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Textos de Combate: Sem perder a ternura, jamais - Paulo Vinícius da Silva - à Venda
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sexta-feira, 31 de julho de 2020
Haroldo Lima e a perda de Tereza Costa Rêgo
No final da tarde de domingo, em meio a essa pandemia avassaladora, chega a notícia de Tereza Costa Rêgo, a festejada artista plástica de Pernambuco, partira. Quem comunicou o fato foi Luciana Santos, vice-governadora de Pernambuco e presidenta nacional do PCdoB. Ao dar a informação, Luciana acrescentou que “os vermelhos perderam alguns tons de intensidade, neste domingo tão triste”.
Tereza era a camarada Joana, que vem conosco, nessa labuta libertária e pelo socialismo, desde os tempos da ditadura militar até os dias de hoje, décadas. Seu talento artístico invulgar, ela o pôs em sintonia com a movimentação revolucionária da qual participou anos a fio. Vibrava com a arte, vibrava com as vitórias da resistência à ditadura, vibrava com os avanços que via do socialismo.
O tempo passa inexorável e transforma em lembranças lances de alta intensidade.
E assim é que recordo a acolhida que tive em Paris quando lá cheguei em 1976, de passagem para a Albânia e para a China. Fiquei hospedado, semanas, em casa de Diógenes de Arruda Câmara, o Arrudão, a quem é dedicado “Os subterrâneos da liberdade” de Jorge Amado. Joana era a companheira do Arruda.
De logo um fato marcante, desses que não se esquece. Toco no apartamento cujo endereço levava. Abre a porta uma mulher. Brasileira, pelo jeito. Bonita. Estava só. Chorando.
Soubera da minha chegada e já me esperava, manda-me entrar. Fico sabendo que há poucos minutos recebera a notícia da morte de um seu irmão, lá no Recife.
Arruda chegou pouco depois. Passamos a conviver os três naquele apartamento. Dias depois a Joana me conta que acabara de saber da morte do irmão quando a campainha tocou e era eu. Naquele momento adverso em que a mente dilacerada vagueia à procura de algo, eu chegara para compensar a falta do irmão. E ficamos nos tratando como irmão e irmã até que o tempo desfizesse essas imagens.
Na Albânia e na China tudo era objeto de observações meticulosas. Fábricas e escolas, logradouros. E havia viagens , reuniões. Os programas eram puxados. Eu, relativamente jovem e cheio de entusiasmo não cansava por nada, Arruda, resistência de um touro, estava sempre disposto. E a Joana nos acompanhava em todos os cantos. Quando parava era para pintar, para presentear albaneses e chineses com quem nos relacionávamos.
Na viagem de regresso, de novo Paris. Eu demonstrava a minha admiração sincera pela arte da Joana e pela arte em geral, sobre a qual Joana sempre falava. Um dia fui ao Louvre. Vi a Vitória de Samotrácia logo na entrada, vi uma porção de coisa, vi a Mona Lisa. Em casa, quando soube, a Joana achou ótimo eu ter ido ao Louvre e perguntou-me se eu tinha observado tal coisa, e tal outra, e mais outra. Percebo que tinha entendido pouco do que vi. A Joana fez-me então um convite magnífico, programar uma demorada visita ao Louvre com ela me explicando o que estava em exposição. Incrível. Vi um outro Louvre, interessantíssimo.
Voltei ao Brasil ainda clandestino, pela Argentina, onde estava o Dinéas Aguiar. E aí os acontecimentos vão se sucedendo, Chacina da Lapa, prisão, tortura, cadeia, anistia, liberdade, chegada de alguns que estavam no exterior, Renato Rabelo, Conchita, Arruda, Joana. Prepara-se a chegada de Amazonas, João Amazonas, o principal reorganizador do nosso Partido.
Em São Paulo, no aeroporto de Congonhas, numa tarde chega o João. O Partido tinha preparado uma recepção, lá estavam o Renato, o Arruda, dirigentes do Partido local, Joana, eu. O plano era recepcionar rapidamente o João no aeroporto e nos dirigirmos ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, onde haveria um ato de boas-vindas. Todos animados, o Arruda eufórico. Saímos para o Sindicato. Arruda vinha no mesmo carro que o João.
Chego nas imediações do Sindicato antes dos outros, pois saíra na frente. A Joana também chegara. Alguém, tenso, me chama e diz que Arruda morrera dentro do carro, naquela hora. Que choque. E em seguida um acerto, eu, por ser o mais chegado a Joana, deveria dar-lhe a notícia.
Comecei a falar-lhe, procurando um caminho sinuoso para abordar a questão. Ela percebeu minha dificuldade. Lembro-me bem: pegou-me nas mãos, olhou-me nos olhos e disparou: diga-me, Arruda morreu? Confirmei e acompanhei-a até o hospital e a sala onde estava o corpo do Arruda. E aí, também me lembro bem. Quando ia abrir a porta que dava acesso à sala onde estava o Arruda, a Joana toma a minha frente, fita-me com firmeza e diz: não quero que ninguém entre comigo, fique aqui. Entrou sozinha e encostou a porta.
Passaram-se longos minutos. Fui ficando tenso. Resolvi abrir vagarosamente a porta e entrei. Na sala só estava o corpo do Arruda deitado em uma espécie de laje com a Joana do lado.
Anos depois, vejo um painel enorme, impressionante: Arruda estirado em uma espécie de laje e uma mulher prostrada ao seu lado, desolada. “O senhor morto” é o nome desse quadro pintado pela Tereza Costa Rego, em Olinda.
Haroldo Lima - era amigo de
Tereza Costa Rego
domingo, 26 de julho de 2020
Castro Alves - O povo ao poder - Paulo Vinícius recita
Castro Alves
O povo ao poder
QUANDO nas praças s'eleva
Do povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...
Que o gigante da calçada
Com pé sobre a barricada
Desgrenhado, enorme, e nu,
Em Roma é Catão ou Mário,
É Jesus sobre o Calvário,
É Garibaldi ou Kossuth.
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu...
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.
Na tortura, na fogueira...
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem... nest’hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deíxai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.
A palavra! vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,
Ai, cidade de Vendoma,
Ai, mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.
Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhe o pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções...
Não deixais que o filho louco
Grite "oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações".
Mas embalde... Que o direito
Não é pasto do punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal...
Ah! não há muitos setembros
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.
Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.
Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz...
Ai! soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.
26 de Julho: Cuba: De Moncada à Revolução - Fernando Mousinho
O objetivo do assalto ao Quartel de Moncada era tomar as armas,distribui-las com o povo e dar início à derrubada da sangrenta ditadura de Fulgêncio Batista.
Apesar de frustrada militarmente, a ação se transformaria numa vitória política de extrema atualidade, foi a alavanca do triunfo da Revolução de1º de janeiro de 1959.
Naquele 26 de julho de 1953, os jovens revolucionários comandados por Fidel Castro, Abel Santamaría e Raúl Castro, tinham uma proposta política concreta e sustentável: O Programa de Moncada, que consistia de seis pontos a serem resolvidos de imediato: o problema da terra, da moradia, do desemprego, da industrialização, da saúde e da educação.
Nos primeiros anos da Revolução o Programa do Moncada foi levado a cabo,e pela primeira vez na sua história o povo cubano viu uma promessa de governo ser cumprida. De imediato realizou-se uma campanha de emancipação do povo, calcada em medidas de natureza econômica, política, cultural e social.
O sistema de saúde pública de Cuba, reconhecido internacionalmente, é um exemplo para a humanidade. Na batalha mundial contra a Covid-19, as brigadas médicas cubanas Henry Reeve, presentes em 70 países, tem se caracterizado como uma ponte entre os povos, ricos ou pobres. Um exemplo que legitima sua indicação, por vários países e organizações internacionais, ao Prêmio Nobel da Paz de 2021.
A amplitude da Revolução cubana não se restringe ao assalto ao Quartel de Moncada e deve ser vista do ponto da dialética marxista, do movimento e unidade dos contrários.
Na véspera da operação, Fidel alertara: Jovens do Centenário do Apóstolo, como em 68 e 95, aqui no oriente damos o primeiro grito de Liberdade ou Morte. O cacique Hatuey, o primeiro Rebelde da América, em uma canoa remou de onde hoje é território do Haiti e da Republica Dominicana, para alertar os irmãos cubanos da chegada do colonizador espanhol. As lutas anticolonialistas de Carlos Manuel de Céspede e de José Martí, e a participação da negra escrava angolana Carlota, também se inscrevem neste contexto.
Na década de 1920, o líder estudantil cubano Júlio Antonio Mella, sentenciara: Lutar pela revolução social na América, não é utopia de loucos e fanáticos, é lutar pelo próximo passo do avanço da história.
