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sábado, 14 de dezembro de 2024
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
CTB Bancários DF termina 2024 em plena luta: #semAnistia, defesa do BB Público, Concursados CEF e Sarau do Cebolão
Rafael Guimarães, participa de audiência pública na Câmara dos Deputados em defesa da posse dos concursados da Caixa, em 9/12
Sindicato dos Bancários de Brasília amplia participação na Fórum
Lula, Haddad e o Brasil na cama de Procusto – Por Paulo Vinícius da Silva
O atual momento da luta é marcado pela especulação a favor do dólar e pela pressão do “mercado” para tirar dos mais pobres e preservar privilégios
Unir a juventude e a classe trabalhadora pela Redução da Jornada e pela Valorização do Trabalho - por Paulo Vinicius da Silva
Em artigo, diretor de Política Sindical dos Bancários de Brasília debate o papel da juventude na luta contra a escala 6x1
Ajuste fiscal mais uma vez no lombo da classe trabalhadora? | Fórum Sindical | 13.11.24
Entrevista com secretário de Política econômica, Guilherme Mello, participação Ricardo Berzoini
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
A batalha de Fortaleza e as lições imediatas das eleições de 2024 - Paulo Vinícius da Silva
A impressão que tenho, diante das diversas análises acerca do resultado das eleições municipais, é que venceu a Frente Ampla, bem ampla mesmo - foló, em bom Cearês. Na real, o povo preferiu evitar o mal maior, mesmo que não tenha votado do jeito que queríamos.
Um amigo querido, quadro, fulminou-me ao ler o artigo anterior, numa mensagem de texto: "Frente Ampla, onde"?! E eu respondi: basta pensar em como seria o clima político se o Bolsonarismo tivesse ganho nas disputas do segundo turno. Aí você veria o tamanho do buraco.
Mas, em parte, ele tem razão. A Frente Ampla ainda é uma aspiração, não é uma organização, não tem sede, presidente, ações próprias. Ela é, em boa política brasileira, um xadrez tridimensional com as mais diversas alianças, malgrado a crueza da luta de classes. Poderiam ser tais alianças contra nós, e muitas vezes são, sabemos o gosto amargo. Mas desde que vencemos, passou a ser contra o Bolsonarismo, daí a definição de que a vitória foi da Frente Ampla, no sentido de negar o protagonismo ao extremismo golpista. E é um fato muito positivo, pois seu isolamento é essencial para que os caminhões de provas e as milhares de vítimas possam valer na balança da justiça, sem anistia para golpistas nem para Bolsonaro.
Os acontecimentos seguintes na cena política despencaram de abismo em abismo, como poderia dizer o poeta Paraibano Augusto dos Anjos. Rejeitar o Bolsonarismo não é pouca coisa, é notável.
A despeito dos manuais de eleições municipais, tivemos um grande peso nacional, superando até o debate local, na eleição de Fortaleza.
Fortaleza é rebelde, elegeu Maria Luíza Fontenele, então no PT, ainda em 1985. O neoliberalismo propriamente dito também por lá principia, com a chegada ao governo do Ceará, ainda em 1986, dos então "jovens empresários" liderados por Tasso Jereissati, "o galeguim dos zói azul", figura importante no PSDB desde então, rompendo o domínio "dos coronéis" que estavam no poder sob o Regime Militar de 1964. Paes de Andrade, Mauro Benevides, Gonzaga Mota marcaram a política cearense quando Sarney presidiu a democratização, a constituinte e a eleição de 1989.
A virada do Brasil neoliberal tucano para a era Lula encontrou correspondência com o crescimento da esquerda, projetando uma hegemonia das forças progressistas no cenário local. O surgimento de lideranças femininas é ainda minoritário, mas mesmo nesse contexto, indelével, inclusive pela projeção da Prefeita Luiziane Lins (PT), vinda ela também do movimento estudantil.
Muita vez, a capital alencarina antecipa tendências e grandes debates nacionais nos processos eleitorais que, desde 1985 tem sentido progressista (como me alertou recentemente o amigo Aécio Holanda, coetâneo do movimento estudantil secundarista). De fato, Fortaleza tem uma característica progressista e liberta, assim como o humor político do Ceará Moleque. Em 1922, Fortaleza elegeu o Bode Ioiô vereador, como voto de protesto. O pessoal fresca mesmo.
Fortaleza também antecedeu o padrão televisivo e midiático da implantação da TV e da Propaganda Eleitoral ao fim da Ditadura, como bem mapeado pela Socióloga Rejane Accioly. Isso é coerente com uma sólida tradição cearense em fotografia, artes visuais, cinema e marketing, inclusive eleitoral. O Ceará é presença constante na TV Brasileira, em especial pelo peso do Sistema Verdes, Mares, afiliada local da TV Globo.
A vitória de Brizola sobre Lula na eleição do primeiro turno de 1989 mostra uma outra característica, que é a pluralidade da esquerda cearense. Lideranças do quilate de Heitor Férrer, André Figueiredo, Roberto Cláudio, Eudoro, Sérgio Novais, Cid Gomes e os camarada Inácio Arruda, Chico Lopes e Eliana Gomes protagonizaram um primeiro ciclo de lideranças que ainda hoje têm protagonismo. Uma segunda geração se projeta, com a chegada ao governo nacional e as vitórias locais, que resistem até retomada, com o terceiro Governo lula. Exemplos são Camilo Santana, mas também o decano José Guimarães, líder do governo na Câmara e, agora, Eumano Silva, atual governador. Irrelevante nacionalmente, Ciro Gomes tentou deter essa tendência e a acelerou, perdendo ainda mais relevância.
Das grandes cidades do Brasil, Fortaleza, Terra do Sol foi palco de uma aposta arriscada, diante da força extraordinária da candidatura conservadora, representada pelo deputado André Fernandes, aposta da extrema-direita, fenômeno ainda oculto pelo enigma das redes sociais. A discussão foi, basicamente, PT ou anti-PT. Disso resultou a margem apertada da vitória maiúscula de Evandro Leitão, que virou a eleição. Camilo Santana e Cid Gomes impulsionaram a candidatura do Presidente da Assembleia, pedetista, para ser candidato pelo PT, liderando a frente que reuniu o apoio de Lula e Elmano. Eles peitaram a renovação de direita.
