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Textos de Combate: Sem perder a ternura, jamais - Paulo Vinícius da Silva - à Venda

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Quarta, 26/01, 19h - Canal65 - Dr. Carlos Rogério Nunes lança o livro "Lutas do Proletariado - Centrais Sindicais e as Manifestações de junho de 2013".

SERVIÇO

  • Lançamento do livro “Centrais Sindicais e Movimentos Sociais nas Manifestações de Junho de 2013”
  • Autor: Carlos Rogério Nunes
  • Data: 3/2 (quinta-feira)
  • Hora: 17 horas
  • Local: Seeaconce (Rua São Paulo, 1.037, Fortaleza)




Nosso Canal entrevista nesta quarta (26.01) o sindicalista Carlos Rogério, que está lançando o livro "Lutas do Proletariado - Centrais Sindicais e as Manifestações de 2013".

Participação da ativista política e socióloga , Nagyla Drumond e do Presidente da CTB Ceará, Luciano Simplício.

Mediação do sindicalista e sociólogo Paulo Vinícius da Silva.


Boa noite! Se liga nos endereços para o Canal65 que começa em minutinhos!! Hoje com transmissao também pelo facebook nacional do PCdoB!
 You tube: 

https://youtu.be/JLmBG9Z3aTg

Facebook

facebook.com/pcdob65

⏩Carlos Rogério é dirigente nacional da CTB - Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros. Um estudioso e pesquisador do movimento sindical brasileiro e propõe uma análise aprofundada de temas relativas ao mundo do trabalho e da organização sindical do Brasil. 


👉Canal 65

Quarta, dia 26 de janeiro

19h

Via youtube e facebook PCdoB Ceará

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Hoje, 19h - Renildo Calheiros, Inacio Arruda e Joao Ananias, debatem a Federação Partidária e o PCdoB no Canal 65

 O Canal 65 desta quarta (19.01) está imperdível. Com a presença do líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Renildo Calheiros, acompanhado de Inacio Arruda e Joao Ananias, vamos debater a Federação Partidária e o projeto eleitoral do PCdoB.

Esse tema te pegou, né?
Canal 65 , sempre um bom debate!
Com mediação do presidente do PCdoB Ceará, Luis Carlos Paes.
Canal 65 - Quarta (19.01), às 19h via youtube e facebook PCdoB Ceara

Morre aos 75 anos Vital Nolasco, militante histórico do PCdoB - André Cintra - Portal Vermelho





Além de vereador de São Paulo por dois mandatos, Vital foi dirigente sindical e partidário


por André Cintra

Publicado 19/01/2022 03:54 | Editado 19/01/2022 11:05
O líder operário e militante comunista Vital Nolasco (1946-2022)

O líder operário e ex-vereador de São Paulo Vital Nolasco, militante histórico do PCdoB, morreu nesta quarta-feira (19/1), aos 75 anos. Ele estava internado na UTI do Hospital Samaritano, na capital paulista, para tratar uma fibrose pulmonar crônica, mas não resistiu às complicações da doença.

“Venho informar com muita tristeza, infelizmente, a morte do Vital no dia de hoje”, comunicou seu filho, Daniel Nolasco, pouco depois das 2 horas da madrugada. “Ele lutou bravamente pela vida durante esses 14 dias em que ficou internado. Foi acometido por uma fibrose pulmonar ou de origem idiopática ou oriunda de refluxo gástrico, de forma rápida. Nós, da família, agradecemos a todos os companheiros e companheiras pelos pensamentos positivos e manifestações de força, nesta hora difícil.”

A notícia da morte consternou amigos e companheiros de lutas. “O passamento de Vital Nolasco dói. É mais um dos comunistas que entram na galeria dos que sempre serão lembrados como exemplo de vida e luta”, afirma Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB, que conheceu Vital em 1982. “À sua companheira de toda uma vida, a combativa Ester, seus filhos Patrícia, Daniel e Iara, os genros, noras e netos, ficam os melhores sentimentos para compartilhar a dor da perda e a certeza de que Vital será um ponto luminoso do panteão de nosso partido. Ele nunca será esquecido”, agrega o dirigente.



Em nota, o presidente do PCdoB São Paulo, Wander Geraldo, também lamentou a perda. “Vital foi um desses comunistas que influenciaram gerações pela abnegação, pelo exemplo e pela fidelidade às lutas da classe trabalhadora. A memória de sua trajetória será sempre uma inspiração para aqueles que lutam pela emancipação dos trabalhadores, pelas causas democráticas e patrióticas e pelo socialismo”, registrou Wander, em nome da Comissão Executiva do PCdoB São Paulo.

Mineiro de Belo Horizonte (MG), descendente de escravos e indígenas, Eustáquio Vital Nolasco nasceu em 16 de dezembro de 1946. O pai, Orlando, trabalhava de padeiro e confeiteiro, enquanto a mãe, Diva, era lavadeira. Vital, o segundo dos 11 filhos do casal, precisou ajudar a família desde cedo, ainda mais depois que o pai foi trabalhar em Brasília e a renda da família diminuiu. Um trecho da autobiografia Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar, de 2016, retrata as agruras desse período:


“Além de lavar roupa para fora, minha mãe pegava em um matadouro próximo o que se chamava de ‘barrigada’ – descartes dos porcos, como tripas, coração, fígado e pulmão – para fazer chouriço, que eu vendia em um campo de futebol de várzea no bairro, sobretudo nos finais de semana. Certa vez, a bola atingiu a bandeja, e os chouriços se espalharam pela terra.

Vendo a produção perdida, não contive as lágrimas. Penalizado com minha situação, o dono do time Santa Bárbara Futebol Clube – orgulho do bairro –, conhecido como Rato, juntou a rapaziada e fez uma vaquinha para cobrir o prejuízo (…).

Cresci como arrimo de família. Trabalhava também raspando pisos de tacos, preparando-os para serem envernizados. Outro serviço era pegar estercos no pasto, pôr para curtir, embalar em sacos e vender na vizinhança.”
Assembleia dos metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem, em 1968: Vital participa ativamente do movimento

Em busca de “uns trocados”, o pequeno Eustáquio tinha de conciliar trabalho e estudo. Ainda criança, andava dez quilômetros por dia, até uma vila distante, para comprar leite e revendê-lo aos vizinhos. Com 12 anos, trocou o leite por verduras e legumes, os quais ele trazia do Mercado Municipal de Belo Horizonte. A esta altura, comercializava os produtos de dia e estudava à noite.


Seu primeiro contato com o trabalho operário ocorreu em 1959, quando Vital tinha 13 anos e virou ajudante na serralheria de um tio. Como era comum entre os jovens trabalhadores da época, pulava de emprego em emprego. Aos 16 anos, por exemplo, fazia curso técnico em Contabilidade e era office-boy na Ciba do Brasil, uma indústria do ramo químico ligada à multinacional Ciba-Geigy (hoje Novartis). Nunca seguiu, porém, a carreira de contabilista.

Sendo integrante de família católica, descobriu a luta social pelas mãos da Igreja – na adolescência, Vital chegou a ser coroinha na Capela de São Jorge. Pouco antes do golpe de 1964, o padre José Miranda o apresentou à JOC (Juventude Operária Católica). Foi em meio a essa iniciação na militância – e a empregos em fábricas – que Vital tomou contato com o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem.

“Em 1967, eu trabalhava como representante em uma empresa de máquina de calcular e ganhava salário mínimo. Lá eu conheci uma pessoa que me apresentou na empresa Sottex (Sociedade Técnica Têxtil Ltda.), que reformava máquinas de costura”, contou Vital, em 2018, numa entrevista para o Centro de Memória Sindical. “Aí, sim, fui ser metalúrgico. Entrei em contato com o sindicato entre o fim de 1967 e início de 1968.”


Vital era funcionário da Belgo Mineira e dirigente sindical quando explodiu, em abril de 1968, a greve dos metalúrgicos de Contagem – a primeira e histórica paralisação em pleno regime militar (1964-1985). A categoria – que reivindicava 25% de reajuste salarial – conquistou uma antecipação de 10%. “Foi um sentimento de vitória, apesar de não termos conseguido os 25% de aumento, nem termos derrubado a ditadura, porque aquilo era um sonho. Só pelo fato de a greve ter se expandido e ter confrontado a ditadura foi um movimento e tanto”, avaliou Vital.


Em outubro, veio a segunda greve, mais organizada, com adesão maior. Porém, a repressão também cresceu. O sindicato e seus dirigentes passaram a ser alvos da ditadura. Não houve conquistas – ao contrário, centenas de metalúrgicos foram demitidos, e dezenas de lideranças, presas. O AI-5 (Ato Institucional Número Cinco) – um “golpe dentro do golpe” que endureceu ainda mais o regime autoritário – foi decretado em 13 de dezembro de 1968. A perseguição a políticos, sindicalistas, líderes comunitários e estudantes se intensificou.

“No final de 1968, ou início de 1969, participei de um congresso da JOC em Recife e fui eleito para sua comissão nacional”, declarou Vital em depoimento ao livro Repressão e Direito à Resistência – Os Comunistas na Luta contra a Ditadura (1964-1985). “Eu já era da comissão estadual em Minas. Eles me queriam liberado para atuar na organização, mas não quis porque estava trabalhando, era operário e já participava da luta sindical.”


