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terça-feira, 26 de janeiro de 2021
NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI - Eduardo Alves da Costa
Professor PUC Goiás
NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSki
Assim como a criança humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo. Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes, o coração grita – MENTIRA!
EDUARDO ALVES DA COSTA Niterói, RJ, 1936
Nota: Poema publicado no livro ‘Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século’, organizado por José Nêumanne Pinto, página 218.
Fonte: http://inquietudine.wordpress.com/2009/04/09/no-caminho-com-maiakovski/ Acesso em 23/05/2010
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obrigado meu bom.
ResponderExcluirDeus salve os bons, sempre!
Obrigado meu bom, Deus salve os que lutam e são justos, sempre!
ResponderExcluirGrande Schuster, do querido Cariri cearense, meu berço. Saudades do amigo e alegria de ver vc aqui e na luta. Saúde e #ForaBolsonaro.
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