Porém, como dizem os cubanos, Moncada representa o eslabón da Revolução, ou seja, o elo mais forte da corrente revolucionária. No ensejo, evoco o sentimento político revolucionário do saudoso arquiteto Oscar Niemeyer: Tivesse Fidel pensado diferente, protelado a revolução e seu país estaria hoje dominado pelos donos do dinheiro, pelo poder humilhante dos imperialistas norte-americanos.
Viva Cuba,Viva o Brasil,
Soy loco por ti América!
Lembrar de Mandela e de Mao Zedong, por Haroldo Lima
24 de julho, 2020
O nome de Mandela foi trazido pelo governador Flávio Dino como fonte de inspiração, pelo menos para uma parte dos brasileiros. O líder maranhense tem esquadrinhado a realidade oposicionista fracionada à cata de uma saída. Como nordestino sabe como é verdadeira uma das leis de Murphy, a de que “o ruim pode piorar”, o que nos remete à outra que diz que “tudo relegado à própria sorte tende ir de mal a pior.”
Por Haroldo Lima*
Mandela é exemplo pródigo em variadas questões, como nas batalhas políticas que exigem tenacidade, na compreensão de que a luta contra ideias retrógradas deve estar integrada à luta pela construção de um estado nacional e democrático, no otimismo com que aponta futuro luminoso em meio às intempéries do momento.
Existe, contudo, uma situação em que a postura avocada do líder sul-africano é de fato paradigmática, que é a sua posição ao sair da prisão de 27 anos. Aí, livre, famoso e prestigiado em seu país e no mundo, o Mandiba, como carinhosamente seu povo o tratava, não se deixou levar por qualquer postura inflexivelmente rancorosa e vingativa. Ao contrário, optou pelo difícil caminho de unir a maior parte da gente de seu país para pôr abaixo o apartheid, este sim, seu inimigo indefectível. Flávio Dino observa que Mandela decidiu “priorizar mais o futuro dos cidadãos do que o “julgamento” de erros do passado”. Em consequência, empenhou-se na arregimentação de forças díspares, formando uma frente notavelmente ampla que o elegeu Presidente da República e viabilizou a derrocada do odiento regime de segregação racial.
A lembrança do exemplo de Nelson Mandela desperta uma outra recordação, espetacular e absolutamente educativa, a de Mao Zedong após a Longa Marcha, em outubro de 1935.
A retirada épica que começara com mais ou menos 100.000 pessoas, chegou a Yenan, no norte da China, com 20.000 sobreviventes, depois de percorrer em um ano cerca de 10.000 km. O Exército chinês, sob o comando de Chiang Kai-shek, que dera combate mortal aos retirantes durante toda o tempo, chegara também na mesma região, e se instalara em Sian, bem perto de Yenan. O assalto final ao que restava dos comunistas estava sendo preparado. Foi quando o Japão começa a ampliar a invasão da China.
Os comunistas sob a direção de Mao Zedong percebem a mudança na situação e propõem ao Exército até então inimigo mortal um pacto: suspensão das hostilidades e união de forças para enfrentar o Japão. Chiang Kai-shek não aceita a trégua proposta. Seu Estado Maior, em posição contrária, prende-o. Como o Japão avançava, a posição de Chiang Kai-shek é considerada de traição nacional e prepara-se seu julgamento. Ele poderia ser condenado à morte, que era a pena por traição.
Os comunistas sabem desses fatos. Percebem que, matando Chiang Kai-shek naquela hora, o Exército regular se dividiria, o trauma seria grande e o Japão se aproveitaria de tudo. Despacham então para Sian uma comissão chefiada por um exímio negociador Zhou Enlai, com o objetivo de impedir a condenação e morte do Chiang Kai-sheck e selar com ele um acordo para enfrentarem juntos o Japão. E isto foi feito. No curso da luta, crescem as forças dos comunistas. Em 1949 o Japão é expulso, os comunistas tomam o Poder, Chiang Kai-sheck foge.
As experiências não devem ser copiadas, pois as circunstâncias são sempre diferentes. Tentar traslada-las é caminho certo para o erro. Mas erro sério também é o menosprezo às lições gerais das experiências passadas. .
Quando Flávio Dino aponta o caminho seguido por Mandela para derrotar o apartheid e quando, na mesma linha, rememoramos aqui a façanha dos comunistas chineses para expulsar os japoneses e chegarem ao Poder, o que se quer é acentuar que o passado nunca é esquecido, mas que as frentes politicas progressistas se constroem em função de objetivos futuros, de programa, e não de avaliações do passado.
O quadro político brasileiro é delicado. Circunstâncias internacionais e nacionais estão deteriorando o amálgama do bolsonarismo, mostrando-o como uma horda obscurantista e miliciana que ameaça o país. Seu potencial de recuperação, contudo, paira latente e seu poder destrutivo, que tanto prejuízo já nos deu, pode crescer.
Do lado do Brasil, está seu povo, heterogêneo, diversificado, com sonhos nacionais e que, na luta e em frente ampla, pode levar de roldão as falanges bolsonaristas, autoritárias, neofascistas, negacionistas, lambe-botas de americanos.
De Mao Zedong a Mandela, quando o objetivo a atingir é imperioso e elevado, o caminho é o da frente necessária.
*É engenheiro, ex-diretor-geral da ANP, membro do Comitê Central do PCdoB e foi deputado federal na Assembleia Constituinte.
As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB
Flávio Dino: Caminhar com Mandela
Sem renunciar a identidades históricas,
precisamos unir e ampliar forças para proteger a nossa Nação, a
democracia, os direitos sociais, a cultura e o meio ambiente
Quando Nelson Mandela ficou livre de
arbitrária prisão na África do Sul, ele priorizou uma tarefa: liquidar o
apartheid. Para isso, como ele escreveu na sua autobiografia, o seu
partido CNA deveria ser, naquele momento, uma generosa tenda a acolher
diversas correntes políticas.
Nenhuma diferença poderia ser mais
importante do que acabar com o apartheid. O pensamento progressista no
Brasil precisa refletir sobre o exemplo de Mandela.
Em 2018, poucos acreditavam que o obscuro e
obscurantista Jair Bolsonaro pudesse vencer as eleições. Mas ele
venceu, beneficiado por uma imensa crise de legitimidade e de
reconhecimento da população com o sistema político.
Após 18 meses de desvarios, omissões gravíssimas e denúncias diversas, Bolsonaro mantém razoáveis taxas de aprovação popular.
Recentemente, anova vitória da extrema direita na Polônia lembra-nos de que o ruim ainda pode piorar.
Segundos mandatos tendem a propiciar um sentimento
de aprovação e induzir a ousadias ainda maiores por parte de mentes despóticas. No caso brasileiro, o STF e o Congresso têm tido um peso decisivo para conter os arroubos de Bolsonaro. Terão força para resistir em um segundo mandato?
de aprovação e induzir a ousadias ainda maiores por parte de mentes despóticas. No caso brasileiro, o STF e o Congresso têm tido um peso decisivo para conter os arroubos de Bolsonaro. Terão força para resistir em um segundo mandato?
Se ficarmos presos à configuração política
que levou ao desfecho das eleições de 2018, provavelmente ele se
repetirá. É hora de olhar para o futuro.
O momento exige novas estratégias,
táticas, ideias. Uma “esquerda conservadora” é uma antinomia e é pouco
eficaz. Diante dos desafios, “esperar acontecer” é uma escolha que
minimiza os perigos que o extremismo bolsonarista implica.
O golpe como momento solene, à moda 1964,
foi substituído por um golpismo permanente, realizando destruições
sucessivas de instituições e de vidas, como as levadas pelo coronavírus.
No interregno (na acepção gramsciana) que
vivemos, valores fundamentais como democracia política, direitos dos
trabalhadores e liberdade de expressão estão ameaçados por violências,
ameaças e manipulações, como a promovida pelo “gabinete do ódio”.
Para uma nova estratégia capaz de superar o
interregno em uma boa direção, é essencial ampliar a audiência do
pensamento progressista, alcançando homens e mulheres não engajados em
movimentos ou partidos. Este é o mais importante “centro” a ser
alcançado. Ocorre que, para chegar até ele, alianças e modulações
programáticas são imprescindíveis. Quem tem clareza dos seus propósitos
não teme o diálogo com os diferentes.
Sem
renunciar a identidades históricas, precisamos unir e ampliar forças
para proteger a nossa Nação, a democracia, os direitos sociais, a
cultura e o meio ambiente.
Curioso notar que as disputas entre os
progressistas giram mais sobre fatos pretéritos do que sobre propostas
para o futuro. Portanto, é preciso priorizar mais o futuro dos cidadãos
do que o “julgamento” de erros do passado. Necessitamos de uma ampla
união progressista que livre o Brasil do bolsonarismo. Lulistas,
trabalhistas, socialistas, comunistas, verdes, social-democratas, todos
têm um grande papel.