Na mira do regime em Minas Gerais, Vital se transferiu para São Paulo, onde passou a viver na clandestinidade. Não só a JOC o ajudava – mas também a AP (Ação Popular), outra organização de origem católica, com forte presença no movimento estudantil universitário. “O pessoal da AP me botou em contato com o Aldo Arantes, que me arrumou uma cópia do certificado de reservista”, relatou Vital. “Consegui tirar a carteira profissional e fui trabalhar na metalúrgica Wapsa, depois na Walita, fiz o curso de eletricidade no Senai do Tatuapé e aprendi a profissão de eletricista. Fui, então, trabalhar de eletricista na Philco.”Em 1972, Aldo Arantes, da AP, ajudou Vital a se instalar em São Paulo. Passados 44 anos, em 2016, ele participou do lançamento do autobiografia de Vital

Esse período coincide com seus primeiros estudos do marxismo-leninismo e culmina com a entrada no PCdoB, já em 1972, em meio ao processo de incorporação da AP ao Partido, finalizado em 1973. É a época, ainda, da Guerrilha do Araguaia (1967-1974), que, sob a liderança do PCdoB, constitui a mais longa e épica das ações da luta armada contra a ditadura. O cerco aos comunistas avança em todo o País.

Em março de 1974, Vital foi preso quando estava na Delegacia do Ministério do Trabalho, em São Paulo, para fazer a homologação de sua demissão da Philco. Uma demissão para o qual ele próprio vinha pressionando a empresa, já ciente de que os órgãos da repressão estavam à sua procura. Levado ao temido DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), ficou preso por 40 dias e foi barbaramente torturado. “Foram uns 20 dias de tortura. Torturas de todo tipo que se possa imaginar: pau-de-arara, cadeira do dragão, palmatória, choques elétricos, etc.” No Dops (Departamento de Ordem Política e Social), foram mais 20 dias de prisão política.

Mesmo solto e, posteriormente, absolvido pela Justiça Militar, Vital continuou sob a vigilância do regime e teve de se afastar temporariamente das atividades partidárias e sindicais. Envolveu-se com o Movimento contra o Custo de Vida, nascido nas periferias de São Paulo e depois rebatizado de Movimento contra a Carestia. Sua mulher, Esther, era uma das referências dessa campanha na zona sul paulistana. O contato com as lutas populares foi um contraponto à atuação mais cautelosa em outros movimentos. Em depoimento feito em 1989 a Carmen Lúcia Evangelho, Vital detalhou essa adaptação:



“Saí da prisão, fiquei respondendo processo, na Justiça Militar. Atuei no Sindicato dos Químicos, cheguei a falar nas assembleias, mas uma atuação muito tímida. Minha tentativa era legalizar a minha situação, porque estava em São Paulo na semiclandestinidade, quando cheguei de Belo Horizonte. Depois da minha prisão, levantaram toda a minha história. Fiquei na Squibb durante dois anos, até que terminasse o processo na Justiça Militar. Fui absolvido e voltei para a categoria metalúrgica. Nesse período, nunca deixei de acompanhar a movimentação dos metalúrgicos. Fui trabalhar na Rheen, na Chácara Santo Antônio, mas não participei muito, porque houve o massacre da Lapa (em 1976), que mataram companheiros nossos do partido. Ficou uma certa desarticulação na capital. Fiquei atuando, acompanhei as eleições de 1978. Depois fui trabalhar numa fábrica em Itapecerica da Serra, ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, como não era conhecido na base, para ver se era capaz de participar. Fiquei até 1980.”
Panfleto de divulgação de um ato do Movimento contra a Carestia

No final de 1977, houve uma força-tarefa para reorganizar as bases do PCdoB em São Paulo. A Vital, coube a missão de organizar o chamado “comitê distrital” do Partido na região fabril de Santo Amaro – o líder operário seria seu primeiro presidente. A força dos comunistas na Zona Sul se confirmou em 1978, nas eleições estudais: o operário ferramenteiro Aurélio Peres, trabalhador da Caloi e militante do PCdoB, elegeu-se deputado federal com expressivas votações na Zona Leste e na região da Freguesia do Ó/Brasilândia, mas tendo a Zona Sul como principal reduto de votos.

Em 1979, a Lei da Anistia reduziu a perseguição política, liberou todos os presos por “crimes de opinião” e permitiu a volta dos exilados. No ano seguinte, o regime permitiu o pluripartidarismo, mas vetou a legalização dos partidos comunistas. Ainda assim, o PCdoB passou a viver uma espécie de semiclandestinidade. Em São Paulo, além de contar com um deputado federal, o Partido filiaria o vereador paulistano Benedito Cintra. Devido à arbitrária condição de ilegalidade dos comunistas, eles exerciam os mandatos, formalmente, pelo MDB (depois PMDB).

Vital liderou a criação e foi o primeiro presidente, em 1980, do Centro de Cultura Operária (CCO). Pouco depois, começou a trabalhar na Metal Leve. “Havia uma orientação do PCdoB para os militantes do movimento sindical entrarem em grandes empresas”, contou Vital na autobiografia. “Voltei a frequentar o sindicato, a falar em assembleias, ter ativismo sindical intenso.”

Primeira reunião do CCO, em 1980, sob a presidência de Vital

Em 1981, na eleição ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Vital participou da campanha da Chapa 3, de oposição, encabeçada por Aurélio Peres. A entidade representava a maior base de trabalhadores da América Latina, com mais de 300 mil operários só na capital paulista. Só que, enquanto o sindicalismo se renovava Brasil afora e refletia o declínio da ditadura, os metalúrgicos de São Paulo estavam desde 1965 sob o comando de Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão.

Os críticos o acusavam de “peleguismo”: Joaquinzão evitava as portas de fábricas, o trabalho junto à categoria – mas mantinha relações estreitas com empresários e governos. Naquela eleição, ele lideraria a Chapa 1, de situação. A oposição, no auge, dividiu-se em duas chapas – a 2, vinculada ao PT, e a 3, organizada pelo PCdoB. A fragmentação favoreceu o grupo de Joaquinzão, que se reelegeu.


Na eleição seguinte, três anos depois, um acordo garantiu a participação de lideranças comunistas na diretoria do sindicato. “Eu achava que o Joaquinzão estava desgastado e havia a chance de renovação do sindicato por dentro”, afirmou Vital. Além disso, o sindicato aderiu à campanha das “Diretas Já”, pelo fim da ditadura militar e a redemocratização. A eleição foi apertada, mas deu Chapa 1 – e Vital foi dirigente da entidade de julho de 1984 a junho de 1987. Seu cargo: 2º secretário.
Vital Nolasco e Aurélio Peres, ao centro, durante uma das eleições à direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

“Joaquinzão era pelego, mas, na época em que fui da diretoria do sindicato, não éramos impedidos de fazer trabalho nas fábricas e organizar os trabalhadores. Hoje, acredito que criamos uma imagem exagerada dele”, ponderou Vital anos depois. Com mais trabalho de base, o número de metalúrgicos sindicalizados passou de 44 mil para 110 mil. Só na Metal Leve, sob a liderança de Vital, a quantidade de sócios do sindicato dobrou – de 750 para 1.500.

Um dos marcos dessa gestão foi a greve geral de 1985, que, diante da hiperinflação, exigia reajustes trimestrais. “Com apenas dois dias de paralisação, a greve unificada obteve uma significativa vitória. Paramos quase 500 mil assalariados metalúrgicos, químicos, marceneiros, comerciários e outros”, lembrou Vital em sua autobiografia. “Conseguimos bons acordos. No final, na noite de 6 de abril de 1985, os operários fizeram a festa.” No mesmo ano, Vital foi um dos fundadores e o primeiro presidente do CES (Centro de Estudos Sindicais).


As correntes que compunham o Sindicato dos Metalúrgicos voltaram a se dividir em três chapas nas eleições de 1987. A Chapa 1 era liderada por Luiz Antônio de Medeiros, sucessor de Joaquinzão na presidência da entidade e expoente do “sindicalismo de resultados”. A chapa 2, apoiada pelo PCdoB, tinha à frente Lúcio Bellentani, nome conhecido na categoria por ter sido preso e torturado em plena fábrica da Volks de São Bernardo do Campo, em 1972. A Chapa 3, cutista, desta vez corria por fora. A divisão, uma vez mais, beneficiou a situação, que manteve a direção do sindicato, apesar de a Chapa 2 ter tido 25 mil votos no segundo turno.
Lideranças da Chapa 2, que concorria à direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1987, posam para foto de campanha

Mas a inconteste projeção de Vital levou o PCdoB a indicá-lo como candidato a vereador na eleição municipal de 1988. Era o primeiro pleito à Câmara Municipal de São Paulo desde que o Partido Comunista do Brasil havia reconquistado, em 1985, a legalidade. Vital, mesmo fora da direção do Sindicato, continuava influente nas bases – ele fora eleito vice-presidente da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da Metal Leve, no primeiro semestre de 1988, com 1.707 votos.

Já na disputa municipal, a última a prever um só turno, a ser disputado em 15 de novembro daquele ano, o PCdoB se coligou com PT e PCB, apoiando a candidatura da deputada estadual petista Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo. Vital não vislumbrava a própria vitória, já que a prioridade da direção do PCdoB, na eleição à Câmara Municipal, era garantir uma vaga para o jovem Aldo Rebelo, ex-presidente da UNE (1980-1981), além de fundador e primeiro coordenador da UJS (1984-1985).


Porém, com o fenômeno Erundina, eleita prefeita surpreendentemente, a coligação conquistou 18 das 53 cadeiras de vereadores em São Paulo. Com o lema “Vital, um metalúrgico de luta”, o líder operário do PCdoB terminou a votação na segunda suplência. Como dois parlamentares eleitos – Tereza Lajolo e Juarez Soares ­­– viraram secretários municipais, ele assumiu como vereador desde o início da legislatura. Em 1992, foi reeleito, mas o mandato passaria a integrar a oposição, devido à vitória do “filhote da ditadura” Paulo Maluf à prefeitura. A seu lado, passando a compor a bancada do PCdoB, estava a assistente social e líder comunitária Anna Martins, uma amiga e camarada de mais de 20 anos.

