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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Renato Rabelo: Luta ideológica numa nova ordem mundial de transição


O presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, durante intervenção no 15o. Congresso Nacional do PCdoB. Foto: Richard Silva

O presidente da Fundação Maurício Grabois assinala o cenário internacional de disputas ideológicas, com o Brasil em franco retrocesso, e como a instituição contribui para a compreensão da conjuntura para elaboração tática e estratégica na atuação política.

O presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, apresentou um informe sobre a atuação da instituição, nesta sexta-feira (15), durante o início da plenária final do 15º Congresso do PCdoB, rumo ao centenário do partido. Ele abordou a importância do debate de ideias em meio a uma nova ordem mundial conturbada, na abertura da plenária do congresso, que pela primeira vez aconteceu de maneira virtual devido à pandemia, com a participação de mais de 600 delegados de todo o país.

Ele considera importante que a partido compreenda plenamente o papel da Fundação, nesses 13 anos, disseminando ideias e formando quadros e a militância. “[A fundação] empreendeu um espaço de confluência do pensamento marxista, revolucionário e progressista, e tem se dedicado às questões chave no enfrentamento do curso da luta de ideias na atualidade do nosso período histórico”, afirmou, lembrando o papel protagonista do jornalista Adalberto Monteiro, desde sua origem.

Na concepção da Fundação, a luta de ideias, como assinala o programa socialista do PCdoB, é uma luta que se dá no sentido de acumulação de forças, visando a conquista do poder político. “Portanto, não é uma atividade acadêmica, mas é voltada aos objetivos programáticos e ao ideário da luta política e revolucionária do partido comunista em nosso país”, explicou. Para Renato, essa é a tarefa essencial da Fundação.

Leia a íntegra da intervenção: Renato Rabelo faz balanço da atividade da FMG no 15º Congresso do PCdoB

A experiência do socialismo nas entranhas do capitalismo

Para ele, a luta de ideias tem relevância ainda maior na contemporaneidade, em que a transição na ordem mundial se intensifica e acelera na pandemia. Renato observa que, com o distanciamento do período mais agudo do fim da União Soviética (URSS), projeta-se o ascenso da República Popular da China e o declínio relativo da potência hegemônica dos EUA. Este é, para ele, um fato de grande significado histórico e um fato estrutural do sistema internacional, com repercussão no mundo todo.

“Neste novo contexto geopolítico mundial, os países socialistas remanescentes estruturam projetos nacionais de orientação socialista incorporando formas de renovação contemporâneas, destacadamente a China, no âmbito da própria economia capitalista mundial, superando o modelo soviético próprio de uma época”, destaca ele. Renato salienta o fato desses projetos não se apresentarem “edificando um sistema mundial socialista”, como foi o esforço da URSS, contudo estão em evolução favorável às experiências socialistas, contando com as lições do século XX.

Além disso, nas condições presentes, diversos estados estruturam projetos nacionais de desenvolvimento, em que adquirem centralidade as tarefas nacional e democrática, distinguem nova oportunidade histórica de resguardar sua soberania e seguir caminho próprio, impondo-se uma situação favorável à realização de projetos nacionais contra-hegemônicos.

Em contrapartida, o dirigente do PCdoB considera que o capitalismo estadunidense hegemônico responde ao seu próprio declínio com mais ação agressiva e bélica. “Mobiliza seus aliados fieis para conter a China, utilizando todas as formas e meios, especificamente os militares, buscando isolar a Rússia e desarranjar sua aliança estratégica com os chineses”, analisa ele, lembrando que, durante um período avançado da URSS, o imperialismo conseguiu criar uma contradição com a China, que contribuiu para sua fragilização.

O retrocesso brasileiro em meio à transição mundial

De acordo com Renato, o capitalismo financeirizado rentista e sua ortodoxia neoliberal têm sido cada vez mais incapazes de responder aos desafios do mundo atual, do desenvolvimento das nações, em cooperação mútuas, e do bem estar dos povos.