Não podem, nem devem, deixar de existir. A
questão é mais simples: abrir portas e janelas para deixar os ventos da
Pátria varrerem mágoas. A forma jurídica que viabiliza a atuação
conjunta é uma decisão posterior e inevitável, na medida em que passaram
a vigorar regras proibitivas de coligações em eleições proporcionais e
instituidoras de cláusulas de desempenho.
Existem importantes experiências no
Uruguai, Chile, em Portugal, na África do Sul sobre federações
partidárias ou frentes reunidas em um partido. O debate mais importante,
entretanto, não é sobre a forma, é sobre o espírito que deve nos guiar.
Nenhuma diferença entre nós é mais
importante do que defender o Brasil do apartheid representado pelo
projeto bolsonarista. É tempo de caminhar com Mandela.
Flávio Dino é governador do Maranhão, foi juiz federal e deputado federal
quinta-feira, 23 de julho de 2020
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Daniel Iliescu e a Defesa do FUNDEB, entenda e nos ajude nessa luta! #VOTAFUNDEB
'Não há nenhum debate sobre fusão do PCdoB com PSB' - Luciana Santos - Presidenta do PCdoB - JC On line
'Não há nenhum debate sobre fusão do PCdoB com PSB', afirma Luciana Santos com relação ao 'possível' fim do PCdoB
A vice-governadora de Pernambuco foi procurada pelo JC para falar sobre uma entrevista que governador do Maranhão Flávio Dino concedeu falou sobre a possível fusão ou incorporação do PCdoB com o PSBAlice Albuquerque
Publicado em 17/07/2020 às 16:55
Em entrevista à CNN na segunda-feira (13), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), falou sobre uma possível fusão ou incorporação do PCdoB ao PSB, "não é que o PCdoB deixará de existir", afirmou. No entanto, ao JC, a presidente nacional do partido, a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, contrariou o governador e afirmou não haver "nenhum debate em curso sobre fusão do PCdoB com o PSB ou com qualquer outro partido".
O PCdoB ficou enfraquecido nas eleições presidenciais de 2018 por conta da cláusula de barreira, que restringe o funcionamento do partido que não alcançar ao menos 1,5% dos votos. Para garantir acesso às eleições, ao fundo partidário e ao tempo de rádio e TV, o partido se incorporou ao Partido Pátria Livre (PPL) sic*.
Quando perguntado sobre o convite recebido pelo PSB para fazer parte da legenda e concorrer às eleições presidenciais em 2022, o governador Flávio Dino (PCdoB) disse esperar até o próximo ano para fazer a redefinição partidária, tendo em vista as novas regras de cláusula de barreira, fim das coligações proporcionais, e ressaltou a relação de proximidade do PCdoB com o PSB.
"O PCdoB tem uma relação muito próxima com o PSB, vejamos que a nossa presidente nacional é vice-governadora de Pernambuco, com o PSB. Temos essa aliança no Recife e em outras cidades de Pernambuco, ou seja, desde o berço, temos essa aliança, uma proximidade. Um diálogo com o PSB é muito bem-vindo, muito positivo para o País. É um caminho, sim, uma aproximação maior do PCdoB com o PSB, mas nunca uma coisa unilateral minha, de que eu vou sair do PCdoB para ser candidato pelo PSB, isso, não, jamais" defendeu.
Indagado sobre a possível fusão das siglas, Flávio Dino comentou que a prática é uma "tendência do sistema partidário" para a diminuição do número de partidos e ressaltou que não é o fim do PCdoB. "Vão haver muitas fusões e incorporações não só no campo da esquerda, e isso atende a um dos objetivos dessa reforma, que é exatamente diminuir o número de partidos. Não que o PCdoB deixará de existir, vai ser extinto, não é isso, mas como legenda eleitoral, você pode ter as chamadas federações partidárias, como fizemos na prática, uma federação do PCdoB com o Pátria Livre, que está em vigor neste momento e a tendência é que outras aconteçam, não só no nosso caso, mas também em outros segmentos na direita brasileira, que muitos partidos pequenos e médios deixarão de existir em 2021", pontuou.
>> Pré-candidato do PCdoB em Jaboatão defende retomada de empregos em diálogo do setor público com economia
Procurada pela reportagem do JC, através de nota, a presidente nacional do partido e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, ressaltou que "não há nenhum debate em curso sobre a fusão do PCdoB com o PSB ou qualquer outro partido".
"O partido hoje trabalha para ter um bom desempenho nas eleições deste ano e chegar a 2022 ainda mais fortalecido. Não existe possibilidade de ter o fim do PCdoB. O PCdoB é uma instituição que carrega e defende um sonho, uma perspectiva, que é a construção do socialismo no Brasil. Enquanto houver injustiça social, essa perspectiva não morrerá, estará sempre na ordem do dia e presente. Também não há nenhum debate em curso sobre fusão do PCdoB com PSB ou com qualquer outro partido".
A vice-governadora também falou sobre a cláusula de barreira, motivo que levou a quase-extinção do partido em 2018. "O que temos, é uma legislação autoritária no País, que institui a famosa cláusula de barreira para que uma legenda possa existir institucionalmente. É uma determinação autoritária porque tem como único objetivo reduzir a quantidade de legendas. Mas estamos nos preparando para enfrentar a cláusula de barreira. Por isso, temos projetos arrojados no Brasil todo em 2020".
Ela destacou algumas pré-candidaturas que lidera pesquisas em alguns municípios, como Porto Alegre, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Olinda, com o atual deputado estadual e ex-prefeito do Recife pelo PT, João Paulo (PCdoB), que está com a pré-candidatura confirmada. "Estamos ajustando nossa tática para nos adequarmos às novas exigências da lei eleitoral e nos reposicionarmos na cena".
>> PT decide apoiar pré-candidatura de João Paulo a prefeito de Olinda
Luciana destacou, ainda, a atuação do governador do Maranhão Flávio Dino, que "aparece na cena nacional como um possível pré-candidato à presidência da República dois anos antes das eleições". "Somos hoje um partido que tem uma figura como Flávio Dino. Ele foi deputado federal duas vezes e é um governador reeleito, tudo isso dentro da legenda do PCdB. Ser odo PCdoB nunca foi empecilho para ele virar o que virou, não o impossibilitou de liderar uma frente ampla e conquistar uma vitória política contundente, de repercussão nacional", pontuou. Também procurado pela reportagem do JC, o presidente do PCdoB em Olinda, Luciano Moraes, destacou que o partido é o que tem maior tempo de existência no Brasil e não vai acabar. "O PCdoB só acabará quando não houver mais a necessidade da existência de um partido comunista. Ele está mais vivo do que nunca. A relação com o PSB é estratégica por ser um aliado nosso, sobretudo em Pernambuco, como aliado histórico. Consideramos legítimo a postulação de qualquer partido em disputar a Prefeitura, o que nos une é o objetivo de garantir a democracia e fazer com que Olinda retome o processo de desenvolvimento e inclusão social. Vamos aguardar com muita serenidade a posição que o PSB tomar, e se não for possível estarmos juntos no primeiro turno, estaremos no segundo".
* Mostra da insuficiência da autora, na verdade o Partido incorporou o PPL, e estamos muito bem, são meus camaradas. E não é federação coisíssima nenhuma, é um só Partido. Outra bobagem é que 2018 quase nos levou à extinção. Nem as Ditaduras nos levaram à extinção, nem a queda do Leste. Quem pensa assim tem seus limites muito claros, são forças da Ordem. Nós, nunca! Nota do Coletivizando.
domingo, 19 de julho de 2020
George Dimitrov: líder histórico da luta contra o nazifascismo - Pedro Oliveira - E a defesa de Dimitrov contra Goring e Goebbels (em inglês)- Portal Vermelho
George Dimitrov: líder histórico da luta contra o nazifascismo
Ao desmascarar o fascismo – ameaça que continua presente hoje em vários países e inclusive no Brasil –, Dimitrov apresentou uma tática de luta política inigualável.
por Pedro Oliveira
Publicado 19/07/2020 13:03 | Editado 19/07/2020 14:33
Normalmente costuma-se comemorar e relembrar datas redondas relacionadas a grandes líderes e fatos da história da humanidade. Agora mesmo, acabamos de celebrar os 75 anos da Vitória da Guerra Patriótica da União Soviética contra o Nazismo, que na verdade decidiu a II Guerra Mundial, com a realização em Moscou de um grandioso desfile referenciado em uma parada militar igualmente inesquecível, ocorrida em 1945, na Praça Vermelha.
Entretanto, as circunstâncias históricas atuais, tanto no mundo quanto no Brasil, fazem-nos lembrar da luta contra o nazismo e o fascismo, em seus primórdios, quando Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha. Em junho deste ano de 2020, recordamos o nascimento de uma figura emblemática desta luta encarniçada e de grande projeção estratégica para a luta dos trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo: o registro dos 138 anos do nascimento do líder comunista búlgaro George Dimitrov.
