Entramos na segunda semana do escândalo que sacudiu Brasília. As denúncias se sucedem e a crise política se agrava. Dezenas de fitas circulam pela internet. As investigações avançam colocando mais luzes sobre os bastidores do GDF. O Brasil escandalizado, os brasilienses envergonhados, a Câmara Distrital ocupada por manifestante e o GDF paralisado.
O particular do escândalo em Brasília é que pela primeira vez na história estão envolvidos membros de várias esferas do Poder. No Executivo as denúncias atingem o governador Arruda, o vice-PauloOtávio e vários secretários de Estado. No legislativo já são oito deputados distritais, 1/3 da Câmara Distrital. As investigações também atingem membros do Tribunal de Justiça do DF.
Brasília desgovernada e paralisada
Brasília está paralisada, acéfala. Arruda é um ex-governador no Poder, não tem autoridade moral, política, administrativa para dirigir o DF. Sua permanência à frente do governo ofende a honra e a dignidade da população. Só há sentido em sua insistência de ficar à frente do GDF se for
para tentar encobrir ou dificultar as investigações ou mesmo dar prosseguimento aos negócios escusos.
Outro aspecto grave é que a linha sucessória ao GDF está contaminada. Além do governador, as denúncias atingem, em cheio, o vice-governador Paulo Octávio. O presidente licenciado da Câmara Legislativa Distrital, deputado Leonardo Prudente, também foi filmado colocando dinheiro por todo o corpo. Prudente está licenciado, mas ainda não renunciou a presidência da Casa.
Mas pode haver um crime ainda maior contra a capital do país e seu povo. É deixar Brasília paralisada. A cidade fará 50 anos em abril de 2010. Temos a Copa do Mundo de 2014, aqui será uma das sedes e precisa de providências. Mais de R$ 1 bilhão em obras espalhadas pela cidade. As obras do PAC, os programas de assistência à população, os serviços essenciais, as decisões governamentais, os
projetos que tramitam na Câmara Distrital, os novos contratos, convênios, investimentos, protocolos. A análise do Orçamento do DF para 2010 está parada na Câmara Distrital. Enfim a cidade não pode
parar enquanto o governador e o vice tentam ganhar tempo para se defender do indefensável.
Há uma grande ansiedade na cidade. Muitos empresários e fornecedores do GDF já reclamam de atraso nos pagamentos dos contratos. A reação é em cadeia. O GDF não paga, o empresário não recebe e também não paga. O trabalhador sem seu salário tem dificuldades de honrar seus compromissos. O comerciante não recebe, vende menos, vem o desemprego. Enfim esse ciclo perverso tem que ser estancado.
Um governo de transição para o GDF
Que o DF não pode continuar assim é praticamente um consenso. Mas o que fazer? É preciso um novo governo, um pacto em defesa do DF. Repor a autoridade pública, manter o governo e a cidade em funcionamento. É preciso alguém com condições política, moral, capacidade administrativa, experiência, trânsito político e capacidade técnica. Se possível que não seja não filiado a nenhum partido e que também não seja candidato a nenhum cargo político em 2010. Alguém que tenha capacidade de dialogar, que possa recompor o governo, tenha capacidade para governar, tocar as obras, manter a cidade em funcionamento e acompanhar com independência a apuração e a punição dos responsáveis por esse desastre contra Brasília.
Os partidos, os empresários, os trabalhadores, a OAB, as entidades e lideranças políticas da cidade tem essa obrigação com o futuro de Brasília. Todos devem buscar se unir num Pacto por Brasília. Construir
uma saída que contemple uma maioria sólida capaz de realizar as eleições de 2010 em segurança e transparência. E por fim conduzir o DF até a posse do novo governo em janeiro de 2011.
Sectarismo, partidismo, intransigência, arrogância, estrelismo, tentativas de surfar na crise para se beneficiar do escândalo de forma eleitoreira. Nada disso condiz com as necessidades de Brasília.
Nada disso ajuda Brasília. O preço que a cidade paga nacional e mundialmente com esse escândalo já é duro demais.
É preciso grandeza na solução da crise. Apurar e punir não são suficientes. É imprescindível que a cidade retome sua vida e temos a obrigação de trabalhar para que Brasília se recupere e prossiga crescendo e se desenvolvendo com dignidade e respeito ao seu povo.
Apolinário Rebelo é jornalista, escritor e vice-presidente do PCdoB/DF
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