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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Ajuste fiscal de Temer é outro capítulo da fraude do impeachment - Portal Vermelho

Ajuste fiscal de Temer é outro capítulo da fraude do impeachment - Portal Vermelho:







 
 


A retomada do crescimento econômico por meio do ajuste fiscal, ou
corte de gastos públicos, articulado pelo governo interino de Michel
Temer poderá agravar o cenário da crise. O ataque aos investimentos
sociais do governo é uma cortina de fumaça sobre o verdadeiro problema
do país, que é a alta taxa de juros. Esse foi o ponto de vista defendido
pelos economistas que participaram hoje (25) de mesa de debates na
Universidade de São Paulo (USP), como parte do ciclo de discussões
“Caminhos da esquerda diante do golpe”.



A professora de Economia da USP Laura Carvalho disse que a revisão de
meta do resultado primário do setor público aprovada pela Câmara, de R$
170,5 bilhões, revela outra parte da fraude do impeachment. “O governo
eleito previa R$ 96,7 bilhões, e essa notícia foi recebida como
irresponsabilidade. ‘Agora, sim, sabemos o tamanho do rombo’, dizem os
analistas”, afirmou a professora.



“O que antes era visto como uma política fiscal irresponsável que
reduziria nota de classificação de risco das agências, agora é enxergado
como realismo fiscal e transparência”, criticou a economista, ao
comentar a mudança de visão do “mercado” sobre o que foi apresentado
essa semana, de acordo com a Agência PT de Notícias.



Para Laura, essa nova meta é necessária para que Temer consiga
“sustentar” o governo ilegítimo. “O déficit maior permite um acerto de
contas com todos os apoiadores do golpe, os ministros recebem o
ministério com orçamento maior, os impostos não serão aumentados, o
Judiciário garante seu reajuste. E a redução do papel do BNDES vem pra
agradar o mercado (que figura entre as propostas da nova equipe
econômica golpista)”, explicou a professora.



Segundo ela, o roteiro do ajuste fiscal para agravar a economia é
bastante conhecido, e foi cumprido pela presidenta Dilma Rousseff no ano
passado. “Quando se identifica a crise, há uma pressão rápida pelo
ajuste fiscal, pressão essa que foi atendida por Dilma, que cortou 40%
do investimento público.” Laura lembrou que, apesar do ajuste, a dívida
pública aumentou em 2015, graças à política monetária de elevação da
taxa de juros.



Para a professora, as medidas de Temer anunciadas agora, como o teto
para gastos públicos pela inflação do ano anterior, as desvinculações
constitucionais das verbas de saúde e educação e as privatizações “são
medidas radicais e de longo prazo”. Ela também disse que o objetivo é a
redução do papel do Estado na economia, como manda o receituário
neoliberal que busca converter o Estado em uma máquina a favor da
rentabilidade do setor financeiro. “Um governo que não tem legitimidade
para esse tipo de reforma radical talvez devesse promover algum tipo de
debate. Esse governo tem o Congresso, mas não tem as ruas.”



A também professora de Economia da USP Leda Paulani procurou mostrar o
que chamou de “raízes materiais por trás do golpe” e identificou duas
frentes que estão relacionadas a esse processo político. “A primeira
coisa é a retomada da agenda neoliberal”, disse, destacando que essa
agenda não foi abandonada pelos governos do PT. “No governo Lula, a
agenda foi combinada com as políticas sociais e com uma política externa
de esquerda”, afirmou.



A outra questão que está na raiz do golpe, segundo a professora, são os
direitos que foram garantidos pela Constituição de 1988. Leda deu o
exemplo da área da saúde: “O SUS (Sistema Único de Saúde) foi um marco
civilizatório. Antes, a pessoa só era atendida se tivesse carteira de
trabalho”. Ela disse também que a saúde e as leis trabalhistas, ainda
que tenham defeitos, garantiram de algum modo o Estado de bem-estar
social, que agora está sob desmonte.


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