No próximo domingo (1) os mexicanos vão às urnas eleger o novo presidente. O favorito nas pesquisas de intenção de voto é o progressista Andrés Manuel López Obrador, do Movimento de Regeneração Nacional (Morena). Caso seja eleito, López Obrador terá pela frente uma longa batalha para reconstruir o Estado mexicano, que chegou à bancarrota durante anos de governos neoliberais, enfrentar o narcotráfico e crime organizado, além de encarar as políticas hostis de Trump.
Por Mariana Serafini
Em entrevista ao Portal Vermelho, o analista social mexicano Alejandro Villamar, membro da Rede Mexicana de Ação frente ao Livre Comércio e da Coalizão México Melhor Sem TLCs, destrincha estes desafios de López Obrador. O ativista vê atual situação do país como um momento em que é possível virar o jogo e fortalecer uma política de mudança profunda.
Segundo Villamar, esta não é a primeira vez que uma coalizão progressista pode vencer as eleições, porém, pode ser a primeira vez que será possível enfrentar as mega fraudes eleitorais que costumam levar os neoliberais o governo.O analista afirma que, caso López Obrador chegue ao governo, deverá recuperar “valores históricos” para enfrentar os desafios de um México com o Estado dilacerado pelos neoliberais num momento de crise do modelo globalizador em todo o mundo. Para enfrentar trilhar este caminho, a prioridade deve ser “superar a dependência externa mediante o fortalecimento nacional e regional”.
Com relação à política externa, a população deposita a confiança em um novo governo capaz de enfrentar a política xenófoba e anti-imigração de Donald Trump, diferente do que tem sido a gestão de Enrique Peña Nieto.
Leia a entrevista na íntegra:
Esta é a primeira vez que a esquerda pode chegar à presidência através de eleições. É possível atribuir este fato à falência da gestão neoliberal que está em vigor no México há anos?
Vamos especificar: é a primeira vez que um grande bloco social encabeçado por um candidato progressista de esquerda pode, capitalizando e orientando o profundo mal-estar social contra a política antissocial e pró transnacional, impedir uma mega fraude eleitoral presidencial, com 49% a 53% das preferências nas pesquisas eleitorais mais recentes. Já em 1988, 2006 e 2012 os candidatos da esquerda no México venceram a eleição presidencial, mas a debilidade organizativa não pôde impedir que os candidatos neoliberais fossem impostos mediante mega fraude eleitoral.
Nestas eleições de 1 de julho o Morena (Movimento De Regeneração Nacional – com 4 anos de idade), com Andrés Manuel López Obrador pela terceira vez como candidato presidencial, construiu uma ampla frente social opositora contra os nefastos efeitos sociais, econômicos e políticos do modelo neoliberal e assim tem explorado as contradições existentes entre a oligarquia e seus partidos políticos tradicionais (PRI e PAN), atores e instrumentos fundamentais do modelo neoliberal.
Quais são os desafios de López Obrador caso chegue à presidência?
Entre os principais desafios estão a instrumentalização do programa sexenal de reformas ético-políticas e econômico sociais, encabeçado pela luta contra a corrupção e a impunidade, o uso eficiente e eficaz do orçamento público para atender à agenda social e a construção de infraestrutura necessária, assim com uma agenda legislativa de mudanças.
Um grande desafio de caráter político cultural que o México enfrentará depois do triunfo do Movimento Morena na presidência, e a possível maioria nas duas câmaras legislativas e mais governadores nos estados, é conquistar a participação ativa dos atores sociais na construção de uma nova política, de lutar contra a inércia da desarticulação organizativa e obter resultados evidentes e sensíveis frente à natural desqualificação que a direita sustenta.
A reconstrução de uma política exterior moderna, que recupere valores históricos e que seja capaz de enfrentar os desafios de uma situação mundial de evidente crise do modelo globalizador e de suas velhas hegemonias e instituições, é um grande desafio, que de imediato se ancora em superar a dependência mediante o fortalecimento nacional e regional. A estratégia imediata de reativação das ações para a comunidade dos Estados Unidos e Canadá e de nossos irmãos da América Central é clara.
Este processo eleitoral foi marcado por muitos casos de violência. Como estes episódios afetam a atuação de movimentos e organizações sociais?