Renovação que veio através da figura constrangedora de André Fernandes, que obteve uma projeção espantosa, ademais na juventude. Jovem, bom de conversa, bonito e adestrado, mostra pouco conteúdo, muito preconceito e ambições desmedidas. Surfou no abismo que separa a esquerda da juventude que compunha o bônus demográfico de 2012. A dificuldade da esquerda em renovar lideranças se expressou sobretudo na juventude, com a demagogia do bolsonarismo se apresentar como força "anti-sistêmica". André navegou nessa oposição, não encontrado quem lhe disputasse espaço. O campo conservador pôde, assim, superar a liderança em declínio do capitão Wagner, e apostar as fichas no jovem. Não importou a fragilidade do material, pois em tempos de influencers e redes sociais, isso é o de menos.
E ele fez bonito em fazer feio. A cumplicidade com o negacionismo genocida, o irracionalismo, o humor ofensivo, a misoginia, o discurso do falso profeta, o bolsonarismo e tantos constrangimentos lhe valeram a célebre reprimenda de Flávio Dino na Câmara.
Nesse tempo era bom. Levantaram a capivara do falador e acharam o apelido "raspa". Do Bode Ioiô pra cá, piorou, muito, havemos de concordar. Mas é claro que a língua ferina cearense jamais perdoaria uma criatura que quer ser levado a sério dando aula de depilação aonde o sol não costuma bater. "Raspa" já é o diminutivo, gentil e de duplo sentido, podendo ser dito sem problemas, embora a expressão completa não possa ser dita, pelo decoro.
Seu protagonismo teve base em duas forças inegáveis. A primeira, da própria direita conservadora cearense que aderiu ao Bolsonarismo. A instrumentalização do campo conservador pela extrema direita ganhou força com a sua instalação no poder Executivo nacional. É a esse bloco que Ciro leva pela mão o ex-prefeito Roberto Cláudio, gesto cuja racionalidade só se explica contra o plano de fundo das figuras de Camilo e Cid Gomes. Ciro poderia ter apoiado Izolda Cela ao governo. Perdeu. Poderia ter reunido apoio a seu prefeito, Sarto. Muito ao contrário. E após fazer de tudo em vão para implodir a esquerda, acabou explodiu seu próprio campo e segue em direção à direita. Nacionalmente já se omitira em 2018, foi para Paris. Localmente, queima as pontes e abre outras, sem nojinho. Resta saber se tais estripulias são capazes de fazer rodar a roda do tempo ao contrário. Não são.
As modificações na esquerda cearense se deram com a manutenção de um bloco hegemônico que sobrepassa os partidos e que foi capaz de sobreviver ao bolsonarismo. A liderança evoluiu num contexto de presença nos espaços de poder, liderança nos movimentos sociais e acordo entre os maiores partidos de esquerda. Camilo, Cid, Elmano e Evandro Leitão compõem uma nova página da liderança que tem raízes no primeiro ciclo mudancista que afastou o PSDB do controle sobre a Política Cearense, ainda são da mesma geração. Essa transição trouxe setores políticos que compunham a hegemonia anterior, sob Tasso. O sentido progressista persistiu até agora, quando se colocou uma disputa acirradíssima e Camilo topou o jogo. Por já ter ampliado a composição interna até do PT (Evandro veio do PDT), afirmou-se simbolicamente a unidade em torno do PT e de Camilo com a onda 13.
Logo depois da vitória de virada, as placas tectônicas tremeram. Diante da possibilidade de o PT acumular a Prefeitura, o Governo, a Presidência e a Presidência da Assembleia, Cid Gomes se insurgiu, mas com jeitinho. Deixou claro que a hegemonia é plural. E o próprio candidato, Santana, do PT do Juazeiro do Norte, declinou da proposição de seu nome. Cid deve ter lembrou da estreiteza da margem da vitória, questionado sobre o futuro da Frente Ampla e também a aliança que pilota, ao lado de Camilo. Ganhou por ter mostrado o óbvio. O topo é duro de alcançar, mas de manter, é muito mais difícil.
Esse chamado não foi contradito. Vi muita gente de todas as denominações - e no Ceará tem de tudo - botando o 13 no peito, a despeito das tretas, entoando as divertidas músicas da campanha, que alertaram:
"Só quer ferrar com a vida do povo.
Geral sabe que ele vai estragar nossa cidade,
Ele não tem experiência nem maturidade.
Mentiroso, não vai governar
Fortal do jeito certo.
O povo tá comentando:
não vota em raspa caneco!
Deixa ele achar que
vai comandar
Fortaleza ...
Leitão não vai
deixar!
A tropa do 13 é fogo,
vai botar pra correr da cidade
o mini Bozo!"
A aposta plebiscitária foi aceita, e a resultante foi a superação da liderança de Ciro Gomes; obstaculizou-se uma liderança jovem de extrema direita a partir da confiança em um campo já longevo que lidera a política cearense desde a perda da influência de Tasso e do PSDB e que tem uma liderança também nova, Camilo Santana, agora Ministro da Educação.
A unidade, a mobilização bairro a bairro, a contraofensiva nas redes sociais e nas músicas de campanha, o alerta permanente sobre o perigo para a cidade e sobre as fragilidades do adversário, foi a soma desses atores que levou à vitória. Se, no caso de Paes (Rio de Janeiro) e Campos (Recife), a Frente Ampla sem o protagonismo direto do PT levou a esmagadoras vitórias, no caso de Fortaleza, a Frente Ampla foi representada pelo PT, sendo criticada por não ser ainda mais à esquerda. Foi com a entrada do povo na campanha que o jogo virou. Em minha perspectiva, isso alerta-nos para a vitalidade da Frente Ampla e para a necessidade de buscar uma hegemonia distinta e brasileira, no seio dos setores mais progressistas, como Frente Popular.
