Em 29 de agosto de 1968, perto das 9:30, cheguei ao DACAU - Diretório Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UnB. As 10h, no Auditório da Música, seria aberto um ENEA Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura, com alunos de algumas das dez ou doze escolas de arquitetura então existentes no Brasil. Da delegação de Curitiba, fazia parte uma aluna, Angela Vasconcelos, que havia sido Miss Brasil num dos anos anteriores. É por isso que eu cheguei cedo, banho tomado e camisa limpa e nova.
Mal havia sentado (poucos colegas já estavam ali) quando o Roberto Castelo irrompeu esbaforido, dizendo: 'Gente, a polícia está entrando!!!' E saímos todos correndo para ver o que estava acontecendo.
Corri, com os outros colegas para ver. Cheguei a frente da reitoria (na época o FE 1) a tempo de ver uma viatura policial sendo virada e incendiada. Não consegui identificar quem estava atuando no fato.
Voltamos para a área central do campus e eu fiquei próximo ao ICA - Instituto Central de Artes, que neste momento estava pouco movimentado. Dali percebi que da ala Sul do ICC, onde já funcionavam precariamente algumas unidades, saiam fumaça, e uma longa fila de estudantes, subia para a quadra de basquete.
A FAU-UnB estava fechada, em processo de reabertura. O diretor provisório era o prof. Paulo Magalhães. Rapidamente decidimos retirar do campus as pessoas mais vulneráveis. A profa. Gisela Magalhães, esposa do diretor, com uma Vemaget, recolheu um grupo, 5 ou 6, eu entre eles, para levar para a Colina ou asa norte. Neste grupo me lembro do Cacau, presidente do DACAU, e do Chico, liderança no ICA. Logo constatamos que todo o Campus estava cercado por forças policiais e inclusive do exército. Até tanques de guerra, do Regimento de Cavalaria Mecanizada estavam no dispositivo. A vista disso deixamos os colegas maís visados no cerrado, próximo da Colina, onde ele saberiam como se esconder.
Apareceu uma outra viatura. Corri de volta ao DACAU, avisar os colegas e para tomar as providências para proteger os colegas de fora que estavam no ENEA, e retirar as lideranças estudantis usualmente procuradas pela polícia.
Entrei no ICA, não vi ninguém, e sai. Um policial me empurrou para a fila com as mãos na cabeça. Ao lado da Oca, fui fotografado e a foto, publicada na Folha de S Paulo, no dia seguinte. Levaram esta foto para minha mãe.
Fomos reunidos na quadra de basquete e depois liberados. Fizeram poucas prisões nesse dia. Mas foi a maior invasão da UnB.
Prof. Aposentado da Universidade de Brasília
Membro do Comitê do PCdoB DF