Do artigo “Além do previsto”, de Janio de Freitas, na Fel-lha:
(…)
No
agosto tão previsto surge, porém, algo que ninguém ousara prever. Por
falta do precedente apesar de todos os agostos. Ou por um saldo de
crença no bom senso onde se teme que falte. O imprevisível foi trazido
pelo jovem procurador Deltan Dallagnol, um dos cruzados e porta-voz da
Lava Jato.
Seria no máximo extravagante o enlace entre exposição
dos feitos da Lava Jato e a oração que Dallagnol fez, para seus irmãos
de fé, em uma igreja batista no Rio –com convite a jornalistas para a
conveniente propagação da mensagem. A da fé aliada à Lava Jato ou só a
outra, não se sabe. A outra que, ficou claro, foi uma das finalidades da
assembleia, senão “a” finalidade da exposição entremeada de citações
bíblicas: Dallagnol pediu que seus irmãos de fé acompanhem a página de
determinado pastor na internet, que difunde o espírito cruzado da Lava
Jato. E foi mais longe: concitou à mobilização dos crentes para uma
agenda de manifestações “contra a corrupção”. Entre elas, uma pregação
que se pretende de âmbito nacional.
Quando? No 16 de agosto que os pregadores do impeachment de Dilma escolheram para voltar à rua.
Deltan
Dallagnol fez a palestra na condição de participante de inquéritos da
Procuradoria da República e de integrante da chamada Operação Lava Jato.
Sua exposição e os gráficos exibidos foram os mesmos feitos dias antes
na TV, sem as conotações religiosas e sem a convocação. Como porta-voz
da Lava Jato em ambas, na segunda exposição pôde fazer o que na anterior
não cabia: a convocação que expressa uma definição política e o
propósito do grupo de trabalho que ele integra. Tanto que nenhuma voz
desse grupo tomou a providência de retificá-lo na definição e na
incitação que fez, e que muitos meios de comunicação noticiaram.
Por
meio de Deltan Dallagnol, a Lava Jato se assumiu como ação política –o
que os princípios e os fins da Procuradoria da República não admitem.
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