Mas isso não é tarefa de governos, de caciques, de lideranças que pontuam e passam, mas a tarefa de organizar o povo para que não sejam possíveis os retrocessos. O cearense é muito vivo. Tem uma opinião muito desconfiada sobre política, porque dela participa, e muito. Todos com quem conversei disseram-me a mesma coisa: vamos por aqui, mas há problemas. E talvez o maior problema seja o do futuro, mas não qualquer futuro. O fascismo se apresentou sob o manto da juventude, e foi rejeitado, ainda que por pouco, o que dá orgulho de Fortaleza. Mas isso não nos exime de chamarmos a turma que lotou os bairros e as redes e renovarmos as lideranças, as práticas, corrigir erros. Aí sim, poderemos considerar que estamos no caminho da disputa da hegemonia. Por ora, ganhamos por um pelinho, então precisamos nos unir mais e ir em direção ao povo.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
Lula, Haddad e o Brasil na cama de Procusto - Paulo Vinícius da Silva
“Um dos malfeitores chamava-se Procusto e tinha um leito de ferro, no qual costumava amarrar todos os viajantes que lhe caíam nas mãos. Se eram menores que o leito, ele lhes espichava as pernas e, se fossem maiores, cortava a parte que sobrava.”(1)
O Golpe contra a Presidenta Dilma marcou o êxito da ocupação estrangeira do Brasil, comandada pelo imperialismo estadunidense e pela elite financeira. Não chegou nenhum porta-aviões, não perdemos território, ainda. Foi feito por nossos próprios sabujos, que mordem o povo e lambem as mãos do imperialismo. Aportou com os smartphones, as redes sociais e a imprensa golpista, no desatar da Guerra Híbrida, em junho de 2013.
O atual momento da luta é marcado pela especulação a favor do dólar e pela pressão do “mercado” para tirar dos mais pobres e preservar privilégios, como a isenção tributária para 17 setores da economia, incluindo a mídia empresarial. Custo Brasil?! Gritante, imoral é o Custo Sistema Financeiro, o Custo Rentista.
Temer, Bolsonaro, a maioria venal do Congresso, a imprensa empresarial, o centrão e a extrema direita, todos uniram-se contra Dilma, para rasgar a soberania popular em favor do domínio do rentismo e para entregar o Pré-Sal.
Ao afirmar que o desafio é colocar o povo no orçamento e o rico no Imposto de Renda e ao denunciar a alta taxa SELIC, Lula cometeu dois “pecados mortais” diante da vaca sagrada que muge: “os banqueiros, os rentistas, os especuladores mandam no Brasil’. Essa construção de décadas é a própria pirâmide de classes brasileira.
Sob FHC, o Plano Real internalizou a hiperinflação, com a criação do mercado da dívida pública. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu que os “compromissos” com a dívida valem mais que as políticas públicas. Os “fundamentos macroeconômicos” se estabeleceram, com Câmbio flutuante, Superávit Primário e Regime de Metas de inflação. O Brasil é realmente rico. Mesmo com essa âncora no pescoço, Lula conseguiu fazer os melhores governos para o povo E para os banqueiros. Manteve a sangria, mas melhorou os indicadores sociais, cumprindo mesmo o que seus adversários criaram. De nada valeu esse bom-mocismo. Eles deram o Golpe do mesmo jeito, e radicalizaram o neoliberalismo.
Estabeleceu o brutal Teto de Gastos, promoveu a liberalização no sistema financeiro graças a um dos mais altos spreads do mundo, promoveu a desconcentração privada do sistema financeiro para a “tigrada” e o capital estrangeiro, além de impor uma agenda privatista nos bancos públicos. Some-se a isso o cassino da dívida pública e as isenções tributárias, e vemos quem manda no orçamento, nos juros e no país. Luta de classes na veia. ((2)
A Casa Grande vive sob dupla vassalagem, aos EUA e ao capital financeiro rentista e parasitário. Daí veio o comando para o cerco econômico ao Governo Lula 3, impedindo a aplicação do programa decidido nas urnas.
Não se duvide disso do que significa descumprir esse mandato do alto. Afinal, o Golpe foi dado sob a falsa acusação de “pedaladas fiscais”, rasgando o voto popular. Já Bolsonaro, fez o que quis, e tava tudo certo. Pouco importou que o Teto de Gastos nunca fosse aplicado, e mal se lembra que ele quebrou o Brasil, colocando sempre a raposa a cuidar do galinheiro. O que importava era a agenda antitrabalhista e a privatização da ELETROBRAS. Para Lula, a história é outra, um rigor orçamentário jamais praticado nos EUA, na Europa, na OCDE.
É a cama de Procusto, montada para que nela caiamos, pequena para o Brasil, obrigando a decepar no crescimento do país, na redução da desigualdade, nos investimentos indispensáveis. O povo não pode, outra vez, mudar o país através do voto e pelo Executivo. O Teto de Gastos foi desfeito, mas não sem um amplo conjunto de travas para beneficiar o sistema financeiro rentista, contra a produção. A “Autonomia” do Banco Central e Campos Neto no leme foram para isso. O Arcabouço Fiscal e o Pacote Fiscal decorrem desse poder neoliberal, que não foi anulado na eleição de 2022.
É muita ilusão crer que a aprovação do Orçamento da Transição e do Arcabouço Fiscal se daria sem concessões, ou que o amplo apoio era sinal de trégua. Ao contrário, era só o começo do jogo. Será que a institucionalidade burguesa no Brasil permitiria a ruptura com o neoliberalismo? O povo vota, mas a economia, o orçamento, o fruto do seu trabalho, os juros, as dívidas, tudo pertence à elite financeira, que hoje não se resume aos banqueiros. O SFN foi profundamente alterado desde o Golpe. Instalou-se uma farra do boi que permitiu a inúmeras instituições participarem do banquete das altas taxas de juros e se beneficiassem integralmente com a nova fronteira tecnológica sem qualquer contrapartida. É a essa tigrada que as dicas privilegiadas nas palestras de Campos Neto são dadas.
