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domingo, 4 de abril de 2021

"Pão em todas as mesas, da Páscoa a nova certeza" - Paulo Vinícius da Silva



A verdade é que o ovo de Páscoa não era a estrela nos tais domingos na casa de Dona Lourdes e Seu Louro. O maior ovo de páscoa  que recebemos deve ter tido uns 100 gramas, e hoje recordo a expressão da D. Lourdes, entre generosa e envergonhada, porque menino quer e é difícil entender e é muito dolorida a impossibilidade de disputar com o consumismo o sentido do amor fraterno... Mas ela o fazia.

Fazia-me entender que a estrela verdadeira era um jovem, que gostava de mesa farta, amigos verdadeiros e um copo de vinho, que dizia que todos e todas eram iguais,  quem defendeu a prostituta, o leproso, a hemofílica, o possuído por demônios, o estrangeiro, que andava com trabalhadores e dizia que os mansos haveriam de herdar a Terra, e tinha essa estranha mania de ficar feliz quando as pessoas estão de bucho cheio. Esse foi o Jesus que minha mãe me apresentou. Aquele que foi preso, torturado, cuspido, xingado, que foi forçado a levar o instrumento da sua morte macerando-lhe a carne como a cruz de espinho, seguindo ao patíbulo do Gólgota em meio à procissão das bestas que o maldiziam. Esse líder, militante, mártir, foi morto como sempre nos matam, como mataram Bergson, Jana, Helenira, João Carlos, Grabois, Pomar, Dummond...
 
E só quem perde alguém como um Jesus, sabe a dor que é. E o povo, desde então, diz com fé e convicção: Morreu sim, mas ressuscitou! Independente do Mistério, vede o que é o coração do povo e o seu amor verdadeiro a líderes verdadeiros...

Então, lá em casa, seja no Tirol, na Francisco Sá, seja no Nova Assunção, chocolate não era a estrela, não, pois nem dinheiro pra isso tinha, que nem hoje, em tantas casas marcadas pelo luto, pela perda, pela dor.

É a nossa Páscoa. Choramos, sofremos, mas acreditamos na Ressurreição. É preciso ter a coragem de Jesus, e acreditar que o nosso Brasil ressuscitará desta época de tristeza, dor e morte, e agir para isso. Nesse dia, não esqueçamos da indignação do Jesus de chicote em mão, pois tornaram a Casa do Pai em Casa de Comércio. Qual seria o chicote que Ele usaria por terem tornado a Saúde casa de comércio, sabendo que unicamente morreram mais 330 mil pessoas porque o capitalismo precisa que a saúde dê lucro, e só depois salve vidas. O genocídio é de Bolsonaro, mas também é a fina flor do capitalismo, cujas lágrimas de crocodilo não nos comovem. Não esqueçamos!

Então, superado o mito do chocolate, reencontrando esse jovem Jesus martirizado e crucificado como tantos lutadores(as), vem-me essa canção que com vocês compartilho, desejando-lhes Feliz Páscoa. A canção de Zé Vicente retoma o sentido mais importante da Páscoa, e esta cantiga que oiço, sabe a beijo e cheiro de Mãe, e diz:






A E/G# F#m C#m
A mesa tão grande e vazia de amor e de paz - de paz!
D E A E/G#F#m
Onde há luxo de alguns, alegria não há - jamais!
D E A E/G#F#m
A mesa da eucaristia nos quer ensinar - ah, ah,
D E A A7
Que a ordem de Deus nosso Pai é o pão partilhar.


A
Pão em todas as mesas;
E A
da Páscoa a nova certeza:
D A
a festa haverá
D A E A
e o povo a cantar, alelu - ia (bis)


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