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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ataques do Estadão à UNE: mais um capítulo da criminalização dos movimentos sociais

Augusto Chagas _ Presidente da UNE


A principal manchete do jornal O Estado de São Paulo deste domingo acusa: “UNE é suspeita de fraudar convênios”. Em toda a página de abertura do caderno, o jornal julga: “a UNE fraudou convênios, forjou orçamentos”. Categoriza-nos de “aliados do governo” e afirma: “a organização estudantil toma dinheiro público, mas não diz nem quanto gastou nem como gastou”.

A afirmação “UNE é suspeita” não veio de nenhum órgão de polícia ou de controle de contas públicas, é uma afirmação de autoria e responsabilidade de O Estado de São Paulo. A principal acusação é de um orçamento de uma empresa não localizada, que aparece numa previsão orçamentária. De resto, outro orçamento de uma empresa que funciona num pequeno sobrado e especulação sobre convênios que ainda não tiveram suas contas aprovadas.

O fato é que a UNE nunca contratou nenhuma das duas empresas, apenas fez orçamentos, ao contrário do que a matéria, de modo ladino, faz crer. Sobre os convênios, o jornal preferiu ignorar as dezenas de convênios públicos executados pela UNE nos últimos anos – todos absolutamente regulares. Ignora também os pedidos de prorrogação de prazos feitos aos convênios citados, procedimento usual e que não tem nada de ilícito.

A diferença no peso dado a duas notícias na capa desta mesma edição evidencia mais ainda suas opções. Com muito menor destaque, denuncia os vídeos e gravações de um escândalo de compra de parlamentares, operadas pelo próprio governador do Distrito Federal. Apenas a penúltima página do caderno trata do escândalo, imperceptível sob a propaganda de um grande anunciante do jornal. Uma pequena fotografia mostra os R$100 mil que foram anexados ao inquérito divulgado pela Polícia Federal. A matéria, em tom jornalístico, não acusa. Pelo contrário, diz que os vídeos, “de acordo com a investigação”, revelam um suposto esquema de corrupção. Talvez o jornalista não tenha assistido às gravações...

Há pelo menos 17 anos este jornal não oferecia à União Nacional dos Estudantes uma manchete desta proporção. A última acontecera no Fora Collor. A hipocrisia da sua linha editorial precisa ser repudiada. Não apenas como esforço de defender a UNE das calúnias, mas para desmascarar os seus reais objetivos.

O principal deles é a desqualificação e criminalização dos movimentos sociais. O MST enfrenta um destes momentos de ataque, seja através da CPI recriada no Congresso pelos ruralistas, seja através da sistemática campanha que procura taxá-lo como “criminoso” para a opinião pública. As Centrais Sindicais sofrem a coerção econômica do patronato, policialesca do sistema judicial, e a injúria de parte da grande mídia. A UNE, que acaba de construir o congresso mais representativo dos seus 72 anos de vida, foi tratada como governista, vendida, aparelhada e desvirtuada de seus objetivos pela maioria das grandes rádios, jornais e revistas.

A grande imprensa oscila entre atacar os movimentos sociais ou ignorá-los - como fez recentemente com a marcha de mais de 50 mil trabalhadores reunidos em Brasília reivindicando a redução da jornada de trabalho. Este jornal, por exemplo, não achou o fato importante a ponto de noticiá-lo.

As organizações populares e democráticas devem ter energia para reagir prontamente. É fundamental que o façam de maneira unificada, fortalecendo-se diante dos interesses poderosos que enfrentam. Que fique claro: o setor dominante tenta impedir as profundas transformações que estas organizações reivindicam e que são tão necessárias à emancipação do povo brasileiro e à conquista da real democracia no país.

A manchete do Estadão evidencia também a maneira como a grande mídia trata o problema da corrupção no Brasil: como instrumento de luta política por seus objetivos e com descarado cinismo. Seja pela insistente campanha para desconstruir no imaginário popular a crença na política e no Estado, ou pelas escolhas que faz ao divulgar com destaque desproporcional irregularidades que envolvem aliados ou adversários, criando ou abafando crises na opinião pública.

Na verdade, pouco fazem para enfrentar os verdadeiros problemas da apropriação privada daquilo que é público. A UNE, pelo contrário, sempre levantou a bandeira da democracia. Alguns de nossos mais valorosos dirigentes deram a vida lutando por ela. E afirmamos com veemência: a UNE trata com absoluta responsabilidade os recursos públicos que opera e os aplica para atividades de grande interesse da sociedade.

Às vésperas da primeira Conferência Nacional de Comunicação, o movimento social deve intensificar a luta pelos seus direitos. O enfrentamento à despótica posição da mídia brasileira é um dos grandes desafios que o país terá na construção da democracia que queremos.

O movimento social brasileiro vive um momento de grande unidade, que pode ser visto pela sólida relação entre as Centrais Sindicais e pelo fortalecimento da Coordenação dos Movimentos Sociais. Não à toa, a UNE foi mais uma vez atacada. “Saibam que estamos preparados para mais editoriais, artigos, comentários e tendenciosas ‘notícias’”, afirmei em artigo publicado no dia 24 de julho, apenas cinco dias após a realização do nosso 51º Congresso. Os meses que se passaram não tornaram a afirmação anacrônica. Pois que todos saibam que a UNE não transigirá um milímetro de suas convicções e disposição de luta por um Brasil desenvolvido e justo.

Augusto Chagas é presidente da UNE.

Assista a Vitória de Mujica no Uruguai e a Fraude em Honduras, por TELESUR






http://www.telesurtv.net/

video

Brasil no tiene nada que repensar tras elecciones en Honduras

El presidente de Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, expresó en la XIX Cumbre Iberoamericana en Estoril, Portugal, que "no hay nada que repensar" en relación a Honduras y por lo tanto su gobierno no reconocerá las ilegítimas elecciones como "un intento de blanqueamiento" de un golpe de Estado.
El presidente constitucional de Honduras se confesó impresionado por lo inflado de los resultados de los comicios ilegítimos.(Foto:teleSUR) El régimen de golpista de Honduras ha inflado los resultados de las elecciones ilegítimas celebradas el día domingo, los cuales posteriormente han sido anunciados por el Tribunal Supremo Electoral (TSE), según denunció la madrugada de este lunes el presidente constitucional de ese país centroamericano, Manuel Zelaya.







Vitória da Frente Ampla

Resultados oficiais confirmam vitória de Mujica no Uruguai

Os primeiros resultados oficiais do segundo turno das eleições no Uruguai confirmam a vitória da coalizão governista de esquerda Frente Ampla, encabeçada por José “Pepe” Mujica, contra a chapa oposicionista, de direita, do Partido Nacional, de Luis Alberto Lacalle.


domingo, 29 de novembro de 2009

Vídeo mostra governador do DF recebendo dinheiro



Vídeo mostra governador do DF recebendo dinheiro
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A Folha teve acesso neste sábado (28) a cinco DVDs, entre os quais um que mostra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), recebendo dinheiro. O vídeo foi feito pelo então presidente da Codeplan (empresa do DF), Durval Barbosa, que era, até sexta-feira, secretário de Relações Institucionais de Arruda.

O secretário de Ordem Pública do DF, Roberto Giffoni, nega que o dinheiro seja propina. Seria uma colaboração recebida, em 2005, pelo então deputado José Roberto Arruda para financiar ações sociais, entre as quais a compra de panetones e brinquedos, alega.



PT do DF deve apresentar pedido de CPI para investigar governo local
Câmara DF só se manifesta após conhecer processo
Alvos de investigação já foram denunciados por corrupção

No vídeo de 30 minutos e 31 segundos, Arruda recebe um maço de notas de Barbosa. "Deixa eu pegar um negócio antes que eu me esqueça", diz Barbosa para Arruda que logo em seguida aparece com o um maço de dinheiro. "Ah, ótimo. Me dá uma cesta, um negócio", diz o governador.