Conforme lembra Wander Geraldo, é “graças, sobretudo, ao voto de operários e de outras categorias” que Vital exerce o cargo de vereador por dois mandatos (1989-1996). “Foi de sua autoria a lei que criou o ‘passe livre’ para trabalhadores desempregados. O mandato também realizou uma memorável homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela, que veio especialmente a São Paulo e participou da sessão solene”, registra Wander. Na ocasião, por iniciativa de Vital, Mandela recebeu o título de “cidadão paulistano”.
Vital entrega a Nelson Mandela, em 1991, o título de “cidadão paulistano”

O vereador do PCdoB também esteve em momentos importantes do Legislativo paulistano, como a construção da Lei Orgânica Municipal, em 1990, no rastro da aprovação da “Constituição Cidadã” de 1988. Presidiu a CEI da Merenda, uma Comissão Especial de Inquérito que investigou desvios de recursos públicos destinados à merenda escolar. Compôs a CPI das Ossadas de Perus, que denunciou a existência de 1.049 restos mortais de desaparecidos políticos da ditadura no Cemitério Municipal Dom Bosco.


A despeito da atuação parlamentar combativa, Vital não conseguiu o terceiro mandato em 1996, embora tivesse sua maior votação em três eleições à Câmara: 13.553 votos. Assumiu o cargo posteriormente, em algumas ocasiões, com a licença de vereadores eleitos. De todo modo, aos 50 anos, passou a assumir tarefas partidárias de maior relevo. Já era membro do Comitê Central (CC) do Partido desde 1992. Em 1997, assumiu a presidência do PCdoB São Paulo, na qual permaneceu por apenas três meses, porque seria indicado a uma tarefa nacional: comandar a Secretaria de Movimentos Populares e Sociais do CC. Ele ainda concorreu a deputado federal em 1998 – sua última eleição a cargos parlamentares.

Em 2001, Vital participou da comissão de busca dos desaparecidos do Araguaia. O 10º Congresso do PCdoB, no mesmo ano, foi marcado pela transição na presidência – de João Amazonas para Renato Rabelo. A nova direção comunista, liderada por Renato, confiou a Vital o cargo de secretário nacional de Finanças em 2003. Foram dez anos à frente da tesouraria partidária – e uma conquista em especial: a aquisição, em 2008, de uma sede própria para o PCdoB, na região da República, em São Paulo.

Um ano após Vital deixar o secretariado nacional, o Partido lhe fez um merecido tributo, em cerimônia realizada justamente na sede que ele ajudara a viabilizar. A data era 3 de maio de 2014. “Recebi a homenagem mais emocionante da minha, prestada pelo PCdoB, por meus 50 anos de militância política ininterruptos”, disse Vital em sua autobiografia. “Recebi de presente um quadro com a foto da sede nacional do Partido.”

Vital recebe quadro com imagem da sede própria do PCdoB,. adquirida sob sua gestão na Secretaria de Finanças do Partido

De 2015 a 2021, o líder operário respondeu pela Secretaria de Movimento Sindical do PCdoB São Paulo. Desde 2008, era, ainda, membro do Conselho Curador da Fundação Maurício Grabois. De acordo com Vital, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) que ele viria a sofrer na década passada lhe impôs uma certa “perda de energia”. Mas a vontade era de não interromper a militância. Suas memórias foram publicadas em 2016, no livro Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar, que teve como subtítulo Minha Vida na Ação Popular (AP) e no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O texto, narrado em 1ª pessoa, foi organizado pelo jornalista Osvaldo Bertolino e publicado em parceria pela Fundação Maurício Grabois e pela Editoria Anita Garibaldi.

Sobre a reta final da vida, Vital pontuou: “Enquanto eu tiver condições, quero continuar contribuindo com o Partido e ajudá-lo para que a gente possa ter um país livre das injustiças, da opressão, da exploração, um país democrático e progressista, um país socialista”. Mas a crise imposta pela pandemia de Covid-19 obrigou Vital a desacelerar. Em 2021, mais recluso, cumpriu o último de seus 29 anos como membro da direção nacional do Partido. No PCdoB São Paulo, deixou a Secretaria de Movimentos Sociais, permanecendo na Comissão Política.

As palavras finais de sua autobiografia servem como testamento político de uma trajetória militante singular. “Tudo que sou devo, além da minha formação familiar e da experiência de vida, ao PCdoB, que me ensinou o valor do humanismo e da solidariedade. Não tenho nenhum arrependimento”, comentou Vital. “Se pudesse voltar atrás, faria tudo de novo; claro que corrigindo alguns detalhes. Diria que valeu e vale a pena lutar.”

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A guerra híbrida, o Brasil da anomia e a perspectiva socialista. Paulo Vinícius da Silva

João Grilo: Como foi isso?!
Chico: Sei não. Só sei que foi assim. 

(Filme Auto da Compadecida, baseado na obra de ariano Suassuna).


O fundador da Sociologia, Émile Durkheim, cunhou o conceito de fato social, realidade que se impõe com a força da sociedade, mesmo que desejemos que não exista. Fato social parece-me essa derrota diária diante da pandemia associada a um sentimento de "normalidade", um "tem de ser assim" que se soma à degradação generalizada da vida e do ser brasileiro. Parece-me que iniciou em junho de 2013, passou pela Copa do Mundo e pelo 7X1 que se cravou na alma brasileira, tão odioso quanto a vergonha dos xingamentos à Presidenta Dilma, diante de todo o mundo, e nunca mais parou. O fato social de que o Brasil fracassou, não só no enfrentamento da COVID, é o nosso café com pão, desde então. Essa perda, esse luto, essa vergonha cravada no peito como a divisão do nosso país. Apesar de tudo, há pouca consciência da tragédia, o normal virou "isso". E o genocida segue a destruir o país, "normalmente".

Normal como o negacionismo, no poder, buscar se revestir da chancela da liberdade individual e aplicar a partir do Estado e da Economia a imposição da contaminação universal. Margareth Thatcher cunhou a frase "Não existe essa coisa de sociedade, o que há e sempre haverá são indivíduos"(1), mas a sociedade existe, sim. Ignorar suas regras é cobrado caro. Confrontadas com grandes desafios, as sociedades podem superá-los ou definhar. Ao contrário do que muitos pensam, elas mudam, e inclusive morrem. Suas características, virtudes e deformações, acabam por definir como reagirão às crises.

Outro conceito, anomia, trata do sentido patológico observado nas sociedades a partir do capitalismo, quando a divisão social do trabalho, além de uma crescente diferenciação social, assume sentido mórbido e destrutivo. O aumento da produtividade, as mudanças incessantes no campo e na cidade, a natureza, os conflitos e as classes que surgem, tudo isso exigiu o desenvolvimento das Ciências Sociais, sob o capitalismo, para explicar como o comércio mundial, a civilização, a industrialização e o "progresso", em vez de melhorarem a vida, geram efeitos nefastos, inclusive no centro do sistema capitalista.

Durkheim elucida contextos anômicos, mórbidos, patológicos que afetam a sociedade a partir de suas características próprias, cujo funcionamento gera ainda mais problemas, em vez de os sanar, num ciclo destrutivo. Assim, em vez de um contexto de "normalidade", explicita-se a anomia da situação brasileira, vítima de múltiplas crises, a palpável decadência, a impotência diária diante do 7x1 na pandemia, na economia, na auto-estima do povo. A divisão social do trabalho, aqui, em vez de ampliar a solidariedade, assume características anômicas, raiz da própria decomposição social.(2)

A internet e a mídia hegemônicas predominam como consciência social, e são subordinadas e mantidas pelo capital financeiro e o rentismo parasitário. Por isso, não podem vencer a batalha das mentiras e da confusão. O papel central, depois de ter animado o caminho que nos trouxe aqui, é sobretudo a defesa do neoliberalismo. Não está só. As estruturas que poderiam assegurar o ambiente econômico para a segurança sanitária - como os instrumentos financeiros do Estado, o SUS, a ampla base científica brasileira - são apropriados ou sabotados por uma minoria que empurra a massa para o vírus. A "liberdade individual" de quem tem poder nega a defesa coletiva da vida. A economia retira as condições de preservar o isolamento, sequer é capaz de produzir os insumos para a saúde, preferindo concentrar a riqueza, tendo já desprotegido os trabalhadores às vésperas do desastre, com a Deforma Trabalhista precarizadora.

Nossa estrutura de classes tirou da maioria a condição de se defender. Concretamente, pouco vale a vida dos submetidos à condição de cidadãos de segunda classe no Brasil. A ganância ilimitada, a insensibilidade e o negacionismo nas nossas elites as descolam de qualquer liderança progressista. E, tratando-se de um desafio da sociedade, cada uma dessas ações egoístas, longe de mão invisível e virtuosa, acaba por condenar a todos e todas, pois não há escapatória individual à destruição da Nação Brasileira.

