Jean Wyllys faz homenagem às mulheres públicas do PCdoB
Em seu perfil nas redes sociais, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) publicou uma avaliação da atuação das mulheres nos últimos meses. Em sua análise, o deputado destaca o protagonismo das mulheres públicas do PCdoB, a quem presta homenagem, dizendo que “o PCdoB tem o inegável mérito de empoderar suas mulheres. Aliás, antes de a Rede Sustentabilidade se construir, o PCdoB era o único partido presidido por uma mulher, a deputada Luciana Santos, de Pernambuco”.
A seguir, leia a íntegra do post:
A primavera brasileira foi, em se tratando da cena política, sem dúvida, protagonizada pelas mulheres (representantes de diferentes e até conflitantes expressões do feminismo). Das bem-sucedidas (re) ações nas redes sociais com impactos indiretos na chamada “grande mídia” – a campanha-resposta #meuprimeiroassédio ao machismo mais abjeto que se seguiu à exposição de uma menina num programa de tevê e o movimento #Agoraéquesãoelas para que colunistas e blogueiros de expressão cedessem suas tribunas para que mulheres falassem por e sobre si mesmas – à ocupação das ruas pedindo a saída do corrupto Eduardo Cunha, que pretende, por meio de projeto de lei, retirar direitos sexuais e reprodutivos garantidos desde 1949, passando pelo debate acerca da citação de Simone de Beauvoir no Enem, eram as mulheres que estavam à frente.
Mesmo no novíssimo movimento estudantil que ocupou as escolas de São Paulo, impedindo que o governo do PSDB as fechassem, as meninas foram relevantes, inclusive na resistência à força bruta e desmedida usada pela Polícia Militar tucana contra a ocupação.
Mas é importante que se diga que esse protagonismo é resultado de um trabalho histórico de mulheres (a maioria se reconhecendo e se apresentando como feministas; outras não) e de homens que vieram antes dessas protagonistas (alguns ainda aqui, na luta) e que deram, ao seu modo e em seu campo de atuação, contribuições para a equidade de gênero.
Nesse sentido, quero fazer uma justa homenagem às mulheres públicas do PCdoB – Partido Comunista do Brasil e ao partido como um todo. Eu estou deputado federal pelo Psol – Partido Socialismo e Liberdade, partido ao qual escolhi me filiar por afinidade ideológica e programática; esta identidade partidária, porém, não me impede de reconhecer méritos e conquistas de e em outros partidos [logo, não façam dessa postagem motivos para especulações maldosas; o Psol é o meu partido!].
Se o Psol tem a primazia e o mérito de abrigar o primeiro deputado federal homossexual assumido, orgulhoso de sua orientação sexual e porta-voz das reivindicações da comunidade LGBT e das pessoas sexo-diversas, articulando claramente essa agenda com outras importantes dos direitos humanos de minorias; se o Psol tem o mérito de ter apresentado o primeiro beijo gay num programa eleitoral, o primeiro candidato a prefeito assumidamente gay, Renan Palmeira II (e também o primeiro candidato a governador, Ailton Lopes, no Ceará) e de hoje ter uma mulher transexual, Samara Braga, como pré-candidata à prefeitura de Alagoinhas, bem como o mérito de contar com um bem-estruturado setorial de mulheres que construiu comigo o projeto de lei que legaliza e regulamenta a interrupção segura da gravidez indesejada, o PCdoB tem o inegável mérito de empoderar suas mulheres. Aliás, antes de a Rede Sustentabilidade se construir, o PCdoB era o único partido presidido por uma mulher, a deputada Luciana Santos, de Pernambuco (o Psol já foi o único partido presidido por uma mulher, Heloísa Helena, que hoje está na Rede Sustentabilidade).
Todas as mulheres públicas do PCdoB são admiráveis e a maioria é minha amiga. Com todas elas, estabeleço excelente diálogo, mesmo não concordando com todas as suas posições no que diz respeito às outras questões políticas – isso é ser democrata! E sinto muita falta de Manuela D'Ávila na Câmara Federal. Não que o Psol não busque empoderar suas mulheres públicas – Luciana Genro é um exemplo – mas ainda faltam mais mulheres entre as figuras públicas do partido.