Em seguida, Barbosa aparece com um envelope pardo onde o maço é guardado. Depois entra na sala uma pessoa chamada de Rodrigo e pega a sacola. A Folha obteve informação que trata-se de Rodrigo Arantes, filho adotivo de Arruda. No vídeo, Arruda e Barbosa conversam sobre a campanha.
Os outros vídeos mostram Barbosa manuseando dinheiro. O assessor de imprensa Omézio Pontes também aparece num outro vídeo recendo grande quantia de dinheiro. Arruda é o centro das investigações da operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira, quando foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão de equipamentos, dinheiro e documentos em Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

sábado, 28 de novembro de 2009

Reunião da CMS debate corrupção no governo Arruda

Brasília, 27 de novembro de 2009
Companheiros e Companheiras da CMS-DF
Diante das recentes denúncias de corrupção no GDF que, a partir de uma ação do Ministério Público, levaram a Polícia Federal a cumprir mandados de busca e apreensão em residências de membros do executivo e gabinetes da Câmara Legislativa,
a Ed. Venâncio V, entrada pelo estacionamento atrás do CONIC.
A intenção é socializarmos informações e discutirmos uma proposta de ação conjunta dos movimentos sociais.
Contamos com sua presença!
Ismael José Cesar
P/ COORDENAÇÃO DA CMS/DF

Esgoto corre nas páginas da “Folha”: jornal da “ditabranda” mostra como será campanha de 2010

http://www.vermelho.org.br/blogs/outroladodanoticia/

Do blog Rodrigo Vianna

A “Folha” levou 18 anos para publicar a história sobre o filho que FHC teve com uma jornalista da Globo, enquanto estava casado com Dona Ruth.

O Cesar Benjamim - ex-militante petista – levou 15 anos para “lembrar” de uma história que teria ouvido de Lula: em 1994, o então candidato a presidente pelo PT teria contado que ele (Lula) tentou molestar sexualmente um colega de cela quando esteve preso em 1980.

O que os dois fatos têm em comum?

Tudo a ver.

aaaaaaaotvinho

Esgoto escorre nas páginas do jornal de “Otavinho”; outro que usa diminutivo, “Cesinha”, ajudou a fazer o serviço

Por coincidência, o artigo em que “Cesinha” (agora compreendo o diminutivo que ele carrega há tanto tempo no nome) conta essa história sobre Lula foi publicado (advinhem?) justamente na “Folha”.

Hum…

Há duas semanas, publiquei aqui um texto em que perguntava por que o filho de FHC apareceu só agora – http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/teorias-por-que-fhc-reconheceu-o-filho-so-agora.

Levantei algumas hipóteses. A terceira era: 3) Fator denúncias contra o PT. Essa é a teoria já exposta no blog do Eduardo Guimarães - http://edu.guim.blog.uol.com.br/. A idéia é que a (ex) grande imprensa já teria na mão dossiês contra Dilma. Revelar, agora, o filho fora do casamento de FHC seria uma forma de mostrar “isenção”. Na hora que aparecesse denúncia contra Dilma, ninguém poderia acusar a mídia de perseguir o PT. A diferença é que Dilma é candidata em 2010, e FHC só teve o filho revelado 8 anos depois de sair do poder.

Errei num detalhe: o foco não era Dilma, mas Lula mesmo.

A história sobre o filho de FHC foi uma espécie de antídoto preventivo. Ao chamar Lula de “molestador sexual”, usando (corajosamente, característica dos Frias) um terceiro pra fazer o ataque, a “Folha” não pode ser acusada de “parcialidade”, afinal publicou também a informação sobre o tucano.

Hum…

Detalhe: o filho de FHC existe. Mora no exterior. A revista “Caros Amigos” contou há dez anos a história completa.

Já a história do “Cesinha” é só uma história. Onde está o rapaz que teria sido molestado por Lula em 1980? Vocês acham que esse rapaz (ou um rapaz qualquer que cumpra o papel) vai aparecer nas páginas da “Folha” ou da “Veja”? Ah, a campanha de 2010 será linda.

Outro detalhe: a “Folha” ignorou a informação publicada semana passada, por Cláudio Humberto, de que FHC teria tido um outro filho fora do casamento, com uma empregada da família – http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/claudio-humberto-fhc-teve-outro-filho-por-fora-com-a-empregada-esse-ele-reconheceu.

Mas a “Folha” abriu hoje três páginas para falar (mal) do filme sobre Lula: “O Filho do Brasil” (FHC, parece, também ele é um especialista em “filhos do Brasil”).

Quem conhece um pouco como funciona o jornalismo sabe que o objetivo das três páginas era dar “peso” para a informação que apareceu ali pelo meio do artigo de “Cesinha”. Nada mais interessava aos Frias, só a informação sobre o Lula “molestador”.

Ora, uma informação dessas (se verdadeira) mereceria manchete, não acham? Por que foi publicada desse jeito, no meio de um artigo?

Porque uma manchete deixaria tudo muito explícito. O artigo na “Folha” é só parte do script, tenham certeza…

De outro lado, uma informação dessas, se falsa, deveria ir parar no lixo, no esgoto…

Bem, na verdade, foi o que aconteceu. Há algum tempo é esgoto jornalístico o que corre pelas páginas do jornal da família Frias. Nessa vala mal-cheirosa cabem: ficha falsa de ministra, editorial louvando a “ditabranda”, ataques descabidos a professores respeitáveis (Benevides e Comparato) que criticaram a “ditabrabanda” da “Folha”.

Último detalhe: na edição desta sexta-feira, a “Folha” simplesmente “escondeu” a notícia sobre denúncia do Ministério Público Federal. Os procuradores Weichert e Favero querem que Paulo Maluf, Romeu Tuma e outras autoridades da época da ditadura sejam responsabilizados pelo crime de ocultação de cadáver – http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=23189. A notícia (no jornal) apareceu “perdida” lá pela página 13, sem destaque nenhum, ao lado de um anúncio de turismo…

A “Folha” esquece os crimes da ditadura da qual foi parceira. Crimes concretos, abomináveis. Há mortos, desaparecidos. Há impunidade daqueles que foram sócios da “Folha” no apoio à ditadura.

A “Folha” não abre espaço para que Ivan Seixar publique as cartas contando o que aconteceu com o pai dele na OBAN (Operação Bandeirante) durante a ditadura – http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/por-que-a-folha-nao-publica-cartas-de-ivan-seixas.

Mas a “Folha” abre espaço para o “Cesinha” fazer o serviço sujo.

A “Folha” já abriu manchete para o sequestro (de Delfim) que não houve (o objetivo da matéria era atingir Dilma, lembram?). Agora, abre discretamente espaço para o “ataque sexual” que não houve.

Sobre os crimes de verdade, sobre os mortos e desaparecidos, sobre os torturadores, nenhum pio. Até porque a “Folha” teria que explicar porque os carros do jornal eram sempre vistos em frente à OBAN (centro de torturas em São Paulo).

Curiosamente, o “Cesinha” conta no tal artigo desta sexta-feira que escapou de ser abusado sexualmente por presos comuns quando esteve preso durante a ditadura. Ainda bem. O “Cesinha” foi vítima dos crimes abomináveis cometidos naquela época: ficou preso, incomunicável. Era um jovem de 16/17 anos…

Mas tantos anos depois, ”Cesinha”, você foi usado (e abusado) pela mesma elite que apoiou a ditadura. E, dessa vez, parece que você gostou.

===

P.S.:

PAULO DE TARSO DESMENTE “CESINHA”

Uma das pessoas que teriam “testemunhado”, em 1994, a tal conversa (em que Lula teria narrado o episódio do “abuso”) é Paulo de Tarso Venceslau. Ele foi militante do PT, rompeu com o partido, e tem críticas pesadíssimas ao setor que ainda hoje domina as principais instâncias partidárias. Veja aqui um exemplo das denúncias que Paulo de Tarso fez ao PT – http://www.terra.com.br/istoe/politica/144430.htm

Pois bem, a “Folha” não “lembrou” de ouvir o Paulo de Tarso sobre o caso do “abuso”.

Ele, que teria todos os motivos para “bater” no PT e em Lula, acaba de divulgar uma nota, em que repudia e desmente o artiguinho do “Cesinha”.

A nota está aqui, no site do Azenha – http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-nota-de-paulo-de-tarso/.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Diógenes Arruda Câmara: O guerreiro sem repouso (2) - Augusto Buonicore

Zé Duarte, João Amazonas e Arruda quando Amazonas volta do exílio, 
pouco antes de seu falecimento, em 1979





Augusto Buonicore *

“Certa vez, quando estávamos na China em pleno inverno, um fio de lascar, 39º abaixo de zero, olhávamos pela janela e tudo lá fora estava completamente branco, coberto de neve. Foi aí que vi Diógenes à beira da janela com lágrimas escorrendo pelo rosto. Como poucas vezes o vi chorar, perguntei: O que foi meu nego? Ai ele me disse: - Tereza, será que está chovendo no sertão?” Depoimento de Tereza da Costa Rego, companheira de Arruda. 

Retomando os laços perdidos

Após sair do Comitê Central no V Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCB), Diógenes Arruda começou a trabalhar num escritório de planejamento na cidade de São Paulo. Em 1963, voltou a Pernambuco para assessorar o governador Miguel Arraes e realizar alguns projetos junto a SUDENE.

