SIGA O COLETIVIZANDO!

Livro Kindle Textos de Combate - Venda Disponível

Textos de Combate: Sem perder a ternura, jamais - Paulo Vinícius da Silva - à Venda

O livro Textos de Combate: sem perder a ternura, jamais! já está disponível!Não precisa ter kindle, basta baixar o aplicativo ou entrar no c...

quarta-feira, 19 de março de 2025

Imagens e vídeos do ato MENOS JUROS, MAIS EMPREGOS, no Banco Central em Brasília (18/3)

Bancários mobilizados contra os juros altos 
18 de março de 2025



O Sindicato dos Bancários de Brasília esteve na manhã desta terça-feira, 18, ao lado de outras entidades no ato exigindo a redução das taxas de juros e pressionando a direção do Banco Central para que altere a política econômica que mantém os juros altos.

Participaram da mobilização, que também ocorreu em outras cidades e capitais brasileiras, mais de uma centena de pessoas, que se revezaram em falas denunciando a traição aos interesses do povo brasileiro e ao Brasil representada pelos juros altos, que poderão subir mais ainda na próxima reunião do Copom nesta quarta-feira (19).

“A taxa de juros do Brasil é a maior taxa do mundo e tem sacrificado o crescimento econômico e social, onerando a classe trabalhadora. Impacta em todas as áreas da vida do trabalhador. Por isso, defendemos redução já!”, defendeu Maria Gaia, diretora da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN).

Segundo o diretor do Sindicato Ronaldo Lustosa, “está sendo dada continuidade à mobilização para barrar os juros altos, que prejudicam o Brasil. Seguiremos em luta até a sua redução”.

Rodrigo Rodrigues, presidente da CUT-DF, ressaltou que “a taxa de juros alta impede o crescimento do Brasil e onera o trabalhador. A CUT seguirá pressionando pela redução dos juros e defendendo o crescimento da economia”.

Para Afonso Magalhães, bancário aposentado do Banco Central e dirigente da CMP (Central dos Movimentos Populares), “o Banco Central está na contramão do governo brasileiro. Criam a narrativa de que o Brasil está crescendo muito e isso provoca inflação, esse é o discurso da Faria Lima, um dogma monetarista”.

José Wilson, diretor do Sindicato, destacou que “seguiremos lutando pela queda de juros, que têm penalizado os trabalhadores e beneficiado os ricos. Inclusive precisamos lembrar que é preciso derrubar a PEC 65/2023, que pretende dar mais poder ao mercado e banqueiros para definir a política do Banco Central”. Ele questiona: “para quem querem dar mais independência ao Banco Central?”

O diretor da Fetec-CUT/CN Edmilson Lacerda afirmou que “não dá para entender os dirigentes do Banco Central indicados pelo governo do presidente Lula não estarem contribuindo para o crescimento econômico do país ao manterem essa política de juros altos. Como explicar o Banco Central estar na contramão da política econômica do Governo Federal?”

Falácia da inflação pelo consumo

“O que faz a economia crescer é a demanda, o consumo aumenta a produção e os serviços, levando a ter juros mais baixos. Com isso, os empresários buscarão recursos para aumentar a produção e seus ganhos”, afirma Girolano Biando, também diretor da Fetec-CUT/CN. “É uma falácia o que a mídia faz ao dizer que a inflação cresce pelo consumo. A mídia trabalha contra os interesses do país e do povo brasileiro”.

Washington Henrique, dirigente da Fetec-CUT/CN, reforça que “estamos protestando em todo o Brasil pedindo juros baixos e uma maior atenção ao país. É preciso que parlamentares e o governo enfrentem a alta do dólar e as taxas altas que impedem que o Brasil cresça”.

Para Gleide Alves, diretora do Sindicato, “o crescimento das taxas de juros impede o crescimento da economia, das empresas, encarece o crédito, reduz o consumo e aumenta a desigualdade social”.

O presidente da CTB-DF, Flauzino Antunes, reforçou que “o momento exige unidade de todas as forças para conseguir mobilizar os trabalhadores e a sociedade em geral para reverter essa política econômica e retomar o crescimento do país”. Continuou afirmando que “o governo brasileiro precisa atuar para fazer o Banco Central voltar a servir aos interesses nacionais e estar integrado como parte do Estado. É preciso ampliar o Copom, incluindo setores populares e dos trabalhadores, tornando-o mais democrático”.

O presidente do Sintraf-Ride e diretor da Fetec-CUT/CN, Amarildo Carvalho, ressaltou que “é preciso parar de falar apenas para convertidos, temos que fazer trabalho de formação de base, do povo e das comunidades, ocupar novamente o espaço junto aos trabalhadores para fortalecer a luta, a política sindical”. “A solução está na mobilização do povo”, disse.

Para o diretor do Condsef Edson Cardoni, “é preciso lutar pela revogação das reformas trabalhistas, previdenciária e das terceirizações, explicando a todo o momento o que representa o papel do Banco Centreal aumentando as taxas de juros, assim como lutar para barrar a PEC 65/2023”.

O diretor do Sindicato Paulo Vinicius destacou que “o Banco Central precisa de uma lavagem para retirar definitivamente a política neoliberal que é imposta por sua direção”.

As mobilizações continuarão até se conseguir reverter essa política econômica tão danosa aos interesses nacionais e dos trabalhadores.

Pedro César Batista
Colaboração para o Seeb Brasília


 


 


 São Paulo


domingo, 16 de março de 2025

Defesa do crédito consignado para os trabalhadores celetistas, lutar para reduzir os juros também para trabalhadores rurais e precarizados!* _Paulo Vinícius da Silva



Diante da má fé intelectual da direita associada a setores vacilantes no campo popular, faço questão de defender a MP e devemos ir pra cima, sem vacilação. Depende da nossa mobilização ateo Primeiro de maio pautar as VITÓRIAS no horizonte: reduzir a Selic, reduzir os juros bancários a partir dos bancos públicos e do crédito popular, isenção do IR até 5 mil R$, Redução da Jornada de Trabalho e Fim da Escala 6X1. TEMOS MUITO A CONQUISTAR COM A UNIDADE DO POVO E A PRESSAO SOBRE A FRENTE AMPLA E A DEFESA DO GOVERNO LULA.  Sobre as falsas polêmicas quanto à MP: 

1) super endividamento depende de juro, não da sua queda. A classe trabalhadora já está endividada a taxas MUITO MAIORES QUE 5% a. m. Poder fazer portabilidade do crédito a partir dos bancos públicos com redução de mais de 50% dos juros é reduzir o endividamento e estabelecer um patamar menor de taxa que se imporá ao sistema financeiro nacional AO LADO DA LUTA PARA REDUZIR A SELIC 

2) bancos públicos não servem para isso? Foi o jeito que teve. Cadê o apoio à luta pela redução dos juros como prioridade? 