Outro fundador da Sociologia, de outras Ciências e do Socialismo Científico, Karl Marx, teve sensibilidade para observar como a miséria é fruto da abundância. Para ele, "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo". Posicionou desse modo trabalhadores e sua intelectualidade, abrindo caminhos à consciência e à ação política da maioria, permitindo-nos assumir lugar ativo na mudança perpétua da sociedade e das classes, a partir da consciência e da ação. Não estamos aqui para padecer sem saber porquê, mas para tornar a vida melhor, à luz da Ciência, da Política e da luta. Assim como todas as realizações da Ciência e Tecnologia, primeiro são apropriadas pela acumulação capitalista em proveito de poucos, é um imperativo moral e de sobrevivência lutar e fazer Ciência em favor da Humanidade.

A manutenção do capitalismo tem custado demais à humanidade e à natureza de que somos parte, embora ignoremos esse dado tão básico quanto o fato de ser a sociedade a segunda natureza que nos permite viver (ou morrer) neste Planeta. A mundialização do capitalismo, aberta com a chegada das caravelas ao Novo Mundo, foi inexorável e devastadora. A vantagem tecnológica do europeu, em grande medida apropriada de outros povos, a violência e doenças que trouxeram, foram decisivas na destruição de civilizações que não tinham como enfrentar essa invasão alienígena, e foram taxadas como inferiores e varridas da face da terra. Mesmo com mais pessoas, no domínio do território, com governos, não reuniram forças para enfrentar o desafio de vida ou morte.

A integração ao mercado mundial veio da Conquista, tornando impossível a civilizações e grupos isolados escaparem do rolo compressor social e mundial, com centro europeu e colônias submetidas, cujas decisões favorecem poderes externos e interesses estranhos - em especial o lucro. Os desafios civilizacionais se dão sob essa lógica, e a decisão de persistir ou perecer tem a escala da Nação, a sociedade nacional, no mínimo. Daí, unir o próprio povo é questão de vida ou morte. Contudo, reconhecendo que a divisão de classes é a regra e há responsabilidades objetivas no nosso padecer, não se trata apenas de unir, mas de separar, de derrotar os responsáveis pela tragédia que se tomou o país.

A tragédia é plano, método, e tem patrões lá fora. Bem observa o sul-coreano Ha Joon Chang, "os países desenvolvidos não estão tra­ tando de “chutar a escada" quando insistem para que os países em desenvolvimento adotem políticas e instituições diferentes das que eles adotaram para se desenvolver?" (3) . Precisamente, enquanto a pandemia mundo afora é enfrentada com a negação do neoliberalismo e o protagonismo do Estado e da Ciência, aqui persiste o ultraliberalismo fanático e sabujo, sob interesses inconfessáveis como o das autoridades econômicas e suas contas em dólar lá fora. Assim, aplicam-se aqui lições políticas e econômicas que jamais foram aplicadas lá fora, nas sedes metropolitanas. Somente contextos muito específicos fizeram com que esse estreito grupo de nações desenvolvidas se ampliasse, e sempre ao se rebelarem contra receitas como o Consenso de Washington.

A divisão do trabalho social se impôs com o sistema capitalista à luz de discurso, interesses, irresistíveis motores econômicos, bélicos, políticos e culturais, a despeito de nociva às sociedades, exceto quando foram capazes de afirmar projetos nacionais que reúnam forças necessárias para resistir e encontrar um caminho próprio. Isso define, por exemplo, o lugar do Brasil no mundo, de produtor matérias primas, destruir a natureza, tratar gente como carvão a ser queimado em prol de uma minoria, aqui e lá fora, consumir produtos industrializados produzidos fora, enquanto nossos engenheiros brilham como motoristas de aplicativos. Esse é o mesmo lugar da anomia, do racismo estrutural, da opressão da mulher, da homofobia e do genocídio, que se consubstanciam no lugar da classe trabalhadora na prirâmide de classes brasileira. São questões civilizacionais estreitamente ligadas ao nosso desenvolvimento nacional.

Diz-nos Tom Zé: "produzir matéria prima - essa tisana - isto é o grau mais baixo da capacidade humana".(4) O país fica indefeso face aos desafios. À medida que as revoluções tecnológicas se sucedem, a apropriação de seus frutos pela burguesia agrava as contradições decorrentes da diferenciação social. A colonização secular não é apenas econômica, mas espiritual, moral e cultural, e nos fez presa fácil da Guerra Híbrida que pariu o regime de ocupação sob o qual vivemos, sob Bolsonaro e sua escumalha, entronizada para reverter os saltos civilizacionais que nossa pátria verificou, quais sejam, a tardia Abolição da Escravatura, em 1888, e a industrialização dos governos Vargas entre 1930 e 1954, que abriram caminhos à superação dos nossos mais graves problemas, a incapacidade de afirmação da Nação Brasileira com todos o seu povo e a autonomia econômica e tecnológica sem a qual nada poderemos.

Urge omper com a submissão de nossa sociedade a interesses externos, deformada porque construída sob o colonialismo, a escravidão e o genocídio indígena, o racismo, o capitalismo e a opressão da mulher. Tais são as bases para nossas elites parasitárias, incapazes de cumprir a promessa da Nação, que é a cidadania, que todos possam ser tratados como seres humanos, em vez do sistema de castas, em proveito das minorias que lideram um capitalismo de alma escravocrata. Deixar de enfrentar a questão Nacional (entendendo a Nação como povo) permite que a anomia vire regra, esse contexto de tristezas, vergonhas e injustiças que ferem o Brasil e inviabilizam o futuro. Estamos sendo mortos no maior genocídio desde a chegada das contaminadas caravelas europeias. As civilizações indígenas foram naquela ocasião dizimadas por doenças trazidas pelos europeus a esse mesmo lugar que hoje chamamos Brasil.

Se naquela época, elas não dispunham de modos de se defender, hoje os temos, mas vemos posto em último plano a necessidade histórica de auto-proteção coletiva e solidária de brasileiros e brasileiras face à Covid. É um genocídio porque a doença é controlável, já há vacina e sabemos os cuidados com que é possível se proteger. Contudo, a lógica ultraliberal, o regime de rapina e saque, a incompetência e o cálculo político mais desapiedado são patronos da mortandade absurda, que só é aceita na lógica capitalista.

O domínio colonial destroçou a sociedade indiana, as civilizações originárias americanas, as nações d'África, e sequer o Império Chinês foi capaz de escapar desses desígnios. Após milhares de anos no centro do mundo, foi enfim submetido, quando iniciou o dito Século de Humilhação (1839-1949), sendo barbaramente saqueado, ocupado, ofendido e dividido, com a retirada de Macau, Hong Kong e Taiwan. Só a Revolução Chinesa liderada pelo Partido Comunista da China de Mao Zedong, pôde interromper esse declínio sem precedentes. Também a soberania de Cuba, da Coréia Popular, do Vietnã e da Venezuela só pôde ser assegurada pelo socialismo, cujo fim levou à divisão da URSS.

Tais processos nacionais estavam iluminados pelas previsões marxistas de que o capitalismo apenas concentra riqueza. Marx previu a separação inconciliável da burguesia versus proletariado, desvendando a irracionalidade de um sistema que põe o lucro acima de tudo e, por definição, não pode atender aos interesses da Humanidade, mas apenas da ínfima minoria, hoje, menos de 1% da população, donos da maioria das riquezas da Terra. Levaram em conta que Lenin provou a tendência à financeirização, à oligopolização e ao imperialismo. O capitalismo não é o sistema da livre concorrência, mas dos oligopólios; não é o sistema da propriedade individual, mas a desapropriação universal das formas de propriedades da maioria, que passa à condição de assalariada e endividada. Não é o sistema das melhores decisões, baseadas no interesse egoísta e na mão invisível do mercado, mas a ditadura de uma minoria cada vez menor contra a maioria absoluta, proletária, da humanidade. Assim, posicionaram-se essas sociedades para enfrentar tantas forças dissolventes, em busca de seu próprio caminho

Da ilusão neoliberal da individualidade só resta a depressão do isolamento, do abandono e da falta de solidariedade social, reduzindo o 'indivíduo' a menos que coisas, pelo interesse de acumulação do capital. O avanço da humanidade, visto no big data, nos algoritmos e na internet, serve aqui à espionagem, ao ódio, promovem o agravamento dos problemas, e não a sua solução.

Desse modo, a individualização passa a ser um conto, e cai a máscara democrática do liberalismo e do neoliberalismo: não são todos iguais. Humanidade é censitariedade, humano é quem possua capital. Quando falam de mercado, sociedade civil, democracia, falam da burguesia, a cúpula da financeirização, do rentismo parasitário, essência do capitalismo. A hiperfinanceirização e o rentismo, os oligopólios, a riqueza gerada, os avanços tecnológicos, tudo é para o lucro, e não para a salvação da humanidade.

O credo neoliberal de Thatcher, Pinochet e Reagan é incapaz de nos guiar para a saída desse inferno social, a anomia generalizada em que o Brasil se meteu desde o Golpe que depôs a Presidenta Dilma, em 2016. O capitalismo está - como sempre - envolvido em dar lucro à minoria, e não em resolver os problemas. A natureza do sistema é a crise, por mais que aniquile as pessoas, os países, as civilizações. Nesse sentido, é extremamente realista a visão do filme Não olhe para cima, a loucura capitalista de lucrar com o extermínio iminente, assim como a escapatória de Adões e Evas inférteis e inúteis para o futuro, como são, para o presente, as classes dominantes.