Ainda existem dúvidas sobre quando ele reingressou no PC do Brasil. João Amazonas, numa entrevista, descreveu a retomada dos contatos com o velho amigo: “Arruda ainda não tinha conseguido compreender a reorganização do Partido. Então, eu e Maurício Grabóis, passado algum tempo (...) fomos a casa dele e tivemos uma longa conversa. E o Arruda de cara fechada com a gente. Então, eu disse: ‘Você tem importância para o Partido. (...) O teu lugar é aqui e não fora daqui’. O Arruda conversou, conversou e foi mudando sua fisionomia. Na hora que saímos, lá vem ele andando conosco; uma distância grande até que nós pegássemos o ônibus. Então, o Arruda tinha reencontrado o seu partido”.

Por outro lado, o líder do PC brasileiro, Gregório Bezerra, falou de um fato ocorrido no dia do golpe militar de 1964: “Fui até a redação da Folha do Povo, mas não encontrei nenhum camarada. (...). Quando vou saindo, dou de cara com o camarada Diógenes Arruda Câmara, que diz: ‘Vim apresentar-me para a luta. Cumprirei qualquer tarefa que o partido me confiar.
Disponham de mim para tudo’. Eu tinha um pé atrás com esse companheiro (...) mas, diante de sua atitude de homem de partido, passei a respeitá-lo como verdadeiro revolucionário comunista”. Contudo, não houve resistência popular à altura da necessidade. Arruda deve ter se perguntado: qual teria sido a razão daquela derrota?

Sendo uma figura de esquerda, odiada pelas forças conservadoras, Arruda teve que se esconder. Primeiro refugiou-se no litoral norte de Pernambuco; depois, no Mosteiro de São Bento em Olinda. O local foi conseguido por Tereza Costa Rego, uma amiga que logo se tornou sua companheira.

Eles se conheceram em 1962 e dizem que foi amor à primeira vista. O problema é que ela era casada e tinha duas filhas. Pertencia a uma tradicional família pernambucana. Isso fez cair sobre ela todos os preconceitos de uma sociedade patriarcal e conservadora. Foi deserdada e perdeu a guarda das filhas. Como o amor que sentiam era maior, mandaram tudo para os ares. Tiveram que atravessar a via crucis da incompreensão familiar e o terror ditatorial.

Arruda e Tereza se mudaram para São Paulo. Foi uma verdadeira revolução na vida dela. Afirmou ela: “fui morar com ele, saindo de uma casa com 11 empregados, para um apartamento que tinha 4 por 6 metros, uma mini-cozinha e um banheiro. O apartamento tinha um monte de livros até o teto, um colchão no chão e um ramo de rosas sobre ele”. Agora em situação legal, Arruda passou a trabalhar num escritório de planejamento urbano.

De novo com os estudantes

Muito provavelmente, ele já tivesse reatado os contactos com aqueles que reorganizaram o PCdoB, embora ainda não tivesse se decidido pela reintegração àquela organização. Isso explicaria o fato de ter procurado Gregório Bezerra e se colocado à disposição para resistir ao golpe militar em Recife.

Também podemos supor que a gravidade da derrota sofrida naquele primeiro de abril de 1964 – uma derrota sem luta - tenha o levado a se decidir pelo reingresso no PC do Brasil. Afinal, este havia sido o Partido que mais criticara as ilusões reformistas predominantes na esquerda brasileira. As teses em voga que apregoavam a transição e a coexistência pacíficas sofreram um forte desgaste. A chamada burguesia nacional, tida como aliada preferencial na primeira etapa da revolução, mostrou toda sua pusilanimidade. O esquema militar de Jango, que muitos se fiavam, demonstrou-se ilusório. A estratégia política defendida pelo PCB, aos olhos de vários setores de esquerda, havia fracassado.

Por isso, vários militantes abandonaram o PC Brasileiro e aderiram ao PC do Brasil. Comitês inteiros trocaram de Partido, como aconteceu no Ceará e Maranhão. Um pouco mais tarde ingressou o pessoal do Comitê Marítimo e a Maioria Revolucionária do Comitê Regional da Guanabara, ambos ligados ao PCB. O pequeno PCdoB começava a ganhar musculatura.

A entrada de Arruda, no entanto, seria o pivô de mais uma polêmica. O pessoal que estava formando a Ala Vermelha acusava a direção de querer mudar o estatuto na VI Conferência (1966) para permitir o ingresso de Arruda diretamente no Comitê Central, sem precisar ter militado em uma organização de base. As acusações não tinham fundamento: 1º Arruda era um veterano comunista, que teve uma ação importante nas bases partidárias; 2º Ele não passou compor a direção nacional logo após a conferência. Isso só viria acontecer muitos anos depois.
Portanto, o que sabemos é que Arruda já estava de volta em 1966 e colaborava com a direção regional de São Paulo. Ficou responsável por dar assistência às bases estudantis. Assumiu a nova tarefa num momento bastante difícil. A Ala Vermelha – que havia sido expulsa do PCdoB - tinha causado grande estrago ao levar consigo parte da militância nessa frente. Tratava-se, então, de reorganizar o trabalho. Era quase um recomeço para um homem que já tinha 54 anos dos quais 33 dedicados à construção do Partido Comunista.

Um jovem que conviveu com ele naqueles dias foi Dalmo Ribas. O Arruda, afirmou ele, “começou dar assistência ao movimento estudantil em 1967. Nessa ocasião nós estávamos bastante desgastados com o ‘racha’ (da Ala Vermelha). Minha lembrança mais antiga me reporta à reunião em que fomos apresentados pelo jornalista e dirigente regional Armando Gimenez. Nessa ocasião era totalmente vedado ao militante especular quem era quem. Se alguém ousasse perguntar, isso valeria uma admoestação: ‘curiosidade é coisa de policial’. Arruda trazia para as reuniões, muita história do Partido. Somente após sua prisão é que soubemos de quem se tratava”.

Prisão, tortura e resistência 

Com a promulgação do AI-5, em dezembro de 1968, o regime se tornou ainda mais ditatorial. As prisões, torturas e assassinatos passaram a compor o cotidiano dos militantes de oposição. Fechava-se o cerco sobre as organizações de esquerda. O destino de Arruda começou a ser decidido quando um casal de militantes esqueceu uma pasta de documentos partidários dentro de um táxi. Através deles descobriu-se a casa na qual se reunia o pessoal do PCdoB. Os policiais ocuparam a residência, prenderam a moradora e montaram uma tocaia.
Em 11 de novembro, quando Arruda bateu na porta foi cercado por quase uma dezena de policiais fortemente armados. Eram agentes da temida Operação Bandeirantes (OBAN). Arruda foi barbaramente seviciado nos porões do DOPS e do CENIMAR. Durante as sessões de tortura teve duas paradas cardíacas, perdeu uma das vistas e seus dedos foram quebrados. Ficou tuberculoso e perdeu mais da metade de sua capacidade pulmonar. Mesmo assim não se rendeu. Não disse uma palavra que pudesse comprometer seus camaradas ou o Partido. Teve um comportamento exemplar e transformou-se num símbolo da resistência contra a ditadura.

Na sua defesa diante da auditoria militar declarou: “Sou dirigente comunista. Não presto contas senão ao meu partido e ao povo. Minhas idéias marxistas e minha honra têm maior valor que minha vida (...). Acredito que um dirigente comunista não se deixa abalar pelo suplício e tudo pode suportar por suas idéias, pois está plantando uma seara que irá frutificar (...) um mundo de pães e rosas”. Apesar de tudo que diziam dele, Arruda se tornou uma pessoa muito querida entre jovens de todas as correntes políticas. É consenso entre aqueles que o conheceram que, apesar do jeito às vezes grosseiro, tinha um grande coração.

Descrevo uma cena narrada por um de seus companheiros de cárcere. Numa noite muito fria, o jovem preso tentava dormir quando sentiu algo e, discretamente, abriu os olhos. Era Arruda que, silenciosamente, o tinha coberto com seu único cobertor. Nada de estranho se aquele garoto não fosse um militante da Ala Vermelha, um racha do PCdoB. O nome dele era Alípio Freire.

Arruda foi libertado em 21 de março de 1972. Diante do seu estado físico, foi solto na certeza que morreria em breve. Novamente, os esbirros da repressão erraram. Arruda sobreviveu e continuou o seu combate. Contudo, uma nova prisão lhe seria fatal. Então, a direção solicitou que ele deixasse o país e fosse ajudar no setor de relações internacionais, colaborando na divulgação da Guerrilha do Araguaia que havia se iniciado.

