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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Sarau do Cebolão Festa Junina dos Bancári@s, breve relato de um ato coletivo - Paulo Vinícius da SIlva

Veja um pouquinho do nosso Sarau do Cebolão, organizado pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, pela CUT e pela CTB, mensalmente no Setor Bancário Sul, com a produção espetacular de Hélder Helder Nascimento e em parceria com o Churrasquinho do Valdeci.




A atividade defende a requalificação da Praça do Cebolão, que dá início à Galeria dos Estados, ao lado da Rodoviária do Plano Piloto, no início da Asa Sul. A expressão "Praça do Cebolão" se refere a uma "piada" tipicamente Bancária. É conhecido o humor ferino dos bancári@s, acostumados a fazer chistes com aspectos de seu sofrimento diário, além das piadas de duplo sentido. Por isso, o cebolão se referia ao choro dos bancários ao receber a miséria de seu salário, de chorar. Daí, a expressão Cebolão, mais adiante se tornaria um boletim informativo do Sindicato dos Bancários de Brasília. A participação de milhares de bancários e bancárias nas assembleias e eventos da categoria no Setor Bancário Sul levou ao batismo da boca do povo, consagrador, de chamar o Setor Bancário Sul a Praça do Cebolão.

Por ela circulam diariamente milhares de trabalhadores e trabalhadoras das mais variadas categorias. Da Rodoviária do Plano até lá são dois palitos, três minutos de caminhada. Desde sua lida cotidiana, bancári@s, estudantes, comerciári@s, servidores públicos, de estatais, vigilantes, asseio e conservação, limpeza urbana, nossos queridos garis, vendedores, comerciantes.

Das micro-empresas que funcionam na Praça do Cebolão, destacam-se os que alimentam e dão de beber a essa multidão que circula e dispõe de alguns minutos para um refrigério, para matar a fome, mas não apenas.Uma pessoa de esquerda, amigo do sindicato e trabalhador incansável se destaca pelo trabalho e pela maneira como recebe centenas de pessoas que lá consumimos. O cearense Antônio Vieira veio como tantos de nós, ainda jovem, para vencer em Brasília. Não é o único cearense que lá ganha a vida com muito trabalho, reunindo sua família e amigos, servindo bebidas, almoços e jantinhas, aquela cerveja gelada e o afago a todo mundo que ali chega esfalfado, abatido pela dureza do seu trabalho, e dali sai comido, bebido, e tendo um legítimo atendimento cearense. É ele que lidera o Churrasquinho do Valdeci, que se tornou seu nome, conhecido por seu comércio e por sua serena opção pelos trabalhadores e trabalhadoras. Seriam muitas pessoas a citar, é impossível, mas ali trabalha uma turma gentil e atenciosa, é um espaço de resistência.

Mas a Praça do Cebolão já viveu dias melhores. A fonte secou, literalmente. O teletrabalho e a crise, o desamparo do GDF para com esse espaço público, a falta de iluminação, a insegurança, a degradação das estruturas e do local acabaram por chamar a nossa atenção para a defesa da requalificação desse espaço como arena de acolhimento da classe trabalhadora do DF, espaço que é sede de importantes bancos públicos, com o Edifício Brasília, do BRB, mas também do Banco do Brasil e da Caixa e do Banco Central do Brasil. Dezenas de restaurantes atendem os milhares que por lá circulam, convivendo e fazendo a economia girar, desde os manobristas e higienizadores e cuidadores de veículos até os comerciantes que empregam outras tantas pessoas nas cozinhas, no atendimento. A Praça do Cebolão ainda pulsa.



É preciso requalificar e ocupar o Cebolão, fazer a ligação com a Galeria dos Estados e com o Setor Comercial Sul, como um grande corredor de cultura, vida, serviços públicos, segurança, resgatando a qualidade de vida numa área fundamental de Brasília, com importância histórica e imensas possibilidades coletivas.

Assim, o Sarau do Cebolão articula as Centrais Sindicais CUT e CTB, através do Sindicato dos Bancários de Brasília, o Valdeci, Hélder Nascimento como produtor e coidealizador da iniciativa, o núcleo sindical de base da CTB Bancários DF, mas também artistas, movimentos culturais, poetas, comerciantes, trabalhadores de todas as categorias, a nossa diversidade, desde o empregado de estatal mais graduado até a pessoa em situação de vulnerabilidade que por ali passam, pedindo nossa atenção e uma força.

É notável como em cada sarau dezenas de pessoas participam ativamente dessa atividade político cultural. Cada pessoa traz a sua contribuição. Recitar um poema, cantar uma canção, contar uma piada, deitar uma confidência, fazer um espetinho em meio da fumaça e fazer o cheiro do provolone nos chamar ao fim da labuta, servir a cerveja gelada, dar um afago, erguer uma tenda, cantar todos juntos, cantar o parabéns do mês aos aniversariantes, dançar, até o chão, ou num forró cheio de chamego ou um samba prenhe de ginga. ao final, o sarau é um feito coletivo. Todos nós em cada edição, contribuímos para mudar por algumas horas a realidade dura e cotidiana e fazer um espaço de cultura, acolhimento, gastronomia e negócios dedicado à classe trabalhadora que compartilha esse território.

A experiência é clara, quanto mais qualidade proporcionamos, maior a receptividade e a acolhida, e o movimento pela ocupação dos espaços públicos e do convívio, da unidade popular, cresce nas coisas simples, propiciando ao povo não apenas o lugar de plateia, mas o protagonismo de quem constrói a própria vida e em meio ao trabalho duro encontra amparo e consciência na poesia, construindo coletivamente um espaço mais acolhedor e organizador da comunidade por uma vida melhor, por uma convivência harmônica, pelo progresso de todos que compartilhamos o dia-a-dia, trabalhadores e trabalhadoras.

Transbordar da luta meramente corporativa e ligar-se às massas reais, cuja força é inexaurível, buscando unir o povo pelo bem comum, eis um caminho que temos trilhado no Sarau do Cebolão. Dizia o poeta António Machado:

Caminante son tus huellas el camino y nada más; caminante, no hay camino: se hace camino al andar. Al andar se hace camino, y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no hay camino, sino estelas en la mar.

Já que há tantas dúvidas sobre o que fazer, façamos o que pudermos, juntos, e com coração. Tem dado certo.