Ninguém melhor do que Bertolt Brecht para pontuar este artigo com os versos do seu poema
“Ao Camarada Dimitrov”, quando lutou diante do Tribunal fascista em Leipzig.
———————————————–
“Camarada Dimitrov!
Desde o dia em que lutastes diante do tribunal fascista
a voz do comunismo,
cercada pelos bandos de matadores e bandidos da SS,
através do ruído dos chicotes e cassetetes,
fala bem alto e nítida
no centro da Alemanha.”
————————————————
Na noite de 27 para 28 de fevereiro de 1933, agentes do recém-empossado novo chanceler da Alemanha, Adolf Hitler, sorrateiramente atearam fogo ao Reichstag, em Berlim – o Parlamento do país –, a partir de um local onde as ruas próximas eram vigiadas fortemente pela polícia política do nazismo, e acusaram os comunistas como autores do atentado.
Alguns dias depois, foram presos militantes comunistas, assim como o dirigente e membro do Comitê Executivo da Internacional Comunista e do Comitê Central do PC Búlgaro, George Dimitrov, ao lado de alguns de seus camaradas que estavam na Alemanha. A polícia nazista tomou também a providência de prender um militante holandês, chamado Van der Lubbe.
Dimitrov foi indiciado por ter supostamente participado do plano do atentado ao Reichstag. Na ocasião, foi instaurado um processo jurídico-político – que passou para a história como uma gigantesca farsa nazifascista do Tribunal de Leipzig – para criminalizar os comunistas e desencadear feroz repressão contra as massas populares na Alemanha. Nesse processo, Dimitrov, não aceitou interpostos defensores e assumiu sua própria defesa. Rejeitou o estatuto de réu e transformou-se em acusador do Terceiro Reich e dos seus juízes.
O roteiro da peça farsesca montada pela propaganda hitlerista não havia previsto tal desfecho. Os chefes do Partido “Nacional-Socialista” alemão (NSDAP), sob o comando de Hitler, tinham a convicção plena de que os comunistas haveriam de sucumbir diante da condução do processo instaurado sob precárias condições prisionais e por obstáculos apresentados pelo Tribunal à defesa dos réus. O processo culminou com um julgamento por tribunal, como de fato aconteceu.
Todo o julgamento estava montado para consagrar o novo governo hitlerista e para se transformar num elemento decisivo para a criminalização e perseguição dos comunistas e, por consequência, de toda e qualquer oposição. A transmissão das sessões do Tribunal pelo rádio testemunhava a certeza que o novo governo tinha em relação a um desfecho do processo favorável ao nazismo. Os hitleristas não contavam é com a coragem e a grandeza moral do dirigente da Internacional Comunista.
O revolucionário búlgaro desmontou os alicerces da acusação e desmascarou, uma por uma, as testemunhas apresentadas, mesmo quando duas delas foram nada mais nada menos do que dois dos mais destacados dirigentes nazistas e ministros do Terceiro Reich: Herman Göering e Joseph Goebbels.
O tipógrafo e sindicalista, nascido há 138 anos – completados no mês de junho passado, em Kovachevtsi, uma localidade búlgara — primeiramente confrontou-se com o general do Exército nazista, que perdeu completamente as estribeiras. Göering saiu totalmente desacreditado com sua conduta de acusador. Já o ministro da Propaganda, Gobbels (recentemente imitado por um dos membros do governo Bolsonaro que acabou demitido por seu desempenho grotesco no episódio), nem mesmo recorrendo a toda a sua retórica, foi capaz de levar a melhor perante Dimitrov.
Com argumentos sólidos e firmeza inabalável, o dirigente comunista deixou evidente, aos olhos do mundo, que os nazistas, e tão-somente eles, beneficiavam-se do incêndio do Reichstag, e que o único golpe que se preparava era o de Hitler rumo ao poder absoluto.
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“(…)Voz que pôde ser ouvida em todas as nações da Europa,
que através das fronteiras ouvem o que vem
do escuro, elas mesmas no escuro,
mas também pôde ser ouvida
por todos os explorados e espancados e
incorrigíveis lutadores
na Alemanha.”
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Desta maneira, Dimitrov protagonizou a primeira grande derrota ao nazismo, dentro de seus próprios tribunais, em Leipzig e posteriormente, em Berlim. Com isso, o dirigente comunista deu forte impulso à formação de uma ampla frente antifascista em nível mundial. Foi um grande exemplo dado à juventude e ao movimento operário e sindical para o combate ao pior inimigo dos povos naquela época: o nazismo.
Ao desmascarar o fascismo – ameaça que continua presente hoje em vários países e inclusive no Brasil –, Dimitrov apresentou uma tática de luta política inigualável: a síntese que fez em pleno tribunal da tática dos comunistas representa ainda hoje um lema mobilizador para os revolucionários de todo o mundo: trabalho de massas, luta de massas, resistência de massas, frente única, nenhuma aventura!
Em seu informe ao VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, pronunciado em 13 de agosto de 1935, Dimitrov asseverou que os comunistas “são partidários da frente única, defendem, desenvolvem e fortalecem o movimento de frente única, visto que este movimento de frente única é um movimento de luta contra o fascismo e a reação, e será sempre a força motriz que empurra os governos de frente única para lutar contra a burguesia reacionária. Quanto com maior força se desencadeia este movimento de massas, tanto maior será a força que possa oferecer ao governo para lutar contra os reacionários. E quanto melhor organizado pela base, este movimento de massas, e maior seja o número dos órgãos de classe da frente única situados à margem do Partido nas empresas entre desempregados nos bairros operários, entre gente simples da cidade e do campo, tanto maiores serão as garantias que se terão contra uma possível degenerescência da política do governo de frente única”.
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“(…) Com avareza utilizas, camarada Dimitrov, cada minuto
que te é dado, e o pequeno lugar que
ainda é público, utiliza-o
para todos nós.
Mal dominando a língua que não é a tua
sempre advertido aos gritos,
várias vezes arrastado para fora,
enfraquecido com as algemas,
fazes repetidamente as perguntas temidas.
Incriminas os criminosos e
leva-os a gritar e te arrastar e assim
confessar que não têm razão, apenas força.”
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Apesar de derrotado jurídica e politicamente no julgamento do incêndio do Reichstag, a máquina nazista conseguiu empulhar em certa medida a população e, uma semana após, propagandeando o perigo dos comunistas, do que o incêndio seria a prova, chegou a uma vitória eleitoral vital para consolidar o poder de Adolf Hitler. A prisão havia sido utilizada não somente para angariar votos nas eleições gerais, que se realizaram em 5 de março de 1933, mas também para desencadear uma série de atos para garantir poderes ditatoriais ao nazismo.
Hitler conseguiu aprovar uma lei, em 23 de março daquele mesmo ano, que permitia a centralização total do poder em suas mãos e impunha o controle sobre a administração civil do governo e do Judiciário, banindo ou dissolvendo todos os partidos políticos, à exceção (como não poderia deixar de ser) do Partido Nazista.
Ao mesmo tempo, medidas racistas contra os judeus foram tomadas e todas as greves e as organizações sindicais dos trabalhadores colocadas na ilegalidade.
Imediatamente após a prisão de Dimitrov, a bancada comunista no Reichstag desencadeou uma grande campanha nacional e internacional em defesa do líder comunista romeno.
O processo do tribunal de Leipzig, como ficou conhecido, durou de 21 de setembro a 23 de dezembro de 1933, e transformou Dimitrov numa personalidade mundial.
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“(…) Embora não tão visíveis
milhares de combatentes, mesmo os
ensanguentados em suas celas
que podem ser abatidos
mas nunca vencidos.
Assim como tu, suspeitos de combater a fome,
acusados de revolta contra os exploradores,
incriminados por lutar contra a opressão,
convictos da causa mais justa.”
Bertolt Brecht
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Dimitrov consolidou-se como um líder destacado do Partido Comunista da Bulgária e um dos principais organizadores do movimento comunista internacional, dirigindo a Terceira Internacional Comunista. Ele seguiu nesta nobre tarefa até a dissolução da Internacional Comunista, o Comintern, em 1943. Após a Segunda Grande Guerra, Dimitrov voltou à sua terra natal, a Bulgária, onde exerceu a função de primeiro-ministro do país até sua morte em 1949.