3- Papinho fraco esse, neoliberal e contracionista, conservador o dos que criticam a medida E JÁ TEM TAXAS MENORES E USAM O CONSIGNADO. É teoria econômica mixuruca essa que diz que a casa e o país são o mesmo. Estudem sobre criação de demanda. 

4- Hipertrofia do capital financeiro parasitário, rentista sob o imperialismo é o que vivemos. Consumo é economia produtiva, emprego, desenvolvimento.Quem crítica, crítica errado. Se não for praí, vai tudo pra especulação financeira! O governo Lula está ameaçado pelo capital financeiro que trama sua queda e a vitória definitiva do neoliberalismo. Não é um tema menor o nível da atividade econômica e o êxito do Governo Lula para a classe trabalhadora;

5) o Sistema Financeiro prometeu diversificar instituições para reduzir a concentração e baixar os juros, mas essa diversificação foi feita *com aumento de juros*, um calote contra a economia popular.Com a medida provisória, será possível diminuir os juros para 47 milhões de trabalhadores formais. A medida será bombardeada pelos rentistas. 

6) A redução da  taxa de juros SELIC, o crescimento econômico por 8 anos, a reforma tributária, a desoneração da cesta básica incluindo carnes e a luta para tirar o ICMS, o crédito para a agricultura familiar, a nova industrialização e os BRICS são passos muito importantes. Tão vacilando setores que adotam teses contracionista, temos de romper com o neoliberalismo, e não defendê-lo. 

7) a luta é Lula brigando pra economia crescer e os juros diminuírem e o emprego crescer de um lado, e de outro o capital financeiro rentista parasitário querendo a desaceleração econômica, a queda no emprego, para sangrar Lula até 2026. A luta pelo crescimento do emprego formal é decisiva e jamais foi feita em canto nenhum sem crédito. Pior, jamais sob esse patamar de juros compostos mensalizados (não anuais) sob a capitalização das Tabelas PRICE e SAC. É torar o cabra. Tu acha que na China, nos EUA, na França, na Índia (onde o sistema foi estatizado) em que lugar no mundo temos essas condições? Não há tempo. Tem de baixar os juros sim. E devemos buscar uma saída haddádica para estender a alternativa da redução do patamar de juros para precarizados e trabalhadores rurais.

8) A garantia sob parte do FGTS e o saldo integral da multa é a exigência do sistema financeiro contra o governo e o povo. Se eles tivessem BAIXADO  os juros, não precisaria. É um lenitivo. Mais importante é associar a ampliação do consignado aos trabalhadores privados à redução da taxa Selic para deixar o Brasil crescer e dar qualidade a esse crescimento com valorização do trabalho, nova industrialização, cortar a mamata do crédito para desmatadores e poluidores, crescimento em milhões do emprego formal e a nossa associação aos projetos BRICS e parcerias comerciais amplas.

9) Faça as contas: o que significa reduzir em 50% o patamar dos juros no crédito pessoal nos trabalhadores da iniciativa privada. Qual a média de juros que vc paga hoje? #FicaaDica  de Educação Financeira: TROQUE OS JUROS ALTOS PELOS JUROS BAIXOS. ESTENDA O PRAZO A TAXAS MENORES. É básico. É o que ganharemos. 

10) UNIR a classe trabalhadora e o setor produtivo à luta pela redução dos juros, pelo fim da escala 6x1, pela redução da jornada, pela isenção do ir até 5 mil Reais são bandeiras centrais da nossa luta atual, no dia 18 de março no BACEN em Brasília e SP às 10h. E rumo a um grande, bonito e unitário Primeiro de Maio! E, claro, ocupemos as ruas para garantir democracia 

#SemAnistia #Golpistanacadeia #FrenteAmpla #UnidadePopular

sábado, 15 de março de 2025

O Socialismo no século XXI - João Amazonas*

João Amazonas, líder histórico do PCdoBrasil, militante comunista por 67 anos


O socialismo, como corrente do pensamento avançado, projeta-se sobre o novo século como alternativa inevitável ao capitalismo decadente. É a grande bandeira da renovação social


Já vai distante a época dos profetas que vislumbravam o futuro com a suposta ajuda da divindade. Em geral prediziam as calamidades, os males que atormentariam a humanidade, o fim do mundo. Apareceram também os que negavam a possibilidade de conhecer o porvir. "O futuro a Deus pertence", sentenciavam. Nos tempos modernos surgiram verdadeiros profetas. Já não eram adivinhos, mas pensadores apoiados na ciência, no conhecimento das leis que regem a natureza, a sociedade e conformam o pensamento humano. A predição deixou de ser fruto da simples conjetura, mas resultado da elaboração de teorias e premissas que refletem os processos do eterno movimento de tudo que existe no universo.

Vivemos os anos finais do século XX pleno de contradições. Muitos gostariam de conhecer a feição provável dos acontecimentos vindouros, os caminhos por onde trilhará a humanidade em busca de uma vida feliz. O futuro não pode, porém, desligar-se do passado, do exame crítico da época que vai ficando para trás. Esse exame dá indicações, às vezes precisas, das perspectivas vindouras, porquanto a História segue rumos definidos por leis objetivas.

O século XX começou com a passagem do capitalismo florescente da livre concorrência para a sua fase monopolista, imperialista. Todo este século transcorreu sob o domínio dos monopólios que, afinal, converteram-se em monopólios gigantes, os oligopólios transnacionais que aceleram a globalização da economia mundial.

A par dos progressos indiscutíveis na vida da sociedade ocorridos neste século, na produção, na ciência, nas artes, nos meios de comunicação, na identificação de fenômenos ecológicos, no aumento considerável da população do planeta, destacou-se também o lado sombrio, perverso, do sistema monopolista: duas grandes guerras nas quais pereceram cem milhões de pessoas, guerras variadas de dominação colonial, extermínio nuclear de populações indefesas, supressão violenta da liberdade, alargamento do fosso das desigualdades sociais.

Mas o século XX registra também memoráveis lutas sociais e políticas: revoluções, resistência armada aos opressores, levantes camponeses, combativas greves operárias, embates vigorosos contra o fascismo em defesa das liberdades.