Observamos como, apesar da pandemia, impõe-se a necessidade do trabalho para o lucro, acima da vida, sob a lógica do capitalismo colonial associado à escravidão, em que a vida do escravo era um detalhe diante da ganância da casa grande. O negacionismo que empurra trabalhadores à contaminação reafirma as estruturas mais arcaicas e odiosas de nossa formação social. A Deforma Trabalhista de Temer e Rodrigo Maia precarizou milhões de trabalhadores, fez do Brasil o paraíso dos aplicativos e dos especuladores e o negacionismo veio completar essa "obra". O empobrecimento, a perda de laços de solidariedade social, o abandono da classe trabalhadora são as condições da lógica Bolsonarista do "E daí?!", e do genocídio. A anomia social faz normal considerar descartável a vida dos trabalhadores diante da Covid. Mas o que começou pela Deforma Trabalhista, hoje se espraia para setores mais "protegidos" da classe trabalhadora, como bancários, servidores públicos e de estatais.

Essa lógica funesta separa o mundo capitalista das sociedades que se mantiveram socialistas e fizeram trincheira da defesa do valor da vida humana e da saúde face ao lucro. Nem em toda parte se vive a degeneração que acomete o Brasil. Vale observar a mortalidade pela COVID em 2021 e 2021 pelo mundo, com alguns dados que selecionei:













Gráfico e tabela elaboração própria com dados de 2020 e 2021 com dados da Fontes: Wikipédia,Universidade Johns Hopkins, Our World In Data no Google https://news.google.com/covid19/map?hl=pt-BR&mid=%2Fm%2F015fr&gl=BR&ceid=BR%3Apt-419

Se os países capitalistas não salvaram as vidas de seus cidadãos, isso só se pode explicar por terem lucros com a própria crise. O neoliberalismo que fracassou para a maioria e que deixará tanta morte e destruição, foi o mesmo que enriqueceu poucos que mandam. Os mesmos que controlam as manivelas cibernéticas da guerra híbrida, dos padrões de consumo que ocupam corações e mentes, tornando-os impotentes a resistir à destruição do Brasil. Lutamos ainda com as mesmas armas do passado, não percebemos que o jogo mudou completamente? É preciso maior profundidade tática e estratégica para salvar o Brasil. Se é uma sorte imensa termos conosco o Presidente Lula, não podemos nos iludir com um exército de um homem só. É preciso um salto na organização e na luta do povo, para superar o pior momento de nossa história desde o malfadado Descobrimento. É como sociedade que precisamos resistir, como Nação. Do contrário, pelas milícias (como fizeram na Colômbia) e pela autodestruição de aves de rapina e sabotadores (como no Haiti), eles perpetuarão a crise e a anomia, inviabilizando o país.

Não olhe para cima, olhe para o Brasil. Olhe quem perdemos que poderiam ter sido salvos, se vacinados a tempo. Olhe para as crianças que tiveram a vacina atrasada por uma atitude criminosa do governo negacionista. Olhe para as mentiras, para o big data e a escravização mental promovida pelas bolhas das novas tecnologias e a defesa de um padrão de consumo inviável e que submete nossa cultura, nossa alma e, claro, nossa vida. Olhe para a incompetência, o arrivismo, a má fé, a ignorância, a mofa com que eles falam enquanto o Brasil virou um mar de tristezas, de más notícias, de vergonhas, de maus exemplos. Sabotadores da saúde pública e da economia, sabotadores das funções nobres que assumiram e das empresas públicas, sabotadores das estatísticas e armados até os dentes... Por que estranhamos estar dando tudo errado?! É essa combinação que matou, mata e matará, explicitando a consigna Socialismo ou Morte, que vivemos hoje.

Dito de outro modo, há quem ganhe mais com a morte do que com a vida, com a doença em vez da saúde, com a guerra em vez da paz, e eles mandam no capitalismo. Daí a catástrofe estadunidense e sua própria anomia, já que que os motores dessa economia são os complexos da Guerra e da repressão, da guerra às drogas (piada trágica da parte deles), da saúde como mercadoria, das mentiras da mídia e do rentismo parasitário do capital financeiro. Aqui, a riqueza vem de derrubar florestas e matar a biodiversidade, enquanto carne, soja e ferro gusa. Essa base econômica incompatível com o desenvolvimento decompõe os dois grandes saltos civilizacionais da Nação Brasileira, que se desindustrializa, escraviza seu povo outra vez e é incapaz de defender face ao primeiro dos flagelos de um mundo em convulsão, ameaçado pela barbárie capitalista. Enquanto isso, no Socialismo, todos os recursos que aqui semeiam o caos, acabaram salvando vidas.

A unidade popular e a amplitude para desarmar as granadas são tão importantes como a fidelidade ao Brasil e o amor ao povo. É preciso saber unir e separar. E se Lula se posta firme contra a Deforma Trabalhista, ele o faz porque é impossível salvar o Brasil dividindo-o entre senhores e escravos, como foi feito, rasgar a Lei Áurea e a CLT para enfrentarmos o futuro com a COVID.

Sobreviverão a esses flagelos as sociedades capazes de harmonizar os interesses da maioria, sem se submeterem ao capital financeiro, quem pariu o fascismo ontem e hoje. Sem ilusões, é preciso libertar a Nação Brasileira, um projeto de desenvolvimento que sirva aos daqui, não aos de fora. Se a China pôde superar o século de humilhações, também nós podemos unir nossa pátria e construir a simples utopia de viver bem, como seres humanos tentando viver nesse Planeta, sem senhores e escravos, nem mandados de fora, sem traidores à frente. Essa é a vereda para superar nossas mazelas sociais, retomar a capacidade de pactuação e realização de nosso povo. Não está normal. Não tem de ser assim. É possível abrir caminhos à sociedade que assegure a vida, a liberdade e a segurança. O capitalismo é o reino da anomia. Por isso, a busca de harmonia e de futuro é a luta por sua superação, a partir da Nação e da perspectiva socialista.



(1) https://pt.wikiquote.org/wiki/Margaret_Thatcher

(2) DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social.p.367. Martins Fontes. São Paulo. 1999.

(3) CHANG, Ha Joon. Chutando a Escada, p. 229. Editora UNESP. São Paulo. 2004.

(4) Tom Zé. Vaia de bêbado não vale.



sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Bancários lutam pela vida sob crescimento exponencial de contaminados de COVID Ómicron e Gripe

 

Informativo da CTB Bancários DF com a agenda de Luta contra a COVID, a Gripe e o Negacionismo



Check List de condições de saúde no ambiente bancário para colegas, clientes e terceirizados,


Covid: Brasil tem quase 100 mil novos casos conhecidos de covid em 24 h



 







quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

#LutoCTB Severino, Almeida, grande timoneiro, presente, hoje e sempre.

Grande perda para a CTB e o povo brasileiro. Para vcs terem ideia, aqui no DF, a sede da CTB que temos é exatamente aquela cedida pelo Severino e a CONTTMAF, pelos marítimos, a todas as categorias, para a nossa luta. 
 
Severino era um cara incrível, poliglota, que batia duro, opinioso, que dirigia imensos navios de carga pelos portos do mundo, mas veio aportar aqui, na CTB e na luta dos trabalhadores, e só saiu agora, levado pela que pode mais que todos. 
 
Sinto muitíssimo pela perda dessa força do povo, e só posso agradecer por tanto que ele nos deixa, pelo legado de luta e união, pela própria CTB que ele criou.
Severino, grande timoneiro, presente, hoje e sempre. A luta continua! 
Paulo Vinícius da Silva, Blog Coletivizando
 

 


Morre Severino Almeida, maior líder sindical marítimo de nossa época

des1, Notícias

O Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante – Sindmar informa, com imenso pesar, o falecimento de seu ex-presidente Severino Almeida Filho nesta quarta-feira, 12 de janeiro, aos 67 anos.

Líder sindical marítimo mais representativo do seu tempo, Severino presidiu o Sindmar até março de 2020 e a Conttmaf, até janeiro de 2021.

Deixa o legado de uma vida inteira dedicada à defesa incansável dos direitos, das remunerações e das condições de trabalho dos marítimos brasileiros, com destaque para a criação do Sindmar no ano 2000, a partir da unificação dos sindicatos de oficiais de Náutica e de Máquinas, e com a incorporação, quatro anos depois, dos eletricistas da Marinha Mercante.

Em sua memória, o Sindmar reproduz uma fala representativa do espírito coletivo de Severino Almeida Filho:

Temos de navegar juntos, para não perdermos o que com muita luta conquistamos. Um Sindmar forte, eficiente e reconhecido externamente é a única garantia que nos restou diante da sanha patronal de desmantelamento dos direitos e da própria noção e do valor do trabalho e do emprego. O Sindicato é um patrimônio de cada um de nós e de todos os oficiais e eletricistas mercantes. Unidade e luta!

Atendendo à vontade do próprio Severino, não haverá velório. A cremação será amanhã, dia 13 de janeiro, na parte da manhã, restrita aos familiares apenas. Agradecemos a compreensão e o respeito de todos a essa determinação.

Àqueles que quiserem enviar flores, informamos o endereço:

Crematório Memorial do Carmo
R. Monsenhor Manuel Gomes, 287 – Caju – Rio de Janeiro

Juntos somos fortes! Chico Buarque

Uma gata, o que é que tem?
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bichinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente vamos ver o que é que dá
Junte um bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Uma gata, o que é que é?
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá
Esperteza, Paciência
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
E no mundo dizem que são tantos
Saltimbancos como somos nós.

 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Suspensa a liminar que garantia de home office para grupo de risco e coabitantes no DF - Sindicato dos Bancários de Brasília

  Suspensa a liminar que garantia de home office para grupo de risco e coabitantes no DF

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Sindicato dá orientações e seguirá na defesa da vida dos trabalhadores

Decisão judicial proferida nesta quarta-feira (5) suspendeu os efeitos da liminar concedida ao Sindicato com garantia de home office para grupo de risco e coabitantes.