Na edição de agosto/setembro de 1949, da Revista Problemas do Partido Comunista do Brasil, PCB na época, Dominique Desanti publicou uma tradução do Depoimento de Dimitrov e parte do diálogo travado por Dimitrov com seus algozes nazifascistas, que aqui reproduzimos:
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Extratos do depoimento de Dimitrov perante o tribunal nazista
“É verdade que sou um bolchevique, um revolucionário proletário. (…)
É verdade igualmente que, na qualidade de membro do Comitê Central do Partido Comunista búlgaro e do Comitê Executivo da Internacional Comunista, sou comunista dirigente e responsável. De bom grado, responderei integralmente por todos os atos, decisões e documentos de meu Partido búlgaro e da Internacional Comunista. Mas é precisamente por essa razão que não sou um aventureiro terrorista, um putschista, um incendiário.
Aliás, é perfeitamente verdadeiro que sou favorável à revolução proletária e à ditadura do proletariado. Estou firmemente convencido de que essa é a única saída, o único meio de salvação contra a crise econômica e a catástrofe guerreira do capitalismo.
E a luta pela ditadura do proletariado, pela vitória do comunismo, é, sem dúvida alguma, o conteúdo de minha vida. Desejaria viver ainda ao menos 20 anos para o comunismo e depois morrer tranquilo. Eis precisamente por que sou adversário decidido do terror individual e do putchismo.
E isso não por considerações sentimentais e humanitárias. De acordo com a nossa doutrina leninista, as decisões e a disciplina da Internacional Comunista, que são, para mim e para todo verdadeiro comunista, lei suprema, estou, do ponto de vista da atividade revolucionária, no interesse da revolução e do comunismo, contra o terror individual, contra as aventuras putchistas.
Sou sinceramente partidário, admirador do Partido Comunista da União Soviética, porque esse Partido dirige o maior país do mundo – uma sexta parte do globo – e constrói tão heroica e vitoriosamente o socialismo, sob a direção de nosso grande chefe Stalin”.
O processo movido pelos nazistas para a derrota do comunismo mostraria ao mundo a flagrante pusilanimidade dos homens de Hitler, o heroísmo sereno dos revolucionários.
George Dimitrov, esse homem que arrisca a cabeça, esse homem que ama apaixonadamente a vida em todas as suas manifestações, é o único protagonista do drama para o qual convergem as vistas do mundo. Göering, no papel de testemunha, esbraveja, injuria, perde o controle, ordena aos guardas (ele como testemunha) que agarrem o acusado. O búlgaro desafia, antes de se deixar segurar:
“Tendes medo de minhas perguntas, Sr. Presidente?”
Goebbels, outra testemunha, blasona: “Não é a mim que ele fará perder a paciência”. Mas, também desta vez, Dimitrov fica com a razão. Dir-se-ia que ele próprio preparou esse processo, onde arrisca a vida, para dizer à face do mundo essas palavras essenciais:
“Defendo minhas ideias, minhas convicções comunistas. Defendo a razão de ser de minha vida. Eis por que cada frase que pronuncio é, por assim dizer, carne da minha carne e sangue de meu sangue. Cada uma de minhas palavras exprime a minha indignação contra o fato de que um crime tão anticomunista seja atribuído aos comunistas”.
“Diante do avanço do fascismo, o Comitê Executivo conclama todos os Partidos Comunistas a tentarem mais uma vez estabelecer uma frente única com as massas operárias socialistas”.
Dimitrov desmonta também o próprio processo, apontando a incoerência da acusação e a manobra malévola de apontarem como responsável pelo incêndio o comunista holandês de base, há pouco chegado na Alemanha, desempregado, Van der Lubbe. (…)
Obrigados a libertar os acusados, com exceção de Van der Lubbe, os nazistas libertaram igualmente, por pressão da URSS, Dimitrov, que se dirigiu a Moscou. Em 1935, foi eleito Secretário-Geral da Internacional Comunista, em cuja posição permaneceu até a sua dissolução em 1943. Os informes de Dimitrov continuarão modelos de clara análise leninista. Os objetivos que ele propunha ao Partido Comunista e à classe operária da França, no Congresso de 1935, a 2 de agosto, continuam ainda sensivelmente iguais aos que objetivamos:
“Obter a efetivação da frente única não somente no domínio político, mas também no domínio econômico para organizar a luta contra a ofensiva do capital, quebrar, com seu entusiasmo, a resistência oposta à frente única pelos chefes reformistas”.
Em 1920, atravessando a Europa inteira, Dimitrov penetrou finalmente na URSS. No dia seguinte, era introduzido ao escritório de Lênin.
O responsável pelo proletariado búlgaro sentia seu coração bater apressadamente. Noites inteiras ele examinou frase por frase dos escritos desse homem cujos olhos estreitos e cuja fronte imensa pareciam dissecá-lo, penetrar nele. Não houve grandes frases: Fale-me da Bulgária, pediu Vladimir Ilitch.
Dimitrov fez uma exposição veemente e completa: a miséria, as lutas, a união, a força do proletariado búlgaro, parecia-lhe que nada poderia vencer o entusiasmo dos operários, sem a revolução…
“Eu o aconselho a não se deixar arrastar”, disse Lênin lentamente com sua voz sem ênfase.
E se pôs a falar da Bulgária. Dimitrov via se desfazerem suas ilusões, via surgirem as lacunas que ele havia dissimulado; tinha superestimado as vitórias de seu povo, subestimado as forças da reação. A união com o campesinato não estava feita, os campos não seguiam as reivindicações das cidades e os operários na Bulgária constituíam ainda uma parte muito fraca da população.
“A situação pode ainda se agravar”, concluiu Vladimir Ilitch. Depois conduziu seu hóspede, há tanto tempo aguardado, ao Congresso dos Sindicatos Soviéticos. Uma ovação os recebeu.
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Décadas depois desses acontecimentos, suas lições permanecem, alertando e orientando os povos frequentemente ameaçados por forças fascistas recorrentes.
Durante a ditadura militar implantada em 1964 no Brasil, particularmente depois de 1968, quando ela lançou mão do AI-5, brutalizando o tratamento a seus opositores, com torturas, assassinatos e prisões indiscriminadas, forças resistentes, como o PC do B, indicavam a seus membros e aliados, como a Ação Popular, AP, a leitura do livro “O incêndio do Reichstag”, para se armarem da ideia de que, no enfrentamento da ditadura, eventualmente em tribunais de exceção, a melhor defesa é o ataque, sob a forma de denúncia política.
Ainda agora, quando grupos fascistizantes, ligados a Jair Bolsonaro, fazem repetidas ameaças de fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, os democratas de uma maneira geral e os comunistas em particular não devem diminuir a importância dos grandes fatos históricos e não podem perder de vista que a consolidação do poder absoluto de Hitler na Alemanha, nos anos 1930, veio após um incêndio criminoso do Parlamento alemão.
* Este artigo contou com as observações críticas de dois dirigentes comunistas — Haroldo Lima e Luciano Siqueira — aos quais agradeço profundamente.
Referências bibliográficas
Fundação Mauricio Grabois – Departamento de Documentação e Memória
Fundação Dinarco Reis – Fundação de Estudos Políticos , Econômicos e Sociais
The Diary of Gergi Dimitrov 1933—1949, Edited by Ivo Banac, Yale University Press
Autor
Pedro Oliveira
Jornalista e membro da diretoria da Fundação Maurício Grabois e do Comitê Estadual do PCdoB de Pernambuco.
O Coletivizando reproduz a seguir, trecho das obras escolhidas de Dimitrov, volume I, em que o dirigente operário alemão enfrenta no Tribunal Alemão os Ministros Goring e Goebbels, vale a pena:
Aldo Arantes: Frente de esquerda ou Frente ampla? -PCdoB
21 de agosto, 2017
Em Artigo intitulado Frente Ampla ou Frente Popular, Bruno Altman critica a política de Frente Ampla formulada pelo PCdoB.
Por Aldo Arantes*
Cita trecho do documento de preparação do Congresso do Partido onde afirma “é falsa a contradição entre golpistas e anti-golpistas, isso estreita a compreensão do cenário político” e conclui que “Não precisa de muito esforço para entender que essa chave de leitura, potencialmente, acena para a rearticulação, parcial ou completa, do esquema de alianças que prevaleceu nos governos Lula e Dilma”.
De fato aí reside a divergência central de nossas opiniões. Enquanto Altman nega as alianças feitas por Lula e Dilma considero que o erro não esteve nas alianças mas sim em não compreender seu caráter transitório. E, em função disto, não ter se preparado para quando elas não mais interessassem às partes.
As classes dominantes têm à sua a disposição o poder econômico, a mídia e outros aparelhos de formação da opinião pública. Face a esta realidade a esquerda, ao assumir o governo, deve adotar medidas visando se fortalecer para o inevitável embate de ideias entre as políticas e concepções defendidas pelo novo governo. Dentre outras medidas seria importante ter adotado políticas de democratização dos meios de comunicação e realizado debates na sociedade em torno do novo projeto de Nação que estava sendo colocado em prática.