Os fundadores do PCB - Partido Comunista do Brasil, em 25 de março de 1922, em Niterói


A revolução socialista na velha Rússia dos czares é o grande marco da nossa época, seguida mais tarde – por outro evento significativo, a proclamação da República Popular da China. Destaque especial teve ainda o movimento da descolonização. Muitos países, após a II Grande Guerra, sacudiram o jugo da opressão nacional, tornaram-se independentes.

Esse processo violento, contraditório, que já dura cem anos é, em última instância, o lento e prolongado parto da História. O capitalismo chegou ao fim, já não tem condições de resolver os magnos problemas sociais e políticos gerados pelas próprias contradições que encerra. Não pode assegurar a convivência pacífica entre os povos, nem garantir o exercício da liberdade sempre mais restringida. Não pode deter a exclusão social de consideráveis parcelas da população laboriosa, nem impedir o crescimento da miséria que se alastra por todo o Globo. O socialismo, nova forma de organização da sociedade, apresenta deficiências naturais de um regime que acaba de nascer, carece de experiência suficiente para se consolidar em definitivo como sistema progressista. Sofreu derrota passageira na União Soviética e no Leste europeu, depois de haver alcançado importantes vitórias na edificação da nova vida.

A experiência histórica demonstra que o socialismo não conseguirá afirmar-se de um só golpe. Sua consolidação e enraizamento universal registrará muitas vitórias e também reveses. A construção da nova sociedade é mais difícil e complicada do que antes se imaginara. Erra quem pensa que o socialismo morreu definitivamente. Erra igualmente quem o imaginava um processo em linha reta, somando sempre vitórias e expandindo-se sem obstáculos, continuadamente. Também o capitalismo não desaparecerá em cada país com uma única cutilada. De certo modo, a morte do capitalismo está relacionada com a construção êxitos a do socialismo. Em suma, não se constrói a nova vida nem liquida o capitalismo de uma só vez.

A transformação socialista da sociedade é um largo processo de lutas e de aprendizagem permanente. Transferir os meios de produção capitalista para a comunidade é relativamente fácil com a vitória da revolução. Mas essa transferência abrange tão somente a área econômica. Como organizar dinamicamente em todos os aspectos a nova sociedade é obra que demanda tempo e visão progressista, revolucionária.

Quando apareceram as primeiras idéias que sinalizavam a necessidade de substituir o capitalismo, aí pela metade de século XIX, surgiram os utopistas. Saint-Simon, Owen, Proudhon imaginavam, ou melhor, idealizavam a sociedade perfeita do futuro que terminaria com a exploração do homem pelo homem, com a corrida desenfreada ao lucro. Eram pregoeiros de ilusões, de utopias.

O socialismo, em certo sentido, é o novo desconhecido. Até hoje, em vários países, após a revolução, não se sabia exatamente como construir integralmente a sociedade do futuro. Tinha-se o plano geral, de base científica, e as forças militantes do partido de vanguarda. Já é muito, mas não o suficiente, pois além da construção econômica precisa-se forjar a vida espiritual das grandes massas. A sociedade reflete a base material em que se assenta, não, porém, de modo direto. Condicionadas pela base material, as massas criam suas próprias formas de existência. Hábitos, moral, ética, convivência social, vínculos culturais não se forjam de um dia para o outro.



"Fevereiro de 1917"
(História da URSS em cartazes de propaganda https://43419.tilda.ws/page1962866.html#rec37214006)




O socialismo não pôde vencer simultaneamente em todos os países, nem mesmo, como supunham Marx e Engels, nos mais desenvolvidos. Triunfou na Rússia, na China, na Coréia, no Vietnã, na Albânia, em Cuba. As idéias e modos de vida aí predominantes são de países atrasados. Tais idéias e modos de vida entram em contradição com os projetos avançados que se pretendem instaurar. É preciso tempo para reverter essa situação. Ademais, a pressão do modo de vida capitalista dos países ricos repercute entre as populações onde se instituiu um regime diferente, progressista, que não pode, de imediato, assegurar condições de vida confortável a todo o mundo. Certamente, nos países ricos, a par do conforto que desfrutam as classes privilegiadas, existe a imensa faixa dos que vivem na pobreza. Essa faixa, na propaganda capitalista, fica na sombra, não aparece.

O século XXI será cenário da grande batalha histórica que se desenvolve no seio da sociedade humana. Batalha da luta entre o novo que procura abrir caminhos, tradicionais ou inusitados, ao progresso social, e o velho que resiste por todos os meios, pacíficos e não-pacíficos, a desaparecer. Quanto tempo ainda durará esse enfrentamento, é difícil, mesmo impossível prever.

O capitalismo monopolista ingressa nessa batalha, na viragem do século, sustentando a orientação neoliberal que seus apologistas tentam fazer crer tratar-se da nova forma, irreversível, de desenvolvimento da sociedade. A verdade, no entanto, indica que o neoliberalismo é a mais brutal ofensiva do grande capital contra todas as conquistas alcançadas pela humanidade, em termos de democracia, direitos sociais, avanços culturais, identidade nacional, desenvolvimento econômico independente.

Haja vista o quadro desolador do mundo de hoje, em boa parte resultado dessa ofensiva neoliberal:

Um bilhão e 300 milhões de pessoas vivem na pobreza extrema, 800 milhões passam fome; cerca de 900 milhões de trabalhadores vivem o drama do desemprego e do subemprego. Mais de um bilhão de pessoas não conseguem usufruir cuidados básicos de saúde e ter livre acesso à educação.

A regressão antidemocrática, com a degradação da democracia política e os atentados às liberdades fundamentais, é expressão chocante da ofensiva reacionária. A soberania nacional dos países menos desenvolvidos sofre restrições e ameaças de toda ordem. Pari passu, a concentração das riquezas atinge níveis inimagináveis: 358 bilionários possuem fortunas iguais aos rendimentos anuais de 45% da população do mundo. Esta situação paradoxal não pode deixar de suscitar anseios de mudança na forma de organização da sociedade.

De outra parte, o socialismo, como corrente do pensamento avançado, projeta-se sobre o novo século como alternativa inevitável ao capitalismo decadente. É a grande bandeira da renovação social.

Contudo, o socialismo ressente-se da derrota que sofreu na ex União Soviética e no Leste europeu. Suas idéias transformadoras da sociedade perderam força entre as massas. Evidenciou-se profunda crise no campo da teoria, da ideologia. Proliferam por toda parte "críticos" do marxismo, os que renegam princípios e a própria organização de vanguarda, assustados com o final desastroso do regime socialista na URSS e com a campanha anticomunista que se seguiu. "Ser revolucionário - dizem - é coisa do passado, velharias de outros tempos ... "

Sem vencer essa crise, o socialismo não poderá avançar, nem comandar exitosamente a luta emancipadora de milhões de trabalhadores, dos explorados e oprimidos. Não há movimento revolucionário na ausência de teoria revolucionária.