Santiago, Buenos Aires e Paris 

Arruda, Tereza e filhos atravessaram a fronteira da Argentina como se fosse uma família abastada. Em seguida foram para o Chile, presidido pelo socialista Salvador Allende. O pessoal do PCdoB articulou com outros exilados a construção de um comitê de solidariedade à luta do povo brasileiro. Criaram o boletim “Jornadas da Luta Popular”, que se transformou num instrumento de divulgação da resistência armada no sul do Pará. Arruda e Dynéas Aguiar eram os principais animadores dessa iniciativa.

Quando houve o golpe militar no Chile, em 11 de setembro de 1973, Arruda se refugiou na embaixada da Argentina. Este era um dos únicos países democráticos ainda existentes no Cone Sul. Entre os refugiados brasileiros estava Amarilio Vasconcelos, reorganizador do Partido Comunista em 1943, e um jovem militante comunista chamado Raul Carrion. Eles teriam que esperar mais de um mês até que o asilo lhes fosse concedido.

Mesmo na Argentina a situação estava mudando para pior. Em julho de 1974, o presidente Perón morreu e em seu lugar assumiu Isabelita. Este foi um governo fraco que permitiu o crescimento das ações terroristas, promovidas por grupos paramilitares. A situação exigiu que Arruda fosse rapidamente retirado dali. Depois de muita negociação ele conseguiu novo asilo na França.

Houve, então, uma espécie de divisão das tarefas. Arruda cuidaria das relações com os países da Europa e Dynéas com os da América Latina. Nessa condição visitou a Albânia, Itália, Suécia e Portugal – e, também, a China. Nos países socialistas Arruda era tratado como verdadeiro chefe de Estado. Em Portugal deu grande contribuição na organização do Partido Comunista Português Reconstruído (PCP-R) e da União Democrática e Popular (UDP).

Brasil as coisas haviam ficado muito difíceis para o PCdoB. Entre 1972 e 1973 foi destroçada a comissão nacional de organização. Tombaram assassinados os dirigentes Carlos Danielli, Lincoln Oest, Luis Guilhardini e Lincoln Bicalho Roque. A ação repressiva tinha por objetivo cortar ligações entre o partido e os guerrilheiros no Araguaia. Foi nessa época que, visando preencher os vazios deixados na direção, Arruda ingressou no Comitê Central.

A situação se agravaria ainda mais com a derrota da Guerrilha e o assassinato da maioria dos seus combatentes, inclusive do comandante Maurício Grabóis. Pouco tempo depois, em dezembro de 1976, caiu nas mãos da repressão uma reunião do Comitê Central. Foram assassinados três dirigentes - Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond – e quase uma dezena foi presa e torturada. A grande imprensa chegou anunciar o fim do PCdoB.

Como ocorreu no início da década de 1940, o Partido Comunista do Brasil deveria passar por um uma nova reorganização. Os dirigentes que estavam no exterior – Amazonas, Arruda, Dynéas e Renato Rabelo – começaram a restabelecer os contactos com os militantes e os comitês regionais que ainda resistiam no interior do país. Em pouco tempo esse trabalho estava, no fundamental, concluído. Para Arruda era preciso coroar esse esforço com a realização de uma conferência nacional. A 7ª Conferência reuniu-se na Albânia entre 1978 e 1979. O PC do Brasil, como a Fênix da mitologia parecia renascer das cinzas.

Após a Chacina da Lapa, Arruda escreveu uma série de artigos sobre os deveres da militância comunista. Esses artigos, posteriormente, foram publicados em “A educação revolucionária do comunista” e cumpriram um grande papel na formação ideológica dos comunistas nos estertores da ditadura militar. Uma de suas frases que ficou famosa era: “Primeiro o partido. Depois a vida, se possível!”. Consigna que os comunistas levaram muito a sério naqueles anos de chumbo.

Outra característica de Arruda era a sua grande preocupação com a formação teórica dos militantes comunistas. Sobre isso anos disse Amazonas: “Onde Arruda chegava já estava pensando em fazer algumas palestras sobre problemas teóricos e, em pouco tempo, organizava um curso (...) Foi o camarada Arruda que iniciou os cursos Stalin. (...) Eles jogaram um papel importante na formação dos quadros do nosso Partido (...). Depois, conseguiu que, na escola Superior do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, se realizassem cursos para os comunistas brasileiros. (...) Esse capital teórico que adquirimos foi fruto da atividade do camarada Arruda”. Muitas pessoas testemunharam que ele adorava organizar cursos e dar aulas para os jovens estudantes na década de 1960. Mesmo no breve período que esteve na embaixada da Argentina não deixou de dar suas palestras. Também deu aula de marxismo-leninismo no presídio Tiradentes. Loreta Valadares, no seu livro autobiográfico, comentou sobre os cursos que Arruda organizou em Buenos Aires e na Albânia, para os exilados na Europa.

A volta do guerreiro

O general Figueiredo, depois de resistir muito, anunciou uma anistia parcial que excluía os autores dos chamados “crimes de sangue”. O povo nas ruas protestou contra tal limitação e exigiu que ela fosse “ampla, geral e irrestrita”. Os exilados se esforçaram para repercutir ao máximo a campanha no exterior e isolar o regime. Arruda participou desse processo. Esteve presente e falou no Congresso Internacional pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, realizado em Roma em junho de 1979.

Em setembro daquele ano, logo após a decretação da anistia, retornou ao Brasil e envolveu-se numa pesada agenda política. Ele percorreu vários estados defendendo a ampliação da anistia e a unidade da oposição contra a ditadura militar. No II Encontro pela Anistia, realizado na Bahia, ocorreu um encontro simbólico. Na mesa de abertura reuniram-se, pela primeira vez desde a divisão do movimento comunista brasileiro, os camaradas Arruda, Prestes e Apolônio de Carvalho.

No dia 25 de novembro, Arruda estava muito ansioso, dormira mal a noite toda. Uma coisa o preocupa: o regresso do principal dirigente do PCdoB, João Amazonas. Nada poderia dar errado naquele dia. Chovia muito e uma multidão tomava conta do aeroporto de Congonhas. Arruda logo se colocou ao lado do amigo que acabava de chegar. Amazonas tinha uma aparência frágil e Arruda se preocupava muito com sua segurança. A emoção e a tensão eram grandes naquele local. As fotos tiradas naquele dia demonstram isso.

Ainda dentro do carro que o levaria ao ato público, começou a passar mal. O coração sertanejo marcado pelas torturas não resistiu e, pela primeira vez, entregou os pontos. Arruda não viveria para ver as bandeiras vermelhas tomarem as praças na memorável campanha das diretas, nem a derrota definitiva da ditadura militar, nem a conquista da legalidade de seu partido. Contudo, nenhuma dessas vitórias seria possível sem homens e mulheres como ele.

Teresa Costa Rego, A Partida (1981)



Quando estava preso redigiu uma declaração ao tribunal militar. Ela resumiria, de maneira exemplar, sua maneira revolucionária de encarar a vida: “Não me norteia a vida um viver tranqüilo e pacato, um viver de aconchegos e comodidades, encerrado no círculo estreito de interesses individuais. Meu caráter, meu temperamento, minhas idéias, meus critérios de valor, meu senso político, tudo me preserva da reflexão egoísta, do acomodamento circunstancial, do silêncio velhaco, do servilismo oportunista, da sonegação da verdade. É difícil viver com dignidade, mas somente assim vale a pena viver”. E, por esses critérios, viveu e morreu o sertanejo comunista Diógenes Arruda Câmara.

Leia a primeira parte
Bibliografia

Arruda, Diógenes – A educação revolucionária do comunista, Ed. Anita Garibaldi, 1982
Bezerra, Gregório – Memórias (2ª parte) Ed. Civilização Brasileira, 1979.
Câmara, Cristina Arruda – Um comunista em família: biografia de Diógenes da Arruda Câmara, Monografia de conclusão de curso na faculdade de Comunicação da UFRJ, 1997.
Falcão, João – O Partido Comunista que eu conheci. Ed. Civilização Brasileira, 1988.
Bertolino, Osvaldo – Maurício Grabóis: uma vida de combates, Ed. Anita Garibaldi, 2004
Souza, Cícero M & Andrade, Antonio R. – “Comunismo a brasileira: a trajetória da utopia revolucionária de Diógenes Arruda Câmara” In Universidade & Sociedade, nº19, maio/agosto de 1999. UNB
Valadares, Loreta – Estilhaços, Sec. Cultura e Turismo de Salvador, 2005

Documento

Declaração de Diógenes de Arruda Câmara ao Conselho de Justiça da II Auditoria da II Circunscrição Jurídica Militar, s/d

Entrevistas

Diógenes Arruda – Entrevista realizada pelos jornalistas Albino Castro e Iza Freaza – Não chegou a ser publicada na época. Descoberta por Osvaldo Bertolino foi publicada no sítio Vermelho.

