De uma coisa todos temos certeza, Dilma não está sendo afastada do governo por ter cometido qualquer crime de responsabilidade, mesmo porque os decretos e as tais pedaladas nem sequer podem ser tipificados como tal.
A verdadeira razão é política, aguçada por motivação ideológica e preconceito machista.
Querem destruir o legado de avanços políticos construído nos últimos 13 anos e mudar radicalmente o rumo da economia e da política; impedir que uma ideologia de centro-esquerda se viabilize como alternativa de poder e solapar a primeira mulher a presidir o Brasil, reforçando o estigma de que as mulheres devem ser apenas "belas, recatadas e do lar".
Por esse motivo, os defensores do golpe se apegam ao chamado "conjunto da obra". Alegam que Dilma governou de modo irresponsável, que teria feito uma verdadeira farra fiscal, levando o país à ruína financeira. Na prática, propõem um voto de desconfiança, que não se aplica ao presidencialismo.
Coerência é que o menos importa. Se um deficit primário de R$ 90 bilhões no governo Dilma era irresponsabilidade, é absolutamente normal aprovar um deficit de R$ 170 bilhões para o interino Michel Temer (PMDB).
O malabarismo retórico, entretanto, não se sustenta quando confrontados com os números do IBGE relativos ao Brasil real de 2016 e 2002 do governo de Fernando Henrique Cardoso. Vejamos.
O investimento estrangeiro direto foi de R$ 72 bilhões no governo Dilma (abril/2016), contra mirrados R$ 14 bilhões no de FHC (2002).
As reservas cambiais, mecanismo que garante nossa solidez financeira, saltaram de R$ 37 bilhões com FHC para R$ 376 bilhões com Dilma.
A taxa anual de inflação era 12,53% (2002) com FHC e 10,67% com Dilma (2015).
A taxa básica de juros era 19,1% na era FHC e 14% no governo Dilma.
Sobre a taxa de desemprego, em torno de 11,5% da população economicamente ativa estava desempregada no fim do governo FHC, contra 9,28% no governo Dilma (abril/2016).
Se os indicadores macroeconômicos falam a favor de Dilma, os sociais são avassaladores: expansão das universidades públicas; 36 milhões de brasileiros saíram da situação de extrema pobreza; e o crescimento real de 76% do valor do salário mínimo.
Assim como Dilma, FHC também enfrentou uma forte crise econômica internacional que abalou a economia do país, mas teve um tratamento muito diferenciado por parte do Congresso Nacional. Em apenas seis meses aprovou todas as suas medidas, inclusive a CPMF. A Dilma restaram a traição, as armações, a pauta bomba, cujo objetivo era assaltar o governo para abrir caminho à velha, derrotada e superada política neoliberal.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vanessa-grazziotin/2016/08/1803330-a-versao-e-o-fato.shtml
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