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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Renato Rabelo: equipe de transição se compromete a ouvir aliados - Portal Vermelho

Renato Rabelo: equipe de transição se compromete a ouvir aliados - Portal Vermelho

Apesar de ser coordenada pelo presidente do PMDB, Michel Temer, e por três lideranças petistas, a equipe de transição para o governo de Dilma Rousseff deverá ouvir todos os partidos aliados — e não apenas PT e PMDB — na hora de tomar as principais decisões. Partiu da própria Dilma a decisão de indicar Temer, seu vice-presidente, como coordenador do grupo, bem como em estabelecer diálogo com todas as forças partidárias que, formal ou informalmente, apoiaram sua candidatura.

Por André Cintra

“Já fui comunicado de que, nessa equipe de transição, há uma pessoa encarregada de manter contatos com os partidos”, afirma ao Vermelho Renato Rabelo, presidente do PCdoB. “O objetivo é definir um programa de governo que leve em conta os pleitos e as ideias de toda a base aliada. Ao ter esse esboço em mãos, Dilma conversará, posteriormente, com cada um desses partidos, completando essa fase que eles chamam de formação para o novo governo.”

Para Renato, um dos desafios de Dilma, eleita presidente no último domingo (31), é não centrar as negociações em torno de cargos. “O PCdoB fica sempre incomodado se a discussão de formação de um governo não é pautada em cima de um projeto. Creio que Dilma está preocupada em debater quais são as medidas mais imediatas, de médio prazo — para aí, sim, ver a contribuição e o papel que cada partido pode ter nesse governo.”

Renato também propõe que, no seio dessa grande composição pró-Dilma, haja a formação de um núcleo de esquerda, com a participação de PT, PSB, PDT e PCdoB. “Não somos só nós que defendemos isso. O PT já falou a respeito, e os outros partidos de esquerda concordam.”

“Como essa frente de apoio a Dilma é muito heterogênea, propomos a articulação de alguns partidos que tenham mais semelhanças entre eles, mais convergências”, agrega o presidente do PCdoB. Um núcleo desse tipo, segundo ele, é importante para frear “as pressões, sempre muito fortes, das forças que querem manter o status quo e truncar as mudanças”.

O dirigente comunista acrescenta que a esquerda não deve apenas lutar pela mera continuidade do governo Lula. “Como a própria Dilma defendeu, é preciso avançar, das passos adiante. Esses avanços dependem de um projeto bem explícito e definido, com foco nas questões mais urgentes da atualidade. Se, por exemplo, houver reformas como a política e a tributária — sempre tão faladas —, é importante lutarmos para que o caráter dessas mudanças seja democrático.”

Na opinião de Renato, o governo Dilma também deverá enfrentar a chamada “guerra cambial”, para fortalecer a competitividade econômica do Brasil no comércio internacional. “Em virtude da herança dessa grande crise financeira que o mundo enfrentou, há uma luta entre forças hegemônica para disputar uma melhor posição comercial.” O Brasil, a seu ver, pode ser um dos mais prejudicados por esse conflito, a ponto de sofrer um processo de desindustrialização.

De acordo com o presidente do PCdoB, cada país tem de considerar a busca por um acordo multilateral, que é a “solução mais correta”. Dilma participará, em 11 e 12 de novembro, da próxima reunião do G20, na Coreia do Sul — mas Renato diz que é preciso ir além. “O Brasil também deveria tomar medidas de defesa. Até agora, nossas ações foram paliativas, como a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que não dá conta de todo o problema.”

A votação dos projetos de regulamentação do pré-sal é outra responsabilidade que deve mobilizar a equipe de transição. “Uma questão como esta, da maior importância estratégica para o país, requer medidas efetivas — mas está tudo parado no Congresso. Dizem até que só vai ficar para o ano que vem.”

Renato adverte, porém, que cabe ao PCdoB, antes de tudo, ouvir a presidente eleita. “Dilma ainda vai dizer o que espera de nós em termos de participação no governo. Apesar de o PCdoB não ser um partido grande, temos uma série de quadros que podem contribuir para esta próxima fase de desenvolvimento do nosso país. Vai ser tudo de comum acordo, mas a iniciativa, naturalmente, é dela, de Dilma — não do partido.”

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