Tereza da Costa Rego – Entrevistas realizadas por Olívia Rangel (s/d) e por Olivia Rangel e Osvaldo Bertolino em 25/05/2005

João Amazonas – Entrevistas realizadas pela Comissão Especial sobre a história do PC do Brasil - 2001

Agradecemos também as informações prestadas por Dyneas Aguiar, Alípio Freire, Dalmo Ribas e Raul Carrion.



Imagens:

Download arruda_05Arruda e sua amada Teresa Costa Rêgo


Download arruda_04 Arruda e sua amada Teresa Costa Rêgo

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Download Arruda_01 Arruda e Di Cavalcanti

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Diógenes Arruda: O guerreiro sem repouso (1) - Augusto Buonicore






Zé Duarte, Amazonas, Arruda, vê-se em seu rosto a emoção e a dor.

Augusto Buonicore *



Era 25 de novembro de 1979, o aeroporto de Congonhas estava cheio de pessoas vindas de todas as partes do Estado de São Paulo. O clima era de festa. Dentro de alguns minutos desembarcaria ali o principal dirigente do PC do Brasil, João Amazonas, que acabava de voltar do exílio. À frente da comissão de recepção estavam duas históricas lideranças comunistas, José Duarte e Diógenes Arruda.


Contudo, a alegria logo se transformaria em tristeza. A emoção do reencontro com velhos amigos abalou o fraco coração do bravo guerreiro pernambucano. Ainda no carro que o levaria ao ato político em homenagem ao camarada João Amazonas, Arruda começou a passar mal e faleceu.


O enterro acabou se transformando na primeira manifestação pública realizada pelo PCdoB. O caixão foi coberto por uma bandeira vermelha estampada com a foice e o martelo. Na beira do túmulo, Elza Monnerat – recém libertada da prisão – falou em nome dos comunistas brasileiros. “Juntamente com as flores da nossa saudade, declarou ela, deixamos o nosso adeus de despedida. Mas um adeus que é também um compromisso de honra. O compromisso de que, quaisquer que sejam as vicissitudes, levaremos adiante a bandeira que ele sempre defendeu. A bandeira do Partido, a bandeira do socialismo”.


Pernambuco, Bahia

Diógenes Alves de Arruda Câmara nasceu em 23 de dezembro de 1914 no pequeno município de Afogados de Ingazeira, sertão de Pernambuco. Um lugar marcado pela pobreza e pela violência. Era neto de um dos coronéis da região e os primeiros presentes que lembrava ter ganhado do seu pai eram um revolver e um punhal. Com eles deveria defender sua vida e a honra da família. Afirmou Arruda: “Eu vivia na minha infância aquelas histórias de cangaceiros, aquelas lutas no sertão. E, assim, eu me criei sem ter medo de polícia, sem ter medo da luta”. O comunista Arruda Câmara continuou sendo a vida toda aquele menino sertanejo, com suas virtudes e vicissitudes.


Em 1930 mudou-se para Recife e ingressou no curso de Engenharia. Um primo, que estudava medicina, o introduziu na literatura socialista. Leu, entre outras coisas, “Um engenheiro Brasileiro na Rússia” e se tornou simpatizante do comunismo. Alguns anos mais tarde, em 1934, ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB).


No final desse mesmo ano mudou-se para a Bahia. Em Salvador matriculou-se no curso de Engenharia Agronômica. Entre 1936 e 1938 foi um atuante líder estudantil, participando do Diretório Acadêmico da Faculdade de Engenharia e da União dos Estudantes da Bahia (UEB).


Teve um papel destacado na campanha em defesa da siderurgia nacional. Segundo João Falcão, ele “foi a mola mestra da semana (em defesa da siderurgia nacional), coordenando os trabalhos das diversas comissões selecionando os oradores. Arruda mobilizou o diretório da Escola de Agronomia, da qual era aluno, para se colocar à frente da organização do evento”. Esse foi “o maior trabalho de massa realizado até então pela frente legal”.


Quando o mesmo João Falcão teve a idéia de criar uma revista político-cultural, Arruda foi um dos seus principais incentivadores. Foi ele quem sugeriu que ela se chamasse Seiva. A publicação expressaria o pensamento da corrente democrática e antifascista da Bahia. Para burlar a censura, deveria ser dirigida por pessoas que não fossem identificadas com o Partido. Mas, atrás dos panos, Arruda ajudava na coleta e seleção dos artigos. Seiva foi a primeira revista legal dirigida pelos comunistas durante o Estado Novo e ajudou divulgar suas idéias entre setores mais amplos da sociedade. Transformou-se num importante instrumento na luta contra o fascismo.


Logo após o golpe do Estado Novo, ocorrido em novembro de 1937, Arruda foi preso. Ficou cerca de três meses na cadeia e não prestou nenhuma informação aos seus algozes. Assim, a polícia não conseguiu nenhuma prova de suas ligações com o Partido Comunista. Devido a sua combatividade e grande capacidade de organização, passou a compor o secretariado regional do PCB, chegando a ser indicado para sua secretaria-geral. Nessa época se enamorou – e, depois, casou - com a estudante de direito Aldeir (Déa) Paraguassú.


Sob a direção enérgica de Arruda, os comunistas da Bahia se tornaram os mais organizados do país. Nas vésperas do Primeiro de Maio de 1940, eles inundaram Salvador com faixas vermelhas dizendo “Abaixo o Estado Novo!”, “Abaixo a guerra e o fascismo!” e “Liberdade para Prestes!”. A ousadia daqueles jovens, que embaraçou o interventor e o chefe da polícia, custaria bastante caro. Poucos dias depois Arruda foi preso novamente.


Desta vez as coisas foram mais complicadas. Ele foi torturado por dois longos meses e passou mais oito meses incomunicável. Muitos temeram por sua vida. Graças ao seu comportamento exemplar, não houve nenhuma queda importante no estado. O partido praticamente se manteve intacto.


Após sair da prisão, seguindo orientação da direção nacional, transferiu-se para São Paulo. O objetivo era ajudar na reorganização do Partido que fora desbaratado pela polícia. Naquele momento Domingos Brás era o único membro do Comitê Central em liberdade. Mesmo ele seria preso pouco tempo depois. O fascista Felinto Miller gabava-se de ter eliminado o Partido Comunista do Brasil. Os últimos acontecimentos pareciam dar-lhes razão. Mas ...


Reconstruindo o Partido Comunista

Como podemos suspeitar, a tarefa de Arruda não seria nada fácil. “Eu era um pau-de-arara, afirmou Arruda, vinha com uma roupazinha de brim, no mês de abril, um frio que até minhas rótulas tremiam”. Continuou ele: “nós comíamos chuchu de manhã, chuchu à noite, chuchu a semana inteira, chuchu o mês inteiro. Não tínhamos outra coisa para comer senão chuchu com arroz e sal”. Além do mais, ele não tinha contatos com os comunistas paulistas. O clima era de muita desconfiança diante de tantas prisões inexplicáveis. Suspeitava-se que havia infiltração policial no interior do Partido.


Numa entrevista, dada poucos meses antes de morrer, Arruda contou como foi o início da reorganização partidária em São Paulo: “Depois de 1935, todo Comitê Regional caiu. Parece que o inimigo cortava a cabeça do Partido (...) e deixava algumas pontas para que eles pudessem acompanhar e golpear o Comitê Regional. Era assim todo ano – 1936, 37, 38, 39, 40, 41. Que fazer? Eu tracei um plano: botar de lado o velho partido, que a polícia tinha indicação, e fazer um Partido novo. Não tinha outra maneira. Então, tive que me apoiar nos baianos. Fui chamando baianos para São Paulo”.


Já na viagem havia trazido consigo o amigo Armênio Guedes. Depois chamou um camarada ligado ao trabalho junto à comunidade judaica visando estabelecer contatos nessa frente. Arruda tinha constatado que nessa colônia as quedas haviam sido pequenas. Uma prova que não havia infiltração policial. A mesma coisa acontecia com os imigrantes lituanos, compostos basicamente de operários. Justamente por ali deveria começar o trabalho. Outro baiano que viria para São Paulo era o médico Milton Caires de Brito, que mais tarde comporia o secretariado do Comitê Central.


No início de 1942, junto com João Falcão, viajou à Argentina para restabelecer contatos com o Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista (IC). Em Buenos Aires se encontraram com Rodolfo Ghioldi e Victório Codovilla. Várias reuniões ocorreram entre os dirigentes da Internacional e os comunistas brasileiros. Quando estavam ali receberam a notícia que o governo brasileiro tinha rompido relações diplomáticas com a Alemanha nazista e havia se iniciado uma grande campanha popular exigindo a declaração imediata de guerra às potências do Eixo.


