Mas se cortaram o pé de Juazeiro, menina, não chore.
Se matarem o sabiá, não chore não.
Pois inda resta o sol banhando o milho seco no roçado.
Inda tem Jussara pra nos inquietar
(...) O tempo conta pra gente menina
Por isso não chore, que o tempo não para
Menina vê se acaba esse choro
Assoletre com as pedras que sabem esperar...
Consolança - Eugênio Leandro, Oswald Barroso
Não consegui entender ainda a perda do meu amigo Wagner Gomes, quem acompanhava a CTB DF e nos ajudava tanto. Era do tipo de amigo que fazemos entre camaradas. A política une e o caráter cimenta amizades verdadeiras e duradouras. Nunca conheci sua família, nem tomei um café em sua casa e, mesmo assim, digo com absoluta firmeza: querido amigo, querido camarada.
Sua falas eram célebres, não apenas pela clareza com que o condutor de metrôs de São Paulo abordava a política para trabalhadores entenderem; Wagner também tinha aquela simplicidade brincalhona com que iniciava suas falas, um chiste, uma piada, e o plenário ria inteiro, seduzido pelo peão que - tendo conquistado a audiência - desdobrava seus argumentos certeiros, classistas, sinceros, unificadores. Wagner exercia sua liderança com forte espírito unitário e isso marcou a formação da CTB e seu início. Fui muito bem acolhido pelo Presidente Wagner e tive a oportunidade de conversar com vários dirigentes nacionais das centrais sindicais, presidentes, inclusive, e testemunhar os depoimentos gratuitos e afetuosos com que mencionavam nosso camarada.
Eu estava com ele no dia 24 de maio de 2017, ato de 200 mil em Brasília, quando fomos violentamente expulsos da Esplanada pela PM, estávamos em cima do primeiro carro de som, uma posição bem difícil. Ainda durante a Marcha, percebemos que ela se dividira, e parte grande dos caminhantes estava à frente, junto ao trio elétrico da Força. O Wagner desceu no momento exato - porque depois não ia dar pra unir e a repressão era certa. Saiu no meio do povo, abrindo caminho, o tiozinho foi ligeiro! E subiu no carro da Força, e voltou com o Juruna, de mãos dadas, e seguimos juntos. Era esse o seu exemplo de luta obstinada pela união da classe trabalhadora. Pouco depois, quando e a repressão principiava, e uma parte do ato não seguia as orientações - que visavam a garantir o ato pacífico e sua continuidade -, lá vai o Wagnão de novo, de braços abertos, bem no meio, protegendo os nossos, pedindo calma à polícia, em meio a cacetetes, escudos e gás, belo testemunho dessa generosidade que lhe marcou a vida.
Wagner tinha imenso compromisso unitário com as Centrais Sindicais e nossa luta. Não se assombrou quando perdeu a eleição do sindicato dos Metroviários de São Paulo, e reconstruiu a volta e a renovação, sabiamente, com a proporcionalidade e a união. Do mesmo modo, Secretário Geral da CTB, sempre foi um elemento construtor e unificador, com firme disciplina militante e inquestionável compromisso coletivo.
Doíam-lhe muito as nossas derrotas, mas não era de se queixar. A conquista da união com a CGTB tem sua digital desde há muito, e ele estava feliz com as perspectivas de unidade, nas quais se tornou mestre. Mas havia também as tristezas, duras como o ataque antissindical promovido pelo governo Tucano de Dória e pela sabida seletividade com que o judiciário trata os trabalhadores. Cúmulo da injustiça, para punir o sagrado direito de greve, querem roubar a sede dos Metroviários de São Paulo, casa dos trabalhadores e dá-la à especulação imobiliária, inclusive ameaçando a reintegração violenta. Eu tratei do assunto com ele, ao telefone, e partilhamos essa indignação que certamente lhe amargou os últimos dias. Mas ele era duro na queda.
Leia: SEDE DOS METROVIÁRIOS: CONTRARIANDO O GOVERNO, BALDY INSISTE EM REINTEGRAÇÃO VIOLENTA
Bom demais um barzinho a seu lado, almoçar com Wagner, tomar uma branquinha de leve, só pra lavar o peritônio, era uma pessoa boa de se conviver. Tratar bem quem nos serve é outra prova de caráter, e eu me lembro como exatamente essas pessoas gostavam daquele nosso amigo, alegria dos papos, boa praça, mas valente, destemido e verdadeiro na defesa do nosso povo. Seu orgulho maior, não era ter sido candidato a Senador e recebido milhões de votos. Seus maiores orgulhos que transpareciam na risadinha conhecida (hehe) era ser peão, comunista e santista, e isso se via, de longe, e gerava a imensa admiração que sempre mereceu.
Tempos duros esses que vivemos. Quando o genocídio mata mais de meio milhão de brasileiros, o Wagner, nos seus 64 anos, continuou na luta e driblou a pandemia, estava a pleno vapor. Foi o coração tão grande do Wagner Gomes que, ardiloso, lhe faltou, talvez minado por tantos dissabores que compartilhamos nesses dias amargos. Mandei-lhe mensagem no dia funesto, liguei para ele, e me apercebo que até as notícias de sua partida segui lhe enviando, como a outros amigos queridos que partiram. Wagner formou e acompanhou com dedicação e carinho milhares de quadros, e eu tive essa sorte, militando com ele e outros queridos camaradas. Agora, resta o exemplo.
Que grande força dos trabalhadores e do povo brasileiro meu amigo Wagner Gomes foi, e seguirá sendo, por seu exemplo de dignidade e luta, até o fim, pela democracia, a união e os direitos da classe trabalhadora. Há muito ainda para fazer valer os sonhos do camarada Wagner, a luta continua!
Wagner Gomes, Presente, Hoje e Sempre!
muito obrigada, por essa linda e carinhosa ao meu pai, o vovô da Antonella
ResponderExcluirQuerida Joana, eu que ganhei o dia com o seu comentário, muitas saudades e orgulho desse amigo e líder que tanto fez pelo povo brasileiro. Muito obrigado!
ExcluirCamarada Wagner, presente!
ResponderExcluirHoje e sempre!
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