Não é o governo Lula, ou Haddad que é neoliberal, é o Brasil. Diversas reformas asseguraram a ordem correta da “cadeia alimentar”, com os especuladores no topo e a nossa condição subalterna face aos EUA. É um crime continuado contra a economia popular: o Brasil não pode crescer. Mas, com Lula, cresce.
Daí o medo-pânico do “mercado” e da mídia à ascensão dos BRICS e à possibilidade de transição na moeda de reserva internacional. É preciso exorcizar os BRICS e travar o Brasil, deixar-nos sem saída. Para isso, nada melhor que o próprio Campos Neto declarar em abril deste ano, na data da chegada das caravelas de Portugal ao Brasil:
“Se a incerteza diminuir, voltamos para a forma de atuação que tínhamos começado. Outra forma é o aumento da incerteza ficar mais tempo e criar ruídos crescentes, então teremos que trabalhar como seria o ‘pace’ [ritmo], teríamos que diminuir o ‘pace'”, disse, em participação em evento da Legend Capital, em São Paulo. (3)
O combinado não fica caro para eles, só para nós. Por isso, a eufemização e o inglês escondem do povo, mas são o apito de cachorro que deixa claro ao “mercado”: a hora era de sentar a marreta, especular contra, gerar incertezas, se o interesse fosse os juros altos, #ficaadica. A firme identidade entre o presidente do BC e o “mercado” para cercar o governo são reafirmadas por outra dica bilionária:
“Campos Neto repetiu que a autarquia só vai intervir no câmbio se houver problemas relacionados a uma distorção do mercado, mas não por uma mudança no valor do real decorrente de alteração nos fundamentos. “Se tiver uma percepção de que o risco piorou, o câmbio vai refletir”, disse o presidente do BC.”
La distortion, c´est moi. Nos meses seguintes, o recado se demonstrou mais que útil. Desde que Lula assumiu, minguaram as intervenções do Banco Central no câmbio. A palestra mostrou que o caminho não era apenas prever, mas botar “o PIB para baixo” com juros, câmbio e a defesa dos privilégios e sabotar a economia produtiva e o governo.
Os ataques covardes contra Dilma não impediram seus detratores de manter as isenções tributárias que somam centenas de bilhões de reais. A apropriação do orçamento do Executivo pelo Congresso, sob Arthur Lira, mantém a força local das oligarquias e, ao mesmo tempo, sangra o governo, rasgando de novo a Constituição, instaurando um semipresidencialismo. Vale, com certeza, impedir a tributação dos mais ricos. Assim, cercado pela ganância dos que mandam, Lula reclama sozinho, e pode cair, se vacilar. Será que não percebemos que é preciso o povo nessa história?
As forças populares precisam entender essa virada de chave que une neoliberalismo e fascismo e os limites da institucionalidade burguesa. A libertação do Brasil depende da ruptura com o neoliberalismo no curso da mudança no mapa do mundo. A defesa da Nação como povo é o alicerce para unir a Frente Popular, e abrir um novo horizonte histórico. Contudo, há imensa confusão sobre os papeis de Lula e do seu governo, como a expressão da Frente Ampla, e o papel dos setores populares na disputa dos rumos do governo, na luta para afirmar o mandato das urnas, para questionar o neoliberalismo e a elite financeira. Também para isso servirá a Frente Popular, ao organizar as maiorias. Se a bola segue tocada do governo para o “mercado”, será sempre 7X1 contra o Brasil. É preciso que o povo entre no jogo, a Frente Ampla e o Governo não podem tudo.
Os especuladores e rentistas perderam a vergonha. A ata unânime do COPOM (4) de novembro de 2024, em seus 23 pontos, cita a palavra “trabalho” 12 vezes, 10 vezes como “mercado de trabalho”. A palavra “emprego” aparece 3 vezes e, “desemprego”, uma apenas. Na História, se coubesse a ela um título, poderia ser: “Mais Juros e Menos Emprego, gente!” Sim. É isso, sem tirar nem pôr. O problema do país para o COPOM é o crescimento e o emprego aquecidos, tá lá. O imenso peso dos juros e do dólar inflado não geram inflação, e sim uma suposta inflação de serviços em alta. Reconhecendo que não foi suficiente a sabotagem da economia, o BC sinaliza aumentar ainda mais os juros!
Foi sobre essa cama de ferro de Procusto que Haddad teve de encaixar o “pacote fiscal”. Pelo menos, dessa vez, ele gemeu. Sob a orientação de Lula, pela primeira vez, o governo deixou claro à sociedade que se trata de luta de classes, liderada pelos ricos. Todo o ano de 2024 foi consumido pela luta do governo para cumprir o Arcabouço e as dicas de Campos Neto para que a instabilidade crescesse, e os juros, e o dólar também. O povo foi espectador silente nesse debate. A maioria dos brasileiros não entendem os juros compostos na sua vida. A pessoa se assusta com uma inflação ANUAL inferior a 5% e paga taxas maiores que 5% AO MÊS, e acha normal.
A ganância dos rentistas morde inacreditavelmente mais fundo que toda a corrupção, e é chamada de “responsabilidade fiscal”. Como o povo poderia entender? É preciso amplo e didático diálogo, é preciso linha política. Nosso batente é muito alto para o povo subir na escada da consciência, para entender a verdadeira luta de classes no Brasil. Onde estão os grandes espaços de debate, trabalho de base e mobilização? Como fazer as redes sociais servirem à unidade da luta popular pela libertação do Brasil? Lula denuncia, mas ao final é obrigado a trilhar o beco sem saída, porque não há mobilização popular para responder aos seus apelos. A Frente Popular deve ser esse grande espaço que aproxime a esquerda do povo e impulsione a defesa da Nação, da Democracia e dos Direitos.
Do outro lado, o sistema financeiro e a mídia empresarial escutam, entendem e agem segundo as orientações de inflar o dólar e os juros, cercar o governo e arrancar dos pobres o que sobra aos ricos.
Se, por um lado, o governo buscou ao máximo evitar os aspectos mais brutais do corte sobre os pobres, a sua maior contribuição foi precisamente colocar a injustiça no centro da mesa do debate. Assim, o governo indica por onde podemos retomar no imposto o que agora se perde em salário, produção e emprego. Mas o que fica evidente é a derrota, a falta de unidade e mobilização social para travar a grande luta.
