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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Brasil envia 19 mil toneladas de solidariedade a Cuba


24 DE FEVEREIRO DE 2009 - 13h07

O Governo Lula doou a Cuba 19 mil toneladas de arroz para enfrentar os graves problemas causados pela passagem de três furacões que devastaram a ilha em outubro passado, o Ike, o Gustav e o Hannah. Uma expressão de solidariedade deste porte não pode passar sem merecer reflexões amplas, especialmente num momento em que o mundo registra principalmente é movimentação de armas. Enquanto Brasil doa arroz, os EUA seguem com o contínuo abastecimento de armas para Israel.

Por Beto Almeida, jornalista*



O carregamento de arroz — o equivalente a 718 caminhões — saiu do porto gaúcho de Rio Grande no dia 10 de Fevereiro e está por aportar em Havana por estes dias, levado por 3 navios cedidos pela Espanha, que, com isto, também participa desta operação de solidariedade a Cuba.


Os furacões também arrasaram o Haiti e Honduras, países que também receberão doações brasileiras, logo a seguir. Houve escassa divulgação sobre esta doação do governo brasileiro, apenas discretos registros na imprensa do sul, mas, no total ela representará 44,4 mil toneladas de arroz. Além disso, serão enviadas aos três países, em um terceiro carregamento ainda sem data prevista, 1.105 toneladas de leite em pó e 4,5 toneladas de sementes de frutas, verduras e legumes, produzidos pela agricultura familiar.


Fidel: como um ataque nuclear


Segundo o Itamaraty , somente no Haiti, as tempestades deixaram pelo menos 800 mortos e 800 mil desabrigados. Em Cuba, foram sete mortes e perdas calculadas em US$ 10 bilhões, com meio milhão de casas danificadas ou destruídas e centenas de milhares de hectares de plantações arrasados. O ex-líder cubano Fidel Castro chegou a comparar as imagens de destruição na ilha às que testemunhou na cidade japonesa de Hiroshima após a detonação da bomba nuclear.


É aqui exatamente onde se faz mais necessária uma reflexão bem atenta sobre o significado desta ajuda, retirada dos estoques públicos geridos pela Companhia Brasileira de Abastecimento e que conta com expressiva produção de responsabilidade da agricultura familiar.


Os jornalistas que acompanham há mais tempo as passagens constantes de furacões sobre o Caribe, podem observar uma diferença sobre o comportamento da sociedade cubana, de sua defesa civil, a unitária e disciplinada mobilização de seu povo. Com toda a lamentável destruição que ocorre, sobretudo em habitações, na agricultura e também no setor elétrico, é possível verificar que o caráter socialista da sociedade cubana permite sim minimização das perdas humanas. Pode-se alegar que em se tratando de furacões é difícil comparar as perdas cubanas, as 7 mortes em Cuba, com os mais de 800 que morreram no Haiti, país que vive um crise humanitária, uma tragédia social densa, além de estar sob a presença de Tropas da ONU, cuja permanência foi solicitada pelo presidente René Preval logo após sua eleição com expressivo apoio popular, superior a 73 por cento dos votos.


O que vale registrar é que em Cuba, diante da ameaça de uma catástrofe natural, todos os instrumentos do estado e da sociedade se mobilizam de modo integrado, sobretudo os meios de comunicação, atuando em sintonia completa com a Defesa Civil, com o intuito de salvar vidas. Lá não há mídia privada que não pode suspender sua programação para difundir diretrizes de evacuação de regiões que serão mais afetadas pelos furacões. Aqui só mudam a programação para explorar o sensacionalismo mórbido como na tragédia da adolescente Eloá, sempre na linha do vale-tudo pela audiência. Quem manda na programação é o departamento comercial. Em Cuba não há mídia privada, salvar vidas é obrigação, é a pauta fundamental.