O Ministro Corregedor do TST, Aloysio Silva Corrêa da Veiga, acolheu pedido do banco e suspendeu a liminar do Sindicato, que mantinha os empregados integrantes dos grupos de riscos e coabitantes em teletrabalho. A decisão afasta a obrigação imposta ao banco quanto à abstenção de convocar para o labor presencial os trabalhadores considerados grupo de risco da Covid-19 e os coabitantes, até que ocorra o exame da matéria pelo órgão jurisdicional competente.

O presidente do Sindicato, Kleytton Morais, aponta que “é absurdamente constrangedora e irresponsável a postura intransigente da direção do Banco do Brasil, que desde o dia 24 de novembro empreende uma verdadeira perseguição aos trabalhadores mais fragilizados à exposição da Covid 19”. O dirigente lembra ainda que “o banco ignora por completo as análises e recomendações fundamentadas em pareceres médicos que, atestando os riscos à saúde e vida dos colegas, recomendam a permanência no home office”.

Diante desse fato lamentável, a diretoria do Sindicato, reunida na noite dessa quarta-feira (5), debateu e deliberou sobre um conjunto de iniciativas que ampare e oriente os colegas.

“Intensificaremos a luta e fiscalização dos ambientes de trabalho, já a partir da manhã desta quinta-feira promovendo visitas aos locais de trabalho para levar orientações aos bancários e às bancárias e promover ações que fortaleçam a luta coletiva por proteção à saúde e à vida de todos. Do mesmo modo, chamaremos à responsabilidade aqueles que se omitem e negligenciam a situação a que estão expostos os colegas no BB”, diz o presidente do Sindicato.
Kleytton destaca, inclusive, o silêncio da Cassi, em especial dos eleitos, que deveriam ser os representantes dos interesses dos trabalhadores. “Mesmo admitindo o crescimento exponencial da demanda por atendimento, ocasionado pela ampliação dos casos de Covid e gripe, a Cassi não se manifesta no sentido de orientar ao banco uma revisão dessa postura”, critica o dirigente.

O Sindicato orienta quem está em teletrabalho a aguardar comunicação do BB a respeito de sua situação. É obrigação do banco emitir comunicado claro e objetivo àqueles convocados a retornar ao trabalho presencial.

Os bancários e bancárias de grupo de risco e coabitantes que discordarem da imposição de retorno ao trabalho presencial poderão questionar a decisão do banco, devendo procurar a Secretaria Jurídica do Sindicato para as providências. O escritório de assessoria jurídica já está em prontidão para o encaminhamento das ações.

Acione o Sindicato por seus canais de comunicação:

Jurídico – (61) 9 9603.2833
E-mail: sejur@bancariosdf.com.br

Presidência – (61) 9 9135.6710
E-mail: presidencia@bancariosdf.com.br

Central 1 – (61) 9 9965.6882
Central 2 – (61) 9 9656.3824
E-mail: centraldeatendimento@bancariosdf.com.br

Atendimento 1 – (61) 9 9667.2549
Atendimento 2 – (61) 9 9670.7998
E-mail: atendimento@bancariosdf.com.br

Saúde – (61) 9 9801.1141
E-mail: saude@bancariosdf.com.br

Convênios – (61) 9 9174-9046
E-mail: convenios@bancariosdf.com.br

sábado, 1 de janeiro de 2022

Tributo a João Amazonas (1912-2002) - Um Comunista Brasileiro - aniversário de João Amazonas - Augusto Buonicore

  Tributo a João Amazonas (1912-2002) - Um Comunista Brasileiro

Neste sábado (1º/1) de homenagens a João Amazonas, grande líder comunista brasileiro que faria 110 anos, o Portal PCdoB reproduz o artigo de Augusto César Buonicore, ex-membro do Comitê Central, publicado em 27 de  maio de 2010, no Portal da Fundação Maurício Grabois.

No artigo intitulado  “Tributo a João Amazonas (1912-2002) – Um Comunista Brasileiro”, Buonicore diz  que “há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons; Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda; Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.” Brecht “Minhas cinzas devem ser espalhadas na região do Araguaia, onde houve a guerrilha. É uma forma de juntar-me aos que lá tombaram.” último pedido de João Amazonas.”  Confira a íntegra abaixo:

Por Augusto César Buonicore*

Há oito anos (1), no dia 27 de maio, morreu João Amazonas. Seu último pedido traduziria muito bem a personalidade deste líder revolucionário brasileiro. Não queria monumentos em sua memória. Queria apenas que suas cinzas se juntassem às cinzas dos centenas de combatentes que tombaram na gloriosa guerrilha do Araguaia, da qual ele foi um dos principais idealizadores e dirigente.

Amazonas foi o grande dirigente dos comunistas brasileiros. Foi o seu ideólogo, o seu estrategista maior. Infelizmente Amazonas não viveu tempo suficiente para ver mais uma vitória de sua elaboração tática. Uma tática que propugnava pela necessidade de constituição de uma ampla frente política, tendo como núcleo a esquerda e base as lutas populares, como forma de derrotar o neoliberalismo e abrir caminho para a construção de um novo projeto democrático e nacional, que permitisse acumular forças para avançarmos no sentido da conquista de um socialismo renovado.

Por fim, a história de João Amazonas se confunde com a história de luta do povo brasileiro e de sua vanguarda revolucionário: o Partido Comunista do Brasil.

Uma história de luta

No dia primeiro de janeiro de 1912, em Belém do Pará, nasceu João Amazonas de Souza Pedroso. Filho de família modesta, desde muito cedo se rebelou contra as péssimas condições de vida e de trabalho que vivia submetida a classe operária de sua cidade. Após a revolução de 1930 enviou uma carta indignada ao secretário do trabalho estadual denunciando os abusos existentes na fábrica onde trabalhava e exigindo a imediata redução da jornada de trabalho.

João era também um jovem bastante curioso e se interessava por tudo que ocorria no mundo e no seu país. Um dia caiu-lhe nas mão o livro “Um engenheiro brasileiro na URSS”, seria o primeiro de vários outros sobre a “pátria do socialismo”. Ele começava a pressentir que naquele distante país se estava construindo um novo mundo, sem miséria e exploração. Mas este ainda parecia-lhe um mundo bastante distante, pois não tinha conhecimento da existência de um partido comunista no Brasil. Em breve, seu espírito indomado e sua vontade de mudar o país e o mundo o levaria a encontrá-lo.

Em 1935, quando tinha apenas 23 anos, num domingo, após sair do trabalho, leu no jornal uma pequena nota sobre a realização de um comício da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Sem demora se dirigiu à praça do Largo da Pólvora, onde se realizava o evento. Os discursos inflamados defendendo a soberania nacional, a reforma agrária e a constituição de um poder popular empolgou os ouvintes, inclusive João.

No dia seguinte ele se apresentou na sede local da ANL para se integrar ao movimento. O rapaz foi imediatamente convidado para ingressar na Juventude Comunista na qual passou a militar. Poucos dias depois ingressava no Partido Comunista do Brasil. Era o início de uma relação que duraria mais de 67 anos.

A sua primeira tarefa militante foi organizar uma célula na sua empresa. Tarefa que realiza com sucesso. A partir desse núcleo de comunistas ele partiu para a organização de um sindicato da categoria, outra tarefa bem sucedida. Em seguida foi eleito delegado na União dos Proletários de Belém. Este envolvimento lhe acarretou a sua primeira prisão, que durou apenas 15 dias.

Em novembro de 1935 ocorreu o levante armado, dirigido pela ANL, que foi rapidamente esmagado pelas forças governamentais. Iniciava-se uma fase de violenta perseguição aos comunistas. Apesar da repressão, as atividades dos comunistas não cessaram.

Em 19 de dezembro de 1935 o jornal Folha do Norte anunciava: “Mãos misteriosas içam, pela calada da noite, nos mastros dos reservatórios da Lauro Sodré, uma flâmula comunista com legendas subversivas e ainda dispõem de tempo para deixar inscrições do mesmo gênero nas paredes do reservatório. O fato, notado desde cedo pelo público atrai ao local multidão de curiosos e provoca comentários acalorados (…) A polícia procede a investigação no sentido de apurar responsabilidades”. O reservatório era o ponto mais alto da cidade e nem mesmo o corpo de bombeiros conseguiu retirar a faixa colocada pelas “mãos misteriosas”.

Na faixa vermelha, assinada pela ANL, podia se ler “Abaixo a pena de morte” e nas paredes: “Viva Luís Carlos Prestes – Viva ANL!”. A polícia política ameaçou, prendeu os pobres dos vigias, mas os verdadeiros culpados jamais foram descobertos. Os responsáveis por tal façanha, que agitou Belém, foram dois jovens comunistas: João Amazonas e Pedro Pomar.

No início de 1936 a polícia realizou novas prisões de ex-integrantes da ANL. João e Pedro desta vez não escaparam. Mas, mesmo na cadeia não deram sossego aos seus opressores. Realizaram uma greve de fome contra a má-alimentação servida aos presos e aproveitaram o tempo para ministrar aulas de marxismo-leninismo aos demais companheiros. Depois de mais de um ano de prisão, em junho de 1937, foram julgados e absolvidos por falta de provas. Em novembro ocorreu o golpe de Estado que implantou o ditadura do Estado Novo. Amazonas e Pomar entrariam na clandestinidade.