A despeito de toda a inteligência de Haddad e da boa vontade de Lula, radicalizar o arcabouço fiscal, estendendo seus limites para o aspecto mais benéfico da economia, o consumo popular, apenas nos deixa mais longe da reversão da tragédia que se abateu sobre o Brasil, tornando ainda mais dramática a falta de tempo e de unidade no nosso campo. Ainda que cortando menos do que “o mercado” propõe, cortar no abono, no aumento real do salário mínimo, impor um rigor imenso sobre o BPC, mostra que estamos sendo derrotados na política, nas ruas, nas redes. O jogo é muito maior do que podem Lula e o Governo. A política é muito mais que a institucionalidade, mesmo quando nelas ocupamos uma beirinha. E, ao contrário do que as vivandeiras vermelhas do apocalipse predicam, não há panaceia, bala de prata, cerco ao Palácio de Inverno. Essas fanfarronices são apenas o mais rápido caminho para a derrota, este sim o pecado mortal.
Precisamos de trabalho de base, mobilizar milhões para que se dispute o governo e cerquemos o rentismo parasitário, que é a mãe do fascismo e da extrema direita. É preciso unir o Brasil contra a brutal exploração que a elite financeira impõe a quem trabalha e produz, enorme parasita sugando a seiva da vida, o trabalho, relegando o nosso povo a sofrimentos inauditos, à pobreza, à violência e ao desespero. Esse é o caldo de
cultura para a radicalização fascista. E é, ao mesmo tempo, o ponto frágil que, se devidamente atacado, pode abrir caminhos para uma outra fase, para um novo projeto nacional de desenvolvimento em que caiba a classe trabalhadora e o povo, e não apenas a elite financeira, parasitária, obstáculo à libertação e beneficiária única de nossas misérias.
Referências:
1) Bulfinch, Thomas. O livro de ouro da mitologia: (a idade da fábula) :histórias de deuses e heróis / tradução de David Jardim Júnior — 26a. ed. — Rio de janeiro, 2002
2) Todos os gráficos foram gentilmente selecionados pela subseção do DIEESE que funciona no Sindicato dos Bancárias de Brasília, no que agradecemos a colaboração da Socióloga Paula Reisdorf e do Diretor Daniel de Oliveira.
3) Isto é Dinheiro, 22/4/2024. Se incerteza continuar alta, BC pode ter que diminuir ritmo de cortes de juros, diz Campos Neto, disponível em https://istoedinheiro.com.br/se-incerteza-continuar-alta-bc-tem-de-trabalhar-no-ritmo-de-cortes-afirma-campos-neto/
4) Ministério da Fazenda. Apresentação Medidas de Fortalecimento da Regra Fiscal, disponível em medidas-de-fortalecimento-da-regra-fiscal.pdf
5) COPOM. Atas do Copom Atas do Comitê de Política Monetária - Copom 266ª Reunião - 5-6 novembro, 2024, disponível em https://www.bcb.gov.br/publicacoes/atascopom
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
domingo, 24 de novembro de 2024
O encontro do Rei do Baião com o Louro Massagista - Paulo Vinicius da Silva
O vídeo abaixo me leva a uma lembrança familiar. Meu pai, Seu Louro, tinha um amor todo especial pela música e pela TV. Mais que isso; tendo sido jogador, ele se sabia parte daquela turma, representando o esporte. Ele tinha um quê de artista e valorizava muito qualquer pessoa que, por exemplo, lançasse um LP. E, claro, lá em casa todo mundo foi amorosamente educado na fé Católica, e no amor ao Padre Cícero, à Nossa Senhora e ao Luiz Gonzaga. Tipo um kit nordestino básico pra enfrentar a cidade grande ou a selva mais cerrada, por gerações.
Seu Louro Massagista, meu pai, foi chamado certa vez ao hotel em que Luiz Gonzaga se hospedara, em Fortaleza. Massagista profissional de times e clubes, ex-goleiro de times com o Ferrim, o Avante e o Remo, Louro Massagista era o nome do José Freire na boca do povo. Por isso, talvez, fora chamado para dar um lenitivo naquele homem que por tantos anos, de pé, suportou o peso e o remelexo da sanfona, fazendo a alegria e dando identidade a seu povo. Ele era o Rei do Baião, meu Pai era o Louro Massagista.
E ele foi. Claro, acompanhado de Dona Lourdes. Lembro do esgar, a careta que Seu Louro fazia, ao lembrar-se da visão dos joelhos dele, muito inchados, já muito comprometido.
Papai dava um excelente atendimento. Fazia ele próprio o seu óleo de massagem, desdobrando e agregando qualidades. O quente e o gelo, forno e mesmo imobilizações com plantas como o mastruz, enfaixado e/ou tomado com leite. Quiropraxia, relaxamento, massagem superficial e profunda e aquelas duas mãos de goleiro, de boxeador e de massagista esportivo. Agora os conhecimentos de enfermagem básica, prática. Ele tinha quatro anos de escolaridade, mas só chamava pelo nome técnico cada osso, cada músculo, que sabia onde estava em cada um de nós. Para bater ou para curar, dependia do freguês.
Seu Louro e Dona Lourdes nos legaram a prova da efetividade do atendimento, aquele dia em que o Louro Massagista atendeu o Luiz Gonzaga, Rei do Baião. E restou o disco O Fole Roncou, e aquela capa, com a letra trêmula, dedicada à "Lourdes Massagista",pois assim deveria ser o sobrenome da esposa do Louro Massagista.