Certamente vencer a crise no plano da teoria não significa repelir simplesmente fórmulas ultrapassadas, posições dogmáticas, sectárias. Impõe-se a defesa dos fundamentos da teoria marxista, seu espírito crítico e revolucionário, desenvolve-la criadoramente, ligada ao tempo em que vivemos. Já Lênin, nos primórdios deste século, dizia: "Não temos a doutrina de Marx como algo acabado, inatingível; ao contrário, estamos persuadidos de que ela somente coloca as pedras angulares da ciência que os socialistas devem fazer progredir em todos os sentidos se eles não querem se atrasar na vida". É preciso renovar o marxismo revolucionário, extrair as lições das primeiras tentativas de instauração do socialismo, particularmente na ex- União Soviética, a fim de que o movimento progressista continue avançando. Longe de pretender fazer prognósticos infalíveis acerca da marcha dos acontecimentos políticos do próximo século, pode-se afirmar que prosseguirão as lutas que vêm de decênios passados por transformações da sociedade e que caracterizam a nossa época como a época da transição do capitalismo para o socialismo. Inevitavelmente, contra o neoliberalismo, expressão acabada do capitalismo declinante, levantar-se-ão os trabalhadores, os camponeses, os democratas, os patriotas, a juventude sem futuro, as massas populares atiradas à miséria.

Entretanto, muitos desses movimentos sociais carecerão de perspectiva política mudancista, enquanto perdure a crise do marxismo. Neles atuarão por certo tempo os sotisticadores social-democratas, pretendendo inutilmente "reformar" o capitalismo.

Voltará o socialismo a triunfar na Rússia?

É possível que os comunistas voltem ao poder na Rússia pós-revolucionária. O capitalismo aí instaurado contrasta brutalmente com a vida no tempo do socialismo, apesar das deficiências. O povo russo tentará livrar-se das calamidades que recaíram sobre o país com o retorno ao capitalismo. Mas a simples volta dos comunistas ao poder não significará ainda o triunfo do socialismo científico. A Rússia perdeu o rumo revolucionário ao final da década de 50. E não conseguiu até hoje desenvolver a teoria marxista, analisar em profundidade a causa dos erros cometidos, como e por que a União Soviética retrocedeu ao capitalismo. O revisionismo de Kruschov, Gorbachov, Brezhnev e outros não são meros desvios ideológicos, é toda uma doutrina contra-revolucionária destinada a solapar as bases do socialismo, desorientar os trabalhadores e o povo, obscurecer a consciência política das massas.

No curso do século XXI a crise de teoria e da construção socialista será superada. Em vários países observam-se sérios esforços para enfrentar essa tarefa de magnitude histórica. A China, passando por altos e baixos, acabará consolidando o regime socialista que sofreu abalos com os erros do passado, nomeadamente no período da chamada revolução cultural proletária. O Vietnã, arrasado pelas agressões bélicas da França e dos Estados Unidos, será reconstruído e fortalecerá a via socialista. Em outros lugares onde houve revoluções e retrocessos, o socialismo terminará predominante.

No conjunto do mundo, particularmente nos países menos desenvolvidos, a bandeira da luta pela liberdade e pela independência nacional, abandonada pela burguesia capitulacionista passará às mãos das forças progressistas que almejam transformações radicais da sociedade. Grandes países, como a Índia e o Brasil, apresentando formas inovadoras de passagem ao socialismo, poderão alcançar expressivas vitórias.

Assim será o século XXI. Em seus começos, haverá sombras e luzes, mais sombras do que luzes. Depois, o quadro se inverterá. A humanidade viverá tempos de grandes esperanças.




*JOÃO AMAZONAS – presidente nacional do Partido Comunista do Brasil.

Revista Princípios

EDIÇÃO 45, MAI/JUN/JUL, 1997, PÁGINAS 6-8










quinta-feira, 13 de março de 2025

13 de Março de 1964 - Dia do Comício das Reformas de Base na Central do Brasil - João Goulart

 

Polícia de Milei ataca aposentados, que resistem - Argentina

 

Os juros altos escravizam o Brasil - Paulo Vinícius da Silva




O dinheiro de quem não dá é o trabalho de quem não tem. Berimbau. Vinicius de Moraes



A luta contra os juros altos marca o Brasil desde o Plano Real, e não é à toa. A constituição do mercado da dívida pública foi o mecanismo principal que deu ao parasitismo do capital financeiro uma lucratividade semelhante, substituindo os lucros escandalosos obtidos pela hiperinflação, que era razão de instabilidade econômica, social e política. Ademais, o PSDB cunhou em FHC, ministro de Itamar, o título de “criador do Real que derrotou a inflação”, beneficiando-se do pavor na memória coletiva brasileira. 


Desde 2003, o Brasil tenta desmontar essa bomba, não é uma tarefa fácil. Se vacilarmos, a direita dá o Golpe. Isso expressa a duradoura dominância do capital financeiro parasitário como topo da pirâmide de classes brasileira, que é o fundamento principal da ascensão política da extrema direita aqui e além.



Lembro, ainda quando era Diretor da UNE, da bandeira “Mudança da Política Macroeconômica” nas manifestações de 2003 a 2014. Certo, era uma palavra de ordem difícil, mas queria se opor ao “Tripé Macroeconômico” do Plano Real, intocado até agora, qual seja: Regime de Metas de Inflação, Câmbio Flutuante e Taxa SELIC. Desta última é que deriva o custo do crédito para pessoas físicas e jurídicas. Ora, para o indivíduo pode parecer muito melhor ter uma rentabilidade alta sem pregar um prego e com garantia do Tesouro, do que produzir o que quer que seja. Por isso dói nos parasitas, acreditem, o crescimento do emprego no Brasil, que atingiu patamares históricos sob Lula.


Quem produz, trabalha e consome - especialmente as pequenas e médias empresas e a classe trabalhadora - tem de pagar taxas de juros exorbitantes, em juros compostos, sob a forma de capitalização das tabelas PRICE e SAC. O Agronegócio tem o Plano Safra, não passa por isso, tem juros subsidiados, menores, para plantar monocultura e exportar commodities in natura. Assim, o Brasil tem financiado através dos bancos públicos a expansão do agronegócio, mesmo com as gritantes evidências do prejuízo ambiental e social que parte do setor promove.


