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Textos de Combate: Sem perder a ternura, jamais - Paulo Vinícius da Silva - à Venda

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quarta-feira, 5 de março de 2008

(Uma dica: Leia as notas, clique nos links, pois são inclusive melhores que o artigo)

A loucura calculada de Uribe e as digitais ianques na América Latina.

Não se pode confiar no imperialismo nem um tantinho assim, nada!”

Che Guevara1


É muito comum a nossa mídia hegemônica apelar à desinformação e à mentira descarada. A mídia peca, no entanto, por considerar-nos incapazes de pensar por nós mesmos. Engana-se. É cada vez mais possível identificar a manipulação e as mentiras, é possível enfrentá-las e cresce, graças à internet e aos meios alternativos – inclusive televisões como a TELESUR e a Al Jazeera – a possibilidade de desmascarar as manipulações. Com estas opiniões, busco coletivizar com os leitores informações fundamentais para entender o presente conflito na região Andina, envolvendo diretamente Colômbia e Estados Unidos de um lado, e Equador e Venezuela de outro.


O conflito na Colômbia tem tudo a ver com Venezuela e com Equador

E a primeira mentira da mídia hegemônica na cobertura dos episódios que envolvem a agressão colombiana ao Equador e a posição venezuelana é colocar Chávez como um “intrometido” e até mesmo – por mais ridículo que isto possa parecer – como pivô do conflito. Nada mais absurdo. Primeiro porque só existe um agressor, Uribe, sob as ordens de Bush. Segundo porque querem fazer-nos ignorar a História.

Venezuela, Equador, Colômbia e Panamá eram um só país, a Grande Colômbia2, criada no Congresso de Cúcuta em 1819, presidida por Simón Bolívar, erigida sobre a vitória contra o colonialismo espanhol. Uma região interdependente, com grande identidade cultural, histórica e fluidas relações econômicas e culturais. Os três países são diretamente afetados pelo conflito colombiano, que levou a cerca de 200 mil colombianos a se refugiarem na Venezuela3 e 500 mil no Equador4.


A defesa da soberania da América Latina ante o intervencionismo ianque e seu marionete

Deste modo, a política irracional de Uribe, paga a peso de ouro por Washington impacta diretamente nos vizinhos, e a mídia não explica como ele que, garbosamente, assumiu toda a responsabilidade de mandar bombardear o Equador graças às “dicas” ianques enquanto o Chávez é que seria o "agressivo", quando simplesmente defende com firmeza o território venezuelano e denuncia que os EUA estão intervindo militarmente às portas da Venezuela.

Ademais, diga-se de passagem que Chávez cantou a pedra no dia 25 de janeiro quando denunciou os intentos do lacaio de Bush em criar um conflito militar na região5, dizendo textualmente: “Acuso o governo colombiano de ser um instrumento contra a integração e a paz entre nossos povos, porque a elite que governa lá está subordinada ao que digam em Washington.”6 À ocasião, tratou-se de divulgar no Brasil mais uma versão de que Chávez seria agressivo ou estaria estimulando conflitos gratuitos, minimizando deliberadamente a “visita” do Chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Almirante
James Stavridis para reunir-se com Uribe, o
Ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e os comandantes das forças armadas7 e de Polícia, tudo há menos de dez dias, incrível “coincidência”. Diga-se de passagem a desfaçatez do gringo ao declarar recentemente temer que “surjam conexões 'desastrosas' entre narcotraficantes e radicais islâmicos na América Latina, advertindo sobre a crescente influência do Irã'. Chávez acertou na mosca e aos que se dizem nacionalistas e apontam o dedo em riste para o suposto risco de Chávez, há que perguntar porque se calam o verdadeiro risco para a região, a intervenção militar estadunidense na Colômbia e seu propósito desestabilizador. Chávez está certíssimo em suas precauções e devemos denunciar as manobras gringas e seus títeres na América Latina quando a grande mídia age para ocultar o rastro ianque na presente crise.


O massacre midiático contra as FARC-EP e o que esconde

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem”. Bertolt Brecht

A segunda sorte de manipulações são as mentiras sobre o conflito colombiano e a condenação apriorística das FARC-EP, retratadas com todo tipo de xingamentos, além de desqualificadas em sua opção de luta, sem uma análise mais realista da vida política colombiana, omitindo as causas desta opção de luta que já dura quase 50 anos.

Não podemos transpôr a realidade das formas de luta que vivenciamos, países que avançamos em conquistas democráticas. A Colômbia é o principal palco da intervenção militar estadunidense na América Latina há décadas, fruto da histórica e espúria coalizão entre a oligarquia e o imperialismo estadunidense que assume características fascistas sob o governo de Uribe. Estas são as razões da guerra e do sofrimento do povo colombiano, as razões do conflito armado naquele país, e não podemos cair nas manipulações midiáticas que compõem o consórcio Uribe, Departamento de Estado e que buscará unir toda a direita da região neste diapasão. Na prática, esta posição muito longe de ser nacionalista é a mais subalterna aos interesses alienígenas.

