
Cada um dos termos do documento passou por um longo processo de discussão, iniciado no primeiro semestre de 2011, quando o país acompanhou diversos protestos por melhores condições de trabalho nas obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia.
De acordo com o compromisso lançado pela presidenta Dilma Rousseff, haverá maior fiscalização em relação ao recrutamento dos operários, serão investidos recursos por parte das empresas para aprimorar a segurança no trabalho e também será permitida aos trabalhadores a chamada organização no local de trabalho.
“O acordo foi fruto de muita negociação, que durou mais de dez meses antes de chegar ao papel e à solenidade desta quinta-feira. Ainda não é o que almejamos, mas é um passo importante”, avaliou o dirigente, que também é secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Imobiliário (Contricom) e foi o representante da CTB ao longo de todo o processo de discussão com o governo federal e o empresariado.
Confira abaixo a entrevista:
Portal CTB: Os trabalhadores podem considerar esse compromisso uma conquista real?
Miraldo Vieira: Sem dúvida esse documento foi uma conquista. Ainda não é o que almejamos, aquele pelo qual lutamos diariamente, mas é um passo importante. Posso dar um exemplo claro de avanço: o acordo acabou com os chamados gatos, que são a conhecida intermediação de mão de obra para o nosso setor. Antes tínhamos as promessas de mundos e fundos para trabalhar em certos lugares, mas quando o trabalhador chegava à cidade havia um cenário diferente, com uma série de despesas de transporte, taxas e outras irregularidades. Diante desse compromisso, os empresários agora terão que fazer suas contratações pelo sistema nacional, além de garantir com custo de transporte, etc.
A possibilidade de organização no local de trabalho faz parte dessa lista de avanços também, não?
Sem dúvida. A garantia da representação no local de trabalho é uma antiga reivindicação. O que conseguimos no compromisso não é exatamente o que queríamos, mas é um avanço. Queríamos que os membros dessa comissão tivessem um ano de estabilidade, mas o que conseguimos foram 6 meses – e também que a empresa respeitará sua indicação, a partir de uma decisão dos trabalhadores. Destaco também a questão relativa à qualificação profissional do nosso setor. Agora os empresários terão que disponibilizar um tempo mínimo para qualificação dos operários.
A partir de conquistas como essas, a luta dos trabalhadores do setor da construção civil atinge outro patamar. Quais serão as prioridades daqui para frente e como os principais pontos desse compromisso serão fiscalizados?
Teremos agora uma comissão nacional permanente e tripartite, formado por trabalhadores, governo e empresários, para discutir os problemas do setor. O compromisso em si, no geral, é um avanço, como eu já disse. O que conquistamos até agora será um passo para a unificação dos salários em nível nacional. Esse é ainda um sonho pelo qual lutaremos até que se torne realidade.
Em relação à fiscalização, houve grandes discussões, pelo lado dos trabalhadores, com a presença de centrais e das federações, mas os itens desse compromisso vão ser sentidos realmente pela base. É lá que haverá fiscalização, a partir da organização dos sindicatos. Portanto, temos que dar poder para eles, no sentido de fiscalizar o acordo e seu cumprimento. Isso fortalece o sindicato na ponta, pois eles é que vão garantir a aplicação de cada um dos termos desse compromisso.
O compromisso não obriga nenhuma empresa a cumprir, na prática, o que ficou acordado. Isso pode pôr em risco seu sucesso?
De fato a adesão não é impositiva. No entanto, os empresários que não participarem dele ficarão impedidos de se inscreverem em qualquer licitação pública. Além disso, como forma de incentivo, o governo federal deverá criar um selo para destacar as empresas que seguirem à risca os termos do acordo.
De qualquer forma, temos que fiscalizar o que será feito daqui por diante. Foram dez meses de intenso trabalho. Achamos, em determinado momento, que não ia dar em nada, já que arrancar algo dos empresários é complicado. Teve central que abandonou o barco no meio, mas nós insistimos e vamos acompanhar esse processo de perto.
Fernando Damasceno – Portal CTB
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