O Professor Grover Furr, que ensina História da Língua Inglesa, Literatura Mundial e História do Jornalismo na Universidade de Montclair (New Jersey, EUA) enfrenta há anos uma árdua batalha, nadando contra a corrente de um dogma que une trotskistas, utra-liberais, social democratas de esquerda, centro e direita, conservadores de todos os matizes, a grande imprensa burguesa, as religiões fundamentalistas, nazistas e fascistas de todos os nuances, e os revisionistas, ex-comunistas, kruschevistas et caterva: a demonização do líder soviético Josif Stalin.
Ora, raríssimos temas na História gozam de tamanha unanimidade, creio que nenhum. Contra tal narrativa, no século passado, Pablo Neruda, escrevendo sua derradeira obra, a autobiografia Confesso Que Vivi, ousou defender Stalin da demonização, em princípios dos anos 70. Mais recentemente, autores como o extinto líder do Partido do Trabalho Belga, Ludo Martens (Um outro Olhar Sobre Stalin), e o filósofo comunista italiano Domenico Losurdo (História Crítica de uma Lenda Negra), tiveram a coragem de publicar obras bastante documentadas que questionam a desconstrução e a demonização de Stalin, líder da URSS num dos períodos mais difíceis da História.


A coragem intelectual de Furr é digna de admiração, mesmo de quem se lhe reproche as visões, mas tenha um pingo de coerência em defesa da liberdade acadêmica. Furr, ademais, dá uma verdadeira lição de independência e de talento enquanto professor. Afinal, como era de se esperar, nesses tempos de Obama Presidente, Tea Party e de extrema direita e fascismo imperando nos EUA, pode-se imaginar a que se expõe o Professor Furr por suas ideias. Em 2012, provocado por uma associação de estudantes ultra-liberais estadunidense (YAL - Young Americans for Liberty), Furr aceitou o convite a um debate cama de gato, aonde se lhe gravaram as declarações corajosas e incomuns, ante a provocação de um dos líderes neoconservadores. Para piorar, Furr ainda defendeu a saúde pública - o cabra não alisa, é mais valente que dez siris numa lata.
A peça ganhou milhares de acessos no You Tube levando a uma campanha de difamação contra o Professor Furr, como parte de uma tendência mais ampla de neomacarthismo, com a perseguição de intelectuais de esquerda que ensinam em universidades, retratados como pessoas perigosas que, como Sócrates, "corrompem a juventude". Sabemos o destino de Sócrates. A publicidade dada ao episódio e as pressões de direitistas eram claras ao pedir a cabeça de Furr. Até um site foi feito (http://stopgroverfurr.blogspot.com.br) em vários idiomas para o difamar, além de programas de TV, notícias em jornais e pressões sobre a Universidade.
Furr é um acadêmico, dá aulas, escreve, como se lhe podem parar? Retirando-lhe o emprego, cassando sua página e publicações na página de onde ensina, impedindo-lhe de declarar sua condição de professor universitário, ou através de métodos bem utilizados nos EUA para calar o contraditório, como Martin Luther King, Malcom X e mesmo o Presidente Kennedy poderiam testemunhar. Não ocorre aos paladinos da democracia jamais questionar a si próprios se seus atos não expressam aquilo que retoricamente buscam condenar.
Nessa campanha de perseguição, todavia, não puderam contar com a cumplicidade da instituição nem dos estudantes, que o defenderam. Querido, foram vários os testemunhos de seu rigor em classe, de sua capacidade e da clareza com que dá suas aulas de Literatura sem misturar os temas. O jornal estudantil da intituição, The Montclarion fez um equilibrado histórico das posições e da campanha de difamação contra o Professor Furr, gesto que somado à posição da instituição causam alegria nessas terras do Sul e alhures, a alegria de reconhecermos forças vivas em solo estadunidense que lutam contra o império da CIA, da Comunicação midiática, das petroleiras e do complexo industrial militar. Em tempos de Patriotic Act, essas expressões corajosas de esquerda comovem imensamente, e demandam a solidariedade internacionalista de todos os que apoiam lutadores e lutadoras que lutam no próprio estômago da besta imperialista, por exemplo pela liberdade acadêmica. E há muitos lutadores nos EUA, gente como Pete Seeger, Paul Robeson,MLK e Malcom X, Woody Guthrie, Harry Belafonte, Nina Simone, Susan Sarandon, Joan Baez, Mchael Moore, gente de fibra, admirável.
Todavia, o que sobressai em todo o debate, e em todo o ódio destilado contra Furr é que há razões de questionamentos para muitas das estórias que se difundem sobre a memorável luta do povo soviético e de seu líder para libertar a Humanidade do Nazismo. Também o tempo tem demonstrado que o fervor justiceiro dos kruschevistas serviu a propósitos menos nobres, em especial a negação da luta de classes, da Revolução, das deformações burocráticas na URSS que eles próprios representavam e do próprio assassinato de Stalin. O velho, que jamais fora derrotado, só tombou envenenado e deixado à morte por mais de um dia. E não bastou, era necessário destruí-lo simbolicamente, assim como a autoridade da URSS que tanto nos deu. Maiores expressões não há de traição ao socialismo, traição que Stalin jamais admitiu. Ao contrário, resistiu e se manteve em Moscou, inspirou milhões em todo o mundo na luta contra o fascismo. Não admitiu privilégios, e seu próprio filho, Yakov Djugashvilii, oficial, estava em combate. Capturado, nem se declarou filho de Stalin, nem seu pai aceitou as chantagens que se lhe fizeram para trocá-lo em termos desonrosos. O líder soviético também tinha quem prantear.
Como disse Brecht, "Do rio que tudo arrasta, diz-se violento, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem." O capitalismo e sua História jamais podem perdoar duas virtudes num(a) líder: amor a seu povo o suficiente para nunca o trair e a capacidade de vencer. Não é desarrazoada a campanha de décadas contra Stalin, peça central da propaganda contra o socialismo no século XX. Desarrazoado é acreditar acriticamente nela, sem sequer conhecer os rudimentos do debate, sem admitir o contraditório, esgrimindo chantagens emocionais que nada tem a ver com a Ciência, muito menos com a História. Essas são as sistemáticas posturas que se abatem contra o Professor Furr, afora um ódio que diz muito das convicções democráticas de seus difamadores. O que não há em todos os ataques que se lhe fizeram, dos que vi, em parte alguma, é a refutação das admiráveis moscas que ele, assim como Losurdo e Ludo Martens, põem na empada embolorada dessa história oficial que - não há motivo para dúvidas - ela sim constitui uma gritante falsificação, sustentada pela traição de Kruschev, sua camarilha e os trotsquistas, com que contaram o poder econômico e o monopólio midiático para desmerecer uma das mais importantes epopeias da História da Humanidade, a construção do socialismo na URSS sob brutal cerco, e sua capacidade, sob a liderança de Stalin, de unir a Humanidade, derrotar o nazismo, libertar os judeus dos campos de concentração e os países europeus sob domínio nazifascista. E parece que isso não se poderá jamais tirar de Stalin, assim como a admiração que na Rússia persiste quando se menciona o seu nome.
Veja a entrevista do Professor Furr para o jornal A verdade, reproduzida pelo Portal Vermelho
Conheça a página do Professor Furr
P.S.: Corrigido em 13/01/2014
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