*Quando Luiz Gonzaga ouviu Caetano, no exílio, gemendo a Asa Branca.*
https://www.instagram.com/reel/DCY06bZx7Yn/?igsh=emJvZ3ZxMXFhNmlt
sábado, 23 de novembro de 2024
União Europeia acata mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional contra Netanyahu, Herodes de Israel
Chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell afirma que o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional contra Benjamin Netanyahu deve ser cumprido pelos países signatários do Estatuto de Roma, incluindo as 27 nações da UE. pic.twitter.com/K3XrEtYbBW
— Breno Altman (@brealt) November 21, 2024
Presidente Lula e presidente Xi Jinping durante assinatura de atos e declaração conjunta à imprensa - EBC
Atos adotados por ocasião da visita ao Brasil do presidente da China, Xi Jinping
sábado, 16 de novembro de 2024
Unir a juventude e a classe trabalhadora pela Redução da Jornada e pela Valorização do Trabalho - Paulo Vinícius da Silva
"Segundo dados do IBGE e projeções do IPEA, temos hoje a maior população jovem da nossa história em termos absolutos. Algo em torno de 50 milhões de brasileiros(as) entre 15 e 29 anos. Por outro lado, temos, neste momento histórico, um número proporcionalmente reduzido de crianças e idosos, em relação à população em idade ativa, o que proporciona uma baixa taxa de dependência econômica. Os especialistas chamam esta situação especial de bônus demográfico. Ou seja, os próximos 20 anos serão cruciais, se quisermos aproveitar este bônus demográfico e explorar cada vez mais o nosso potencial de crescimento. Por isso, cada ação voltada para a formação educacional e científica, de inclusão econômica e cidadã da juventude, hoje, não está simplesmente relacionada aos direitos individuais de uma parcela da população. Tal investimento está umbilicalmente ligado ao desenvolvimento do país”.(1) Danilo Moreira (2011)
Eu estive ontem na manifestação de Brasília em apoio ao projeto da Dep. Érika Hilton (PSOL), com vários sindicalistas e militantes de esquerda, além da deputada Érika Kokay (PT -DF) e do deputado distritais Gabriel Magno (PT) e Fábio Félix (PSOL). Foi uma boa manifestação, majoritariamente estudantil e juvenil, o que me traz lembranças muito fortes, pois eu me formei na luta da juventude e tenho "serviços à prestados causa", digamos assim. Então, eu já participei de vários cumes e vales do movimento social e da conjuntura no Brasil nas últimas três décadas. Comecei no Fora Collor, com 15 anos, já organizado na UJS e no PCdoB, no Distrital da Barra. Lutei contra FHC e a imposição das bases neoliberais que vigem - e se aprofundam até os dias de hoje. Do ponto de vista da forma, a manifestação seguiu o mesmo formato das que fazemos, com os mesmos erros. O fato inovador é a juventude ter vindo. Naquele espaço, para mim ficou evidente a força desaproveitada da juventude trabalhadora e do próprio movimento estudantil. Isso exige lançar pontes para o diálogo e a ação conjunta para a juventude e a classe trabalhadora.
Não existe essa de "criador" do movimento. Não existe tampouco isso, de movimento "espontâneo" em tempos de guerra híbrida, redes sociais e ascensão do fascismo. Nós perdemos o direito a esse tipo de inocência. Saúdo com alegria o ingresso da nova geração na luta da classe trabalhadora pela redução da jornada de trabalho, pois é uma luta de gerações. bicentenária, com história, com milhares de mártires e que jamais foi secundada pela luta dos trabalhadores. Nessa batalha, eu entrei na última década do milênio passado, na luta pelo projeto das 40 Horas semanais, do Deputado Inácio Arruda e do Senador Paulo Paim.
Quero reconhecer a legitimidade da juventude se preocupar, assumir e liderar o tema. O projeto do Capital é aprovar o trabalho por hora e sem limites; é destruir as organizações dos trabalhadores e seus direitos. Então, ou a juventude assume, lidera e renova o movimento sindical, ou seremos derrotados. A classe trabalhadora reúne em si mesma a marca da universalidade e da representatividade, sendo ela mesma diversa, e vida é trabalho. O debate atual em torno da Redução da Jornada pela proposta do fim da Escala 6X1 tem, no entanto, um defeito de fábrica. Junto com a viralização, vem um outro vírus: "um movimento de trabalhadores sem a organização dos trabalhadores", o que é simplesmente impossível. Por isso, o fato de a Deputada e o conjunto da esquerda e do movimento sindical assumirem a bandeira é um acerto. Mas, sem ilusões com esse Congresso. "Laranja madura, na beira da estrada... Tá bichada, Zé. Ou tem maribondo no pé." (Ataulfo Alves)
Eu trabalho muito a internet e as redes sociais, vocês sabem. Quisera eu que os conteúdos progressistas tivessem livre passagem pela muralha dos algoritmos e do big data. A referência "viralizou nas redes sociais" não é para mim um argumento legítimo para a adesão acrítica ao que quer que seja. O fato é que não somente a esquerda sente as dores do nosso povo. A direita tem, através do big data, o mapa das nossas almas. Tem também os ambientes moldados para que exerçamos a nossa "liberdade". Por que os conteúdos fascistas mais viralizam nas redes e não os conteúdos progressistas, a exemplo da própria luta histórica pela redução da jornada de trabalho?
Ué, não pode não?! Não. Não existe nenhum direito da classe trabalhadora que foi conquistado sem a organização da classe trabalhadora. Mais que isso. Para a conquista de qualquer desses direitos, foi necessário ganhar os trabalhadores, ganhar a sociedade, fazer alianças políticas e aprovar o texto, e depois aplicar e disputar a aplicação da lei. Todas. Ou seja, é preciso que a classe trabalhadora se organize e faça política, fale à sociedade e ganhe a batalha política.
Mas acontece também o inverso. Um movimento pode favorecer um ataque do inimigo de classes, em especial se não valoriza a unidade e não tem expressão política clara.
Então, a primeira coisa é observar a distância do movimento sindical e mesmo estudantil da juventude trabalhadora. A expressão juvenil desse movimento repousa por uma realidade objetiva e é um fato extremamente positivo, que é o debate da redução da jornada de trabalho, a unidade da juventude e da classe trabalhadora, dos estudantes e trabalhadores. Por isso, é um defeito de fábrica, por um lado, essa posição que visa a separar a luta pela redução da jornada do movimento que criou essa luta e que conseguiu todas as conquistas no decurso do tempo.
