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domingo, 15 de novembro de 2009

Reflexões sobre a 6ª. Marcha Nacional da Classe Trabalhadora*

A CTB deu um show na 6ª Marcha Nacional da Classe Trabalhadora. Somando-se às centrais que se irmanaram pela aprovação das 40 Horas Semanais, as milhares de pessoas convocadas pela CTB chamaram a atenção, e não apenas porque o visual estivesse bonito – e estava; ou porque era uma ala organizada e unitária do princípio ao fim – e era; mas porque a CTB expressou com gente na rua seu bonito caminhar durante ano de 2009.

Foi como se todos os passos dados na consolidação da central se consubstanciassem naquele ato político transcendente. Em parte porque a Marcha expressou a consigna central do congresso da central classista: Unir os trabalhadores para enfrentar a crise. A justeza dessa posição, abraçada com o mesmo espírito unitário pelas outras centrais, mostrou seu potencial na cena política brasileira e internacional, apesar do boicote da grande imprensa, ou do despreparo, como no caso da TV Câmara, que noticiou a marcha como organizada por apenas uma central.

Os trabalhadores pautaram a sua agenda política às vésperas de um ano decisivo para o Brasil, pelas 40 horas, em defesa do Pré-sal para o Brasil – com o apoio inestimável da UNE e da UBES que levaram 1500 estudantes para a marcha – e pela aprovação das convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho. Não é pouca coisa.

Como empoderar o povo para impulsionar as mudanças?

Afinal, um dos dilemas do processo brasileiro de mudança que o diferencia em profundidade e rapidez do que se conquista na Bolívia, Venezuela e Equador, é exatamente a questão do empoderamento popular como parte da mudança. A América Latina causa espécie ao inovar na política, pela unificação de distintas formas de luta que fazem toda a diferença na busca de caminhos para a superação do neoliberalismo. A onda progressista que ganhou corpo a partir da eleição de Hugo Chávez à presidência da Venezuela, em 1998, tem como característica que a diferencia reunir a luta político-eleitoral a partir de frentes amplas, a luta de idéias contra o neoliberalismo e o lastro dos movimentos sociais mobilizados como elementos indispensáveis para a chegada ao poder político nacional.

É pacífico tal caminho? Sim, mas não desarmado. É por dentro da institucionalidade vigente, burguesa? Sim, mas não a ela subordinado. No mínimo, tais processos neutralizaram as tradicionais forças repressivas e alteraram a institucionalidade para amparar as mudanças no povo, pois seriam impossíveis apenas com a anuência dos oligarcas de sempre, com ilusões do apoio da banca, da mídia e de Washington. Aonde isso não se deu, como em Honduras, vejam-se as dificuldades.

A novidade é essa combinação de formas de luta e a decisão de promover mudanças de fundo, alterando a constituição, disputando a agenda política para reformas decisivas, na defesa dos governos democraticamente eleitos – como na resistência ao golpe na Venezuela e na defesa do governo Lula em 2005 no Brasil.

As maiorias, tantas vezes caladas à custa de repressão brutal ou intervenção estrangeira, impõem-se crescentemente como atoras centrais da luta política pela superação do neoliberalismo, contribuindo com grande qualidade para assegurar a mudança. Quando o povo entra na cena política, entra para decidir e faz a direita tremer. Daí seu ódio inclemente à Venezuela e a Chávez, à Bolívia e a Evo, chamados tantas vezes de populistas por simplesmente, como fez Lula em 2005, não assumirem o protocolo mais caro do que seria um presidente, aquele que não quereria o povo na política. Mas, na medida em que os presidentes progressistas expressam realmente o sentimento popular e chamam o povo a assumir seu papel na cena política, ameaçando os seculares e recentes monopólios das oligarquias latino-americanas, que esperar, senão o ódio de classe mais empedernido e desesperado?!

A unidade das centrais: um grande achado.

E por isso é fundamental apreender o sentido, a força, as lições contidas nos recentes acontecimentos que permitiram unificar os trabalhadores através das centrais sindicais, porque pode ser esse um elemento importantíssimo na solução desse enigma da esfinge no processo brasileiro, que é o de conferir ao povo maior protagonismo na defesa e no aprofundamento das mudanças. O fórum das centrais cumpre hoje um papel decisivo. A marcha mostrou o peso que tem na cena política a movimentação decidida desses batalhões da luta de classes. E é lastreado na correção desses exemplos práticos que o povo aprende na luta e que ganha corpo a proposta da CTB pela convocação de uma nova Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras que possa assegurar a unidade na defesa do aprofundamento das mudanças no Brasil e na consolidação de inúmeras conquistas alcançadas no governo Lula.

