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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Protógenes: nada sensibilizou tanto como o que vi em Pinheirinho - Portal Vermelho

Protógenes: nada sensibilizou tanto como o que vi em Pinheirinho - Portal Vermelho

Nos últimos anos, ele esteve no centro pela luta por justiça. Como delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz foi o símbolo da luta contra a corrupção no Brasil. Fez o que pode dentro dos quadros da Polícia. Perseguido pelos poderosos bandidos que mandou prender, como Daniel Dantas, e seus serviçais incrustados em todos níveis de poder , teve que procurar outras frentes de batalha para atuar.

Por Kerison Lopes


Protógenes em Pinheirinho

Protógenes em reunião com moradores de Pinheirinho

Agora como deputado federal do PCdoB-SP, novamente Protógenes está no centro dos acontecimentos da conjuntura brasileira. Foi o autor e praticamente sozinho conseguiu criar na Câmara dos Deputados a CPI da Privataria. Há poucos dias, foi dos únicos parlamentares a acompanhar de perto as atrocidades cometidas pelo governo de São Paulo e sua polícia em Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos.

Nesta entrevista para o Vermelho, Protógenes faz um balanço dos acontecimentos recentes e confessa que está revigorado de esperança graças ao giro que tem feito pelo país, participando ao lado do jornalista Amaury Ribeiro Junior do lançamento do livro Privataria Tucana. Já foram feitos lançamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e estão programados em Belo Horizonte (dia 06) e Brasília (dia 15).

Vermelho: Como tem sido os Lançamentos do livro Privataria Tucana pelo Brasil afora?
Protógenes Queiróz: Estou vendo esses lançamentos como atos de chamamento e mobilização nacional do povo brasileiro para reacender o debate sobre as privatizações. Existe uma grande curiosidade e indignação dos brasileiros no sentido de entender o que aconteceu naquela quadra histórica. Todo mundo quer saber o que houve como o dinheiro arrecadado com a venda das estatais.

Está muito vivo na mente dos que viveram naquela época o discurso de que os tucanos vendiam estatais para investir em políticas públicas que diziam prioritárias. Mas não foi o que aconteceu, essas políticas nunca foram cumpridas e na verdade não aconteceram vendas e sim negociatas do patrimônio público. O dinheiro desapareceu. O livro do Amaury trouxe esse debate à tona e como tenho dito, é um documento incontestável que mostra em detalhes como foi conduzido aquele processo.

Como deputado, tenho a obrigação de levar essa discussão para a Câmara, não para fazer uma revisão do processo, pois não temos força para isso, mas para fazer um reencontro do Brasil com essa verdade histórica. Entender como alguns conseguiram ficar milionários da noite para o dia à custa do suor do povo brasileiro, que foi quem na prática construiu por décadas as estatais que foram entregues no processo de privatização.

Vermelho: E como tem sido a receptividade do público que participa destes debates, qual a expectativa deles para os próximos passos?
PQ: O público tem correspondido a esse chamado. A maioria que participa destes eventos quer se engajar nesta luta. O próprio sucesso de vendas do livro é uma prova disso. O número de livros vendidos surpreendeu a todos, inclusive ao autor. Qual brasileiro não se pergunta quanto aos altos preços cobrados pelas operadoras de celular? Qual brasileiro não se indigna ao ver a Vale operando em vários estados e enviando nossas riquezas para fora sem pagar os impostos justos, pois os royalties do minério são irrisórios. Há uma incompreensão do povo brasileiro quando vê as nossas riquezas indo embora e não voltando nada para ser investido por aqui. Tem também os trabalhadores que atuavam nas empresas privatizadas. Quantos perderam seus empregos, existem casos de bancários que até se suicidaram depois de perder o emprego em bancos privatizados.

Vermelho: No final do processo legislativo do ano passado, o senhor conseguiu o número necessário para a instalação da CPI da Privataria? Qual sua expectativa para esse ano legislativo que começa nessa semana?
PQ: Cumprimos todos os ritos regimentais, ao fundamentar o pedido de CPI e protocolar junto à presidência da Casa com o número necessário de assinaturas para sua instalação, como você disse. Daqui para frente confio nos próximos passos regimentais para a sua efetiva instalação. Pelo que estou rodando pelo Brasil vejo que há uma pressão popular muito grande para a sua instalação. O mais importante já está acontecendo, que é ter um debate sobre o processo de privatização.

Vermelho: O senhor teve uma participação destacada em defesa dos moradores que foram desocupados de Pinheirinho. Inclusive foi um dos parlamentares que acompanhou de perto a ação policial. O que viu naquele dia?
PQ: Confesso que muito me chocou aquelas cenas da desocupação. Em doze anos de Polícia Federal e nesse ano de deputado, nada me sensibilizou tanto quanto o que vi ali em Pinheirinho. Fiquei assustado com o autoritarismo praticado, não se teve o mínimo de bom sendo para tratar com dignidade aquele povo. A juíza, os governantes, a Polícia deixaram de lado os valores do ser humano. Foram indiferentes ao fato que ali estavam seres humanos, mulheres, crianças, idosos, brasileiros pobres que só estavam morando ali há anos porque não tiveram outra opção de habitação. O Estado que deveria ali defender os interesses do povo, praticou um total desrespeito aos direitos humanos.

Vermelho: E a batalha está perdida? O que o senhor tem feito em relação ao assunto?
PQ: Partimos para uma ação concreta. Estamos investigando a origem da propriedade. Sabemos que aquela área pertenceu a uma família que foi chacinada na década de 60 e pode ter sido invadida por grilhagem. Já pedi a certidão centenária pra fazer um histórico até os dias de hoje. Saber como aquele terreno foi parar nas mãos da empresa de Nagi Nahas, e olha em que mãos. Risos. Podemos ficar tranqüilos que também nesse caso a verdade vai aparecer e não vai demorar.

Vermelho: Em Pinheirinho, quando o senhor estava defendendo os moradores contra a selvageria da Polícia, o que passou pela sua cabeça?
PQ: Agi naquele episódio em defesa da democracia brasileira. Foi uma resposta contra o autoritarismo. Minha geração enfrentou a ditadura e não podemos ver impunemente o autoritarismo voltar para nosso convívio. Pratiquei ali uma ação cidadã, não parlamentar. Fui movido ali pelos sentimentos de um brasileiro que acredita nos poderes da República. Mais do que na força da República, acredito acima de tudo na força do povo brasileiro que é o verdadeiro construtor do nosso país. No povo que luta, que batalha dia-a-dia para criar seus filhos e que viu naquela área a única forma de dar um teto para sua família. Agi pela crença nesse povo que tem a capacidade de resistir. Estive em Pinheirinho e estou do lado do seu povo porque acredito na democracia brasileira. Antes de tudo, pratiquei ali uma ação de cidadania.

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