Vargas não teria feito a CLT, se não tivesse sintetizado a luta mais avançada so movimento sindical, absorvendo na legislação brasileira a compilação de inúmeras lutas isoladas, de categorias, de partidos, inclusive abrangendo o movimento sindical classista, anarquista,socialdemocrata amarelo, católico, recebendo contribuições e fazendo a coluna do ciclo civilizatório de reconhecimento da classe trabalhadora brasileira. Seu defeito é a dependência do Estado, por um lado, é certo. Mas, por outro, isso ilustra um dos passos que Getúlio deu em direção à defesa da democracia e da classe trabalhadora, em que desde o chão da fábrica, passando pelos jangadeiros cearenses que foram ao Rio falar com Getúlio, passando pelos canaviais, chegou ao centro da política e virando lei. Pela primeira vez, todos os brasileiros e brasileiras puderam ser trabalhadores, dando um passo adiante no salto civilizatório da Abolição da Escravidão. É a utopia de todos sermos iguais e com direitos, à família, ao descanso e ao trabalho, hoje definido como decente.
O movimento sindical perdeu diversas batalhas recentes, decisivas. É decisivo que reveja seus erros para não os repetir. Parte dessa derrota se deveu à incapacidade da própria Nação Brasileira integrar a juventude do Bônus Demográfico de 2012 ao projeto nacional de desenvolvimento, através do trabalho com direitos e da educação. Nossa classe dominante, diante da oportunidade única de uma geração nova em pleno século XXI, preferiu seguir o curso normal da burguesia, classe parasitária e anacrônica, rentista, exploradora. Esse caráter se expressou nos sucessivos superávits primários aplicados ao longo dos anos, comprometendo o potencial de inclusão produtiva, industrialização, educação e políticas públicas. A fome tem pressa, a juventude, também. Não falta dinheiro, ele só foi usado a conta gotas para o povo e em baldes para burguesia financista. O dinheiro não desce para a produção, mas sobe de nós para a especulação e para os oligopólios. O capitalismo não é o regime dos livres mercados, o capitalismo é o regime do imperialismo, dos oligopólios e da guerra.
Por isso, e não por qualquer outra razão, a burguesia prosseguiu no movimento inclemente de centralização financeirizada das empresas de comunicação rumo aos oligopólios, por um lado, e por outro, pelo domínio das big techs e do big data. E deram o Golpe contra a Dilma, desregularam o mercado de trabalho e o sistema financeiro. Ou seja, eles agiram para arrebentar uma geração, e estão vencendo.
O movimento sindical menosprezou a importância de atrair aqueles jovens, promovendo a renovação de suas fileiras, pautas, lideranças. O movimento estudantil tampouco tem essa ponte que o integre ao mundo do trabalho. A pirâmide invertida é a realidade na maioria dos sindicatos: direções grandes, pequena força organizada nas bases. A disputa no campo das ideias mudou completamente, com instrumentos novos, derivados da revolução tecnológica que une cibernética, big data e redes sociais, exatamente nesse ínterim. Juntou a saciedade com o empachamento, o fastio. E aquela parcela de 2/3 da população ocupada, majoritariamente de jovens, foi cortejada e ganha pelas ideias das classes dominantes, ao mesmo tempo em que se lhes negou a incorporação ao mundo do trabalho com direitos, pois esse processo aconteceu em paralelo com a destruição das possibilidades do Estado e da Economia brasileiros, no curso do golpe de Estado de 2016, iniciado precisamente nas jornadas de junho de 2013 e na Operação Lava Jato. A sociabilização pelo trabalho foi duramente golpeada, sendo substituída por um individualismo em rede (curioso) e pela teologia da prosperidade, além dos laços de solidariedade que o povo sempre teve de criar e com que devemos aprender.
Em 2013, no Brasil, a esquerda e os setores progressistas viram surgir algo inédito desde a redemocratização: a direita nas ruas, impulsionada pela mídia golpista e por uma vasta rede de mobilização pela internet e smartphones de fora e de dentro do Brasil. Mas, claro, sob o elogio da independência e da espontaneidade, só que não. E com o mesmo vírus de "contra tudo que está aí", incluindo a luta de resistência, popular, sindical e estudantil. Em política não existe espaço vazio, se não agimos, o fascismo fará o que é seu mister, seu motivo de ser, fazer que a classe trabalhadora mesma apoie a sua derrota e o poder absoluto do capital financeiro.
Foi um grave erro não ter feito a passagem geracional para a turma que chegou no novo milênio, a Turma da Xuxa, digamos assim. De um lado, a militância estudantil mais consequente e de luta. Do outro, a liberdade e o fortalecimento do mercado interno, da economia formal e do movimento sindical com as centrais sindicais. Mas ficou sozinha uma imensa parcela da juventude em 2012, que tinha de 15 a 29 anos de idade e não tinha trabalho, ou não tinha estudo, ou nem trabalho ou estudo. Nem o movimento estudantil se fundiu com os trabalhadores, nem o movimento sindical recebeu aquela geração, apesar da nossa luta pela juventude trabalhadora. Foi a união da saciedade com as conquistas de nossos movimentos, com o empachamento, o fastio de enfrentar nossos defeitos, especialmente o continuísmo, o cupulismo, a falta de renovação geracional e o machismo.
A juventude estudantil ainda se recupera da COVID 19, que parou as escolas e universidades por dois anos. Isso tudo nos deixou de costas uns para os outros, a juventude e os trabalhadores. As consequências vivemos todos os dias. Uma delas é o sequestro das pautas populares para impedir a unidade do povo, tornando bandeiras progressistas em resultados de retrocesso, em reação. É uma nova chance, e a juventude está certa em se levantar contra a superexploração do trabalho. Por isso, não vamos olhar de longe. Nós vamos pra dentro: aproveitar o debate da redução da jornada de trabalho para chamar a juventude para o diálogo em todos os níveis. A classe trabalhadora se rebela justamente contra a superexploração do trabalho. Isso é maravilhoso. E não existe movimento da classe trabalhadora, sem as suas organizações.
Essa é uma batalha decisiva. O avanço tecnológico foi completamente apropriado pela burguesia, como Marx pontuou.
