Marco Albertim *
Constam da capa do boletim de convocação do III Congresso Operário Brasileiro – Rio de janeiro, 1920 -, quatro assuntos; um dos quais, Pela confraternização do operariado em Pernambuco, aponta para a têmpera do tenro proletariado do estado. Os outros se referem à Greve dos Marítimos, a’O Proletariado e à Revolução Russa, e à defesa de operários de origem estrangeira deportados, líderes grevistas – Em prol dos deportados. Em 1907, o senador Adolpho Gordo criara a lei autorizando a deportação – A Lei Gordo.
O operariado recifense cruza os braços na primeira greve geral do país. Inda que como manifestações primárias de lutas de classes, não se abstêm têxteis, ferroviários da The Great Western of Brazil Railway Company Limited; a primeira paralisação dos ferroviários é de 1903, quando foram ameaçados pelo cônsul inglês; seis anos depois, em janeiro, 12 dias de greve. E ainda operários de fundições, de fumos, bebidas e sabão. A Corporação Operária de Pernambuco, sob influência da Igreja Católica, estimula os sindicatos a criar escolas primárias e cooperativas de consumo.
O governo do general Emídio Dantas Barreto arrosta greves. A jornada de trabalho é de 10 e 14 horas diárias, sem falar dos reduzidos salários arbitrados pelos patrões. O mesmo acontece no governo seguinte – Manoel Antônio Pereira Borba – 1915/1919. Com o fim da Companhia de Trilhos Urbanos do Recife, Olinda e Beberibe, posto que o patrimônio é repassado à Pernambuco Tramways, agrava-se a situação. Com a celebração de um acordo entre as partes, a Ordem do Dia da Força Pública menciona a “atitude pacífica e respeitosa” dos operários, ao tempo em que lembra o aparelhamento da polícia “para cumprir seus deveres.”*
O que não evita a revolta popular de 1917, com o assassinato do deputado Júlio Euthímio Brasileiro, ex-prefeito de Garanhuns e chefe político querido. Em meados de 1919, insatisfeitos com os baixos salários e a exaustiva jornada de trabalho, operários da Pernambuco Tramways invadem as instalações da usina elétrica e do gasômetro. No bairro da Encruzilhada. Não há luz nem gás na cidade. É marcado um comício em frente ao quartel da localidade. Há disparos de arma de fogo. Não há o comício. A greve tem fim. Persistem as dificuldades e em novembro do mesmo ano, greve geral em Pernambuco. Um acordo é sancionado.
Na raiz dos problemas está a oligarquia canavieira, porquanto a exportação do açúcar para outros estados se utiliza dos trilhos da Great Western. As greves têm conotação política. O cenário é enriquecido com a interferência do professor de direito José Joaquim Pimenta, encarregado de monitorar as formalidades jurídicas dos acordos. Defende o operariado. O período é conhecido como as greves do Pimentismo. O advogado conflagra um comício contra Epitácio Pessoa. A violência policial fere os agitadores, inclusive o advogado. Edgar de Oliveira, linotipista do jornal A Província, é morto.
A trilha de lutas rompe o governador José Rufino Cavalcanti. A lei 1.472, conhecida como O Monstro, encurta o orçamento. Há protestos de trabalhadores e de segmentos das classes dominantes. Funcionários públicos sem pagamentos, o comércio se encolhe. De 3 a 15 de agosto de 1921, o comércio fecha. Bondes e trens não circulam. As linhas da Western são depredadas.
Morre José Rufino Cavalcanti. A sucessão detona crises políticas. Tropas federais se juntam à Força Pública. A revolta da classe operária tem contornos de insurreição. Grupos atacam patrulhas do exército, arremessam dinamites em quartéis. 27 de maio de 1922, o cenário é de distúrbios no Recife.
Arthur Bernardes na presidência da República reprime com violência o movimento operário. Em Pernambuco, o governo é de Estácio de Albuquerque Coimbra. A revolução de 30 é o enxágue. Com Vargas no poder, os sindicatos mudam de rumo...
*Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho – Pernambuco no tempo do Cangaço
* Menção honrosa dos Prêmios Literários da Cidade do Recife, com o livro Um presente para o papa e outros contos. Integra as antologias de contos Recife conta o Natal e Panorâmica do conto em PE.
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