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terça-feira, 28 de abril de 2020

Protegei-vos e uni-vos! Paulo Vinícius Silva

"Não é jogar toda a culpa nos militares, os militares foram instrumento de uma classe dominante infecunda, e é preciso olhar e apontar e acusar a essa classe, e é isso que eu tenho feito. Ou você leva a sério que esse povo é para ser alfabetizado, e que o que vale  aqui é criança e povo, ou você assume a atitude sacana! da classe dominante que sempre achou que o povo é espécie de negro escravo, de carvão pra queimar, e não importa o que acontece com ele. Essa é a postura do brasileiro comum, uma postura perversa e pervertida. Eu vi o mundo inteiro, não há país, não há lugar melhor para fazer um país do que esse. Eu andei no exílio - anos e anos de exílio -  e não há lugar para fazer um país melhor, mas tem uma classe dominante ruim, ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa que não deixa o país ir para a frente." Darcy Ribeiro  - Roda Viva  - 1991


A situação nacional se agrava rapidamente. O ocupante atual do Palácio do Planalto ligou-se à pandemia de um modo que a História os tornará sinônimos, Bolsonaro e o vírus, e levará sobre suas costas a responsabilidade por abandonar o país à própria sorte, diante da pandemia, causando incontáveis perdas humanas.
Nesse momento, mais que nunca é importante a prevenção e a solidariedade para a classe trabalhadora. Você, amigo, amiga, cuide-se e cada vez mais, pois está claro que os patrões enquanto classe - a burguesia - não estão preocupados com a sua saúde. 

Cristalinas brilham duas verdades:
- Sem o trabalho da nossa classe o capitalismo pára;
- A burguesia brasileira empurra sem dó trabalhadores e trabalhadoras para situações de risco à saúde, porque o lucro não pode parar. Não importa se "vão morrer gente", nas palavras do apedeuta mensageiro da Morte, Bolsonaro. Lucrar é preciso, a qualquer custo, mesmo o da sua vida.

Desse modo, cuide-se mesmo. O auto-cuidado e a prevenção - por isso o isolamento social - são essas as nossas únicas armas para defender as nossas vidas, e devemos pensar assim quando o patrão propõe-nos encarar o risco em meio à pandemia. É preciso resistir e defender a própria saúde ante a ganância dos capitalistas. Depois, será tarde. E lembre-se do Art. 29 da MP  Nº 927, de Bolsonaro:  "Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) NÃO serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal". 

E se você juntar isso à Reforma Trabalhista do Temer, que o Bozo também votou, a indenização trabalhista nesses casos agora acompanha o Salário e não o Dano sofrido pelo trabalhador, pela trabalhadora. Ou seja, tu és indenizado em proporção do teu salário, e não do dano que o trabalho te causou, comprometendo a tua saúde, a tua vida. O que vale a tua saúde? Quanto vale a tua vida, ou de um familiar teu?

O regime em que pouco importava se o trabalhador morria reinou no Brasil por quase quatro séculos, a escravidão. O "vão morrer gente" é antigo.  E como seus antepassados, donos de navios negreiros, mercadores de escravos, fazendeiros e donos de minas, sempre contabilizaram inúmeras perdas humanas, fazendo sua riqueza crescer despudoradamente graças às pilhas de cadáveres que deixavam para trás. Hoje como antigamente, eles valorizam de modo diferente a vida de um pobre, de uma negra, de um trabalhador, aqueles que sempre se admitiu que morressem, como um custo a mais no caminho da cobiça e da preguiça vergonhosas da escravidão. 
"Vão morrer gente" - Navio Negreiro

Dos indígenas exterminados a fogo e peste aos que deixaram a sua vida nos mares, troncos, senzalas e eitos, de todos os camponeses expulsos de suas terras e distribuídos para construir o país, é incontável todo esse sangue misturado ao suor, nervos, a força, toda essa vida - o trabalho -  que alimentou aqui e além-mar as riquezas que ainda hoje concentram e que definem o poder, a vida e a morte. Por isso Bolsonaro ainda é presidente. Ele encarna essa degeneração capitalista derivada da escravidão a serviço do mercado mundial, colonizada, a desprezar seu povo, a ignorar vidas, os interesses da Nação, tudo em nome do poder e do lucro. O racismo, o higienismo social e a desigualdade funcionarão como uma foice sobre a classe trabalhadora, e é preciso defender a vida. Por isso, prevenir é vital. 

Não se surpreenda nem ceda, ante a impiedade dos patrões que querem que você se exponha ao adoecimento. Indigne-se e proteja-se, eles realmente não ligam para nada além do lucro.  Valorizemos todo chefe e empresário que entende o drama humano e protege seus trabalhadores, a Frente Ampla precisa deles e o Brasil também. Mas é preciso denunciar todos que põem trabalhadores(as) em risco. A imprensa sindical deve contar a história dessas vítimas da ganância, não apenas do vírus. Mas o primeiro dever é proteger-se, sem encabular-se, sem dúvidas, de máscara e álcool, porque é um vírus, é mister preservar-se da sua contaminação. Ceder ao patrão e adoecer com risco de morte sua e dos seus, vale a pena? Somos trabalhadores e trabalhadoras ou somos escravos e escravas?!

E isso significa exigir condições de trabalho. É preciso que todo trabalhador e trabalhadora se pergunte se as condições de trabalho favorecem ou não o contágio, e lutar para proteger as vidas suas e dos seus clientes. Temos de nos unir com os colegas e impedir a contaminação das pessoas com atitudes individuais e coletivas. Tudo deve ser feito para não adoecer. Enfrente os chefes, mas fuja do COVID 19. Se o Supremo quer tirar os sindicatos da jogada, cabe fortalecê-los, pois podem aconselhar, denunciar, agir. E atualizemos o protocolo de funcionamento de todo lugar de trabalho, para ter novas normas de proteção e segurança no trabalho, para salvar vidas.

Nos próximos dias, tragicamente, veremos explodir a triste realidade do luto que já fere mais de 5000 famílias brasileiras. Pelos exemplos nacionais e pelas características do COVID 19, a exposição das pessoas cobrará um altíssimo preço em vidas humanas. A quebra da quarentena criminosamente promovida por Bolsonaro e pelos grandes capitalistas - sobretudo das finanças - levará uma situação política insustentável, e o abandonar do barco governamental sinaliza o movimento inexorável de inviabilização de Jair Bolsonaro na Presidência. 

A cada expirar e a cada suspirar de pai, mãe, filho e filha, crescerá uma onda imensa de indignação e pavor, que exigirá não apenas a saída de Bolsonaro, que pague por seus crimes, mas também pedirá a união do Brasil para salvar as vidas de milhares de pessoas em risco pela irresponsabilidade, pela vileza e pela loucura de um sociopata posto pela Lava Jato e pela CIA na Presidência do Brasil. Ele ficará isolado como a pestilência que representa, e nós somos desafiados a costurar a mais Ampla Frente de União Nacional, a  estender pontes, a preservar as instituições nacionais e a democracia, unindo forças políticas e sociais que somem para vencer a pandemia e reconstruir o Brasil.


Notas:
MP 927 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/Mpv/mpv927.htm

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