“O tempo presente e o futuro clamam pelo socialismo. Esta é a questão que evolui num processo moldado numa alternativa contemporânea. A China é o exemplo maior dessa alternativa contemporânea”, declara.

A experiência chinesa, conforme distingue ele, adquire uma forma histórica. “Não se trata de teses subjetivas ou desejos. O desafio, portanto, é como conduzir uma sociedade, que, nascida pela revolução, se desenvolve nas entranhas de um mundo dominado por outro modo de produção”, analisa Renato, citando os remanescentes socialistas China, Vietnã, Cuba e Coreia, com o gigante asiático à frente, por sua dimensão.

Renato situa o lugar histórico do Brasil nessa ordem mundial em transição, em que ocorre imposição de projetos desenvolvimentistas para os estados nacionais. Num momento favorável para o desenvolvimento nacional, “o Brasil atravessa um período de tanto retrocesso, de obscurantismo, boicotes do próprio presidente da República à ação pandêmica criada pela ciência, caracterizando uma atitude genocida contra o povo levando a crise sanitária a condição de tragédia nacional, sem semelhança de tais acontecimentos na historia da própria República”.

Diante deste cenário de resistência do governo brasileiro a acompanhar a nova ordem de fragilização neoliberal e afirmação de estados nacionais, o dirigente comunista aponta que a orientação de Frente Ampla, defendida pelo PCdoB, baseada na história política do Brasil, “é, hoje, o caminho para a vitória, sendo meio insofismável para desmascarar, isolar e derrotar Bolsonaro”. Esta é, para ele, a questão premente para salvar o país.

Renato destacou a aprovação recente da lei das federações partidárias como uma vitória da democracia e do pluripartidarismo. “Foi num contexto muito adverso que se conseguiu esta vitória extraordinária”, lembrou ele, considerando a dominância bolsonarista no Congresso Nacional. “Esse conjunto de medidas no sentido estratégico e ação tática demonstra a lucidez e o protagonismo do PCdoB”, celebrou.

Ação coordenada da Fundação Maurício Grabois

Renato passou, então, a pontuar as ações da Fundação Maurício Grabois para o enfrentamento deste cenário histórico, a partir de um trabalho de pesquisa e estudo que estabelecesse uma nova fase em sua trajetória. “[Uma nova fase que] exige assumir os meios modernos da tecnologia de informação e da formação, e novas ferramentas e metodologias, para não ficarmos a margem da luta de ideias. A luta ideológica tem os meios modernos e temos que absorver essa tecnologia e ter nosso espaço”, enfatizou.

A atualização da atuação da Fundação se deu, portanto, a partir da linha de pesquisa de temas candentes desse início do século XXI. Ele citou a preocupação em compreender em profundidade as singularidades do capitalismo contemporâneo financeirizado. Outros temas constantes são as tendências do sistema internacional, a luta por uma nova ordem mundial, as experiências revolucionarias do século XX, ressaltando o estudo das contribuições de Lênin e o papel dos países de orientação socialista, destacadamente a China, que desempenha um lugar central na nova luta pelo socialismo. Junto com isso, ocorre a atualização do programa socialista do PCdoB, centrado no seu caminho relativo ao ideário nacional desenvolvimentista.

Para isso, Renato citou iniciativas significativas da Fundação, como a adaptação dos cursos da Escola João Amazonas, para versão virtual, atualizando currículos, por meio de seus núcleos de ensino e pesquisa. “[A escola] continua a todo o vapor, em grande mobilização do partido”.

Citou ainda a instituição da Cátedra Claudio Campos, que coroa a homenagem ao líder do PPL e a integração entre os partidos. O papel fundamental da cátedra agrega a concentração no estudo do nacional-desenvolvimentismo. Foi através dela que se editou o livro Pensamento Nacional-Desenvolvimentista, com 31 textos de 16 autores, além da realização do Seminário O Nacional-Desenvolvimentismo e o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, com 11 mesas e dezenas de especialistas.