O salário, se cresce, cresce pouco, já os juros das dívidas, crescem muito, especialmente se em caso de atraso. Não dá para alcançar. As medidas de redução do patamar dos juros - no cartão, por exemplo - são importantes, mas insuficientes diante da armadilha criada no Banco Central por seu Presidente anterior, Roberto Campos Neto,que fez tudo para deixar o dólar subir e os juros também. Há um bloco social gritando dia e noite a favor da manutenção e do aumento de juros. São poucos, mas detém imenso poder e emparedam o governo. A imprensa empresarial vive de renda no sistema financeiro.


Enquanto isso, adoecem os bancários da Caixa, do BB, BRB, BASA, BNB, BANPARÁ, BANRISUL, etc no ingrato ofício de ser pressionado a vender o crédito num patamar de juros altíssimo. Você acha que um bancário na China ou nos EUA empresta para seus clientes  a taxas MENSAIS? Não, o juro é ANUAL. No Brasil, os juros são divulgados por mês para o cliente não dar um infarto na hora de fazer um empréstimo. 


Por um lado, o sistema financeiro ganha sem fazer nada, especulando com o valor do dólar, ganhando um absurdo com títulos públicos. Por outro, o mesmo sistema financeiro impõe um patamar de juros tão alto, que surge uma nova servidão diante de dívidas que não param de crescer. Brasileiro é bom pagador, e sofre, e paga muito, e empobrece, e quebra. 


A luta de classes permite ver, como disse Vinícius, que “O dinheiro de quem não dá é o trabalho de quem não tem”. São inseparáveis os ganhos históricos no setor financeiro com a escravidão por dívida promovida com as taxas É dívida que faz um motorista de aplicativo se submeter a um regime de 14 horas de trabalho diário. E é a SELIC tão elevada que depois se multiplica para virar as taxas de juros cobradas no crédito. 


O sistema financeiro, desse modo, a classe dominante escravista brasileira: cruel, burra e infecunda, a viver do trabalho alheio. Quem ganha tanto com juros altos, especulação financeira sem riscos, com garantia e vantagens no imposto de renda só poderia odiar a Presidenta  Dilma, quem baixou as taxas de juros. Foi esse crime perfeito que se radicalizou com o Golpe de 2016, com a Ponte Para o Futuro de Temer e o governo Bolsonaro. Virou a farra do boi. E caiu no colo do Lula. 


Por isso, o grande acerto do programa de crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, lançado pelo Presidente Lula. Ele, que denunciou tanto os juros altos, deu com a cara no muro formado pelo mercado financeiro, pela mídia empresarial e pela coalizão dos políticos a seu serviço. Não é menos verdade que sequer pôde Lula contar com os maiores bancos públicos, o BB e a Caixa. Os lucros demonstram, o patamar dos juros também, as metas mais ainda: o sistema gira sozinho como uma imensa bomba de sucção, retirando recursos da economia produtiva para esterilizá-los e pagar caro por isso, sem produzir um cibazol partido e desindustrializando o país. Nem os bancos públicos trabalham contra esse sistema. 


Lula e Haddad acharam um jeito: se baixar o patamar de juros para os trabalhadores formais, é possível baixar de modo geral os juros. Também poderão fazer a portabilidade de dívidas com juros menores. Mas isso demonstra as mãos atadas, por um lado, e a persistência de Lula, por outro. Resta saber se os bancos públicos, especialmente a Caixa e o BB, cumprirão o que prometeram nos discursos do lançamento do programa de crédito consignado para trabalhadores formais. Lágrimas de crocodilo não me sensibilizam. Queremos saber o tamanho da redução do spread, antes de comemorar. Aí sim.





É nesse contexto que na terça-feira, 18/3/2025, realizam as centrais sindicais atos públicos nas sedes do BACEN em Brasília e São Paulo às 10h (por enquanto). Se você deve, você é nosso convidado(a). As centrais também discutem o desafio de unificar o Primeiro de Maio. Se o Banco Central ajudar na redução da taxa SELIC, ajudará imensamente o Brasil, mas essa é uma batalha a ser vencida nas redes e nas ruas, uma das páginas mais importantes da construção da Frente Popular no seio da Frente Ampla. Essa é uma clivagem importante. Na Frente Ampla couberam inclusive os neoliberais. Só a união dos que trabalham e produzem pode libertar o Brasil da especulação parasitária e destrutiva, da nova escravidão por dívida e da burrice capitalista que ameaça a vida na Terra. Vencer o neoliberalismo é fundamental para libertar as imensas potencialidades da Nação Brasileira e deve ser o elemento de coesão das parcelas mais avançadas na Frente Ampla.




quarta-feira, 12 de março de 2025

Giro Sindical debate os JUROS ALTOS - Paulo Vinícius da Silva é o entrevistado, 6a feira, 11h no Youtube




Nesta sexta-feira, a partir das 11 horas: https://www.youtube.com/watch?v=aFerdIDS2xs


CTB Bancários: A luta contra os juros é a luta pelo desenvolvimento do Brasil


No episódio desta sexta-feira (14) do Giro Sindical, produzido pela Agência Metamorfose Comunicação, recebemos Paulo Vinicius, Diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília e da CTB Bancários, para discutir a luta da categoria contra os juros abusivos e como essa batalha está diretamente ligada ao desenvolvimento do Brasil.


Nesta sexta-feira, 14 de março, das 11h às 11h30, Paulo Vinicius da Silva explica como os altos juros impactam não apenas os trabalhadores, mas toda a economia do país, dificultando o acesso ao crédito, o crescimento das empresas e a geração de empregos. 

Ele também aborda as ações do sindicato e da CTB Bancários para pressionar por políticas que garantam juros mais justos e um sistema financeiro mais equilibrado.

Sindicato dos Bancários de Brasília celebra sábado, 15/3 o Festival Viva Mulher

 


O Sindicato dos Bancários de Brasília promove sábado, 15 de março, o Festival de Música Viva Mulher para celebrar o protagonismo feminino e reforçar a luta por igualdade de direitos. A programação reúne shows, feira de artesanato e gastronomia. O festival promete ser um grande encontro de cultura, arte e resistência feminista.


