Tinha comprado uma passagem para Fortaleza, antes de baterem martelo no dia 31, como preparação da Greve Geral. E pude me somar à passeata alencarina, com mais de 20 mil pessoas, outra vez a andar pelos mesmos percursos que percorrera desde 1991. Que emoção.
Tantos lutadores e lutadoras de décadas, que me viram adolescente, tantos meninos e meninas despertando para a luta, e o filme passando pelas retinas da memória.
Tantos lutadores e lutadoras de décadas, que me viram adolescente, tantos meninos e meninas despertando para a luta, e o filme passando pelas retinas da memória.
Dia de luta, dia de amor, dia de abraços, como tem sido ao longo dos já quase 26 anos de militância que completarei em maio. Cumpre registrar o grato encontro com meu professor de Geografia da 8a. série, professor Cícero, que nos pedira um trabalho escolar sobre a Ditadura Militar, instalada no fatídico 31 de março de 1964. Tal dever de casa me levou à pesquisa e à sede do PCdoB, ainda na rua São Paulo, em 1991, onde entrevistei o camarada Cabo Chico, e tudo começou.
Tive a alegria de rever esse meu professor, conhecer seu jovem filho, em meio à greve nacional da CNTE, nas ruas. E lembrar do que fui e me tornei, com grata satisfação.
Aproveito a oportunidade para refletir sobre a atividade, que expressa um grande capital da esquerda cearense, com lições para a mobilização popular que estamos a construir, ainda em um cenário bastante adverso. Nesse contexto, a mobilização cearense reuniu as virtudes mais importantes que, creio, necessitamos para esse tipo de ato e para o período atual, daí a razão do presente artigo.
Ao longo da marcha, pude encontrar militantes de 20, 30 anos de luta, e inclusive das gerações precedentes. Dirigiram a mobilização a partir de carros de som organizados ao longo da marcha, presentes as principais organizações de luta do povo cearense, com grande unidade. As centrais sindicais (CUT, CTB e INTERSINDICAL, CGTB, CONLUTAS) dirigiram a concentração, o trajeto e o ato final, sem exclusões, mas respeitando a amplíssima diversidade. Estudantes, trabalhadores(as), sem-teto, sem-terra, mulheres, religiosos, e a presença dos militantes do PT, PCdoB, PSOL, PDT, PSTU, PPL, o MAIS e até os resistentes de luta que ainda restam no PSB, e a UJS e Levante, e inclusive organizações menores e peculiares, como a turma do Crítica Radical estavam ombro a ombro. Esse exemplo de unidade sincera e sem hegemonismo blinda a mobilização popular e dá um sinal imensamente positivo para a população.
Destaco também a organização da atividade. As alas claramente definidas ao longo do cortejo, reunindo categorias, movimentos e organizações políticas (bancários, professores, saúde, estudantes, juventudes, centrais), o que se somava à própria presença física dos e das dirigentes dos movimentos, assegurando estabilidade, clareza de palavras de ordem, coesão na marcha e segurança, prevenindo a ação de provocadores e infiltrados, tornando o ato muito mais seguro, sem expor os manifestantes a ações policiais. Certamente, o governo estadual em mãos progressistas minimiza - ainda que existam problemas - esses riscos. Mas o movimento estava pronto e organizado, mesmo para uma situação adversa, que não houve.
Destacaria, ademais, o foco definido dos alvos e dos caminhos desta luta. Afinal, a mobilização popular precisa não apenas da força das ruas; carece decerto de caminhos claros, de perspectiva para o atingimento dos objetivos. Assim, o ato de Fortaleza serviu como ampla divulgação da Greve Geral convocada para o dia 28 de abril e, ao mesmo tempo, focou nos deputados que votaram contra o povo, apontando a pressão sobre o Congresso, a luta do Fora Temer e a defesa da democracia, do Brasil e dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Uma ala com grandes "pirulitos" expunha a carranca dos que jamais deveriam poder votar contra o povo no Congresso.
E, finalmente, a irreverência, o canto, as palavras de ordem, a bandinha tão característica das mobilizações do povo cearense, as figuras folclóricas que marcam a vida do centro e interagem com o ato, os cartazes feitos por populares, a dinâmica cultural, irreverente, o ar moleque - no bom sentido da cearensidade -, que fez dessa marcha um ato de rebeldia, mas prenhe de esperança; cheio de indignação, mas afirmando a beleza; unitário, mas expressão da força da diversidade. De fato, essas características, na medida em que fundadas numa sólida unidade, puderam aflorar plenamente, causando esse sentimento de "quero mais", da alegria e da beleza da luta, tão necessários em tempos difíceis como os que ora vivemos. Por isso, penso devamos nos inspirar nesse método, muito anterior ao povo estar na rua, fruto de um desejo sincero de unidade, da consciência da adversidade, da responsabilidade da esquerda, de democratas e patriotas. Na prática, as reuniões prévias das frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo e das Centrais Sindicais asseguraram o êxito.
Há tanto por que lutar, tanto a defender, tanto a avançar! O dia 31 de março na Terra da Luz ilumina o caminho a seguir, a despeito destes trevosos tempos, no rumo da vitória do povo contra o governo golpista, entreguista, inimigo do povo de Mister #ForaTemer.
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