A linha política aprovada em Buenos Aires era a de construir uma União Nacional, ao lado do governo Vargas, contra as potências nazi-fascistas e seus aliados internos (quinta-coluna). Arruda, rapidamente, voltou ao país com essa diretiva e a tarefa de apressar a reorganização do PC do Brasil. Como membro da direção paulista, procurou contatar com um ativo grupo de comunistas cariocas, comandado por Maurício Grabóis e Amarilio Vasconcelos. A relação foi estabelecida com a ajuda de Leôncio Basbaum.


Constituiu-se, a partir de então, a Comissão Nacional de Organização do Partido (CNOP). A ela se agregaram dois jovens comunistas, fugitivos das prisões paraenses, João Amazonas e Pedro Pomar. Estava formado o núcleo principal de dirigentes que reorganizaria e, ao lado de Prestes, dirigiria o Partido até meados da década de 1950.


A principal tarefa dessa comissão era a organizar da 3ª Conferência Nacional do PC do Brasil, que foi realizada clandestinamente em 1943. Arruda foi eleito secretário nacional de organização, tornando-se, nesse período, o primeiro homem da hierarquia partidária. Sinal da importância que tinha tido naquele difícil processo.


Com a conquista da anistia e o fim do Estado Novo, o Partido Comunista emergiu como uma poderosa força política nacional, conquistando cerca de 10% dos votos nas eleições de 1945. Elegeu um senador e mais 14 deputados federais. Arruda candidatou-se pela Bahia e não conseguiu eleger-se. Contudo, nas eleições complementares de 1947, ele e Pedro Pomar elegeram-se deputados federais por São Paulo. Os dois foram candidatos pela legenda do Partido Social Progressista (PSP) de Ademar de Barros. Nessa época, o Partido Comunista já estava ameaçado de perder o seu registro.


Após a cassação dos seus parlamentares, os comunistas foram obrigados a entrar na clandestinidade. Arruda e Pomar, embora tolhidos em sua ação, continuaram exercendo seus mandatos até o final de 1950.


O impacto das medidas repressivas do governo Dutra e o desencantamento com a tática de viés reformista adotada anteriormente - que teria conduzido a uma séria derrota -, levou os comunistas a adotar uma linha política esquerdista. A principal expressão disso foi o “Manifesto de Agosto” de 1950. Nele Prestes defendia que a única alternativa para o povo era a constituição de uma Frente Democrática de Libertação Nacional e o desencadeamento imediato da luta armada contra o governo de plantão, Dutra e depois Vargas. A estratégia era, nitidamente, inspirada no processo da revolução chinesa que acabava de ser vitoriosa.


Arruda esteve ainda à frente da organização do 4º Congresso do PCB em 1954. Foi ele que apresentou o informe mais importante que tratava do novo programa – o primeiro desde a sua fundação. Até 1943 o programa dos Partidos Comunistas era o da Internacional Comunista. Só com a dissolução deste órgão foi que começaram a surgir os programas nacionais.


As concepções voluntaristas e esquerdistas, especialmente entre 1949 e 1954, conduziram a posições sectárias e métodos autoritários no relacionamento com as outras forças políticas, inclusive às do campo democrático, nacional e popular. Os trabalhistas e socialistas independentes foram tratados como agentes do imperialismo norte-americanos e como forças a serem combatidas.


Diante da ausência de Prestes, recolhido à clandestinidade e fora da direção cotidiana, coube a Arruda impor essa linha ao conjunto do Partido. Por isso mesmo, acabou se transformando na “bete noir” do comunismo brasileiro. Exemplo do autoritarismo no tratamento das divergências internas e mesmo na condução do trabalho de direção. Foi denominado, pejorativamente, de “Stalin brasileiro” ou “pequeno Stalin”.


Anos terríveis


Podemos dizer que, no início da década de 1950, Arruda vivia o auge do seu prestígio enquanto dirigente nacional do Partido Comunista. O escritor Jorge Amado dedicou-lhe “Subterrâneos da Liberdade”, trilogia na qual ele era um dos personagens mais significativos, o camarada André. Contudo, as coisas estavam prestes a mudar drasticamente para ele e o Partido que ajudara a organizar. As origens dessa reviravolta estariam no próprio interior do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), considerado a vanguarda da revolução mundial.


O 20º Congresso do PCUS, realizado em fevereiro de 1956, teve muita importância para o movimento comunista internacional e brasileiro. Ele mudou a linha política predominante até então, passando advogar a transição pacífica ao socialismo e apostar num longo período de coexistência e competição pacífica entre o bloco socialista, capitaneado pela URSS, e o imperialismo estadunidense.


Numa sessão secreta daquele Congresso, o secretário-geral Nikita Krushov apresentou um polêmico relatório no qual denunciava os erros e os crimes cometidos por Stalin. Estranhamente, o conteúdo que era para ser sigiloso vazou para as agências noticiosas internacionais e a informação chegou antes mesmo que os delegados estrangeiros pudessem voltar aos seus países e comunicar Para suas direções o que havia ocorrido.


No caso brasileiro as coisas foram ainda mais graves. Arruda – que era o representante brasileiro naquele congresso – acabou viajando para China antes de retornar ao Brasil. A viagem, que durou vários meses, fazia parte de uma programação oficial. Contudo, a gravidade do momento exigia sua volta imediata. Quando, finalmente, ele chegou os jornais burgueses já haviam publicado o relatório “secreto” e a direção do PCB negado categoricamente sua autenticidade. Abriu-se então uma grande crise no interior do movimento comunista brasileiro, a maior de sua história.


O núcleo dirigente - composto por Prestes, Arruda, Grabóis, Amazonas e Marighella – foi duramente criticado em artigos publicados na própria imprensa partidária e nas primeiras reuniões do Comitê Central convocadas para tratar do 20º Congresso. O principal alvo dos ataques foi o secretário nacional de organização.


Em 1957 Arruda, Grabóis e Amazonas foram destituídos da Comissão Executiva, acusados de resistirem à nova linha expressa na resolução do 20º congresso e se recusarem a fazer autocrítica de sua atuação à frente do Partido. No entanto, não era correta essa idéia que Arruda tenha se recusado aderir às novas teses soviéticas e reconhecer os erros cometidos. Pelo contrário, num artigo publicado na Voz Operária, ele fez uma humilhante autocrítica de todas suas atitudes anteriores. Escreveu: “é muito grande e grave a minha responsabilidade pessoal nas violações dos princípios do marxismo-leninismo de organização e de direção, nas debilidades e falhas ideológicas do Presidium e do secretariado, na condução do Partido, nos erros de direção e nos reveses do Partido, de 1942 até hoje. Lutei, cometi erros e revelei debilidades e, por isso, devo ser criticado e preciso autocriticar-me. Estou disposto a me livrar das idéias incorretas e dos maus hábitos, a transformar-me e renovar-me, pois será assim – e somente assim – poderei servir bem ao Partido”.


Por isso, num primeiro momento, não deu seu apoio ao grupo, encabeçado por Amazonas e Grabóis, que denunciava a nova política partidária, acusando-a de reformista. Ainda, durante os debates do 5º Congresso do PCB, realizado em 1960, somou-se à maioria do Comitê Central na defesa das teses oficiais e na condenação aos seus críticos. Escreveu na Tribuna de Debates um duro artigo intitulado “Estertores e mimetismo de tradição sectária”. Nele criticava as posições defendidas por Grabóis, Amazonas e Pomar, embora não citasse os nomes dos seus velhos camaradas. Sem dúvida, isso lhe causava profundo desconforto.


A dura autocrítica e o alinhamento político com Prestes, que ele admirava muito, não garantiram sua recondução ao Comitê Central. E mais: Arruda não foi eleito para nenhum outro posto de direção – nem regional nem municipal - e se tornou um simples militante de base. Mesmo quando, entre 1961 e 1962, a crise interna agravou-se e ocorreu a cisão dando origem a dois partidos comunistas, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), Arruda manteve-se eqüidistante daquele conflito. Essa neutralidade, no entanto, não duraria muito tempo.

Ladeada por Zé Duarte e Haroldo Lima, Elza Moneratt  discursa no na semeadura de Diógenes Arruda (Genoino ao fundo)


(continua)




domingo, 15 de novembro de 2009

Reflexões sobre a 6ª. Marcha Nacional da Classe Trabalhadora*

A CTB deu um show na 6ª Marcha Nacional da Classe Trabalhadora. Somando-se às centrais que se irmanaram pela aprovação das 40 Horas Semanais, as milhares de pessoas convocadas pela CTB chamaram a atenção, e não apenas porque o visual estivesse bonito – e estava; ou porque era uma ala organizada e unitária do princípio ao fim – e era; mas porque a CTB expressou com gente na rua seu bonito caminhar durante ano de 2009.