A Reorganização do Partido Comunista

Em 1940, novamente, uma onda de repressão se abateu sobre os comunistas paraenses. Em 2 de setembro foi preso Pedro Pomar e em 10 de setembro foi a vez de João Amazonas, dois dos principais dirigentes do Partido no Pará. Assim o jornal Folha do Norte anunciou a sua prisão: “Fisgado mais um adepto do credo sinistro”. O artigo afirmava: “No inquérito, a Delegacia de Ordem Política e Social apurou ‘que João Amazonas agia no preparo de matrizes e boletins subversivos da propaganda moscovita, matrizes que eram entregues a Pedro de Araújo Pomar, detido há dias passados. Este se encarregava de mimeografá-los em grande quantidade para espalhar sorrateiramente pelos bairros da cidade. Pouquinhos mas teimosos os adeptos do credo sinistro. A polícia todavia os vai fisgando eficientemente”.

Em junho de 1941 as tropas nazistas iniciaram a ocupação do território soviético e o governo Vargas demonstrava, cada vez mais, simpatias pelos regimes nazifascistas. A situação era muito difícil para as forças progressistas no Brasil. Logo após receberem a notícia da invasão nazista, os comunistas João Amazonas, Pedro Pomar, Agostinho de Oliveira, Felipe Santiago entre outros, realizaram uma ousada fuga da prisão. A fuga se deu na noite chuvosa de 5 de agosto de 1941. Afirmou Amazonas: “Na prisão, recebemos a notícia da invasão da União Soviética pela Alemanha hitlerista. Nossa indignação foi enorme. Reunimos, nesse mesmo dia, e juramos sair da prisão para continuar a luta de vida e morte contra o nazismo”.

Depois de sua fuga Amazonas e Pomar fizeram uma difícil viagem até o Rio de Janeiro. Procurados pela polícia do Estado Novo foram obrigados a fazer uma rota cheia de dificuldades pelo interior do país, passando por Marabá e Anápolis.

Chegando ao Rio, em setembro de 1941, passaram a integrar o esforço de reorganização do Partido, cuja direção havia sido dizimada pela ditadura estadonovista. Entraram em contato com a Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP), dirigida por Maurício Grabois e Amarílio Vasconcelos. Em seguida contataram com Diógenes Arruda, que tentava organizar o Partido em São Paulo.

Nos fins de 1941 Amazonas foi a Minas Gerais onde ficou até 1943. Depois seguiu para o sul do país. Esteve no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Sua grande missão era reorganizar o Partido Comunista nesses Estados, criando as condições para a realização da conferência que iria reorganizar o Partido Comunista do Brasil.

A 2ª Conferência Nacional do PCB, que ficou conhecida como “Conferência da Mantiqueira”, realizou-se em agosto de 1943 na mais completa clandestinidade. Segundo Dinarco Reis, a reunião “foi realizada numa pequena cafua de telha-vã e chão de terra, com sala, quarto e cozinha, local bastante exíguo para tantas pessoas (…) Dormíamos no chão de terra forrado por sacos e jornais. A noite o frio castigava duramente, pois era inverno nessa região bastante alta”. Mas o esforço daqueles bravos comunistas valeria a pena.

Nesta Conferência João Amazonas foi eleito membro do Comitê Central e passou a compor a comissão executiva e o secretariado, ficando responsável pelo trabalho sindical e de massas. Nesta condição foi um dos organizadores do Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), em 1945. Em dezembro do mesmo ano se elegeu deputado federal constituinte com 18.379 votos, uma das maiores votações do Distrito Federal.

Na assembleia nacional constituinte destacou-se na defesa dos direitos sociais dos trabalhadores e da liberdade sindical. Por sua ação decidida em defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos sociais dos trabalhadores, os deputados eleitos pela legenda do PCB foram cassados em janeiro de 1948. Após a cassação dos mandatos comunistas João Amazonas e os demais membros da comissão executiva do Partido caem na clandestinidade.

João Amazonas, ao lado de Arruda e Grabois, assumiram as principais responsabilidades da direção cotidiana do Partido nos difíceis anos do governo Dutra, no qual dezenas de comunistas foram assassinados. Prestes vivia isolado e não cuidava efetivamente do trabalho de direção e de organização partidária.

No 4º Congresso do PCB, realizado em novembro de 1954, coube a João Amazonas apresentar o informe sobre as alterações dos estatutos do Partido. Um ano antes, em 1953, Amazonas esteve na União Soviética à frente de um grupo de cerca de quarenta comunistas que fariam um curso de marxismo-leninismo na Escola Superior do Comitê Central do PCUS.

A luta contra o revisionismo

A partir da segunda metade de 1950 ele participou ativamente da luta contra o surto revisionista-reformista que atingiu o Partido após o 20º Congresso do PCUS, em 1956. Em 1957, por suas posições contrárias às teses reformistas que vinham ganhando corpo no interior da direção do Partido, João Amazonas, Maurício Grabois, Diógenes Arruda, Sérgio Holmos e Pedro Pomar foram destituídos da comissão executiva e do secretariado do Comitê Central.

Esses afastamentos foram necessários para que se conseguisse uma tranqüila maioria, o que permitiu aprovar as teses reformistas e mudar o rumo político do Partido. No início de 1958, numa reunião do Comitê Central, João Amazonas e Maurício Grabois foram os únicos a votar contra o documento que ficaria conhecido como Declaração de Março e que fora elaborado por uma comissão “ultrassecreta”, criada pelo próprio secretário-geral.

Este documento consolidou a guinada à direita do PCB. Entre outras coisas apregoava a possibilidade da transição pacífica do capitalismo ao socialismo no Brasil. Começava, assim, a se definir nitidamente duas tendências no interior do Partido: uma reformista e outra revolucionária. Estas duas tendências opostas iriam se enfrentar duramente nos debates preparatórios do 5º Congresso do PCB.

Graças ao domínio que tinha sobre a máquina partidária, a influência de Prestes, e o apoio recebido do PCUS, a corrente reformista ganhou o Congresso e conseguiu aprovar as suas teses. O Congresso também decidiu pelo afastamento de João Amazonas, Maurício Grabois, Diógenes Arruda e Orlando Pioto do Comitê Central do Partido. Os reformistas, então, tomaram a iniciativa.

Em 11 de agosto de 1961 o jornal “Novos Rumos”, órgão oficial do PCB, publicou um novo programa e estatuto que, segundo a comissão executiva, deveriam ser registrados no Tribunal Superior Eleitoral visando à legalização do partido. Entre as propostas de alteração incluía-se a mudança do nome da organização, que passaria a se chamar Partido Comunista Brasileiro. O novo programa apresentado era ainda mais atrasado do que a Declaração de Março e as Resoluções do 5º Congresso. Dos estatutos retirava-se qualquer referência ao internacionalismo proletário e ao marxismo-leninismo. Esta foi a gota d’água…

A resposta da corrente revolucionária foi imediata. Foi enviada uma carta ao Comitê Central, assinada por cem comunistas, criticando os desvios de direita e exigindo que se retirassem os documentos ou se convocasse um novo congresso para discutir a mudança do nome e as modificações no programa e nos estatutos do Partido. Segundo a Carta, “as mudanças feitas no nome, no Programa e nos Estatutos (…) objetivam o registro de um novo partido e, por isso, se suprime tudo o que possa ser identificado com o Partido Comunista do Brasil, de tão gloriosas tradições (…) os militantes (…) não aceitarão que se liquide o velho Partido, e a ele permanecerão fiéis, mantendo bem alta a bandeira de suas melhores tradições”.

No final de 1961 a direção do PCB expulsou Amazonas, Pomar, Grabois, Ângelo Arroyo, Carlos Danielli, Calil Chade, José Maria Cavalcante, entre outros. Diante da impossibilidade, por vias da democracia partidária, de mudar os rumos que tomava a direção do PCB, os membros da corrente revolucionária resolveram dar o passo decisivo no sentido de romper com os reformistas e reorganizar o Partido Comunista do Brasil. João Amazonas, como em 1943, estava novamente à frente desse esforço.

Em fevereiro de 1962 realizou-se a 5ª Conferência (extraordinária) do Partido Comunista do Brasil. Nela aprovou-se um manifesto-programa no qual se reafirmaram as teses revolucionárias e os princípios marxista-leninistas. O PC do Brasil seria o primeiro partido fora do poder a romper com a linha política reformista imposta pela direção do PCUS. A Conferência resolveu também reeditar o jornal “A Classe Operária”.

A cisão dos comunistas brasileiros teve implicações internacionais. Em 14 de julho o próprio Comitê Central do PCUS publicou uma carta-aberta contra a direção do PC Chinês, e nela citava nominalmente os dirigentes comunistas brasileiros João Amazonas e Maurício Grabois, apontando-os como membros de um grupo antipartido. O PCUS responsabilizava o PC da China pela divisão do movimento comunista brasileiro. Em 27 de julho a direção do PC do Brasil respondeu com um contundente documento intitulado Resposta a Kruschev.

O rompimento com a direção do PCUS, principal partido comunista do mundo, e com a maioria reformista da direção do PCB, apoiada por Luís Carlos Prestes, mostrava bem a ousadia desses revolucionários fieis a seus princípios. Foram muitos os que afirmaram que esta pequena organização não teria futuro e que teria sido uma obra de loucos. A conjuntura, amplamente favorável à proliferação de ilusões reformistas, parecia confirmar tais opiniões.

Mas a história, implacável, construiria um outro caminho para além do senso comum e das aparências. O golpe militar de 1964 representou uma derrota das teses reformistas do PC brasileiro, que entrou em processo de desagregação interna, e confirmou muitas das teses defendidas por João Amazonas e seus camaradas do PC do Brasil.

