Os comunistas do Distrito Federal vão intensificar sua participação no movimento Fora, Arruda! A decisão foi tomada pelo Comitê Regional do PCdoB-DF, na noite de 14 de dezembro. Durante a reunião, que também apreciou a proposta de plano de ação de várias secretarias para 2010, o presidente do Partido, Augusto Madeira, fez uma análise dos últimos acontecimentos envolvendo as denúncias de corrupção na administração de José Roberto Arruda (ex-DEM), apuradas pela Polícia Federal na Operação Caixa de Pandora.
– São graves as acusações contra o governador, que está sujeito a consequências muito sérias, como suspensão dos direitos políticos por até 10 anos, ressarcimento do dano, sequestro de bens, multa, prisão etc. – afirmou o dirigente comunista.
Leia a íntegra da intervenção de Augusto Madeira:
Até novembro passado, José Roberto Arruda, do DEM, considerava como certa sua reeleição. O governador contabilizava o apoio de mais de dez partidos, muitas obras em andamento e bom relacionamento com o governo federal, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Mas no dia 27 de novembro a Polícia Federal deflagrou a Operação Caixa de Pandora. O inquérito apontou Arruda como o comandante de um esquema de distribuição de propina a deputados distritais e aliados.
O escândalo criou um novo quadro em Brasília e no Brasil. As denúncias de Durval Barbosa, membro do governo e operador do esquema financeiro, que passou a fazer delação premiada, e, principalmente, as imagens gravadas mostrando o governador recebendo dinheiro e seus aliados e apoiadores escondendo notas sob as roupas e em sacolas, eram estarrecedoras. O movimento social foi às ruas pela derrubada do governador. Várias entidades e partidos políticos, inclusive o PCdoB, ingressaram com pedido de impeachment na Câmara Legislativa. Seis partidos se desligaram do governo: PSDB, PMDB, PPS, PSB, PDT e PV.
O DEM, seriamente atingido com a repercussão negativa do episódio, convocou reunião para decidir sobre a expulsão do seu único governador eleito no último pleito. Seria a condenação de Arruda pelo seu próprio partido. Este tentou medida judicial para suspender a reunião, mas o Superior Tribunal Federal indeferiu o seu pedido. Diante do desastre iminente, ele convocou os meios de comunicação e anunciou sua desfiliação.
Com isso, aconteceu a primeira grande definição para a disputa eleitoral de 2010 na Capital Federal: sem partido, Arruda não pode mais ser candidato a nada. Ficam descartadas alternativas como um acordo para concorrer a deputado federal.
São graves as acusações contra o governador, que está sujeito a consequências muito sérias, como suspensão dos direitos políticos por até 10 anos, ressarcimento do dano, sequestro de bens, multa, prisão etc. Ele fica no cargo para se defender. Terá ainda que continuar enfrentando grande mobilização popular, principalmente de estudantes, os vários pedidos de impeachment e ações na Justiça.
Por outro lado, a Câmara Legislativa tem correlação de forças favorável ao chefe do Executivo. São vários deputados diretamente envolvidos, sendo já citados Leonardo Prudente (DEM); Bruneli (PSC); Eurides Brito, Benício Tavares e Roney Nemer (PMDB); Rogério Ulisses (PSB); Benedito Domingos e Berinaldo Pontes (PP); Aylton Gomes (PMN); e Pedro do Ovo (PRP). O governador ainda conta com a lentidão da Justiça e o apoio da mídia local, principalmente dos jornais impressos.
Ao mesmo tempo, nota-se uma articulação para tirar Arruda do centro do noticiário, colocando em seu lugar Leonardo Prudente, que se licenciou da presidência da Câmara Legislativa e virou a peça que pode ser sacrificada no tabuleiro político. O DEM deu início a um processo que pode resultar na sua expulsão. Há também movimentação para que ele saia definitivamente da Presidência da Câmara, o que levaria ao afastamento do presidente em exercício, Cabo Patrício (PT), e à eleição de alguém vinculado à base aliada do Executivo para dirigir a Casa. Como dez, dos 24 deputados distritais, estão envolvidos nas denúncias, é incerto o desfecho da batalha pelo impeachment.
Neste momento da crise, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), adversário de Arruda, recolheu-se. Ele pode recompor-se com partidos da base da candidatura Serra/Aécio para a Presidência da República, que estão abandonando o seu antigo aliado demo. No PT, o deputado federal Geraldo Magela volta a falar na sua própria candidatura ao Governo do Distrito Federal, disputando a legenda com Agnelo Queiroz. PDT, PSB, PMDB, PSDB e outros partidos buscam reposicionar-se no novo quadro, que não está definido.
O sucesso do movimento Fora, Arruda! depende, portanto, de uma série de encaminhamentos políticos envolvendo os partidos e o movimento social. Uma coisa, porém, é certa: a continuidade das manifestações populares de protesto, que vêm ocorrendo diariamente, é fundamental para o seu êxito.
Desde que a Operação Caixa de Pandora foi divulgada, o PCdoB tomou várias iniciativas para inserir-se no novo curso político que se apresentava. Foi realizada reunião extraordinária do Comitê Regional; foram distribuídos 10 mil exemplares da nota “Fora Arruda! Brasília merece respeito”, assinada pelo Partido e que apontava: “O episódio demonstra, mais uma vez, a necessidade de uma profunda reforma política no país, inclusive determinando o financiamento público das campanhas partidárias, para coibir que o poder do dinheiro acabe se sobrepondo nos resultados eleitorais”.
Quando ingressamos com o pedido de impeachment na Câmara Legislativa, o presidente do PCdoB concedeu ao DF-TV, da Globo. As fotos dos protestos que ilustraram as matérias da imprensa registraram as bandeiras do PCdoB e da UJS empunhadas pelos manifestantes. A imprensa partidária deu cobertura destacada aos acontecimentos e participamos, desde o primeiro momento, de todo o movimento denominado “contra a corrupção no DF” e de todas as atividade e mobilizações.
É preciso dizer que a CUT e o PT, ao tempo em que buscam hegemonizar o movimento, participando massivamente dos protestos, imprimem-lhe condução exclusivista, que pode afastar alguns setores e partidos políticos. Inclusive por isso, devemos aumentar a participação do PCdoB e das entidades em que atuamos. Ampliar mais, sem exclusivismos, a luta pelo Fora, Arruda! terá consequências positivas na verdadeira guerra eleitoral que acontecerá em 2010.
Portanto, devemos manter e ampliar as mobilizações; dar curso aos pedidos de impeachment de Arruda e seu vice, Paulo Otávio (DEM); acompanhar as investigações e exigir a punição exemplar de todos os envolvidos; manter contatos com as demais forças políticas do campo da base do governo Lula objetivando a vitória dos setores populares e progressistas neste embate.
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