A violência estrutural foi se aprofundando nos últimos 30 anos. Durante a campanha de 1988 foram contabilizados mais de 600 assassinatos políticos de ativistas de esquerda, mas a violência que chegou com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN) desde 1994 expulsou milhões de camponeses para os Estados Unidos e Canadá, e nos últimos 12 anos o binômio corrupção governamental e crime organizado se expandiu com um saldo que supera os 230 mil desaparecidos, sequestrados, assassinados. Uma cifra terrivelmente maior do que a de países latinos que tiveram guerra civil ou ditaduras militares.
Assim, o primeiro efeito sobre os movimentos e organizações sociais foi de intimidação e até enfraquecimento, mas a lenta construção de resistências e alternativas tem elevado a confiança e esperança para participar do atual movimento nacional de mudança.
Como a possível eleição de López Obrador afetará o restante do continente?
Um desejável impacto de mudança de um governo democrático no México sobre outros países, esperamos que seja de encorajar a confiança de outros movimentos sociais contra as políticas de reconquista que alguns governos de direita têm impulsionado. Em termos geoestratégicos, a mudança no México, ao debilitar um importante território da aliança direitista neoliberal, pode encorajar a construção de uma nova política de cooperação e desenvolvimento com perspectiva para os povos do Sul.
A chamada “guerra contra as drogas” demonstrou não ser eficiente para combater o narcotráfico. Como o novo governo, independente de qual seja, deve encarar esta situação?
A máscara da estratégia intervencionista neoliberal denominada “guerra contra as drogas” já demonstrou seu fracasso, e seu altíssimo custo socioeconômico. Se requer adotar uma visão integral sobre o problema, começando por desarticular as cumplicidades corruptas financeiras, o fortalecimento do mercado interno e a criação de emprego nas zonas rurais, instrumentalizar o programa “becarios, no sicarios”, [trata-se de um trocadilho de difícil tradução sem perder o sentido para português: “becario” é estagiário e/ou bolsista, já “sicário” é um assassino de aluguel] e proporcionar acordos verdadeiros de caráter multilateral.
Este apoio popular a um candidato progressista pode ser considera uma resposta ao governo que não tem enfrentado as políticas hostis de Trump?
As atividades iniciais do governo de Enrique Peña Nieto (com uma mínima legitimidade diante dos cidadãos), como ter convidado o candidato Trump para vir ao México, e as respostas fracas iniciais, elementos de uma estratégia equivocada fincada na falsa convicção de modificar as políticas agressivas de Trump, mediante a abordagem familiar foram amplamente rechaçadas por quase todos os atores sociais e obrigaram a uma mudança de aberto rechaço à construção do Muro da Fronteira e as exigências de regeneração do TLCAN (Nafta). A atual política xenófoba, anti-latina e anti-imigrantes de Trump reforçaram a ideia popular de que só um novo governo democrático que tenha amplo apoio popular pode enfrentar estes desafios.
Segundo Villamar, esta não é a primeira vez que uma coalizão progressista pode vencer as eleições, porém, pode ser a primeira vez que será possível enfrentar as mega fraudes eleitorais que costumam levar os neoliberais o governo.O analista afirma que, caso López Obrador chegue ao governo, deverá recuperar “valores históricos” para enfrentar os desafios de um México com o Estado dilacerado pelos neoliberais num momento de crise do modelo globalizador em todo o mundo. Para enfrentar trilhar este caminho, a prioridade deve ser “superar a dependência externa mediante o fortalecimento nacional e regional”.
Com relação à política externa, a população deposita a confiança em um novo governo capaz de enfrentar a política xenófoba e anti-imigração de Donald Trump, diferente do que tem sido a gestão de Enrique Peña Nieto.
Leia a entrevista na íntegra:
Esta é a primeira vez que a esquerda pode chegar à presidência através de eleições. É possível atribuir este fato à falência da gestão neoliberal que está em vigor no México há anos?
Vamos especificar: é a primeira vez que um grande bloco social encabeçado por um candidato progressista de esquerda pode, capitalizando e orientando o profundo mal-estar social contra a política antissocial e pró transnacional, impedir uma mega fraude eleitoral presidencial, com 49% a 53% das preferências nas pesquisas eleitorais mais recentes. Já em 1988, 2006 e 2012 os candidatos da esquerda no México venceram a eleição presidencial, mas a debilidade organizativa não pôde impedir que os candidatos neoliberais fossem impostos mediante mega fraude eleitoral.
Nestas eleições de 1 de julho o Morena (Movimento De Regeneração Nacional – com 4 anos de idade), com Andrés Manuel López Obrador pela terceira vez como candidato presidencial, construiu uma ampla frente social opositora contra os nefastos efeitos sociais, econômicos e políticos do modelo neoliberal e assim tem explorado as contradições existentes entre a oligarquia e seus partidos políticos tradicionais (PRI e PAN), atores e instrumentos fundamentais do modelo neoliberal.