A lei segundo a qual uma massa sempre crescente de meios de produção, graças ao progresso na produtividade do trabalho social, pode ser posta em movimento com um dispêndio progressivamente decrescente de força de trabalho humana — esta lei exprime-se em base capitalista, onde não é o operário que emprega os meios de trabalho, mas os meios de trabalho que empregam o operário, em que quanto mais elevada for a força produtiva do trabalho tanto maior será a pressão dos operários sobre os seus meios de ocupação, tanto mais precária, portanto, será a sua condição de existência: venda da força própria para multiplicação da riqueza alheia ou para autovalorização do capital. Crescimento mais rápido dos meios de produção, e da produtividade do trabalho, do que da população produtiva exprime-se capitalisticamente, portanto, de modo inverso: em que a população de operários cresce sempre mais rapidamente do que a necessidade de valorização do capital. Marx, setembro de 1867
O incremento exponencial da produtividade do trabalho é gritante, mas não houve a consequente paga, nem em dinheiro, nem em tempo livre. Muito ao contrário, se a informática, as redes, a IA, se tudo isso aumentou a riqueza, não aumentou o tempo livre, mas aumentou e desregulou a jornada e o mercado de trabalho.
Apoiar a PEC foi muito acertado e somos parte dessa primeira vitória, - que é ela poder seguir - mas o caminho é longo e arriscado e não se esgota na PEC. A bandeira da redução da jornada de trabalho é central para toda a classe trabalhadora, não apenas para os trabalhadores formais. Os 17 setores que custam centenas de bilhões de isenções tributárias não têm qualquer contrapartida?
Senhoras e senhores...
— ivan ☭ 🚩🇵🇸 (@ivantuita) November 16, 2024
Simplesmente, Fernando Haddad esfregando a cara da grande mídia no asfalto. 💥
👏👏👏 pic.twitter.com/aZv3vZvecf
Na categoria bancária, temos a oportunidade de ir para cima da Escala 5X2 e defender a Escala 4X3, e o home office em favor dos trabalhadores. Assim, temos muito o que fazer junto com a juventude bancária. E o mesmo vale para a juventude comerciária, professores, operária e que trabalha nas agroindústria. Esse é um grande filão dessa luta. Pautar centralmente em todas as negociações coletivas, e com força, a redução da jornada e o direito ao fim de semana de descanso é um caminho importantíssimo da luta contra a superexploração da tecnologia contra os trabalhadores, trazendo de volta a escravidão.
Outro filão incontornável é o debate sobre a superexploração de quem não tem sequer o direito à Escala 6X1. Muitos saímos das manifestações de 15/11 e tomamos um UBER. Em vários desses casos, podemos ter encontrado um trabalhador da nossa geração ou mais jovem, e ele ou ela estaria trabalhando numa jornada 7X0. Às vezes, pressionado por dívidas que crescem velozmente graças aos juros do Banco Central, esses trabalhadores vinculados a uma empresa multinacional trabalharão 12, 14 horas. Isso é possível pela junção de Deforma Trabalhista e Trabalho em Plataforma, tudo para os patrões. Mais da metade da população ocupada não tem qualquer regulação da jornada de trabalho.
Chamemos a juventude para a luta pela redução da jornada de trabalho. Organizemos de modo decidido a juventude trabalhadora, reconhecendo sua autonomia, sua liderança, sua diversidade, tudo que pode nos ensinar. Não é apenas o departamento de juventude, a a diretora de juventude, mas a juventude em nossas categorias que cumpre organizar. Cadê as plenárias da juventude trabalhadora? Bora organizar?
Não tenhamos ilusões com esse congresso, nem com as big techs, mas tenhamos sim a esperança na construção de uma Unidade Popular que tenha como base a juventude e a classe trabalhadora. Nós temos uma juventude de ouro, só precisamos apostar nela. O coração apaixonado da juventude tem sempre a nos ensinar sobre os verdadeiros motivos de nossa luta. Talvez não se tenha apostado na minha geração, mas eu vivo para que as lições que aprendi não se percam, meus compromissos de vida com a classe trabalhadora, com a juventude, a manifestação pulsante das molas mestras para a libertação do Brasil. Precisamos da valorização do trabalho. Precisamos de redução da jornada, fim da escala 6X1, 40 horas semanais, escala 4x3, precisamos unir a nossa luta.
Não haverá movimento vitorioso dos trabalhadores sem a participação das suas organizações. O sequestro de pauta é uma tática fascista exercitada com primor pelas big techs, mas nós acreditamos no coletivo, na classe, na juventude do campo e da cidade, no povo brasileiro. Tampouco haverá futuro para o movimento sindical e de juventude se não unirem suas organizações para construírem a Unidade Popular, e se não chamarem a juventude e as bases para essa luta. Vamos pra dentro, vamos pra cima, vamos unidos, construir os espaços de diálogo e ação unitária da juventude e da classe trabalhadora.
Tiozinhos e Tiazinhas (entre os quais me incluo), vamos chamar a meninada, ensinar e aprender, pois a passagem do bastão é a única forma de salvar o Brasil, a classe trabalhadora e assegurar a democracia. É nóis por nóis, desde sempre, e sempre foi para eles, a juventude, tudo que fizemos. Proletariado é isso, a força dos braços e as crias para criar, e eles crescem.
Já escrevi e repito, citando o Che: dizendo “O alicerce fundamental de nossa obra é a juventude. Nela depositamos nossa esperança e a preparamos para tomar a bandeira de nossas mãos”.
REFERÊNCIAS:
1) Juventude e desenvolvimento: uma nova agenda para um novo tempo - por Danilo Moreira (2011)
2) Karl Marx. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro Primeiro: O processo de produção do capital. Sétima Seção: O processo de acumulação do capital. Vigésimo terceiro capítulo: A lei geral da acumulação capitalista. Diversas formas de existência da sobrepopulação relativa. A lei geral da acumulação capitalista. Disponível em Marxist Internet Archive, em O Capital: 4. Diversas formas de existência da sobrepopulação relativa. A lei geral da acumulação capitalista
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