletivo e inércia social" e "O cálculo do conflito: estabilidade e crise na política brasileira". É também autor de centenas de artigos publicados nos mais variados veículos de comunicação.
No período em que estourou o "escândalo" do mensalão e o governo Lula era massacrado pela mídia, Wanderley foi uma das poucas e corajosas vozes da intelectualidade a defender o governo do denuncismo midiático. Depois, acabou se recolhendo um pouco. Mas na última campanha eleitoral, voltou a dar nome aos bois em artigos como "Lula e sua herança", sobre o legado do governo Lula e "A direita encontra o seu messias?", sobre o alinhamento de José Serra com a extrema-direita. A mesma extrema-direita que agora acha que não há muitos motivos para comemorar o expurgo de Emir Sader.
Da redação,
Cláudio Gonzalez, com agências
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