Recentemente fui eleito com cerca de 50 colegas para representar as dezenas de milhares de bancários(as) da base do Sindicato dos Bancários de Brasília. Nem tomei posse, ainda, mas pelo meu compromisso pessoal e pela expectativa dos colegas, vejo com vontade e preocupação tamanha responsabilidade. Afinal, estamos no início da Campanha Salarial de 2016, em meio a um golpe de Estado que depõe a Presidenta Dilma para arrebentar as conquistas dos trabalhadores, violar a democracia, com ladrões descarados a tomar o poder, com as mãos sobre as estatais, em especial a PETROBRAS e os bancos públicos. Mas o pior de tudo são as dúvidas e os medos que povoam os corações mentes dos(as) colegas, em especial quando cada um(a) sente a sua dor solitariamente, achando que esses poucos diretores sindicais poderão construir uma vitória que só pode ser fruto da luta coletiva.
Quarta-feira, 08/06/2016, teremos a Assembleia do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, respectivamente o primeiro e o segundo maiores bancos do país, em importância e número, ambos reunindo mais de 200 mil bancários e bancárias, com uma concentração imensa em Brasília, que reúne as funções estratégicas dessas empresas na capital federal. Mas a categoria não reconhece a sua própria força. Pressionada pelas empresas, temerosa ante o futuro, desiludida muitas vezes com sua representação. Penso nos(as) colegas e me vem à mente uma música do Raul Seixas, Por quem os sinos dobram, com vontade de dizer-lhes:
"Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Você sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida que vive guardada
O eco de suas palavras não repercute em nada
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado,
Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo
Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais"
Essa semana uma colega me perguntou o que conquistaríamos a nova gestão do sindicato nessa greve... Eu me senti um terceirizado das obrigações políticas da categoria. Pra mim é muito claro que conquistaremos o que a nossa greve conquistar. Afinal, de quem é a Campanha Salarial, de quem é a greve, senão de cada um(a) de nós? Você já pensou quanto duraria a greve se todos nós parássemos? Num momento como esse é fundamental que a Greve Nacional dos Bancários e Bancários faça a diferença, em especial em Brasília. E toda a minha garra ao aceitar o desafio de alinhar a CTB Bancários com a CUT na eleição passada se baseou na firme convicção de que a nossa unidade é indispensável nesse momento dramático da vida nacional.
E eu entrei para tentar algo novo. Não penso em repetir as greves anteriores, nem compactuo com o espírito de rotina. É preciso romper com a acomodação na forma de construir a campanha salarial, da parte das direções sindicais, por um lado. E por outro, é preciso chamar à responsabilidade a categoria, que cai na conversa fiada dos patrões que lucram e nos adoecem, ao tempo que alimenta uma visão errada, terceiriza sua responsabilidade e participação política, e ainda espera um resultado ótimo na campanha salarial. Isso é ainda mais absurdo num momento desses. Por isso, minha convicção é que se não pudermos abrir o sindicato à participação da categoria, sensibilizando-a, seremos derrotados.
Os primeiros atos do governo golpista demonstram o firme propósito de retomada da agenda de privatizações, de retirar direitos, acabar com a CLT, terceirizar tudo, submeter as mulheres, negar a diversidade e o Estado laico, violentar a liberdade e liquidar os bancos públicos. Por isso, não podemos ter dúvidas, os temerários sacrificarão os bancários e bancárias, o que passa, inicialmente, pela redução de pessoal e pelo aprofundamento das piores práticas do sistema financeiro, que impõem grande sofrimento psíquico à categoria, revertido em graves problemas de saúde. Como você pode terceirizar tão importantes questões a quem quer que seja?!
A Campanha Salarial é nossa chance de criticar, de denunciar os patrões, de exigir tudo que se nos nega no dia a dia. Além do mais, vimos desde 2015 o que querem os banqueiros: voltar à agenda de perdas salariais, de abonos. Participação nos Lucros, comissões pelo atingimento de metas gigantes, tudo isso precisa ser visto criticamente. Nos últimos doze anos não tivemos perdas, conquistamos modestos ganhos salariais, e sofremos os impactos da mudança perfil da remuneração, que se baseou sobretudo em benefícios e remuneração variável, e não em um aumento do piso e dos salários que recuperasse as perdas salariais devastadoras dos anos FHC.
Muito jovem, a categoria não entende que seu padrão de vida é mantido de modo precário, baseado naquilo que não ficará para a aposentadoria, para a previdência, nem para os planos de saúde. Mais que isso, a categoria precisa entender que a defesa dos bancos públicos e de seu papel no desenvolvimento é decisivo para nosso futuro e para o Brasil. A agenda de Temer e Cunha, Globo e CIA é para um país com uma economia menor, mais pobre, de exclusão. Nós também seremos atingidos, é contra todos nós essa agenda.