Assim, com este esforço unitário que inclui órgãos do Estado, as Forças Armadas Revolucionárias, a Defesa Civil, os sindicatos, os meios de comunicação, os Comitês de Defesa da Revolução, o sistema de saúde, é possível em poucas horas evacuar contingentes de um milhão e meio de cubanos. Só isto já é uma façanha, pois estamos falando de mais de 10 por cento da população cubana aproximadamente, que hoje alcança pouco mais de 11 milhões de habitantes. Imaginemos o esforço que deveria ser feito, a magnitude da logística requerida se necessário fosse evacuar, em poucas horas, diante de uma ameaça climática, a 10 por cento do povo brasileiro, ou seja, algo como 19 milhões de seres humanos. Sabemos que sequer conseguimos resolver a contento ainda operações muito mais simples como a da documentação dos cidadãos, a do registro das crianças recém-nascidas, estamos sendo obrigados a dispensar boa parte dos recrutas pela impossibilidade de oferecer-lhe a refeição adequada nos quartéis.


Jornalismo de desintegração


Sim, o Brasil ainda não resolveu muitos problemas de séculos atrás, como diz o próprio presidente Lula, mas foi capaz de ter a sensibilidade social de enviar 19 mil toneladas de solidariedade para a Cuba que tanto merece amor. Seria necessário divulgar muito mais o que está ocorrendo de fato junto com o envio dessas toneladas de arroz-solidário. Era até mesmo necessário que a TV Brasil estivesse nos navios espanhóis que fazem o transporte para contar esta história de integração que caminha, mas que nem é compreendida adequadamente, seja porque a comunicação não opera, seja porque há a atuação do jornalismo da desintegração. Refiro-me aquela certa mídia que afirma que integração é pura retórica itamarateca.


Antes das 19 mil toneladas de arroz solidário, já haviam ido para a Ilha rebelde o braço da Embrapa, da Petrobrás. Multiplicam-se os acordos de cooperação, os volumes de comércio, os laços culturais. Há quem não queira ver.

Sangue brasileiro em solo cubano


Mas, entre Cuba e Brasil os laços de solidariedade — ternura entre os povos — são muito mais antigos, sempre mal divulgados. Lutaram no Exército de Libertação Nacional de José Marti dois brasileiros, dois cariocas. Essas 19 mil toneladas de arroz aportam em solo irrigado pelo sangue de dois brasileiros que atenderam ao chamado revolucionário de Marti para a luta de libertação de Nuestra América. Solo fértil. Lá ficaram, junto com José Marti, também abatido em combate. Já havíamos doado sangue ao povo cubano.


Em outros momentos, brasileiros e cubanos também estiveram de alguma forma juntos, como, por exemplo, na luta de libertação de Angola. Trezentos e cinqüenta mil cidadãos cubanos, homens e mulheres, incluindo a filha do Che, tomaram em armas e foram para Angola lutar contra o exército sul-africano que invadia a terra do poeta Agostinho Neto, que pessoalmente solicitou ajuda a Fidel Castro. A sanguinária democracia dos EUA apoiando o exército do Apartheid de um lado e Cuba lutando ombro a ombro com os angolanos do outro. O Movimento Negro brasileiro não mandou uma aspirina em solidariedade aos angolanos. Na Batalha de Cuito Cuanavale, 1988, os nazis do apartheid da África do Sul foram finalmente derrotados, levando Mandela a declarar: "a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid!!!" O Brasil tinha sido o primeiro país a reconhecer a independência da República Popular de Angola, o que levou Henry Kissinger, então secretário de estado dos EUA, a vir ao Brasil para reclamar de Ernesto Geisel , afirmando que o Brasil estava fazendo o jogo dos comunistas, estava junto com Cuba, etc. Geisel respondeu apenas: "a política externa brasileira não está em discussão com o senhor!” Houve um tempo em que chanceleres brasileiros tiravam o sapato diante de ordens desaforadas de qualquer guardinha de alfândega....


Furando bloqueios


Hoje o Brasil envia 19 mil toneladas de arroz para Cuba e dá uma banana para a tal lei Helms-Burton, fura o bloqueio com solidariedade, para lá envia a Embrapa e a Petrobrás. Com o apoio da Espanha de Zapatero. Antes, a Espanha de Aznar, mandava tropas para o Iraque, operava no Golpe de Abril de 2002 contra Chávez...


Por quem merece amor....