Quais são os desafios de López Obrador caso chegue à presidência?
Entre os principais desafios estão a instrumentalização do programa sexenal de reformas ético-políticas e econômico sociais, encabeçado pela luta contra a corrupção e a impunidade, o uso eficiente e eficaz do orçamento público para atender à agenda social e a construção de infraestrutura necessária, assim com uma agenda legislativa de mudanças.
Um grande desafio de caráter político cultural que o México enfrentará depois do triunfo do Movimento Morena na presidência, e a possível maioria nas duas câmaras legislativas e mais governadores nos estados, é conquistar a participação ativa dos atores sociais na construção de uma nova política, de lutar contra a inércia da desarticulação organizativa e obter resultados evidentes e sensíveis frente à natural desqualificação que a direita sustenta.
A reconstrução de uma política exterior moderna, que recupere valores históricos e que seja capaz de enfrentar os desafios de uma situação mundial de evidente crise do modelo globalizador e de suas velhas hegemonias e instituições, é um grande desafio, que de imediato se ancora em superar a dependência mediante o fortalecimento nacional e regional. A estratégia imediata de reativação das ações para a comunidade dos Estados Unidos e Canadá e de nossos irmãos da América Central é clara.
Este processo eleitoral foi marcado por muitos casos de violência. Como estes episódios afetam a atuação de movimentos e organizações sociais?
A violência estrutural foi se aprofundando nos últimos 30 anos. Durante a campanha de 1988 foram contabilizados mais de 600 assassinatos políticos de ativistas de esquerda, mas a violência que chegou com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN) desde 1994 expulsou milhões de camponeses para os Estados Unidos e Canadá, e nos últimos 12 anos o binômio corrupção governamental e crime organizado se expandiu com um saldo que supera os 230 mil desaparecidos, sequestrados, assassinados. Uma cifra terrivelmente maior do que a de países latinos que tiveram guerra civil ou ditaduras militares.
Assim, o primeiro efeito sobre os movimentos e organizações sociais foi de intimidação e até enfraquecimento, mas a lenta construção de resistências e alternativas tem elevado a confiança e esperança para participar do atual movimento nacional de mudança.
Como a possível eleição de López Obrador afetará o restante do continente?
Um desejável impacto de mudança de um governo democrático no México sobre outros países, esperamos que seja de encorajar a confiança de outros movimentos sociais contra as políticas de reconquista que alguns governos de direita têm impulsionado. Em termos geoestratégicos, a mudança no México, ao debilitar um importante território da aliança direitista neoliberal, pode encorajar a construção de uma nova política de cooperação e desenvolvimento com perspectiva para os povos do Sul.
A chamada “guerra contra as drogas” demonstrou não ser eficiente para combater o narcotráfico. Como o novo governo, independente de qual seja, deve encarar esta situação?
A máscara da estratégia intervencionista neoliberal denominada “guerra contra as drogas” já demonstrou seu fracasso, e seu altíssimo custo socioeconômico. Se requer adotar uma visão integral sobre o problema, começando por desarticular as cumplicidades corruptas financeiras, o fortalecimento do mercado interno e a criação de emprego nas zonas rurais, instrumentalizar o programa “becarios, no sicarios”, [trata-se de um trocadilho de difícil tradução sem perder o sentido para português: “becario” é estagiário e/ou bolsista, já “sicário” é um assassino de aluguel] e proporcionar acordos verdadeiros de caráter multilateral.
Este apoio popular a um candidato progressista pode ser considera uma resposta ao governo que não tem enfrentado as políticas hostis de Trump?
As atividades iniciais do governo de Enrique Peña Nieto (com uma mínima legitimidade diante dos cidadãos), como ter convidado o candidato Trump para vir ao México, e as respostas fracas iniciais, elementos de uma estratégia equivocada fincada na falsa convicção de modificar as políticas agressivas de Trump, mediante a abordagem familiar foram amplamente rechaçadas por quase todos os atores sociais e obrigaram a uma mudança de aberto rechaço à construção do Muro da Fronteira e as exigências de regeneração do TLCAN (Nafta). A atual política xenófoba, anti-latina e anti-imigrantes de Trump reforçaram a ideia popular de que só um novo governo democrático que tenha amplo apoio popular pode enfrentar estes desafios.
Do Portal Vermelho