Amazonas então se projetou como um dos principais dirigentes de uma nova corrente do movimento comunista internacional, corrente que se opunha ao chamado revisionismo soviético. Depois de 1962 defenderia o estreitamento dos laços políticos entre os comunistas brasileiros e o Partido Comunista da China, dirigido por Mao Tsetung e com o Partido do Trabalho da Albânia, dirigido por Enver Hodja.

Esteve em Cuba, com Maurício Grabois, quando da reorganização do Partido em 1962. Esteve na China por três vezes: no início de 1963, na companhia de Lincoln Oest, quando foi recebido pessoalmente por Mao Tsetung e juntos discutiram a situação brasileira e mundial; em 1967, no auge da Revolução Cultural, a qual apoiou criticamente e no final de 1976. Nesta última viagem Amazonas apresentou os pontos de vista do PCdoB sobre a situação internacional, especialmente sobre a teoria dos três mundos e o papel do imperialismo norte-americano, opiniões que divergiam frontalmente das posições oficiais do PC Chinês. A visita acabou consolidando o rompimento entre estes dois partidos. Rompimento que duraria até o início da década de 90.

Ele também esteve na Albânia por diversas vezes e lá estabeleceu laços fraternais com os dirigentes comunistas albaneses, especialmente Enver Hodja. Ficou ao lado deste na polêmica com os soviéticos, no início da década de 60, e depois na polêmica com os chineses já na segunda metade da década de 70.

Combatendo a Ditadura Militar

Entre 1968 e 1972, Amazonas participou ativamente da organização da guerrilha do Araguaia, o principal movimento de contestação armada ao regime militar. No final de fevereiro de 1972 ele se vê obrigado a sair da região para participar da reunião do Comitê Central na qual se debateria o documento “Cinquenta anos de luta” e se comemoraria este importante acontecimento (os 50º aniversário do PCdoB). Grabois e Arroyo permaneceram na região, seguindo os critérios de revezamento dos membros do secretariado do Partido. Amazonas estava voltando para a região quando a ofensiva do exército já havia começado e foi alertado por Elza Monnerat que voltara alguns dias antes e também não pudera entrar na região. Os caminhos de sua reintegração à guerrilha estavam fechados.

A eclosão da guerrilha levou a um aumento, sem precedente, das perseguições aos dirigentes do PCdoB. Entre o final de 1972 e início de 1973 foram presos, barbaramente torturados e assassinados três membros efetivos do Comitê Central Carlos Danielli, Lincoln Oest e Luís Guilhardini e o candidato a membro do Comitê Central Lincoln Roque.

Estava apenas começando a operação visando eliminar a direção do partido que promovia a Guerrilha do Araguaia. Na manhã do dia 16 de dezembro de 1976 desenrolou-se o último ato da tragédia arquitetada pelos militares.

A casa na qual havia se realizado uma reunião do CC é cercada e metralhada pela repressão. Neste dia foram friamente assassinados Ângelo Arroyo e Pedro Pomar. Eles estavam desarmados e não foi lhes dada nenhuma chance de defesa. Nesta operação morreria sob torturas João Batista Drummond. Cerca de uma dezena de dirigentes comunistas também foram presos e torturados.

Quando da chacina da Lapa, João Amazonas estava representando o Partido no exterior e foi na China que recebeu a notícia do trágico acontecimento. Esta viagem o salvou novamente da morte. Pois esta operação, comandada pelo II Exército, tinha como um dos objetivos a eliminação do secretário-geral do PCdoB. Em entrevista à revista “IstoÉ” o general Dilermando Monteiro, então comandante do II Exército, afirmou: “Nós descobrimos que naquele dia iria haver uma reunião em tal lugar, com a presença de tais e tais elementos, e aí fomos um pouco embromados, porque constava para nós que o João Amazonas estaria presente e o mesmo estava na Albânia, mas para nós ele estaria presente naquela reunião”.

Amazonas foi sempre um opositor radical da ditadura militar e por isso mesmo foi odiado por ela. Nas selvas do Araguaia, procurando organizar a guerra popular, nos palanques da campanha das diretas já! ou nas articulações que levaram à escolha de um candidato único das oposições, para derrotar o candidato da ditadura no colégio eleitoral, lá estava o velho Amazonas. Sabendo articular amplitude e radicalidade, sem nunca perder o rumo.

Afirmava ele: “O curso político independe da vontade de uns poucos. Forja-se objetivamente (…) Quem propugna por objetivos maiores tem de inserir-se no curso real, e nele atuar com amplitude, levando sempre em conta a correlação de forças existentes, afim de fixar metas viáveis que aproximem a vitória definitiva da causa do povo”.

Unindo o povo contra o neoliberalismo

Amazonas foi um ardoroso defensor da unidade das forças progressistas e um dos artífices da Frente Brasil Popular em 1989. Compreendeu que a derrota de Lula e a vitória de Collor tinham aberto uma nova página na luta do povo brasileiro. A luta contra o neoliberalismo passou a adquirir centralidade na tática e na estratégia das forças democrática, populares e revolucionárias. O PCdoB, com Amazonas à frente, defendeu a palavra-de-ordem Fora Collor! Que empolgou a juventude brasileira e levou ao impedimento do presidente da República.

Mas a derrota de Collor não representou a derrota definitiva do neoliberalismo em nosso país. Com a vitória de FHC, o projeto recobra o seu fôlego. Amazonas defendeu então a formação de uma ampla frente oposicionista, que tivesse como núcleo as forças de esquerda. Uma frente que se constituísse através de um programa nacional e democrático que apontasse para superação do neoliberalismo e se sustasse num amplo movimento de massas. Esta posição estará presente na resolução política do 9º Congresso e será retomada e desenvolvida nas resoluções do 10° Congresso do PCdoB.

No entanto, as suas contribuições políticas e teóricas não se reduzem apenas ao Brasil. Desde o final da década de 80 João Amazonas foi um dos poucos que se colocou contra a política adotada por Gorbachev, denunciando-a como uma via de retorno da URSS ao capitalismo de mercado. O que propunham os líderes soviético não era renovar o socialismo, depurando-o de seus erros e deformações, e sim de destruí-lo. Após a débâcle final Amazonas conclamou que a esquerda revolucionária realizasse um profundo balanço crítico dessas experiências. Refletisse sobre as derrotas, mas sem capitular. Não fizesse concessões de princípios à maré social-democratizante que estava levando ao aniquilamento vários partidos tidos como comunistas.

Era preciso reconhecer a crise e lutar para superá-la, reafirmando e atualizando o marxismo e o leninismo, sem dogmas. Amazonas, de maneira ousada, propôs a unidade das diversas organizações que ainda reafirmavam a sua identidade comunista. Diante da ofensiva mundial do imperialismo era preciso vencer o sectarismo e construir a unidade sobre novas bases. Esta seria mais uma de suas importantes contribuições para reorganização do movimento comunista internacional.

Um homem imprescindível

Portanto, João Amazonas conduziu o Partido Comunista do Brasil em meio ao mar turbulento das lutas ideológicas, contra adversários bem mais fortes, que pareciam invencíveis. O seu pequeno PCdoB venceu estas lutas e se consolidou. O Partido, dirigido por Amazonas, passou por outras provas de fogo. Enfrentou a ditadura militar, que ceifou a vida de mais de uma centena de militantes; enfrentou a crise das experiências socialistas, que desbaratou várias organizações ditas comunistas; e, por fim, enfrentou com coragem e firmeza os dez anos de ofensiva neoliberal no Brasil. O PCdoB não só sobreviveu, o que já seria uma grande coisa, mas se desenvolveu e se constituiu numa força respeitada no cenário político nacional e mesmo dentro do movimento comunista internacional, que começava a se rearticular depois do vendaval neoliberal.

Aos 90 anos de idade e 66 anos de dedicação integral à militância no Partido (sendo 59 em funções de direção), Amazonas pediu para que seus camaradas não mais o indicassem para a função de presidente do PCdoB. Afirmou ele: “no Partido não existem cargos vitalícios. Escapei de perseguições, sobrevivi (…) Creio que cumpri meu papel (…) Dentro de algumas semanas, vou completar nove décadas de vida. Uma vida difícil, que levou a um grande desgaste físico. Proponho a minha substituição e apoio a eleição de Renato Rabelo como novo presidente do Partido” e conclui: “não penso em aposentadoria. Espero morrer na minha posição de luta, no meu posto de trabalho (…) Até o último de meus dias, serei militante do Partido Comunista do Brasil”.

A nova direção nacional do PCdoB aceitou parcialmente o seu pedido retirando-lhe a função de presidente e elegendo em seu lugar Renato Rabelo. No entanto, com a aprovação unânime dos delegados presentes ao 10º Congresso, indicou-o para a presidência de honra do Partido. Título mais do que merecido para um homem que dedicou sua vida inteira à luta pelos ideais socialistas e à defesa de seu partido. Um homem que não temeu a prisão, a tortura, o exílio e a própria morte.

João Amazonas foi muito mais do que o presidente de honra de um partido político revolucionário, ele foi uma legenda, um símbolo vivo do espírito de luta do povo brasileiro. Um exemplo de comunista e de brasileiro. Por tudo isso, como afirmou Brecht, compõe as fileiras dos homens imprescindíveis.

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Nota:

1) Adaptação de um artigo escrito por ocasião da comemoração dos 90 anos de João Amazonas em janeiro de 2002.

*Foi membro do Comitê Central do PCdoB, dirigente da Fundação Maurício Grabois e foi também um dos fundadores da Escola Nacional João Amazonas. Faleceu no dia 11 de março de 2020, aos 59 anos de idade, vítima das complicações de um câncer no intestino.