7 DE JULHO DE 2009 - 19h07
A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos anunciaram nesta terça (7) o resultado positivo do exame de DNA nos restos mortais do guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, a primeira baixa entre os quadros do PCdoB que combateram à ditadura militar na Guerrilha do Araguaia, entre 1972 a 1974. A ossada do líder estudantil cearense foi exumada do cemitério de Xambioá e estava entre as dez que estão guardadas em Brasília no Ministério da Justiça.
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Bergson quando estudava em Fortaleza
Com a identificação de Bergson Gurjão, agora são dois os desaparecidos políticos do Araguaia já identificados. A primeira foi Maria Lúcia Petit da Silva que teve suas ossadas reconhecidas em 1996 e sepultada por seus familiares em Bauru (SP). Militante do PCdoB, ela foi para a região em 1970. Estava desaparecida desde 1972. Após as identificações, restam ainda 63 desaparecidos políticos do Araguaia, segundo contabilidade do governo.
Outra ossada denominada de 11ª encontra-se em São Paulo e há fortes indícios de que seja de Francisco Manoel Chaves, outro quadro do PCdoB que aos 60 anos chegou a região. Falta material genético da família para a identificação. As ossadas têm a estrutura de um afro-descedente como era Chaves, imortalizado no livro ''Memórias dos Cárcere''. Na obra, o escritor Gracialiano Ramos narra o empenho do militante em denunciar as condições desumana do presídio de Ilha Grande para onde foi levado após engrossar as fileiras da Aliança Nacional Libertadora em 1935.
Segundo o ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), a identificação de Bergson só foi possível devido o uso de tecnologia inovadora empregada pelo Laboratório Genomic para análise de DNA forense, denominada SNP (single nucleotide polymorphisms). Nas próximas semanas, a mesma tecnologia será usada para a identificação das demais ossadas que estão no ministério ou as que chegarem no local. Dois exames já haviam sido feitos na ossada de Bergson: um com resultado negativo e o outro não-conclusivo.
O novo exame foi feito após o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) ter anunciado que, quando era presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, solicitou ao perito criminal Domingos Tocchetto um exame que apontou fortes indícios científicos de que uma das ossadas, catalogada como Xambioá 2, correspondia aos restos mortais de Bergson.
O ministro explicou que uma assessora especial foi enviada a Fortaleza nesta terça para comunicar pessoalmente aos familiares de Bergson a identificação e ao mesmo tempo providenciar o traslado para a realização do enterro. Vannuchi disse que conversou por telefone com uma irmã de Bergson chamada Tânia. Ela lhe informou que a mãe, Luiza Gurjão, de 90 anos, alimentava a expectativa de fazer o enterro do filho.
“A SEDH/PR e a CEMDP rendem tributo a mais este brasileiro que entregou sua vida à causa da justiça e da liberdade, bem como a sua perseverante família, que , finalmente, 37 anos após sofrer a perda irreparável e, durante quase três décadas bater em todas as portas, terá pelo menos respeitado o direito milenar e sagrado de prantear seu ente querido e dar-lhe sepultura digna, sob profunda admiração de todos os que lutam pela defesa dos direitos humanos em nosso país”, diz uma nota distribuída pelo ministro.
A morte de Bergson
Segundo a publicação ''Direito à memora e à Verdade'', da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Bergson Gurjão, que usava o codinome Jorge, foi morto aos 25 anos em meados de maio a junho de 1972. Trata-se da primeira baixa do PCdoB na região. Com base em documentos secretos das forças repressivas, testemunhas disseram que seu corpo foi pendurado em uma árvore de cabeça para baixo para depois ser brutalmente espancado por pára-quedistas e outros agentes da repressão.
“O desaparecimento de Bergson foi denunciado em juízo pelos presos políticos José Genoíno (atual deputado federal pelo PT de São Paulo) e Dower Moraes Cavalcante. Genoíno afirmou que lhe mostraram o corpo sem vida de Bergson, com inúmeras perfurações, durante um interrogatório. Dower informou ter sido preso e torturado junto com Bergson e confirmou a versão de Genoíno para sua morte”, diz um trecho do livro.
Bergson atuou no movimento estudantil na Universidade Federal do Ceará onde cursava Química. Ele era vice-presidente do DCE quando foi preso durante o 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), em outubro de 1968.
Em 1969 foi condenado a dois anos de prisão pela Justiça Militar. Já na clandestinidade, mudou para o Araguaia onde viveu na área de Caianos. Bergson, que segundo documentos da repressão pertencia ao Destacamento C, onde era chefe do grupo 700, foi apanhado numa emboscada após ser denunciado por um camponês que iria lhe entregar um rolo de fumo e suprimentos. O Exército na época oferecia mil cruzeiros para cada guerrilheiro capturado.
De Brasília,
Iram Alfaia
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