Deste modo, não podemos nos furtar a prestar nossa efetiva solidariedade ao povo colombiano, que não é feita de prédicas sobre como deve fazer a sua luta, nem de acordo absoluto com tudo que há, mas simplesmente na defesa do caminho para a paz feito por uma infinidade de forças políticas e sociais colombianas, entre estas as FARC, as quais não se pode negar seu caráter político.

Na Colômbia a História ensinou que render-se ou abrir a guarda unilateralmente é o equivalente ao suicídio. São inúmeros os exemplos:

  • O assassinato de Jorge Eliécer Gaitán8, candidato presidencial liberal em 1948, que desatou uma guerra em que morreram 300 mil colombianos, raiz de todo o conflito armado que perdura até hoje;

  • As respostas dadas pela oligarquia colombiana às tentativas de paz. A mais brutal foi o covarde massacre de cerca de 6000 dirigentes políticos da União Patriótica, surgida como uma saída política para o conflito colombiano nos anos 80. A oligarquia colombiana não poupou sequer três candidatos a presidente da UP, friamente assassinados. Convido-os a assistir o documentário “El Baile Rojo9, impressionante relato do compromisso “democrático” da oligarquia colombiana;

  • A Colômbia é hoje campeã em “desaparecimentos” de sindicalistas e líderes estudantis, como o jovem Oscar Salas, de apenas 21 anos, assassinado na marcha pacífica do Dia Internacional da Mulher (08/03/2006)10 11. Na Colômbia não existe democracia e ser de esquerda, democrata, progressista custa a vida muito facilmente. Esta é a realidade que alimenta o conflito.

O maior empecilho à paz é Uribe e o que representa, sua recusa total a uma saída negociada, o rechaço ao intercâmbio humanitário. Uribe mostrou na primeira tentativa mediada pelos países latino-americanos e liderada por Chávez que está disposto a colaborar com a libertação unilateral de reféns por parte das FARC-EP com o ataque que pode pôr suas vidas em risco.

Na Colômbia sob o mando de Uribe repousam importantes jogadas do imperialismo estadunidense para desestabilizar os avanços democráticos e de esquerda na América Latina. O inadmissível ataque ao território equatoriano para assassinar friamente a Raúl Reyes, principal porta-voz das FARC-EP e defensor destacado do processo de paz foi uma cartada de altíssimo risco “Made in USA”. O método similar aos assassinatos “seletivos” de Israel, o desrespeito ao direito internacional têm o DNA do Departamento de Estado. Expõem a submissão de sua oligarquia aos EUA, sem cuja colaboração tecnológica e financiamento não seria possível o atentado à soberania equatoriana.

Para além do ato, por si abjeto, violando o direito internacional, está a desfaçatez da comemoração uribista, expressão de sua própria vileza. Raúl Reyes, o músico das FARC-EP Julián Conrado e os quinze guerrilheiros foram assassinados sem combate nem possibilidade de defesa, bombardeados em pleno território equatoriano.


A vileza da oligarquia colombiana e seu medo

Nada mais ilustrativo da falência da estratégia de derrotar militarmente a guerrilha cinqüentenária. O tratamento dado a Raúl Reyes foi o mesmo que todos os títeres coloniais deram aos que hoje são considerados heróis da independência de nosso país. O açodamento em celebrar a sua morte, a exposição de seu cadáver mutilado e seminu, o propósito de enterrá-lo como mendigo em uma fossa comum, as bravatas de superioridade militar só se comparam ao esquartejamento de Tiradentes, à profanação do corpo de Zumbi, à exposição das cabeças dos cangaceiros de Lampião, ao vôo de helicóptero com o cadáver de Osvaldão no Araguaia.

É a selvageria, a bestialidade do imperialismo, como bem o disse Che: “essa é a natureza do imperialismo que faz as pessoas se tornarem feras com sede de sangue, dispostas a decapitar, a massacrar, a destruir até mesmo a última imagem de um revolucionário, de um defensor de um governo subjugado ou de um batalhador pela liberdade do país.'12

Tanto ódio busca infundir o terror através do desrespeito aos que já não se podem defender, porque mortos. Ao mesmo tempo é uma vã tentativa de exorcizar o espectro dos mártires. Esta tática jamais funcionou e creio que não terá melhor êxito agora.