Não é gratuita a ação de inconstitucionalidade movida pelo DEMO contra o reconhecimento das centrais sindicais, a CPI do MST, os ataques à UNE. A direita se move decidida para criminalizar, neutralizar, desmoralizar, anular o peso dos movimentos sociais como atores destacados do processo político brasileiro.

Ciência sumamente complexa é a de escutar o povo para entender o que o pode unir como força motriz do avanço social, força política de combate que empurra a política para a esquerda. É a difícil busca do ascenso de massas. O Brasil é imenso, poderosas forças conservadoras atuam dia e noite para impedir os avanços do povo, forças que têm 500 anos na direção do país, cujas origens remontam ainda aos grandes latifundiários de sempre e mesmo os traficantes de escravos que se reciclaram geração após geração, aliando-se à potência de turno para manter nosso país de joelhos. Em comum com seus antepassados, a cínica defesa da cobrança do mesmo quinto que levou Tiradentes ao patíbulo, o mesmo desprezo pela nação e a mesma sanha que não hesitou em cortar aquele mártir em postas, demolir-lhe a casa e salgar seu chão para que nada mais nascesse no futuro. Em vão. O Brasil é muito mais que essa elite pusilânime.

Assim, quando o povo constrói instrumentos poderosos como a unidade das centrais, que pode ser a chave para uma unidade ainda mais ampla de todo o movimento social, há que dar a tais fatos recentes a devida atenção para que se expresse aí a arte na política: alterar a correlação de forças para o aprofundamento das mudanças.

A CTB na marcha: massiva, alegre, brasileira e jovial

E talvez por isso essa impressão de uma alegria militante tão clara nas filas da CTB durante a marcha. Presentes estavam pessoas de todo o país, muitos dos delegados do Congresso recentemente ocorrido no último setembro, todos os sotaques, trabalhadores do campo e da cidade, muitas mulheres, e todas as idades, por uma pujante presença de jovens trabalhadores e estudantes.

Com sua característica irreverência, a juventude correu e fez coreografias, gritou divertidas palavras de ordem, expressou sua perene confiança no Brasil pela centralidade que conferiu à questão do Pré-Sal. A UNE e a UBES mobilizaram nos Estados e mantiveram uma equipe por meses em Brasília para assegurar esse brilho que conferiu à Marcha. E há que mencionar a alegria com que as bandeiras da CTB, da UNE e da UBES tremularam lado a lado, esse reconhecimento da juventude pela novidade que a central classista representa e a resposta da CTB em valorizar os(as) jovens como atores políticos de primeira linha na luta pela mudança do Brasil. É fundamental investir nisso: encher as fileiras de nossos sindicatos de jovens e estreitar as relações da CTB com os movimentos sociais, a juventude, o movimento de mulheres e o movimento negro. E uma palavra de ordem se fez gesto na 6ª. Marcha: a unidade entre trabalhadores e estudantes.

Unidade, unidade, e mais unidade

É preciso ter generosidade para assumir um papel de destaque na histórica luta do povo brasileiro, para sair do contingente e do espontâneo, para disputar os rumos do país. E é essa grandeza que deve buscar o sindicalismo classista, ao assegurar a unidade da classe e incorporar de coração aberto tantos lutadores e lutadoras, estudantes e jovens. Como diz a canção, “vamos precisar de todo mudo pra banir do mundo a opressão”, e o jogo, não nos iludamos, é bruto.

Foi essa síntese que permitiu à CTB evoluir incontestavelmente em sua contribuição à 6ª. Marcha Nacional da Classe Trabalhadora, o que por sua vez reafirmou a viabilidade e a urgência de posicionar os trabalhadores em torno da continuidade e do aprofundamento da mudança no Brasil. Ganha legitimidade a luta por realizar uma nova CONCLAT que signifique a voz dos trabalhadores em uníssono com o povo para exorcizar qualquer possibilidade de retorno das elites neoliberais ao centro do poder. E, assim, abrir caminhos para uma democracia mais ampla, onde o povo possa agir e ser ouvido, acelerando o ritmo e dando uma contribuição que só pode ser nossa, brasileira, à nova luta pelo socialismo.

*Paulo Vinícius Santos da Silva – Cientista Social e Bancário é Secretário Nacional de Juventude Trabalhadora da CTB.

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