Foi como se todos os passos dados na consolidação da central se consubstanciassem naquele ato político transcendente. Em parte porque a Marcha expressou a consigna central do congresso da central classista: Unir os trabalhadores para enfrentar a crise. A justeza dessa posição, abraçada com o mesmo espírito unitário pelas outras centrais, mostrou seu potencial na cena política brasileira e internacional, apesar do boicote da grande imprensa, ou do despreparo, como no caso da TV Câmara, que noticiou a marcha como organizada por apenas uma central.

Os trabalhadores pautaram a sua agenda política às vésperas de um ano decisivo para o Brasil, pelas 40 horas, em defesa do Pré-sal para o Brasil – com o apoio inestimável da UNE e da UBES que levaram 1500 estudantes para a marcha – e pela aprovação das convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho. Não é pouca coisa.

Como empoderar o povo para impulsionar as mudanças?

Afinal, um dos dilemas do processo brasileiro de mudança que o diferencia em profundidade e rapidez do que se conquista na Bolívia, Venezuela e Equador, é exatamente a questão do empoderamento popular como parte da mudança. A América Latina causa espécie ao inovar na política, pela unificação de distintas formas de luta que fazem toda a diferença na busca de caminhos para a superação do neoliberalismo. A onda progressista que ganhou corpo a partir da eleição de Hugo Chávez à presidência da Venezuela, em 1998, tem como característica que a diferencia reunir a luta político-eleitoral a partir de frentes amplas, a luta de idéias contra o neoliberalismo e o lastro dos movimentos sociais mobilizados como elementos indispensáveis para a chegada ao poder político nacional.

É pacífico tal caminho? Sim, mas não desarmado. É por dentro da institucionalidade vigente, burguesa? Sim, mas não a ela subordinado. No mínimo, tais processos neutralizaram as tradicionais forças repressivas e alteraram a institucionalidade para amparar as mudanças no povo, pois seriam impossíveis apenas com a anuência dos oligarcas de sempre, com ilusões do apoio da banca, da mídia e de Washington. Aonde isso não se deu, como em Honduras, vejam-se as dificuldades.

A novidade é essa combinação de formas de luta e a decisão de promover mudanças de fundo, alterando a constituição, disputando a agenda política para reformas decisivas, na defesa dos governos democraticamente eleitos – como na resistência ao golpe na Venezuela e na defesa do governo Lula em 2005 no Brasil.

As maiorias, tantas vezes caladas à custa de repressão brutal ou intervenção estrangeira, impõem-se crescentemente como atoras centrais da luta política pela superação do neoliberalismo, contribuindo com grande qualidade para assegurar a mudança. Quando o povo entra na cena política, entra para decidir e faz a direita tremer. Daí seu ódio inclemente à Venezuela e a Chávez, à Bolívia e a Evo, chamados tantas vezes de populistas por simplesmente, como fez Lula em 2005, não assumirem o protocolo mais caro do que seria um presidente, aquele que não quereria o povo na política. Mas, na medida em que os presidentes progressistas expressam realmente o sentimento popular e chamam o povo a assumir seu papel na cena política, ameaçando os seculares e recentes monopólios das oligarquias latino-americanas, que esperar, senão o ódio de classe mais empedernido e desesperado?!

A unidade das centrais: um grande achado.

E por isso é fundamental apreender o sentido, a força, as lições contidas nos recentes acontecimentos que permitiram unificar os trabalhadores através das centrais sindicais, porque pode ser esse um elemento importantíssimo na solução desse enigma da esfinge no processo brasileiro, que é o de conferir ao povo maior protagonismo na defesa e no aprofundamento das mudanças. O fórum das centrais cumpre hoje um papel decisivo. A marcha mostrou o peso que tem na cena política a movimentação decidida desses batalhões da luta de classes. E é lastreado na correção desses exemplos práticos que o povo aprende na luta e que ganha corpo a proposta da CTB pela convocação de uma nova Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras que possa assegurar a unidade na defesa do aprofundamento das mudanças no Brasil e na consolidação de inúmeras conquistas alcançadas no governo Lula.

Não é gratuita a ação de inconstitucionalidade movida pelo DEMO contra o reconhecimento das centrais sindicais, a CPI do MST, os ataques à UNE. A direita se move decidida para criminalizar, neutralizar, desmoralizar, anular o peso dos movimentos sociais como atores destacados do processo político brasileiro.

Ciência sumamente complexa é a de escutar o povo para entender o que o pode unir como força motriz do avanço social, força política de combate que empurra a política para a esquerda. É a difícil busca do ascenso de massas. O Brasil é imenso, poderosas forças conservadoras atuam dia e noite para impedir os avanços do povo, forças que têm 500 anos na direção do país, cujas origens remontam ainda aos grandes latifundiários de sempre e mesmo os traficantes de escravos que se reciclaram geração após geração, aliando-se à potência de turno para manter nosso país de joelhos. Em comum com seus antepassados, a cínica defesa da cobrança do mesmo quinto que levou Tiradentes ao patíbulo, o mesmo desprezo pela nação e a mesma sanha que não hesitou em cortar aquele mártir em postas, demolir-lhe a casa e salgar seu chão para que nada mais nascesse no futuro. Em vão. O Brasil é muito mais que essa elite pusilânime.

Assim, quando o povo constrói instrumentos poderosos como a unidade das centrais, que pode ser a chave para uma unidade ainda mais ampla de todo o movimento social, há que dar a tais fatos recentes a devida atenção para que se expresse aí a arte na política: alterar a correlação de forças para o aprofundamento das mudanças.

A CTB na marcha: massiva, alegre, brasileira e jovial

E talvez por isso essa impressão de uma alegria militante tão clara nas filas da CTB durante a marcha. Presentes estavam pessoas de todo o país, muitos dos delegados do Congresso recentemente ocorrido no último setembro, todos os sotaques, trabalhadores do campo e da cidade, muitas mulheres, e todas as idades, por uma pujante presença de jovens trabalhadores e estudantes.

Com sua característica irreverência, a juventude correu e fez coreografias, gritou divertidas palavras de ordem, expressou sua perene confiança no Brasil pela centralidade que conferiu à questão do Pré-Sal. A UNE e a UBES mobilizaram nos Estados e mantiveram uma equipe por meses em Brasília para assegurar esse brilho que conferiu à Marcha. E há que mencionar a alegria com que as bandeiras da CTB, da UNE e da UBES tremularam lado a lado, esse reconhecimento da juventude pela novidade que a central classista representa e a resposta da CTB em valorizar os(as) jovens como atores políticos de primeira linha na luta pela mudança do Brasil. É fundamental investir nisso: encher as fileiras de nossos sindicatos de jovens e estreitar as relações da CTB com os movimentos sociais, a juventude, o movimento de mulheres e o movimento negro. E uma palavra de ordem se fez gesto na 6ª. Marcha: a unidade entre trabalhadores e estudantes.

Unidade, unidade, e mais unidade

É preciso ter generosidade para assumir um papel de destaque na histórica luta do povo brasileiro, para sair do contingente e do espontâneo, para disputar os rumos do país. E é essa grandeza que deve buscar o sindicalismo classista, ao assegurar a unidade da classe e incorporar de coração aberto tantos lutadores e lutadoras, estudantes e jovens. Como diz a canção, “vamos precisar de todo mudo pra banir do mundo a opressão”, e o jogo, não nos iludamos, é bruto.

Foi essa síntese que permitiu à CTB evoluir incontestavelmente em sua contribuição à 6ª. Marcha Nacional da Classe Trabalhadora, o que por sua vez reafirmou a viabilidade e a urgência de posicionar os trabalhadores em torno da continuidade e do aprofundamento da mudança no Brasil. Ganha legitimidade a luta por realizar uma nova CONCLAT que signifique a voz dos trabalhadores em uníssono com o povo para exorcizar qualquer possibilidade de retorno das elites neoliberais ao centro do poder. E, assim, abrir caminhos para uma democracia mais ampla, onde o povo possa agir e ser ouvido, acelerando o ritmo e dando uma contribuição que só pode ser nossa, brasileira, à nova luta pelo socialismo.

*Paulo Vinícius Santos da Silva – Cientista Social e Bancário é Secretário Nacional de Juventude Trabalhadora da CTB.

sábado, 14 de novembro de 2009

Agenda Internacional juvenil da CTB: Brasília e Perúu

Do Portal CTB


A agenda internacional da CTB na juventude está forte nesse final de ano. A Central Geral de Trabalhadores do Peru, em nome da Federação Sindical Mundial, sediará de 18 a 20 de novembro a I Conferência Internacional da Juventude Sindicalista em Lima, Peru.