Apesar dessas diferenças entre os partidos citados (e levando em conta também o tamanho da bancada feminina do PT e o fato de a presidenta da República pertencer a este partido), eles mostram que, em que pese alguma resistência interna, fruto da histórica dominação masculina que forja nossas subjetividades (dos homens, mas também das mulheres), as mulheres sempre gozaram de mais oportunidades entre comunistas e socialistas (não estou querendo dizer, com isso, que não haja espaço para mulheres entre liberais e capitalistas; há, sim, independentemente da qualidade desse espaço).
Se parte da obra de Marx é cega à questão de gênero, por razões óbvias que dizem respeito ao tempo e ao espaço em que ele a produziu, isso não quer dizer que não se possa vislumbrar abertura à questão em outras partes dessa mesma obra nem que os marxistas fecharam os olhos para ela; ao contrário, e a história é clara nesse sentido: os bolchevistas levaram a questão feminina a sério e os protestos em massa que resultaram na queda do czar foram detonados no Dia Internacional da Mulher em 1917. Uma vez no poder, o partido priorizou a igualdade para as mulheres e criou o Secretariado Internacional da Mulher. Este, por sua vez, convocou o Primeiro Congresso Internacional de Mulheres Operárias, para o qual foram delegadas de vinte países e que pressupunha que as metas do socialismo e da liberação feminina estavam intimamente ligadas.
O historiador Robert J.C. Young diz que “até o ressurgimento dos movimentos femininos na década de 1960, é impressionante constatar como apenas os homens das searas socialista ou comunista encaravam a questão da igualdade feminina como intrínseca a outras formas de liberação política”. No início do século 20, os ambientes comunistas e o socialistas eram os únicos em que as questões de gênero e do colonialismo eram debatidas de forma sistemática.
Aliás, esses dados históricos servem também para mostrar que sempre existiram homens que se aliaram ao feminismo sem querer “roubar o protagonismo das mulheres”, essa cantilena repetida hoje à exaustão por certas “feministas” que têm um prazer estranho em desqualificar publicamente os homens que se apresentam como aliados de suas causas, mas curiosamente silenciam em relação aos reais adversários ou inimigos. Aliás, a impressão que eu tenho dessas “feministas” é que desconhecem a história e a solidariedade.
Contudo, se as mulheres encontraram, nas searas comunistas e socialistas, espaço para se expressar, por outro, muitas delas estreitaram sua leitura do mundo, passando a interpretar certas expressões da liberação feminina como “subprodutos do capitalismo opressor”. Ora, em primeiro lugar o patriarcado é anterior ao capitalismo (o que não quer dizer que eles não tenham se aliado nem que o capitalismo não enseje liberdades em nome de novas forças de trabalho e mercados consumidores); em segundo, em que pesem as boas intenções de intelectuais e revolucionários socialistas, em muitos governos ditos “socialistas” as mulheres permaneceram oprimidas ou com menos oportunidades. E, por fim, no caso específico da prostituição feminina (favor não confundir com exploração sexual nem com tráfico de mulheres para esse fim abjeto), este é um exercício de liberdade feminina anterior ao patriarcado e apesar dele – liberdade que muitas mulheres socialistas não engolem e à qual se opõem (algumas com um nível insuportável de desonestidade intelectual e violência verbal) porque suas subjetividades estão igualmente eivadas do moralismo do patriarcado judaico-cristão ao qual se opõem. São as contradições da vida e nossas com as quais temos de lidar!
Bom, mas este post é mesmo uma homenagem às mulheres que fizeram a primavera e que não sairão de cena e às mulheres públicas do PCdoB. Obrigado a todas vocês! Como homem gay vítima da prima-irmã do sexismo, a homofobia, tenho orgulho de ser seu parceiro!
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