A festa inicia às 12h30 e segue até as 21h30, no  Sindicato dos Bancários de Brasília (EQS 314/315)  https://bancariosdf.com.br/portal/sindicato-celebra-o-mes-da-mulher-com-o-festival-de-musica-viva-mulher-no-dia-15/

Nota de Esclarecimento do PCdoB sobre os explosivos em Pinheiros

 

O Diretório Estadual do PCdoB SP vem a público esclarecer, de forma categórica, que não tem qualquer envolvimento com os artefatos explosivos que foram colocados na estação Pinheiros, tampouco com a carta supostamente assinada por nossa organização. Trata-se de uma grave e irresponsável provocação, cujo objetivo é atacar o PCdoB e confundir a opinião pública.


Estamos tomando todas as medidas jurídicas cabíveis para apurar as responsabilidades por esse ato criminoso e identificar os verdadeiros autores dessa provocação.


*12 de março de 2025*

Diretório Estadual do PCdoB SP


https://www.instagram.com/p/DHGbhJSOAMu/?igsh=cWlrZ2c0Y3l4ZWsw

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

José Reinaldo Carvalho: a conjuntura, o PCdoB e os 177 anos do Manifesto do Partido Comunista

Conjuntura internacional, com homenagem ao Manifesto Comunista e à Refundação do PCdoB em 18 de fevereiro de 1962


https://www.youtube.com/live/kemdXxzuQmc?si=hg2yiZGjC3eDOPf1

José Reinaldo comenta a cúpula de Riad entre EUA e Rússia



Breve história do Manifesto do Partido Comunista, por Augusto Buonicore - Portal Vermelho - 177 anos do Manifesto - Audiolivro


Audiolivro - Manifesto do Partido Comunista (1848)

Manifesto do Partido Comunista - Marxist Internet Archive - Texto e Prefácios


Saudades das luzes de Buonicore.  Vede como ainda brilham! Paulo Vinícius da SIlva


    Breve história do Manifesto do Partido Comunista, por Augusto Buonicore - Portal Vermelho


Este mês estamos comemorando os 160 anos da publicação do Manifesto do Partido Comunista. Esta foi, sem dúvida, a obra mais famosa de Marx e Engels. Podemos dizer que, quer pelo seu conteúdo, quer por sua forma didática, ele foi o respons


por Augusto Buonicore

Publicado 20/02/2008 16:19


Do socialismo utópico ao científico


O Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels é considerado, pela maioria dos estudiosos, como a primeira obra pública do chamado socialismo científico. Mas, por que socialismo científico?

Antes de Marx e Engels vários teóricos socialistas já faziam duras críticas à situação dos trabalhadores sob o capitalismo, denunciavam as injustiças criadas pela sociedade burguesa e até mesmo pressentiam que estas injustiças tinham por base o monopólio da propriedade privada dos meios de produção. Mas eles não compreendiam e nem podiam compreender a dinâmica do desenvolvimento da sociedade capitalista, que não havia desenvolvido todas as suas potencialidades. Não compreendiam a determinação, em última instância, da esfera econômica (inter-relação dinâmica entre forças produtivas e relações de produção) sobre a superestrutura político-jurídica e ideológica da sociedade.

O socialistas pré-marxistas, ou utópicos, não entendiam que a sociedade socialista só poderia nascer a partir de um certo grau de desenvolvimento das forças produtivas, propiciado pelo avanço do próprio capitalismo. Ou seja, o socialismo só seria possível na relativa abundância propiciada pela sociedade industrial moderna. Não seria possível o socialismo na escassez inerente aos modos de produção pré-capitalistas: escravista e feudal.

O desenvolvimento das forças produtivas modernas criava as condições materiais para superar a escassez e realizar as necessidades humanas essenciais. Mas, por que isso não acontecia? Porque as relações de produção estavam assentadas na propriedade privada dos meios de produção. Esta era a contradição fundamental do capitalismo e a base de sua desagregação. A possibilidade da realização das necessidades humanas abertas com o desenvolvimento da grande indústria só poderia ser realizada plenamente com a socialização dos meios de produção e o aumento ainda maior das forças produtivas.

Ao não compreenderem a dinâmica real do desenvolvimento da sociedade humana em geral e do capitalismo em particular, os “utópicos” apresentavam propostas irreais para superar o capitalismo e instaurar a sociedade socialista.

Não reconheciam o papel determinante da luta de classe no processo de transformação social. Nem o papel fundamental que deveria ser desempenhado pelo proletariado moderno. E, por isso, acabavam priorizando métodos centrados no convencimento das classes dominantes e dos seus respectivos governos. Imploravam para que eles ajudassem a realizar os seus projetos mirabolantes – embora generosos – de sociedades alternativas. Os principais socialistas utópicos foram Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen.

Ao contrário, Marx e Engels compreendiam que a história da sociedade humana tinha sido a história da luta de classes. Estudando o desenvolvimento da sociedade capitalista e de suas contradições, haviam chegado à conclusão de que no capitalismo a classe revolucionária era o proletariado, filho legítimo da industrialização capitalista. O proletariado estava chamado a cumprir o papel de coveiro da sociedade burguesa.

O capitalismo só poderia ser superado com a organização e a luta dos proletários e não através de concessões graduais das classes dominantes, feudais ou burguesas. Mas eles não chegaram a esta conclusão a partir do nada, construíram a sua teoria a partir do estudo da realidade concreta, da sociedade do seu tempo.

O proletariado já tinha mostrado toda sua força nas insurreições dos tecelões de Lyon (França) em 1831 e 1834 e na dos tecelões da Silésia (Alemanha) em 1844. A maior demonstração de organização e de politização do proletariado europeu havia sido o movimento cartista na Inglaterra. Em 1842 milhões de trabalhadores haviam se declarado em greve geral em defesa da “Carta Popular”, na qual exigiam direitos políticos e sociais dos quais eles estavam excluídos. Portanto, o Manifesto também foi fruto da evolução do movimento e da consciência política do proletariado. Sem isto o Manifesto jamais poderia ter sido escrito.

Qualquer observador atento a partir da terceira década do século 19 poderia constatar o nascimento de uma nova força social, destinada a cumprir um grande papel na história moderna. O socialista-reformista francês Louis Blanc, em 1846, afirmaria: “Na pujança do movimento desses escravos dos tempos modernos resulta fácil prever as tempestades que levam em suas entranhas o século 19”. Até um ideólogo burguês como Monfalcon, um observador das rebeliões operárias em Lyon, constataria aterrorizado: “Uma das próximas conseqüências fatais desses eventos será que os operários (…) se convertam em uma classe política (…) Se apresentarão homens que dirão aos operários 'vosso suor só beneficia aos ricos; os fabricantes são seus inimigos naturais. Queixais de que sois desgraçados e, entretanto, sois os mais numerosos e os mais forte. Uni-vos!”. Uma conclusão premonitória.

