O dólar caiu em relação ao real pela sexta vez consecutiva nesta terça-feira, 26, quando fechou no menor nível em mais de 12 anos, cotado a R$ 1,5388, um recuo de 0,35%, que só não foi maior devido às compras realizadas pelo Banco Central. O ministro Mantega voltou a prometer “medidas duras” contra a valorização do real, principal causa da desindustrialização da economia nacional.
Por Umberto Martins
O ministro não entrou em detalhes sobre as novas iniciativas. O governo já instituiu e elevou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em investimentos estrangeiros de curto prazo e adotou outras medidas paliativas para segurar o câmbio. Não solucionou o problema. Parece que as causas reais da apreciação do real, que está custando a desindustrialização da economia nacional, são consideradas “imexíveis”.Causas “imexíveis”
A queda do dólar reflete o excesso de oferta de moeda estadunidenses na economia, provocada pela política monetária dos EUA e estimulada, internamente, pela política macroeconômica herdada do neoliberalismo tucano e ainda não superada. A desindustrialização, que avança celeremente em alguns ramos, é hoje causada, basicamente, por uma associação perversa entre os juros altos, que atraem capital especulativo para o país, o câmbio flutuante e a excessiva liberalidade frente ao fluxo de capitais.
A solução do problema pressupõe a negação de tal política, ou seja, a redução dos juros e o controle do câmbio e do fluxo de capitais, a exemplo do que faz a China e outros países. A mudança da política econômica cobra urgência, mas tudo indica que não se cogita de maior controle sobre o câmbio e os fluxos de capital, muito menos redução dos juros, que não param de subir. Os sinais emitidos por Mantega são de reafirmação desta orientação conservadora.
O jogo dos EUA
O ministro voltou a criticar a suposta “manipulação cambial” feita pela China, ao manter as cotações de sua moeda sobre rigoroso controle, sugerindo que a política mais justa é a do câmbio flutuante. Com isto, assina embaixo da acusação lançada pelos EUA contra o país asiático. Cabe indagar como se deve reagir à “manipulação cambial” feita por Tio Sam, que pratica uma overdose de emissões da moeda mundial? Escancarar a porta das economias aos capitais especulativos formados pelo dinheiro sem lastro emitido pelo Federal Reserve (FED) e deixar as cotações oscilarem ao sabor do câmbio flutuante equivale a fazer o jogo de Washington e não parece uma política muito inteligente.
Neste quadro, a política chinesa para o câmbio é uma defesa prévia contra a máquina de fabricar inflação e guerra cambial em poder do FED. E é mais sábia que a incompreensível obstinação do governo com o câmbio flutuante, um dogma neoliberal que foi incorporado à famosa Carta aos Banqueiros, digo aos Brasileiros, de julho de 2002, junto com os dois outros elementos do tripé neoliberal que orienta a política econômica: superávit fiscal primário e as mais altas taxas de juros do mundo. Uma receita para deleite da oligarquia financeira e indignação dos movimentos sociais.
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