Solidariedade não se discute a quem, mas esta é matéria que Cuba pode dar aulas de sobra. Existem hoje profissionais de saúde cubanos em mais de 70 país. Apenas na Venezuela trabalham 23 mil médicos cubanos. No Timor Leste também encontram-se 350 médicos cubanos em missão de solidariedade. O presidente timorense, o jornalista e poeta Ramos-Horta, contou-me que o embaixador dos EUA tentou pressionar para que Timor rejeitasse a ajuda cubana. Ramos, com a sabedoria humilde dos timorenses, apenas perguntou ao embaixador norte-americano quantos médicos seu país havia enviado para aquela ilha que antes foi um Vietnã Silencioso, dado seu heroísmo e dignidade, escondidos de modo vil pela mídia controlada pela indústria bélica e pela ditadura petroleira internacionais. O gringo vestiu a carapuça. Há mais médicos e professores cubanos em todos os continentes do que profissionais de todos os países ricos de idêntica especialização , somados. Mas, se a continha fosse de soldados...


A Venezuela já foi declarada pela Unesco "Território Livre de Analfabetismo”, e lá estavam os professores e pedagogos cubanos para assegurar esta conquista. Ser livre é ser culto, diz Marti. Da mesma maneira, quando em dezembro último a mesma Unesco - mais acostumada nos últimos tempos a contabilizar a devastação da educação pública no mundo - declarou oficialmente a Bolívia como "Território Livre do Analfabetismo”, lá estavam os professores cubanos, com o seu método de alfabetização "Yo si puedo”, prestando sua solidariedade para tirar o povo boliviano das trevas da ignorância neoliberal.


Doando médicos, professores, pedagogia


Aliás, este método de alfabetização também foi adaptado por pedagogos cubanos para aplicação via rádio no Haiti, em dialeto creole. A observação é simples: um país que já extirpou a praga do analfabetismo há mais de 48 anos coloca agora seus profissionais a serviço de outros povos buscando soluções para problemas sociais que já não existem mais ali entre cubanos. De certo modo, lá no Haiti brasileiros e cubanos também encontram-se novamente juntos. Seus esforços de algum modo coordenam-se favoravelmente. A integração se dá. Os 500 médicos cubanos que estão no Haiti são, na prática, a espinha dorsal do que resta do serviço de saúde pública daquele país em colapso e o Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro lá está a construir fossas, pavimentar ruas e estradas, obras de saneamento. O tema provoca polêmicas, inclusive por vários movimentos sociais, mesmo assim é central considerar declaração do Comandante Fidel Castro em 2006: "eu prefiro tropas brasileiras do que mariners dos EUA no Haiti". Revelando a com quê concepção geopolítica, portanto com quê visão estratégica ampla avalia a questão.

Do mesmo modo, cabe registrar que este mesmo método de alfabetização cubano está sendo adaptado e aplicado entre indígenas na nova Zelândia e em inúmeros Assentamentos da Reforma Agrária do MST aqui no Brasil sempre combinando o uso do livro e da televisão, incluindo a participação, no caso brasileiro, de alguns artistas de telenovela, igualmente solidários com os mais necessitados.

Cuba, Katrina e Tsunami

O desastre do furacão Katrina nos Eua foi duplo: a catástrofe natural ceifou muitas vidas, mas foi agravada pela catástrofe da criminosa negligência dos administradores públicos que deixaram a população de Nova Orleans no deus-dará e dizendo-lhes apenas, "virem-se”. Quê diferença da mobilização disciplinada para evacuação de milhões de cidadãos em Cuba em poucas horas!!! Citemos os números: em Cuba, mais de 500 mil residências destruídas, porém, apenas 7 mortes. Uma vida perdida é sempre uma vida perdida, mas o aqui o valor da consciência, da solidariedade, do sentimento coletivo é o eixo central pois nestas evacuações, os médicos de família acompanham seus pacientes, cuidando inclusive que os animais domésticos também sejam evacuados coordenadamente, especialmente pelo efeito emocional positivo que têm sobre as crianças. É o modo como uma sociedade socialista trata seus animais. A solidariedade , por meio de políticas públicas, chega até estes.