Por isso, nessa campanha salarial, pela opinião da Central de Trabalhadoras e Trabalhadoras do Brasil, estará em jogo, simultaneamente:
- a democracia;
- os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras em todos os níveis;
- o emprego da categoria bancária, o tamanho e o papel dos bancos públicos;
- se perderemos novamente para a inflação, ou se nos uniremos pela valorização do ganho real no salário e no piso salarial, se seguiremos escravos das metas e da remuneração variável, ou se avançaremos para mais dignidade no reconhecimento de uma categoria que se mostrou indispensável para a inclusão social e o desenvolvimento da economia real, com gente, salário, consumo.
Então, humildemente, eu sei que sozinho não posso nada, nem mesmo promover as mudanças que desejo em nosso sindicato. Isso só será possível se a categoria cumprir o seu papel, e se a direção nova souber abrir-se à participação dessa nova geração, falando e ouvindo, aceitando as críticas, mas também questionando o papel passivo e oportunista de muitos que acham natural furar a greve e xingar a representação sindical; Que acham aceitável furar o piquete e votar pela continuidade da greve; Que consideram estar em vantagem quando querem aparecer bonitos diante dos chefes, ao mesmo tempo que tratam com desdém aqueles e aquelas que lutam pelos seus direitos ameaçados. Mudou o contexto. Nem os(as) dirigentes sindicais nem a base poderão encenar esse teatro do absurdo, esse pacto da mediocridade. Por isso, mais que a confiança daquele que abandona, achando que
votando se desobrigou, eu preciso da confiança que se mobiliza: aí sim
faremos algo diferente, na prática.
Como diria o Jorge Ben, está na hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor. O movimento é nosso, podemos melhorá-lo. No sindicato localizado na capital do país e sede das empresas, com um funcionalismo de milhares, extremamente qualificado e em funções estratégicas, ouso em sonhar que a maioria poderá entender e cumprir seu papel, porque em parte nisso repousam o futuro do país, dos bancos públicos e de nossos sonhos profissionais. Por isso, essa Campanha Salarial não pode nem será igual às outras. Ela é parte destacada da luta de classes, quando a burguesia parasitária e subalterna quer ajoelhado o país e seu povo. Nossa categoria é grande, forte, tem o único acordo efetivamente nacional, e luta contra o setor mais perigoso, lucrativo e pernicioso, os banqueiros. É preciso que nosso número, nossa criatividade, nossa ação mostre seu peso, pois aí obteremos a vitória, apontando um caminho de retomada da iniciativa política para todas as categorias, ao tempo que defenderemos o papel e a dimensão atual dos esteios fundamentais do desenvolvimento brasileiro, que são os bancos públicos e a PETROBRAS.
Nessa quarta-feira, 08 de junho, na sede do Sindicato dos Bancários de Brasília, precisamos dos bancários e bancárias do BB e da Caixa para dizerem que propostas querem sejam aprovadas para a Campanha Salarial de 2016. Nesse espaço, elegeremos nossos delegados(as) para elaborarem nossa pauta, inclusive as propostas de remuneração, saúde do trabalhador, além de ser aonde podemos dizer em alto e bom som o que queremos do nosso movimento. Precisamos de mais: que a categoria diga o que se pode esperar dela na Campanha Salarial e na Greve.
Tenho muita esperança que podemos unir nossas inteligências e sensibilidades para que nossas atividades possam abrir os olhos dos(as) colegas, mudando a maneira de fazer o movimento sindical bancário em Brasília. Podemos fazer uma greve diferente, uma greve legal, animada, cheia de cultura e com uma escala de participação que possa envolver muito mais colegas, uma greve com alma, que fale para as pessoas, que denuncie a exploração de que somos vítimas bancários e clientes, afirmando ao mesmo tempo aquilo que podemos fazer de melhor pelo Brasil e por nós mesmos.
SERVIÇO - ASSEMBLEIA DE ELEIÇÃO DOS DELEGADOS(AS) E DA PAUTA DE REIVINDICAÇÕES
AO 27º CONGRESSO DO BANCO DO BRASIL E
AO 32º CONGRESSO DOS EMPREGADOS DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
QUARTA-FEIRA - 08/06/2016
ÀS 19H00 NO SINDICATO DOS BANCÁRIOS DE BRASÍLIA
SHCS EQ. 314/315 Bloco “A” – Asa Sul - Brasília/DF
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