Por outro lado não foram realizadas as reformas estruturais para aprofundar o processo democratização do estado, como a reforma política. Com isto permitiu-se a continuidade de uma representação política à base do dinheiro resultando num parlamento que aprovou o impeachment da presidenta Dilma. Isto porque o Deputado Eduardo Cunha havia comprado cerca de 200 parlamentares.
Pode-se argumentar que o governo não tinha forças para realizar as reformas estruturais. Todavia o empenho foi pequeno e não houve um debate na sociedade sobre a importância das reformas estruturais.
Ao não tomar tais medidas o governo ficou vulnerável à ação golpista. E a sociedades desarmada para entender o que ocorria. Toda grande mídia, apesar de financiada pelo governo, se voltou contra ele.
Em sua argumentação Bruno Altmam afirma que o PT, em seu 6º Congresso, não definiu sua política de alianças afirmando no entanto que “a orientação petista caberia melhor se o enunciado fosse Frente Popular”.
Ao definir o arco de alianças que considera mais adequada ressalta que seria composta pelas “forças progressistas, cujos recortes principais são a atitude frente ao golpe e a postura contra as reformas neoliberais”. E ressalta que seria um “pacto estratégico das correntes populares”.
Haveria que se perguntar: Lula sendo candidato venceria só com alianças dos setores progressistas?
Ora o que o PCdoB propõe é uma frente tática para resolver os problemas do momento a partir de uma análise concreta da conjuntura do país e não uma frente estratégica para reformar a estrutura do estado brasileiro.
Vivemos um momento de profundo retrocesso democrático, das conquistas sociais, políticas e da afirmação das soberania nacional. Para isto foi formada uma ampla aliança de forças entre o grande capital, sobretudo financeiro, a mídia e os partidos que fizeram oposição à Presidenta Dilma. A decorrência desta aliança foi a conquista da hegemonia política e de ideias com o crescimento da direita e da extrema direita.
O país enfrenta um verdadeiro estado de exceção. A Constituição formal tem sido substituída, na prática, pelas regras de interesse do neoliberalismo. O estado democrático de direito está sendo pisoteado. As reformas do ilegítimo governo Temer investem contra os direitos dos trabalhadores e o patrimônio público. Nestas condições o objetivo imediato é a união mais ampla de forças contra esta avassaladora onda antidemocrática e antinacional.
Portanto, a plataforma para enfrentar tal situação tem um conteúdo democrático, social e nacional. Deve incorporar todos os segmentos afinados com a plataforma tática, mesmo aqueles que temporariamente foram ganhos pelo golpe. Ganhar setores de centro e os segmentos menos politizados da sociedade é condição para a retomada da iniciativa política com amplas bases sociais.
Aliás é um objetivo fundamental em todo tipo de luta política: isolar o adversário e ganhar forças que o apoiam. Por isto mesmo, a aliança somente das forças progressistas está longe das necessidades que a luta política coloca no momento.
Acumulando forças, retomando a hegemonia política e de ideias estará aberto o caminho para as reformas estruturais que o país necessita. Querer colocar objetivos para os quais não temos forças necessárias é errar o alvo da luta e retardar a retomada do caminho civilizatório que o país trilhava.
Na Frente Ampla a formação de um núcleo de afinidades de esquerda deverá jogar importante papel. Esta afinidade implica em uma convergência de programas estratégico e tático.
A concepção de que a frente deverá ser das forças progressistas deixa claro que a Frente Popular, defendida pelo autor é, na realidade, uma frente fundamentalmente de esquerda que não atende ao momento político vivido pelo pais. Pois só a esquerda, com uma aliança restrita, não tem condições de abrir novos caminhos para o povo brasileiro.
Apesar da divergência de conteúdo, a forma da crítica foi respeitosa. No passado, muitas vezes as polêmicas entre setores de esquerda foram feitas de forma sectária. Mao Tse Tung destacava a existência de contradições antagônicas e não antagônicas no seio do povo e que elas deveriam ter distintos tratamentos.
Assim há se preservar a unidade em torno das lutas que nos unem. Todavia há que se fazer, sem sectarismo, a luta teórica no sentido de identificar qual o melhor caminho para a luta democrática e popular. Em última instância, será a prática da luta política que se encarregará de esclarecer qual a orientação mais ajustada à realidade.
*Aldo Arantes, deputado Constituinte de 1988. Membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do PCdoB
Aldo Arantes*: União nacional ou Frente ampla? PCdoB
20 de julho, 2017 - PCdoB
Em manifesto o ex-ministro Aldo Rebelo suscita questão de grande relevância para o país, ao situar a soberania nacional como fator essencial na formulação de um projeto de Nação. Mais ainda, nos dias atuais em que a Petrobrás está sendo desmontada, o pré-sal colocado em mãos de capitais estrangeiros, a engenharia nacional sendo sucateada e as terras brasileiras vendidas a estrangeiros. Por outro lado, o texto destaca a necessidade de o país voltar a crescer para enfrentar a desindustrialização e o desemprego. Defende a união de amplas forças políticas, econômicas e socais com destaque especial aos empresários e às Forças Armadas.
Tal formulação, correta em seu sentido geral, deixa, entretanto de levantar, questões decisivas capazes de aglutinar amplas camadas da população, como o Brasil necessita para enfrentar a grave situação que atravessa.
Vivemos num verdadeiro estado de exceção em que a Constituição e o estado democrático de direto estão sendo violados. Em face desta grave situação, o Manifesto aborda genericamente o fortalecimento da democracia afirmando que “as rupturas operadas na ordem institucional geraram um quadro de aguda polarização”. Diz ainda, que a sociedade encontra-se dividida, destacando a necessidade de “tolerância entre os brasileiros”.
Na verdade, como superar a polarização existente no país sem ultrapassar as causas e as consequências do golpe institucional? E aí o Manifesto não se refere ao golpe nem às forças que o financiaram e o apoiaram. Estas são as mesmas forças que praticam a política antidemocrática e de cortes de direitos comandadas pelo ilegítimo governo Temer e não ressalta que a questão central do efetivo fortalecimento da democracia que passa pela afirmação da soberania popular. O caminho democrático para solucionar tais conflitos é a eleição direta para Presidente da República.
Também, ao se referir à necessidade da elevação da qualidade de vida do povo brasileiro e às desigualdades sociais, o Manifesto não se refere à reforma trabalhista, já aprovada e no Congresso e sancionada com graves consequências na vida dos mais de cem milhões de trabalhadores brasileiros. Não cita, também, a grave ameaça da reforma previdenciária aos milhões de aposentados, fatores que conduzirão a um agravamento das condições de vida do provo.
Por isto mesmo, há que se indagar como obter o apoio dos trabalhadores sem se manifestar contra tais reformas que liquidam direitos conquistados com muitas lutas?
O texto não ressalta o papel das mulheres e das minorias, na sociedade e nas lutas do povo brasileiro, especialmente dos negros. Assim, como contar com o apoio das mulheres e dos negros ao Manifesto?
Considero adequado realçar o papel do empresariado e das Forças Armadas, no entanto, é incorreto não dar o necessário destaque a estes importantes segmentos da sociedade e ao movimento social.
Ao ressaltar a necessidade da reforma política o Documento afirma que ela deve libertar “nosso sistema político do controle de interesses corporativos oligárquicos”. Na verdade, uma reforma política democrática deve libertar o sistema político do poder econômico. Foi exatamente visando este objetivo que o Supremo Tribunal Federal, ao decidir a Ação Direta de Inconstitucionalidade relacionada ao financiamento empresarial de campanhas eleitorais, interposta pela OAB Federal, acolheu a sua inconstitucionalidade.
É importante constatar, que os fatos têm demonstrado que o financiamento de campanhas por empresas conduz à composição de um parlamento distanciado dos anseios da grande maioria da sociedade. E que as doações de campanhas constituem a principal causa da corrupção eleitoral. Tais fatos são comprovados pelas inúmeras denúncias de corrupção e pela presença de tão grande número de políticos corruptos no Congresso Nacional. Contudo, não se pode deixar de ressaltar a existência de parlamentares comprometidos com a ética, a democracia e a soberania no Congresso Nacional.
Ao referir-se à história do Brasil, o Manifesto não retrata a importância da luta do povo brasileiro, em particular da luta armada pela independência ocorrida na Bahia, Piauí, com o apoio dos maranhenses e pernambucanos e em outros lugares do País. Omite também em relação às diversas lutas econômicas e sociais ocorridas no curso de nossa história.
Por isto mesmo, a visão nacionalista que perpassa o Manifesto é unilateral. Ao valorizar o papel dos empresários e das Forças Armadas num projeto de Nação não incorpora a complexidade econômica, social e cultural do País e, portanto não ressalta a imperiosidade de incorporar o conjunto das forças sociais para o fortalecimento da Nação. As grandes transformações políticas, econômicas e sociais se fazem, sobretudo, por intermédio do povo.
