O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em sua oitiva na sessão de julgamento
do impeachment de Dilma Rousseff, disse que “eu só aceitei vir aqui
testemunhar porque considero que o afastamento da presidenta pelos
motivos alegados é um atentado à democracia”. Tratando do assunto com
bom humor, ele afirmou que as “pedaladas fiscais” – crime de
responsabilidade atribuído à presidenta eleita – na verdade foram
"despedaladas."
Agência SenadoBelluzzo disse que a presidenta Dilma fez “despedalada”: “Foi excesso de responsabilidade fiscal”, avaliou
Em resposta aos senadores,
Belluzzo disse que “naquele momento em que a economia estava se
contraindo, a presidenta fez um contingenciamento de mais de 8,5 bilhões
em cima de um contingenciamento que já tinha ocorrido de 70 bilhões”.
Na economia, isso se chama uma ação pró-cíclica. A medida, segundo ele,
foi tomada, sem sucesso, na tentativa de compensar os efeitos da queda
de arrecadação. “Foi excesso de responsabilidade fiscal”, disse.
Ao avaliar a economia brasileira, que vinha desacelerando desde 2012,
Belluzzo comparou a “um pugilista que foi para o corner e o treinador,
para reanimá-lo, lhe deu um soco na cabeça. É isso o que aconteceu”.
Para ele, “esse foi o resultado das experiências de ajuste fiscal, não
só aqui, mas também na Europa e nos Estados Unidos”.
Para o economista, “no momento em que os decretos foram promulgados, a
presidenta tinha feito um contingenciamento já de R$ 70 bilhões e fez
outro de R$ 8,5 bilhões. Com a permissão do presidente Lewandowski, eu
chamei isso de ‘despedalada’, porque, na verdade, ela acentuou o caráter
pró-cíclico do gasto”.
Conjunto da obra
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), ao questionar o economista,
pediu que ele explicasse ao povo brasileiro se as acusações que pesam
sobre a presidenta Dilma seriam responsáveis pelo desemprego.
“Eles falam muito do conjunto da obra, acusando a presidenta pelo
crescimento do desemprego. Então, eu lhe pergunto: três decretos, a
operacionalização do Plano Safra, são suficientes para levar à crise
econômica que nós estamos vivendo? O cenário econômico internacional tem
alguma coisa a ver com essa crise, ou não?”
Em resposta, Belluzzo explicou o que ocorreu com relação ao Plano Safra,
afirmando que “aquilo é um subsídio, é uma subvenção, que é uma
operação fiscal, não é uma operação de crédito”, desmentindo as
acusações dos golpistas. Segundo ele, “uma operação de crédito é uma
coisa muito bem definida; é uma relação em que alguém cede dinheiro ou
seu patrimônio para poder receber de volta mediante o pagamento de
juros, ou excepcionalmente, talvez nunca, sem os juros”.
Crise mundial
Também em resposta à senadora Grazziotin, o economista avaliou o impacto
da crise internacional sobre a economia brasileira. Ele disse que o
Fundo Monetário Internacional e o Bank for International Settlements, o
banco de compensações internacionais, têm mostrado o grande desempenho
da economia brasileira entre 2004 e 2010, que não foi apenas um ciclo de
commodities, foi um ciclo global de consumo.
“O Brasil teve superavit na sua balança de manufaturas pela primeira
vez, por conta do empuxe da demanda global não só de commodities, mas
também de manufaturas. O Brasil exportou muito para a América Latina,
para a América do Sul, em particular. Depois isso despenca”, destacou
Belluzzo.
A economia brasileira despenca por efeito da desaceleração cíclica da
economia mundial. Mas, segundo o economista, “só que isso não é
suficiente para nós explicarmos o desempenho da economia brasileira”.
E criticou o governo que demorou em enfrentar as questões que estavam
surgindo pela desaceleração do ciclo. “Sou obrigado a dizer isso com
toda a clareza. Isso, na verdade, precipitou uma desaceleração mais
forte da economia brasileira, junto com algumas questões com as quais eu
não concordo, como, por exemplo, as isenções fiscais, o que chamo de
dar milho ao pato”, explicou.
Para ele, o que aconteceu foi que a desaceleração da economia levou a
uma queda da receita fiscal importante, seguido pelo choque de tarifas,
pelo choque de juros e pela queda de aproximadamente de 30% do
investimento público. “É evidente que nenhuma economia resiste a um
negócio desse.”
De Brasília
Márcia Xavier
Márcia Xavier
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