Renato explica que esta série de debates foi fundamental para a elaboração das propostas que têm sido feitas sobre a plataforma emergencial, nesse período, chegando ao Congresso do partido.

Ele mencionou ainda que, neste período de apropriação tecnológica para formação, ocorreram diversos cursos, tematizando a obra O Capital de Karl Marx e o pensamento de Antonio Gramsci, assim como os temas da saúde e socialismo e a imprescindibilidade do SUS, com participação de 5 mil alunos inscritos e a parceira com a Escola Castro Alves, da UJS (União da Juventude Socialista). Para ele, o êxito de visualizações e participação é espetacular.

Foram publicados oito livros, finalizados outros três e novas edições de obras anteriormente publicadas. Ele destacou a publicação de livro, em parceria com a ADJC (Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania), sob o tema Reconstruir a Democracia – União de Amplas Forças Políticas e Sociais.

Na opinião de Renato, o livro China, O Socialismo do Século XXI, de Elias Jabbour e o economista italiano Alberto Gabrielli, é uma das mais avançadas obras sobre o assunto a ser publicada internacionalmente.

Outro investimento na modernização tecnológica da intervenção da Fundação, assinalada pelo dirigente, foi a TV Grabois, que ganhou forte impulso em 2021, sob o comando de Manuela D’Ávila, que formou e capacitou cinco youtubers, que tratam de temas específicos como China, América Latina, gênero e antiracismo, cultura e comunicação. “Este foi um projeto que aprofundou nossa presença nas redes, com perfis nas mais importantes, com conteúdo próprio e crescimento acelerado de dezenas de milhares de visualizações, mesmo nesse trabalho inicial”.

Junto com isso, ocorre a nova atualização do portal Grabois, sob a direção da jornalista Renata Mielli. Ele também destacou o protagonismo de Júlio Vellozo e Fábio Palácio na reformulação da revista Princípios, que completou 40 anos de circulação, em nova fase com renovação de projeto editorial e gráfico. Agora, ela é indexada com revistas científicas nacionais e internacionais, para construir pontes de relações com universidades e centros de pesquisa. “Uma iniciativa inédita em todos os partidos nessa dimensão”.

O Centro de Documentação e Memória (CDM) continua com seu grande acervo, num “trabalho consistente e perseverante”, voltado para o centenário do PCdoB, em pesquisa por documentos inéditos e elaboração do livro iconográfico sobre a história do Partido.

Outra iniciativa importante da Fundação, foi o Observatório da Democracia, que agregou a parceria da Fundação Perseu Abramo, para mobilizar a ação conjunta de dez fundações partidárias do campo progressista. Renato ainda citou o esforço de capilaridade ativa da Grabois nos estados para intensificar este debate de ideias por todo o país. Com tudo isso, a Fundação tem cumprido o papel de contar com a colaboração de grandes intelectuais e quadros do partido, agregando personalidades do mundo acadêmico para além das fronteiras de filiação.

A Fundação ainda organizará uma comissão para atualização do programa do PCdoB de 2009, após o 15º. Congresso, que deverá demandar a realização de uma conferência para aprovação dessa atualização.

Renato concluiu homenageando a memória de dois grandes quadros, que deixam um grande legado intelectual, e um grande vazio, para a Fundação Maurício Grabois e o PCdoB: o historiador Augusto Buonicore e o jornalista José Carlos Ruy, falecidos no último período. “Quero aproveitar com muita emoção e alegria de dizer que este Congresso tem como patrono Haroldo Lima, camarada da minha geração e um dos maiores quadros do nosso partido”.

(por Cezar Xavier)

Acompanhe abaixo a intervenção de Renato Rabelo e a homenagem à militância feita por Aldo Arantes e Rozana Barroso ( a fala de Renato Rabelo inicia por volta dos 10 min do vídeo - Coletivizando)


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