O texto destaca a necessidade de uma “união de amplas forças políticas, econômicas e sociais”, mas não trata de sérias contradições existentes na sociedade. As experiências históricas comprovam que a união nacional só ocorre quando o País é invadido por um inimigo externo o que não ocorre em nosso País neste momento.
Portanto, a União Nacional defendida no Manifesto pelo Ex-Ministro Aldo Rebelo tem dissintonia com a proposta de Frente Ampla apresentada pelo PCdoB na Resolução que está sendo levados à apreciação de seus militantes, amigos do Partido e da sociedade, como base para os debates preparatórios do Congresso do Partido que se realizará em novembro deste ano. São duas visões do caminho a ser adotado pelo povo brasileiro, portanto dois projetos distintos.
O objetivo deste artigo é fazer uma análise preliminar do Manifesto escrito pelo companheiro Aldo Rebelo.
O que é preciso levar em conta neste momento de gravidade da situação em nosso País, é a necessidade de união e mobilização das mais amplas camadas do povo brasileiro, essenciais para a reconquista da hegemonia política e de ideias, por parte das forças que defendem e lutam pela democracia, pela soberania nacional, pelo desenvolvimento, pelos direitos econômicos e socais e contra as antirreformas. É a alternativa para a retomada do caminho civilizatório interrompido com o golpe parlamentar.
*Aldo Arantes é membro da Comissão Política do Comitê Central do PCdoB. Deputado Constituinte de 1988
Rogério Lustosa: Partidos e democracia para o século 21 - Portal Vermelho
Para marcar o transcurso dos 25 anos do falecimento de Rogério Lustosa, ocorrido em 21 de outubro de 1992, o Portal Vermelho republica seu último artigo publicado na edição 27 da revista Princípios. Lustosa aborda a importância dos partidos políticos para a democracia e a tentativa dos setores conservadores de restringirem a representação política dos diversos segmentos da sociedade. O tema é extremamente atual nestes tempos em que o Estado Democrático de Direito foi gravemente golpeado.
Publicado 20/10/2017 17:06
Rogerio Lustosa - Foto: Arquivo CDM/FMG
De repente uma "descoberta": o espontâneo é mais democrático. E o descompromisso é melhor do que a organização. A campanha contra os partidos tem endereço certo.
“Essa manifestação foi espontânea, os partidos não interferiram". Esse tipo de comentário, com conotação elogiosa, aparece aqui e acolá, principalmente em relação aos recentes protestos dos jovens contra o governo Collor. Promove-se a idéia de que sem os partidos as coisas se tornam mais democráticas. Sugere-se também que sem política os movimentos são mais "puros".
No Congresso Nacional, a pretexto de combater o fisiologismo, corre uma campanha contra o que chamam de "farra partidária", visando a limitar a representação parlamentar a um seleto grupo de legendas.
Como parte dessa onda, aparecem ideólogos com ares de "esquerda", que se aproveitam dos ventos anti-socialistas para pregar a substituição dos partidos revolucionários por agrupamentos gelatinosos, com estruturação frouxa e desprovidos de espírito combativo.
Não há dúvida de que é atrativa a idéia de uma democracia direta, dos indivíduos, sem a intermediação de organizações, de programas e de diretrizes para a atividade prática. Numa conjuntura onde grassa a maré do ceticismo, o apelo de "valorizar a espontaneidade dos movimentos", fora dos partidos e sindicatos, pode sensibilizar muita gente.
Não é necessário, entretanto, muita sagacidade para perceber que só a ação coletiva pode ter força de expressão na sociedade. Não existe como pinçar a idéia bruta, individual, e fazer com que ela interfira nos processos sociais. E a simples soma aritmética de opiniões isoladas não adquire forma definida e nem capacidade de expressão.
Uma corrente de opinião é formada quando existe um mínimo de consciência, resultado de um mecanismo de elaboração complexo, aglutinando e burilando o que existe de essencial em idéias semelhantes e moldando um corpo coerente de pensamento. Só assim um determinado grupo social é capaz de traduzir seus interesses em programas, impulsionar movimentos de massas e agir sobre a realidade social.
A espontaneidade não é capaz de gerar ação coletiva. A não ser explosões sociais ou movimentos fortuitos, de alcance localizado. Isso não invalida que mobilizações com orientação definida, que correspondam aos anseios de amplas camadas sociais, recebam adesão espontânea de enormes contingentes. E que, com isso, multipliquem seu potencial. Os fenômenos de massas sempre representam uma articulação dialética entre o consciente e o espontâneo.
Solapar a atividade consciente fornece ainda mais privilégios aos grandes ricos
As jornadas pelo impeachment de Collor sensibilizaram milhões de pessoas, com papel destacado para os jovens. Grande parte dessa maré humana tinha, certamente, uma compreensão inicial da luta política em curso. Nesse sentido pode-se falar em adesão espontânea. Mas o movimento tinha uma orientação muito clara e sempre contou com o envolvimento declarado de entidades tradicionais da juventude, como a UNE e a Ubes, e dos partidos políticos progressistas.
Os agentes privilegiados para a formação da opinião política, queira-se ou não, são os partidos. Sem uma atividade especificamente voltada para instigar e mobilizar o pensamento social, não se pode esperar que a consciência política se desenvolva – isto é particularmente verdadeiro para os setores sociais alijados do poder, que não contam com os aparatos estatais a seu serviço.
Sem a conformação de correntes de pensamento, as forças sociais não teriam referências duradouras e consistentes, tenderiam a oscilar de acordo com a conjuntura, e a alterar seu comportamento em função dos acontecimentos diários, impotentes para perseguir objetivos em profundidade e em longo prazo. Sem a estruturação da consciência social não se poderia falar em maiorias ou minorias e muito menos em democracia.
Solapar a atividade dos partidos significa, na prática, silenciar os principais mecanismos para a defesa dos interesses de cada setor social, e facilitar a interferência de outras organizações – com objetivos políticos camuflados – na luta eleitoral e na definição dos rumos no país. No capitalismo isso equivale a proporcionar aos grandes grupos econômicos posições ainda mais privilegiadas.
Os exemplos recentes de Collor, que assaltou a presidência fardado de campeão antipolítico, amparado num gigantesco esquema empresarial e em competente encenação na TV, e do bilionário Ross Perot, nos EUA, travestido de "fora dos esquemas", são suficientemente elucidativos. Perot já gastou 16 milhões de dólares na sua campanha e comenta-se que recebeu uma estimativa de 120 milhões para levar a disputa até o fim!
Alguns pregadores das coisas "puras", sem os "políticos", querem adotar as ONGs como substitutas dos partidos. Alardeiam a vitalidade dessas organizações, que englobam milhões de adeptos no mundo, em contraposição aos partidos, que atravessam uma fase de descrédito acentuado.
Mas nessas organizações, tidas como "alternativas", ao lado de conclamações com forte apelo humanitário, estão envolvidos interesses diversos e, em geral, rios de dinheiro. Na Inglaterra – revela Franklin Martins, em artigo recente no Jornal do Brasil – o orçamento anual da Oxfam (dedicada à ajuda ao Terceiro Mundo) gira em torno de 120 milhões de dólares. O autor se refere a 25 ONGs, com receitas anuais superiores a 18 milhões de dólares. E cita uma estimativa de que, em 1986, o orçamento das ONGs dos países industrializados alcançava 4,8 bilhões de dólares! (1).
A escolha por tal tipo de atividade, se encarada como um abandono da política ou como tentativa de fazer política por outras vias, representa um rebaixamento do nível de consciência e de participação das pessoas na solução dos problemas da humanidade. Cada uma dessas organizações é voltada para questões específicas, como defesa do meio ambiente, apoio aos índios e direito ao aborto, que certamente merecem atenção, mas que não podem eliminar a militância orientada por uma visão global da sociedade e para os conflitos em torno do poder.
Democracia sem os partidos ou partidos em busca de outra democracia
Fiona Weir, uma das dirigentes do Friends of the Earth, ao explicar o êxito dessas organizações, diz claramente: nelas "as pessoas não precisam discutir uma série de outros assuntos, sobre os quais não têm e não querem ter uma opinião, como ocorreria num partido político" (2).
Quanto maior for o contingente dos que "não querem ter opinião sobre outras coisas", menor será o círculo dos que tomam as decisões políticas e menor a democracia. A dedicação às questões específicas só conduz a um avanço na consciência social quando traduz uma ampliação dos horizontes, um enriquecimento das preocupações e da participação popular. Caso contrário, é uma fórmula que deixa as oligarquias de mãos ainda mais livres para fazer política a seu modo.