A parceria de Marx e Engels

Marx e Engels iniciaram sua parceria teórica e política em agosto de 1844 quando, juntos, começaram a redigir o livro “A Sagrada Família”. Em polêmica acesa com os jovens hegelianos Bruno e Oto Bauer, eles apresentaram as conclusões que haviam chegado através de seus estudos de filosofia, história e economia política.

Defenderam, na forma de polêmica anti-idealista, a tese de que a história dos homens só poderia ser plenamente compreendida mediante a análise do desenvolvimento da produção material. O mundo das idéias e o próprio Estado eram condicionados pelo nível de desenvolvimento dessa mesma produção material.

Apresentaram, também, a sua tese sobre o papel revolucionário do proletariado moderno e da necessidade histórica da revolução comunista. Afirmaram Marx e Engels: “Não se trata do que este ou aquele proletário, ou inclusive o proletariado em seu conjunto, possa apresentar-se de vez como meta. Trata-se de o que o proletariado é e de o que está obrigado historicamente a fazer, de acordo com o seu ser”.

Ainda em 1845 foi publicado o livro “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, escrito por Engels. Nesta obra analisou as condições em que vivia a classe operária inglesa, constatou que o crescimento da riqueza social se dava à custa da crescente miséria e exploração do trabalho dos operários. E essa contradição desembocaria em uma nova e radical revolução social: a revolução comunista. O agente dessa revolução seria o proletariado.

No mesmo ano, Marx e Engels resolveram expor de maneira mais sistemática a suas divergências com a escola neo-hegeliana. Nasceu assim “A Ideologia Alemã”. Em 1846 a obra já estava pronta, mas não conseguiram um editor para publicá-la. Esta era uma exposição sistemática do materialismo histórico e da teoria socialista desenvolvidos por eles.

Nessa obra desenvolveram a idéia presente no Manifesto de que o socialismo só poderia se constituir a partir de um certo grau de desenvolvimento das forças produtivas e, conseqüentemente, com o surgimento e a ampliação incessante do proletariado moderno. Escreveram: “No capitalismo surge uma classe condenada a suportar todos os inconvenientes da sociedade sem gozar de suas vantagens (…) e disso nasce a consciência de que é necessária uma revolução radical, a consciência comunista.” A missão histórica colocada para esta nova classe deveria ser a conquista do poder político das mãos da burguesia e a gradual expropriação dos meios de produção fundamentais, abrindo assim o caminho para a sociedade sem Estado e sem classes: a sociedade comunista.

A partir daí o movimento operário e socialista poderia contar com uma teoria mais adequada, assentada no estudo profundo da sociedade capitalista, de suas contradições e tendências objetivas. O projeto socialista não se assentava mais nos protótipos de sociedades perfeitas (ideais) nascidas da cabeça de algum sonhador genial. Os trabalhadores e suas organizações poderiam contar agora com um poderoso instrumento teórico, que lhe permitiria construírem táticas e estratégias políticas mais condizentes com os seus objetivos de superação do capitalismo.

Marx e a Liga Comunista

A Liga dos Justos foi criada em 1836 e era formada, majoritariamente, pelos representantes mais radicais da emigração alemã que residiam na França. Seus membros eram, em geral, operários artesanais: ferreiros, carpinteiros, sapateiros, alfaiates. Embora o seu centro político ficasse em Paris, a organização se ramificava em seções por vários países europeus.

Ela tinha estreitas relações com a “Sociedade das Estações” francesa, organização secreta dirigida por Augusto Blanqui, líder revolucionário republicano e socialista. Quando os blanquistas organizaram um levante em 1839, os membros da Liga se uniram a eles. A revolta foi rapidamente sufocada e parte dos dirigentes foi aprisionada e outra teve que fugir para a Inglaterra e Suíça. O centro da organização teve que se transferir para Londres, onde havia maior liberdade política.

Com a derrota, muitos membros se desencantaram com os métodos conspirativos dos blanquistas. Alguns acabaram se aproximando da ala reformista do movimento socialista europeu, especialmente das teses do comunismo-utópico de Cabet. Este acreditava que o comunismo poderia ser conquistado através da propaganda, do exemplo positivo e defendia a formação de colônias comunistas nas Américas. Algumas experiências foram tentadas e fracassaram.

Portanto, as concepções políticas predominantes na Liga dos Justos eram instáveis e confusas. Isto se devia à sua composição social de operários artesãos, classe em transição entre a pequena-burguesia e o proletariado moderno. Um dos elementos mais ativos da ala esquerda da Liga era Wilhelm Weitling, alfaiate alemão. Em 1842 ele publicou Garantias da harmonia e da liberdade, que obteve grande repercussão no movimento operário e socialista europeu. O próprio Marx o saldou como “uma estréia literária inigualável e brilhante dos operários alemães”.

Weitling anunciou que a chegada do comunismo era iminente. Defendeu, contra os reformistas, que este só poderia ser conquistado pela luta sem tréguas entre os oprimidos e os opressores. Estas idéias particularmente agradaram ao Marx daquela época.

Mas, ao contrário de Marx, Weitling não compreendia o papel especial a ser desempenhado pela classe operária moderna, ainda em formação. Ele defendia que o elemento mais revolucionário da sociedade capitalista era o lumpen-proletariado, “as classes marginais”. Chegou mesmo a apresentar para a direção da Liga um plano detalhado de revolução social, que se resumia à formação imediata de um exército de 20 a 40 mil miseráveis e à deflagração de uma guerra de guerrilhas contra a ordem existente. A concepção de Weitling também se caracterizava pelo anti-teoricismo – negação do papel da teoria – e pela rejeição da importância da atuação política. Estes eram dois outros aspectos do seu pensamento terminantemente rejeitados por Marx e Engels.

Engels foi o primeiro a entrar em contato com a Liga dos Justos, entre 1842 e 1844, quando da sua estada na Inglaterra. Ele ficou bastante impressionado e afirmou que estes teriam sido os primeiros proletários revolucionários que havia conhecido. Mas, mesmo assim, ele não se convenceu a entrar para a organização. Existiam ainda muitos pontos de discordâncias.

Marx só veio a entrar em contato com a Liga em meados de 1845, quando viajou para a Inglaterra com o objetivo de estudar os economistas ingleses e estabelecer contato com o movimento operário que se desenvolvia rapidamente. Durante este período ajudou a estabelecer relações entre a ala esquerda do cartismo e a Liga dos Justos. Nasceu, assim, a idéia de se criar uma organização revolucionária de caráter internacional.

