Luciano Rezende *
“Esse gigante do pensamento e da ação era, sem dúvida, um homem excepcional que se revelava ao mundo inteiro pela coragem e pela audácia de suas atitudes e que com a arte exímia de sua palavra comovia, levantava e mobilizava o que há de melhor na humanidade para a luta tenaz e decidida contra o banditismo fascista”.
Luis Carlos Prestes, sobre George Dimitrov.
George Dimitrov ficou marcado na história pela sua brilhante autodefesa diante do Tribunal de Leipzig em 1933, composto majoritariamente por nazistas alemães, quando foi acusado arbitrariamente de ser um perigoso terrorista e responsável pelo incêndio do Reichstag (o parlamento alemão). Ao invés de se defender, passou a acusar o nazismo e a sustentar o socialismo. Lembrou a todos que é justamente esse sistema que estava sendo caluniado que governava então triunfalmente uma sexta parte do mundo e proporcionava trabalho e pão para centenas de milhares de operários alemães, através das relações comerciais com a Alemanha. Enfrentando Göring e Goebbels, dois importantes ministros de Hitler, foi, por fim, inocentado. A URSS concedeu asilo e cidadania soviética a Dimitrov, que foi recebido como herói pelo povo.
Destacado dirigente socialista búlgaro, membro do Comitê Central do Partido Comunista Búlgaro e do Comitê Executivo da Internacional Comunista (IC), Dimitrov também é lembrado pelos comunistas brasileiros, principalmente por sua tarefa internacionalista à frente da IC. Reza a lenda que Dimitrov teria valorizado a combatividade dos comunistas brasileiros, mas feito a ressalva de que os mesmos estudavam pouco.
Menos de 70 anos depois (a IC foi extinta em 1943), imaginaria Dimitrov que os comunistas brasileiros seriam capazes de ajudar a eleger à Presidência do país justamente uma filha de Búlgaro que, assim como ele, militara no Partido Comunista? O puxão de orelhas de Dimitrov não foi em vão.
Muita coisa se passou de lá pra cá. Milhares foram mortos e outros tantos torturados, inclusive Dilma Rusev (do Búlgaro agora abrasileirado Rousseff). Não foi tarefa fácil. A eleição de Dilma tem muito a ver com o que defendia Dimitrov, logo no início da escalada do nazifascismo na Europa, na qual se combateu o esquerdismo. Disse Dimitrov que "o fascismo chegou ao poder, antes de mais nada, porque a classe operária (...) achava-se dividida, desarmada política e organicamente". Por isso mesmo era necessário, na visão de Dimitrov, a unificação de uma frente ampla, composta por religiosos, anarquistas, comunistas e progressistas em geral para derrotar o inimigo central. Parece que os comunistas brasileiros aprenderam bem a lição e souberam influenciar, sobretudo no segundo turno, a importância da amplitude política rumo à vitória. Em resposta a uma equivocada onda-vermelha, melhor seria a onda verde-amarela.
Ainda hoje alguns setores da esquerda pugnam pelo estreitismo político e são míopes ante a vitalidade da Frente Popular, arquitetada por Dimitrov para vencer o nazifascismo que, a despeito do contexto histórico peculiar, guarda enorme atualidade. Para se ter noção do sectarismo ainda vigente, a palavra-de-ordem do PCB nesta eleição foi: “Derrotar Serra nas urnas e Dilma nas ruas”.
Mas a maioria dos comunistas brasileiros parece ter ouvido Dimitrov e, através do estudo militante, souberam entender bem as peculiaridades nacionais, a ponto de eleger a primeira mulher brasileira, de esquerda, e, de quebra, filha de um conterrâneo búlgaro de lutas em sua época. Mandamos bem na lição de casa, camarada Dimitrov?
Excelente artigo. parabéns ao Blog
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