Cuba imediatamente ofereceu aos EUA um total de 1200 médicos para cuidar da população flagelada pelo Katrina, ajuda prontamente rejeitada pelo então presidente Bush, mais preocupado em enviar soldados para o Iraque que em receber médicos cubanos. Como é possível que a poucas horas da passagem devastadora do furacão em Nova Orleans haja a oferta de 1200 médicos prontos para embarcar para os EUA? Já estão sempre preparados para ajudar outros povos! E como é possível que o país mais rico do mundo não tenha tido a capacidade, até hoje, de reconstruir o que foi destruído pelo furacão, deixando patente, sobretudo, o desprezo pelas populações negras que perderam suas casas, seus móveis etc.?


Eis aí um aspecto que diferencia fundamentalmente as sociedades: algumas são capazes de cuidar dos seus, mas também cuidar dos mais necessitados, mesmo que estejam em outro país, a civilizada capacidade de oferecer solidariedade. Por isso, é também importante registrar que a Venezuela continua doando para as populações pobres dos EUA óleo combustível a ser usado para a calefação neste período de frio. Sim, é comum a morte por frio entre os pobres nos EUA. E lembrando que em Cuba encontram-se hoje 500 jovens dos EUA, pobres e negros moradores do Harlen, a estudar gratuitamente na Escola Latino-Americana de Medicina.


Até os elefantes se salvaram...


Da mesma forma que no Katrina, também no Tsunami também ficou demonstrado o desprezo pelo salvamento de vidas. Quando os aparelhos eletrônicos dos EUA detectaram os tremores no fundo do mar, imediatamente foi possível calcular seus possíveis efeitos, o maremoto arrasador. Tanto é assim que rapidamente as embaixadas dos EUA na região foram orientadas sobre o que poderia vir. As aeronaves da base naval norte-americana da Ilha de Diego Garcia foram colocadas em área protegida. Sabia-se o que estava por vir em algumas horas. Horas suficientes para serem utilizadas na informação preventiva, mobilizadora, para organizar um operação de evacuação gigantesca. Tanto é que elefantes que percebem os tremores subterrâneos captaram a mensagem da natureza e fugiram para lugar seguro. Os elefantes escaparam!


Mas, a magnífica parafernália de comunicação hoje em mãos da humanidade para integrar bancos, bolsas de valores, esquadras navais, satélites, internet, para operações com capitais especulativos, não foi usada para salvar vidas! Se fosse um colapso bancário, em segundos todos os países do mundo estariam informados. Mas, era um maremoto que estava se formando a partir das súbitas mudanças das placas tectônicas no fundo do mar, não era mudança de capital. Havia o espaço de tempo necessário para salvar vidas se todos os meios de comunicação, os satélites, as rádios e televisões, trabalhassem com o sentido humanitário, com o espírito de missão pública, com a consciência de que se pode sim salvar vidas, como se faz em Cuba quando vêm chegando os furacões. A tecnologia, sem consciência solidária, de nada vale quando se trata de salvar vidas, apenas isto.


Assim, aprendamos todos com esta página de solidariedade que está sendo escrita agora pelo Brasil, coerente com uma política de integração, que precisa ainda desenhar-se, expandir-se, superar os que do lado de lá patrocinam não apenas o jornalismo de desintegração, mas a própria desintegração latino-americana. Com a crise do capitalismo mundial, temos uma avenida. Militares brasileiros da Aeronautica participaram de operações de salvamento de flagelados quando das devastadoras inundações na Bolívia há alguns meses. Participaram também, recentemente, indicados pelas Farc, mas com a concordância do governo da Colômbia, da operação de resgate humanitário dos reféns coordenada pela Cruz Vermelha nas selvas do país vizinho. São algumas ações apenas, mas apontam um caminho com a criação da Universidade da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu aponta. Mas, esta página tem muitos antecedentes, sobretudo inúmeras páginas nobres que Cuba já escreveu na história da solidariedade internacional dividindo generosamente seus escassos meios com outros povos mais necessitados.


Assim, o arroz solidário brasileiro vai para quem merece amor, como na canção de Silvio Rodriguez.


*Beto Almeida é diretor de Telesur



2 comentários:

  1. De fato, é um gesto muito nobre doar aos mais necessitados.

    Mas seria ainda mais nobre se aquilo que estivesse sendo doado fosse de sua propriedade, produzido pelo seu trabalho; cristalizado, como vocês acreditam, do suor do rosto.

    Doar o que é não é seu, principalmente enquanto governo de um povo que ainda carece de tanta coisa, não me parece lá tão nobre assim.