Um convite à guerra como resposta a gestos de paz

A verdade cristalina é que Uribe respondeu com a guerra aos contundentes gestos de paz feitos pelas FARC-EP, e até Nicolas Sarkozy o afirmou (e não se pode acusá-lo de esquerdista)13. Uribe e os EUA apelaram a uma manobra desesperada visando a atrair as FARC para uma confrontação direta. Deste modo, apostando altíssimo, buscam reverter os avanços recentes dos guerrilheiros em mostrar à opinião pública a sua posição histórica: a defesa de uma saída política para o conflito colombiano, sempre frustrada pela sanguinária oligarquia colombiana.

Uribe não foge do figurino e quer arrastá-los a uma escalada de violência que só prejudicaria o próprio povo colombiano, submetendo a sua segurança às ordens que submetem o Exército Colombiano, dirigido por assessores militares estadunidenses.

As FARC-EP sinalizam com a negociação e o diálogo e merecem que seja reconhecida esta corajosa posição. Mesmo após o assassinato de Raúl Reyes, anunciam: "Convidamos à firmeza revolucionária, a não claudicar no esforço em favor do intercâmbio humanitário, a continuar em nosso propósito de paz e de construção de uma democracia efetiva com justiça social". (...) "Essa é a melhor homenagem a todas e todos os camaradas caídos em combate"14. A verdade do desejo de paz se expressa em gestos concretos como estes, jamais feitos pela oligarquia colombiana e muito menos neste governo.


No centro: o reconhecimento político das FARC como força beligerante

O objetivo central de Uribe e do imperialismo estadunidense é negar às FARC-EP o seu caráter político e a sua condição de força beligerante15 no conflito colombiano, fato revertido com os atentados de 11 de setembro e a ligação umbilical do projeto dos falcões da Casa Branca e a direita colombiana. Esta é a mais necessária solidariedade neste momento.

Urge denunciar a hipocrisia de Uribe, cuja política de “Justiça e Paz”16 17 anistia grupos paramilitares responsáveis por inúmeros massacres, promotores do tráfico de drogas, ao mesmo tempo em que defende a guerra e o extermínio das FARC – o que diga-se de passagem é impossível pela via militar.

O caminho da paz na Colômbia passa necessariamente pelo reconhecimento político das FARC-EP como força beligerante, por assegurar às forças políticas de esquerda, como o Pólo Democrático e o Partido Comunista Colombiano e aos movimentos sociais daquele país condições para atuar livremente, o que presentemente inexiste. Pelo contrário, o seqüestro de Simón Trinidad em território Venezuelano com apoio da CIA, o assassinato de Raúl Reyes – principal porta-voz das FARC-EP em defesa da saída negociada -, assim como a guerra contra as FARC-EP na internet, as acusações (leiam-se ameaças) de Uribe ao Seminário Voz18 do Partido Comunista e a violenta repressão ao movimento social têm o mesmo objetivo, afundar o país na guerra, impedir a expressão política das forças de esquerda, levar às forças progressistas e democráticas a um beco sem saída. É preciso apoiar os colombianos na terrível guerra que travam contra a desinformação.


O Caminho da Paz é o diálogo que Uribe recusa

As FARC-EP, seus mais de 25 mil guerrilheiros e guerrilheiras, sua extensa rede de apoio por toda a Colômbia só existem porque são parte inseparável da luta do povo colombiano por democracia e justiça social, confrontada com uma oligarquia sanguinária e mantida pelo imperialismo estadunidense. Gestos valem muito mais que palavras e da parte de Uribe só há os delírios da política de Bush, em franca decadência, mas à espreita para afundar a América Latina em conflitos.

As forças democráticas e progressistas não podem conciliar com as provocações imperialistas e devem se postar a favor da troca humanitária de prisioneiros, o estabelecimento de uma zona desmilitarizada para dar início às negociações de paz e a uma efetiva democracia na Colômbia, que permita a todas as forças políticas respirarem os ares democráticos que prevalecem na América Latina.


Paulo Vinícius. Cientista Social, diretor de Formação da União da Juventude Socialista.


Notas


1Veja este impressionante discurso do Che: http://www.youtube.com/watch?v=w3Ja9zZa5Oc

2Wikipédia: Para saber um pouco mais sobre a Gran Colômbia: http://es.wikipedia.org/wiki/Gran_Colombia

12Veja o vídeo com o discurso de Che no You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=w3Ja9zZa5Oc

Um comentário:

  1. Está muito bom o blog, parabéns Paulo.

    Quanto mais espaços de enfrentamento ideológico se criarem contra a mídia conservadora e corrupta que temos aqui no Brasil, melhor!

    Obrigado aí pelo link do blog da UJS-Ce no Coletivizando, retribuímos a gentileza e o seu link também está lá no nosso blog.

    David Aragão.

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