Em novembro de 1846 a direção da Liga dos Justos propôs a convocação de um congresso internacional de todas as suas seções para maio de 1847. Um dos objetivos era a elaboração de um novo programa socialista, mais adequado à suas recentes experiências. Neste processo de re-elaboração teórica e estratégica decidiram procurar novamente Marx e Engels.

Estes estavam envolvidos no processo de formação dos chamados Comitês de Correspondência Comunista, que procurava também ser um embrião de um partido operário-revolucionário internacional. Comitês foram organizados na Bélgica, Paris e Londres. Existia uma interseção entre as diversas organizações operárias internacionais; em Londres, os principais membros do Comitê de Correspondência eram membros da Liga dos Justos e do movimento cartista. Eram tentativas embrionárias de formação de uma Internacional.

Neste período de formação dos comitês de correspondência Marx travou importantes disputas políticas contra outras correntes socialistas. Apesar da afinidade inicial, desenvolveu uma dura luta de idéias com Weitling. Eram inadmissíveis suas posições contra a participação dos operários na luta política e, especialmente, seu preconceito contra a teoria e os intelectuais revolucionários. Em março de 1846 se daria a ruptura definitiva entre eles.

Marx e Engels travaram também uma luta contra os chamados “verdadeiros socialistas”. O principal documento desta contenda foi a Circular sobre Kriege. Nela afirmaram: “A idéia de converter todos os homens em proprietários privados é absolutamente irreal e, mais ainda reacionária”. O último grande confronto teórico-político antes da elaboração do Manifesto Comunista foi travado contra Proudhon, um dos pais do anarquismo, e sua obra Filosofia de Miséria. A crítica de Marx seria publicada em julho de 1847 e intitulava-se A Miséria de filosofia.

As posições teóricas e políticas de Marx e Engels chamaram a atenção dos principais membros da direção da Liga dos Justos e por isso propuseram para que eles apresentassem uma proposta de estatuto e de programa. Não sem certa relutância os dois revolucionários ingressaram na Liga e aceitaram a tarefa.

No dia 2 de junho de 1847 teve início aquele que seria o último congresso da Liga dos Justos e o primeiro da Liga dos Comunistas. Engels estava presente representando a organização parisiense. Marx não pôde comparecer ao encontro internacional. Neste evento aprovou-se o novo estatuto proposto por Engels e que era assentado na mais ampla democracia interna. O Congresso passou a ser o órgão supremo da nova organização. O Comitê Central desempenharia apenas o poder executivo no período entre congressos. Rompia-se com a concepção de seita clandestina e pouco democrática.

A carta-circular aprovada justificou a alteração do nome da organização sugerida por Engels: “Nós nos distinguimos não por propugnar a justiça em geral (…) mas sim por repudiar o regime social existente e a propriedade privada, propugnamos a comunidade de bens, somos comunistas”. A divisa também foi alterada para se adequar aos novos princípios da organização. Em lugar da antiga divisa “Todos os homens são irmãos” foi colocada a nova consigna “Proletários de todos os países uni-vos!”.

O Primeiro Congresso aprovou um projeto de programa (provisório), elaborado por Engels denominado Símbolo da Fé Comunista. Baseado nesse texto, Engels elaborou ainda uma outra proposta de programa que foi denominada Princípios do Comunismo. Os dois projetos foram redigidos didaticamente na forma de perguntas e respostas.

Mas, a forma não agradou ao próprio Engels. Ele escreveu a Marx: “Pensa no Símbolo da Fé. Creio que o melhor seria abandonar a forma de catecismo e chamar o trabalho de Manifesto Comunista. Nele tem que se analisar em uma ou outra medida a história da questão e para isso a forma atual não serve em absoluto”.

No segundo Congresso Marx recebeu o encargo de elaborar o novo programa teórico e prático da organização. Ele não se apressou para realizar o seu trabalho o que lhe acarretou uma advertência da direção da Liga. Colaborava para o relativo atraso o seu afastamento de Engels e o seu método de trabalho. Como afirmou Riazov: “Elaborava sempre longamente suas obras, sobretudo se se tratasse de um documento importante. Neste caso, o queria perfeitamente redigido”.

Para Marx e Engels o Manifesto deveria ser, nas palavras de Mehring, “uma obra perene e não um escrito polêmico de leitura fugaz”. Continuou ele: “Foi a sua forma clássica que assegurou ao Manifesto Comunista o posto perdurável que ocupa na literatura universal”. Marx, utilizando o esboço de Engels, terminou a sua tarefa no final de janeiro de 1848 e no início de fevereiro era publicado o Manifesto do Partido Comunista. Tinha apenas 23 páginas, mas revolucionaria o mundo todo. Como disse Lênin: “Este pequeno livrinho valeria por tomos inteiros”.

O Manifesto foi publicado poucos dias antes de eclosão da revolução na França que derrubou o rei Louis Felipe e instaurou a república. Logo em seguida, a revolução democrática se espalharia por todo o continente europeu, inclusive a Alemanha, conforme previu o Manifesto. Era a chamada Primavera dos Povos. Marx e Engels voltaram a sua terra natal e se envolveram diretamente na revolução em curso.

Em junho de 1848 estourou a revolução operária em Paris, derrotada pelas forças coligadas da burguesia. Esta foi a primeira revolução política operária e causou profunda impressão nas classes proprietárias européias e teria reflexo na elaboração teórica de Marx e Engels. Os artigos de Marx analisando a revolução francesa entre 1848 e 1850 foram publicados no livro “As Lutas de Classes em França”.

A derrota da revolução de junho e o refluxo das revoluções democráticas e populares na Europa foram acompanhados por um acirramento da repressão ao movimento operário e socialista. Um dos marcos dessa repressão foi a instauração do processo de Colônia contra os membros do Comitê Central da Liga Comunista na Alemanha. Oito dirigentes da liga foram condenados. A Liga acabou sendo oficialmente dissolvida. Uma nova organização internacional dos operários e socialistas só seria construída em 1864, a Associação Internacional dos Trabalhadores.

Desde a sua publicação o destino do Manifesto do Partido Comunista sempre esteve ligado ao destino do movimento socialista e operário e internacional. Acompanhou seus avanços e sofreu com suas derrotas.

Notas
Este artigo já foi ao ar no próprio Vermelho há cinco anos atrás. Resolvi republicá-lo em homenagem à data.

Clique para ter uma apresentação do Manifesto “O manifesto Comunista como Programa

Clique para ter acesso ao artigo “Retificação e atualidade de um manifesto de 150 anos