E na mesma data, a Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal sediará em Brasília a reunião especializada de Juventude do Mercosul com um seminário latino-americano promovido em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre trabalho decente.

Em Brasília, a secretaria de juventude e o seu coletivo estarão representados na reunião da REJ por Vítor Espinoza (Comerciários Taquaral - RS), Adroaldo Negreiros (Correios - SP), Marcela Nogueira (CTB-PA) e Caio Santana (Sociólogos-AP).

Oito vagas para compôr a delegação brasileira no Peru
Já em Lima, Paulo Vinícius, Secretário de Jovens Trabalhadores da CTB, e Igo Menezes (CTB-RJ) representarão a central classista. Fruto das boas relações internacionais entre as duas centrais a CGTP permitiu enviar até 10 companheiros(as) como parte da delegação brasileira. Para isso, os demais 8 participantes terão que contactar a Secretaria de Juventude através dos e-mails pvss65@gmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email e marcia@portalctb.org.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email até o dia 13 de novembro, sendo necessário enquadrar-se nos seguintes critérios:

1- Ser trabalhador(a) com até 35 anos;
2- Ser membro do Coletivo Nacional ou Secretário Estadual de Jovens Trabalhadores da CTB;
3 - Ser do coletivo estadual de jovens eleito da CTB;
4- Outros casos, a convite da Secretaria de Juventude e em consulta à Secretaria de Relações Internacionais.


No dia 14 de novembro, será enviado a lista definitiva dos participantes, porém a Secretaria alerta que é preciso ter garantida a passagem e dinheiro para manutenção nos quatro dias no Peru. Não há necessidade de passaporte para os brasileiros.

Leia a seguir o CHAMADO À JUVENTUDE SINDICALISTA aprovado na reunião preparatória do Encontro ocorrida em Atenas, Grécia.

Para maiores informações: no sítio da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru, a CGTP


CHAMADO À JUVENTUDE SINDICALISTA

Reunidos na cidade de Atenas-Grécia, os integrantes do Comitê Preparatório da Primeira Conferência Internacional da Juventude Sindicalista, fazemos este chamado aos(às) jovens sindicalistas da América, África, Europa, Ásia, Europa e Oriente Médio para participar dos debates sobre os principais problemas que enfrenta hoje em dia a juventude trabalhadora e construir alternativas na Conferência Internacional dos Jovens Sindicalistas a realizar-se em Lima-Peru, de 18 a 20 de Novembro de 2009.

Afinal, o sistema capitalista, corroído por suas próprias crises, só oferece aos(às) jovens trabalhadores(as) um futuro sombrio em que:

• Os jovens somos um dos setores mais explorados da classe trabalhadora, com piores condições laborais e baixos salários;

• O sistema capitalista só nos oferece precariedade e mais desemprego em todos os continentes, e isto apesar de a revolução tecnológica ter dado grandes saltos e as corporações transnacionais terem acumulado imensos lucros à custa da superexploração e do saque aos povos;

• O sistema capitalista e os governos servis são tão cruéis que preferem injetar somas milionárias do dinheiro dos contribuintes para salvar aos banqueiros corruptos, mas não dão um centavo para salvar os milhões de trabalhadores que
perderam seus empregos;

• Impede-se aos jovens trabalhadores de filiar-nos a sindicatos, intimidando-nos com contratos temporários e a angústia de não sermos contratados, numa tentativa de confiscar nossa dignidade e neutralizar-nos;

• O sistema capitalista utiliza os jovens como carne de canhão a serem enviados pelos governos às guerras imperialistas.

É hora de nós, jovens trabalhadores, fazermos ouvida a nossa voz; CHEGA DE GUERRAS E DE CORRIDA ARMAMENTISTA, SIM AO INVESTIMENTO PÚBLICO PRODUTIVO PARA GERAR EMPREGO.

É hora de os jovens trabalhadores lutarmos por uma educação e uma saúde públicas e gratuitas. É hora de os jovens trabalhadores lutarmos pela defesa dos recursos naturais de nossos países explorados pelo imperialismo.

É hora de os jovens trabalhadores lutarmos pelos direitos dos imigrantes e pela melhoria das condições laborais em nossos países. Os EUA e a União Européia respondem com muros e medidas vergonhosas contra os jovens imigrantes.

A mentira e a corrupção são a filosofia do capitalismo neoliberal. Os jovens somos a força moral e classista para a construção de outro mundo com justiça social. Somos a esperança e o futuro do sindicalismo de luta com princípios de Classe para transformar a sociedade. E frente à política destrutiva do sistema capitalista respondemos com a firmeza ideológica para a derrotar.

Que as riquezas e recursos do planeta estejam a serviço da humanidade e não de um pequeno grupo de corporações transnacionais. A juventude luta por uma nova forma de desenvolvimento. O futuro das novas gerações não é o capitalismo, mas a abolição da exploração do homem pelo homem.

Felicitamos à Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP) e à Federação Sindical Mundial (FSM) pela iniciativa de organizar esta conferência internacional tão importante.

Esperamo-os em Lima–Peru de 18 a 20 de novembro de 2009.

Atenas- Grécia 16 de Outubro de 2009


MEMBROS DO COMITÊ PREPARATÓRIO:

GUSTAVO MINAYA - CGTP-PERU

ULLAH AZAM SYED ZIA - APFUTU-PAQUISTÃO

ABDULL KAREEM MOTAJO - NUATE-NIGÉRIA

GEORGE XARVALIAS - PAME – GRÉCIA

PAULO VINÍCIUS SANTOS DA SILVA - CTB-BRASIL

Os jovens vão 'estar tomando' o poder

A Carta Capital mais uma vez se cacifa como a única revista de circulação nacional massiva com independência política e capacidade de análise. É muito diferente de qualquer outra, porque consegue realmente investigar, mais que adjetivar, e tem um olhar mais aberto para o novo Brasil que está surgindo. Ao analisar o PC do B, a UJS, a juventude e os trabalhadores(as) do telemarketing como fez, sem preconceitos nem adesismos, mas expressando conteúdo, choca a direita editorial e dá uma aula de jornalismo. Recomendo a leitura e a difusão. publico um trecho como tiragosto, mas aconselho a leitura integral no endereço ou na própria revista, que merece.

Paulo Vinícius



Carta Capital

13/11/2009 15:26:34

Gilberto Nascimento

Conhecidos pelo uso do gerúndio e pelo bordão “vamos estar solucionando”, os operadores de telemarketing são considerados os metalúrgicos dos dias atuais. A função surgiu como fruto das novas relações de trabalho e do avanço tecnológico, mas carrega problemas parecidos aos das antigas linhas de produção industriais.

Os operadores de telemarketing somam 1,075 milhão de profissionais hoje no País. A maioria é jovem no primeiro emprego, com idades entre 18 e 29 anos. É a categoria que mais cresceu no Brasil: 10% ao ano em uma década. Setenta por cento são mulheres.

Esses jovens significam hoje para o PCdoB quase a mesma coisa que os operários do ABC representaram para o PT. Sindicatos da categoria, como os de São Paulo e Belo Horizonte, são ligados à União da Juventude Socialista (UJS), o braço jovem do PCdoB. Durante o 12º. Congresso do partido, realizado entre os dias 5 e 8 no Anhembi, em São Paulo, a atividade e a mobilização dessa categoria foi ressaltada pelos dirigentes comunistas.

O 12º Congresso do PC do B

www.pcdob.org.br




Renato Rabelo: PCdoB está mais forte e armado para luta política
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Qui, 12 de Novembro de 2009 19:03
Logo após o 12º Congresso, o presidente Renato Rabelo falou ao Vermelho sobre a presença de Lula e de Dilma ao evento; das eleições de 2010 e principalmente da vida partidária. Reafirmando ser este seu último mandato à frente da legenda, disse que o partido está “mais forte e armado para a luta política” e que o PCdoB "não é um partido qualquer" no cenário político nacional.


Estatuto atualizado do PCdoB já pode ser acessado Imprimir E-mail
Qui, 12 de Novembro de 2009 19:00
Após a realização do 12º Congresso do PCdoB, o Estatuto do partido, aprovado em 2005, também sofreu ajustes e alterações. O conjunto dessas mudanças já foi inserido no documento e pode ser visto a seguir, bem como a íntegra do Estatuto. Tais mudanças são resultantes de um processo de debates ocorridos de Norte a Sul do Brasil em torno dos principais documentos propostos para o Congresso, mas também sobre o Estatuto já em vigor.