A Sobrevivência dos Mais Gordos (2002): Jean Galschiot
Ao participar de debate no canal Ópera Mundi após a reunião do Copom, na semana passada, que elevou a Selic em 25 pontos, o renomado economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, afirmou que a política de juros altos é uma circunstância da “guerra entre a Faria Lima e o resto do país” ao ser provocado pela pergunta: “por que o Brasil tem hoje a segunda maior taxa de juros real do mundo, perdendo apenas para a Rússia, que está em guerra contra a Ucrânia? Por que temos uma economia de guerra se não estamos em guerra?”
Os acontecimentos que se sucederam à crise de 2007/2008 desmoralizaram por completo a lógica da macroeconomia neoclássica. Esta teoria pressupunha que a ampliação da base monetária levaria obrigatoriamente à inflação, sendo o único remédio para combatê-la a adoção, pela autoridade monetária, de taxas de juros mais elevadas.
O ex-diretor do Banco Central do Brasil (Bacen), ex-presidente do BNDES e um dos idealizadores do Plano Real, o economista André Lara Resende, no prefácio de seu livro “Camisa de Força Ideológica – A Crise da Macroeconomia” afirma: “...Com o advento do Quantitative Easing, a teoria monetária foi obrigada a fazer uma revisão mais profunda e explícita do que recorrentemente fez desde seus primórdios. ... o dogmatismo fiscalista e a ortodoxia monetária passaram a ser questionados. Primeiro, por economistas mais periféricos em relação aos centros do poder e do prestígio, depois por grande parte das organizações internacionais, como o Banco Mundial, o BID, o FMI e também alguns bancos centrais, como o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu. Finalmente, até os papas da ortodoxia nos Estados Unidos reconheceram a necessidade de revê-los. No Brasil, curiosamente ainda não. ... sem nos livrarmos da camisa de força ideológica da macroeconomia dominante, não há como repensar um projeto de retomada do crescimento.”
Em tempos de Fake News, o Bacen continua a adotar uma falsa teoria, já superada, que só atende aos interesses dos rentistas, parcela da sociedade brasileira, no topo da pirâmide social, que compreende menos de 0,1% da população brasileira.
Na medida, em que o País começa a se aproximar de um crescimento, ainda pequeno, de 3%, o desemprego cai e a renda das famílias tem uma leve recuperação os senhores diretores do Banco Central, salvaguardas do rentismo, decretam que o PIB, o emprego e a renda dos que estão no piso da pirâmide social não podem crescer pois a inflação poderia, na crença destes senhores, subir um pouco além do centro da meta de inflação, estipulada em 3% para os anos de 2024, 2025 e 2026.
E assim, a atual diretoria do Bacen e um punhado de tecnocratas, prisioneiros da camisa de força ideológica, continuam sabotando o crescimento da economia real e transferindo bilhões de reais dos cofres públicos para a especulação financeira, é o conflito a que se refere o professor Belluzzo.
Pergunte a qualquer brasileiro racional, por mais humilde que seja, se ele prefere o desemprego com uma inflação de 3%, ou se prefere o emprego e a possibilidade de um maior crescimento do País, mesmo que a custa de uma inflação um pouco mais elevada?
Assim, toda a nossa solidariedade e apoio ao presidente Lula que, com sobeja razão, desde o ano passado, faz um duro combate à Roberto Campos Neto e aos demais diretores do Bacen nomeados por Bolsonaro, todos comprometidos com o rentismo.
Neste final de ano, Lula terá a oportunidade de trocar três novos diretores, inclusive o presidente do Banco, que somados aos quatros já indicados anteriormente, garantirá uma maioria folgada em relação à diretoria que ele recebeu do inominável. Esperamos que aproveite bem a oportunidade e indique nomes comprometidos com um novo projeto de desenvolvimento soberano, inclusivo e sustentável, incompatível com o rentismo exacerbado.
Fortaleza, 23 de setembro de 2024
Luís Carlos Paes de Castro, engenheiro, analista aposentado do Banco Central e presidente do PCdoB no Ceará
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