17 de agosto de 2016 - 20h08
Wikileaks: EUA armaram Estado Islâmico
Estados Unidos se recusaram a ajudar o governo da Síria a combater
terroristas como a Al-Qaida e o ISIS (Exército Islâmico do Iraque e da
Síria, que recentemente mudou de nome para Estado Islâmico). Além
disso, segundo revelações feitas pelo site Wikileaks, o governo
estadunidense armou grupos como o ISIS. Os quase 3 mil documentos sobre
essa questão foram vazados pelo site dirigido por Julian Assange no
dia 8 de agosto.
Terroristas da Al-Nusra (esq.) e Estado Islâmico
Em 18 de fevereiro de 2010, o
chefe da inteligência síria, general Ali Mamlouk, apareceu de surpresa
em uma reunião entre diplomatas estadunidenses e Faisal a-Miqad,
vice-ministro das relações exteriores da Síria. A visita de Mamlouk foi
uma decisão pessoal de Bashar al-Assad, presidente sírio, em mostrar
empenho no combate ao terrorismo e aos grupos terroristas no Oriente
Médio, assinala o documento.
Neste encontro com Daniel Benjamin, coordenador das ações de
contra-terrorismo dos EUA, “o general Mamlouk enfatizou a ligação entre a
melhoria das relações EUA-Síria e a cooperação nas áreas de
inteligência e segurança”, afirmam os diplomatas estadunidenses em
telegrama destinado à CIA, ao Departamento de Estado e às embaixadas dos
EUA em Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e Reino UNido.
Para Miqad e Mamlouk, essa estratégia passava por três pontos: com o
apoio dos EUA, a Síria deveria ter maior papel na região, a política
seria um aspecto fundamental para ações de cooperação contra o
terrorismo e a população síria deveria ser convencida dessa estratégia
com a suspensão dos embargos econômicos contra o país.
Para Imad Mustapha, embaixador sírio em Washington, “os EUA deveriam
retirar a Síria da lista negra”. Nas palavras de George W. Bush, o país
fazia parte do “eixo do mal”, junto com Coreia Popular e Afeganistão.
Apesar da discordância entre EUA e Síria quanto ao apoio de Assad a
grupos como Hezbolá e Hamas, os dois países concordavam quanto à
necessidade de interromper o fluxo de guerrilheiros estrangeiros para o
Iraque e impedir a proliferação de grupos como a Al-Qaida, o ISIS e o
Junjalat, uma facção palestina com a mesma orientação política. Para
Benjamin, as armas chegavam ao Iraque e ao Líbano contrabandeadas pelo
território sírio.
Mamlouk reforçou a “experiência síria em combater grupos terroristas”.
“Nós não ficamos na teoria, tomamos atitudes práticas”, foram as
palavras do chefe de inteligência de Assad. Segundo o general, o governo
sírio não mata ou ataca imediatamente esses grupos. “Primeiro, nós nos
infiltramos nessas organizações e entendemos o funcionamento delas”. De
acordo com Damasco, “essa complexa estratégia impediu centenas de
terroristas de entrarem no Iraque”.
Guerra do Iraque e surgimento do Estado Islâmico
No entanto, apesar de afirmarem cooperar com a Síria para combater o
terrorismo, os EUA também trabalharam para armar os opositores sírios e
isso causaria um problema maior na região: a criação do atual Estado
Islâmico. Segundo documentos obtidos pelo jornal britânico The Guardian,
grande parte do armamento utilizado pelo ISIS (antigo nome do Estado
Islâmico) veio de grupos armados pelos EUA e cooptados por Abu Bakr
al-Baghdadi, líder do Califado Islâmico, que hoje controla territórios
na Síria e no Iraque.
Saddam al-Jammal, líder do Exército de Libertação da Síria, outro grupo
anti-Assad, também jurou lealdade ao Estado Islâmico desde novembro de
2013. Para garantir tal apoio, o ISIS mudou a sua estratégia de
controle: dava autonomia a essas autoridades locais em vez de controlar
diretamente a governança das cidades. Como resultado, o ISIS se expandiu
e conseguiu lutar em cinco frentes: contra o governo e os opositores
sírios, contra o governo iraquiano, contra o Exército libanês e milícias
curdas.
O armamento começou a ser enviado para os opositores sírios em setembro
de 2013. Na época, analistas davam o ISIS como terminado e a alegação
para fortalecer esses grupos era a de que o governo Assad havia usado
armas químicas. Para enviar as armas, o governo Obama usou bases
clandestinas na Jordânia e na Turquia. Aliados dos EUA na região, como
Arábia Saudita e Catar, também forneceram ajuda financeira e militar.
Ironicamente, os EUA sabem inclusive a real identidade do líder do
Califado. Durante um ataque à cidade iraquiana de Faluja em 2004, os
estadunidenses prenderam alguns dos militantes pelos quais procuravam.
Entre eles, estava um homem de 30 e poucos anos e pouco importante na
organização: Ibrahim Awad Ibrahim al-Badry. 10 anos depois, ele se
tornaria líder do grupo terrorista, segundo informações de um oficial do
Pentágono.
Do Portal Vermelho, com informações do Opera Mundi
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