    E mais... o coletivismo já mostrou o quão ineficiente é, em todas as experiências históricas, das quais o caso mais emblemático é justamente o de Cuba. Furacões atingem outros países também, a diferença é que em alguns a solidariedade (solideriedade compulsória imposta pelo Estado pode ser chamada de solidariedade? Enfim..) é o único instrumento para sua recuperação. Outros países contam, além dela, com mecanismos de mercado que, apesar de agirem sempre a favor do egoísmo de seus agentes, aceleram a recuperação da sociedade como um todo.

    E se o Brasil continuar com essa estratégia "Spread the Wealth", bancando o solidário com a riqueza de seu ainda pobre povo, logo mais não teremos muito o que repartir. Não teremos nem para nós, nem para os outros.

    Só os valorosos dirigentes terão. Eles sempre têm. Não importa o quanto a nação empobreça.

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  2. Valorizo muito o comentário do meu amigo e conterrâneo, Mariz - um expoente liberal do planalto central - pelo gesto, cordura e conteúdo. Seja bem vindo, e vamos à peleja:

    i- Não se trata de doar aos "necessitados". Trata-se da integração latino-americana em curso: uma tragédia natural atingiu o Caribe, em especial Haiti e Honduras e Cuba.
    Estranho muito - excetuando pela verve e pela evidente antipatia - que um cearense seja imune à convicção de apoiar povos vitimados por uma catástrofe natural, tal como a seca, que compreendemos tão bem.

    Lembro de Belchior, e ante a mofa anti-cubana, respondo como os cubanos fariam:

    Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
    Não sou da nação dos condenados!
    Não sou do sertão dos ofendidos!
    Você sabe bem:
    Conheço o meu lugar!

    ii- A má vontade contra Cuba impede de reconhecer alguns detalhes sobejamente conhecidos, quais sejam:

    a) Em Cuba se trabalha, e muito. Mas talvez a pressa na leitura do texto o impediu de entender que é como se 4 furacões atingissem Cuba, danificando imensamente a agricultura e as instalações cubanas. Já pensou se ao sertanejo cearense se lhe atribuisse preguiça ante o flagelo da seca? E sempre houve quem o fizesse...

    b)É preciso um mínimo de coerência. Afinal, pelo ideário liberal, sequer o Bolsa Família haveria. Na verdade, para ir mais fundo, citemos Malthus:

    "Fosse eu propor um paliativo ... seria, em primeiro lugar, a revogação completa de todas as atuais leis paroquiais de auxílio aos pobres."

    Então a posição de não doar
    não tem, em verdade, um ranço nacional, e sim uma base ideológica. Surpreende-me, inclusive o ensaio "nacionalista", de onde vem. Mais correto seria assumir o "não deve doar", aqui nem lá.

    c) Na verdade, o "coletivismo" cubano poupou centenas de vidas, e a melhor comparação é o Haiti, célebre nos elogios do FMI e BID ao fundamentalismo liberal ali aplicado nos anos 90. Vejamos aonde chegaram, uma nação sem um estado, em total colapso. Lá, 800 mortos, em Cuba, 7. Este argumento, na verdade, foi o maior elogio que esperaria de sua parte ao socialimo cubano.

    iii) E, um detalhe, a presente crise do capitalismo é que diz melhor o que não tem funcionado e, vejam só, 3,5 trilhões de dólares foram destinados para o que, umas cem instituições financeiras. E o problema é a solidariedade com Cuba? Aonde foram parar as soluções de mercado aí? Só vi o egoísmo dos agentes e o buraco no bolso dos contribuintes...

    iv) Muito ao contrário, é a distribuição da riqueza - muito aquém do necessário e do possível - que tem salvo o Brasil da política macroeconômica conservadora vigente, fortalecendo nosso mercado interno. Ampliar esta percepção para a América Latina prepara o caminho do crescimento e da integração, um pólo político, econômico e militar se gesta na América Latina para um novo multilateralismo E isto em grande medida devemos a Cuba. O gesto do governo Lula foi exemplar. A mim me emocionou imensamente.

    v) Faltou um protesto de sua parte contra o bloqueio econômico de 50 anos dos EUA a Cuba. Era o mínimo que se esperaria de um liberal.

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