Além dessa valorização artificial das entidades de caráter específico, nota-se o esforço para aproveitar o desgaste real dos partidos e dos "políticos" sem aprofundamento na análise das raízes do fenômeno – e dar uma ajudazinha sutil para abreviar o sofrimento da vítima, anunciando sua morte como inevitável. A edição do JB, citada acima, é um exemplo disso. Colecionando artigos de correspondentes da Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Estados Unidos, Argentina e México e constatando o desamor dos eleitores pelos partidos, o jornal estampa, no título da matéria de duas páginas, uma conclusão que considera "universal": Democracia busca alternativa aos partidos políticos.
Toda a edição da matéria dirige a atenção do leitor para pecados mortais dos partidos burgueses (sem identificar que são partidos burgueses): corrupção, fraudes, ineficiência, luta sem princípios pelo poder. Mas a leitura atenta do texto deixa algumas pistas para um estudo mais rigoroso. Teodomiro Braga, dos EUA, nota a "revolta dos eleitores com dois partidos (Republicano e Democrata) que há mais de um século monopolizam o poder" e registra uma pesquisa em que os eleitores consideram essas duas organizações "muito fora de sintonia". Any Bourrier observa que a corrupção, e "a crise econômica e social" levam ao desprestígio dos partidos na França. Araújo Neto denuncia o "loteamento do poder" praticado na Itália pelas várias correntes da Democracia Cristã.
É meia verdade a declaração de que os "partidos não têm se mostrado à altura dos desafios democráticos do fim do século", como afirma apressadamente o editor do JB. Será que as "democracias" têm correspondido aos anseios democráticos dos povos?
Em outras palavras, será que o fundo do problema não é exatamente o conteúdo cada vez menos representativo do sistema de governo em vigor e, em decorrência, a restrição cada vez maior da própria democracia burguesa e o desgaste dos partidos que a sustentam?
O Estado capitalista, em crise, não consegue mais apresentar-se como instituição protetora "da sociedade" e os partidos da burguesia, que se revezam no poder, já não conseguem dar credibilidade a seus projetos pretensamente "em defesa do povo". A crise econômica, por sua vez, leva os capitalistas – e seus representantes parlamentares – a recorrerem a expedientes à margem do processo produtivo para enriquecer. A corrupção, o narcotráfico e as trapaças na disputa de cargos e favores superam todas as marcas toleradas até mesmo pela moral usualmente "flexível" da burguesia, acentuando a desmoralização das instituições.
A crise do Estado induz, ao mesmo tempo, as classes dominantes a adotarem medidas restritivas para barrar os movimentos oposicionistas. Cada vez mais o poder e seus aparatos se constituem em reserva de um ou dois "grandes" partidos.
O eleitor fica desanimado de votar nos agrupamentos que ganham sempre as eleições e não mudam nada. E se desinteressa também em votar em outros partidos que, pelas regras estabelecidas, não têm oportunidade de alcançar os postos dirigentes. O ceticismo se espalha e provoca o não comparecimento às urnas, o voto branco e nulo.
O vício do processo eleitoral ficou evidente no Brasil nas últimas eleições. Collor chegou à Presidência pilotando uma legenda puramente eleitoreira, o PRN, sem qualquer representatividade e sem programa (hoje seria melhor dizer sem caráter). Os dois maiores partidos do país, o PFL e o PMDB, juntos não somaram 5% dos votos em 1989. Apesar dessa prova de descrédito do eleitorado, em 1990, das 584 cadeiras do Congresso Nacional, o PMDB obteve 133 e o PFL 99.
Além das "máquinas eleitorais", movidas por muito dinheiro, contribuem para esse resultado regras antidemocráticas, que deformam ostensivamente os critérios de representatividade.
Banir a idéia da revolução e manter o condomínio do poder para os confiáveis
Os Estados pequenos, com pequena concentração eleitoral, têm sua bancada federal reforçada pela fixação de um número mínimo de 8 deputados por unidade da Federação. Ao contrário, os que contam com população elevada, têm sua representação achatada pelo limite máximo de 70 deputados na Câmara Federal. O sistema de duas Casas legislativas, com a representação igualitária de três representantes no Senado para cada Estado, reforça a distorção.
O favorecimento dos "grandes" se completa com o sistema de apuração dos votos. O eleitor vota no candidato, mas as vagas nos legislativos dependem de coeficientes de votação alcançados pelos partidos. Com base nessa regra, Jussara Cony, do PCdoB, foi a candidata mais votada no pleito de 1988, em Porto Alegre, mas não foi eleita vereadora porque o seu partido não completou o coeficiente mínimo para alcançar uma cadeira. Enquanto isso, representantes de grandes partidos, que individualmente tiveram votação inexpressiva, foram conduzidos à vereança pela soma dos sufrágios dos demais colegas de legenda.
No cálculo do coeficiente, são computados também os votos brancos, o que eleva artificialmente esse limite e dificulta ainda mais o acesso dos pequenos partidos. Na apuração final dos resultados, os votos brancos são distribuídos pelos partidos que ultrapassaram o coeficiente, numa complexa matemática em cascata, benéfica aos poderosos.
Esse é o jogo que, em nome da democracia, mantém o comando do país nas mãos dos mesmos partidos, cada vez mais incapazes de responder aos interesses da população. Quando o descontentamento popular fala mais alto, alugam-se rapidamente os teóricos que, como o ladrão que grita "pega ladrão", apregoam a necessidade de trocar os partidos por grupos "suprapartidários".
Entra aqui outro componente dessa questão, em boa parte responsável pelo preconceito contra os partidos. A entrada dos trabalhadores na política, desde o século passado, deu origem a um tipo de organização diferente. Além da simples disputa entre grupos das classes dominantes, surgiram partidos portadores de um novo projeto de sociedade, com base nos interesses e pensamentos operários e na crítica radical ao modo capitalista de produção e exploração.
Essas organizações não apenas "representam" uma corrente de opinião, mas também sistematizam e elevam a consciência das massas trabalhadoras. Tornam-se instrumentos decisivos para elaborar planos, definir prioridades e tarefas tendo como norte a revolução social e constituem exércitos da luta política e ideológica, mobilizam as forças do povo em torno de propostas coerentes em curto e longo prazos.
Os partidos comunistas, que tomaram feição mais clara depois da vitória da revolução socialista de 1917, na Rússia, impuseram-se como alternativas viáveis às tradicionais organizações até então construídas pelas classes dominantes.
Ocorre que a revolução sofreu um duro revés, de alcance mundial, com a retomada do caminho capitalista na URSS e no Leste europeu. O socialismo vive uma crise que se arrasta há tempos. Os partidos comunistas enfrentam uma maré adversa e, é forçoso dizer, encontram dificuldades em se renovar teórica e praticamente, de acordo com as mudanças ocorridas no mundo.
Entretanto se a crise do capitalismo e de seus partidos é terminal, fruto de contradições estruturais de um sistema caduco, a retomada do caminho socialista e a reestruturação dos partidos revolucionários são a saída que a realidade reclama para conduzir a humanidade a um novo estágio social.
Ataque ao PCdoB e defesa do PFL a pretexto de combater o fisiologismo
O ataque aos "partidos" em geral tem, portanto, dois aspectos: um, de alcance imediato, relacionado com a redução drástica das oportunidades de contestação ao grupo burguês que ocupa o governo em dado momento, mesmo nos marcos do sistema capitalista, visa a estabelecer um condomínio fechado, privativo dos "grandes" partidos (e, sobretudo, "confiáveis"), em torno das posições centrais do Estado; o outro, de alcance ideológico e estratégico, é a tentativa de tirar de circulação a idéia da revolução – ou aprisioná-la em horizontes insignificantes –, que se traduz, principalmente, no esforço para esmagar o partido comunista e outras organizações de inclinação popular e revolucionária. No entanto, a burguesia encontra obstáculos para produzir argumentos e aplicar seus projetos. Suas dificuldades ficam evidentes, por exemplo, no livro Sociedade, Estado e Partidos, organizado pelo professor Hélio Jaguaribe.
Um dos autores, Amaury de Souza, classifica o Brasil como um caso de "subdesenvolvimento partidário". E comenta: "Gera inquietude no que concerne à governabilidade ou à possibilidade da democracia, um sistema em que prevalecem instituições partidárias impermanentes, fragmentadas e fragilmente organizadas".
Na introdução, o apresentador do texto fala da incompatibilidade do regime partidário e eleitoral, com uma "gestão racional da democracia" e recomenda o chamado sistema alemão, que combina o voto distrital com o escrutínio de lista. Essa indicação vai no mesmo sentido da reforma eleitoral e partidária em andamento no Congresso. O projeto prevê, além do voto distrital, um percentual mínimo de votos para que os partidos tenham direito a disputar postos eletivos, legislativos e executivos.
A análise, entretanto, é conflitante com a proposta, pois o sistema distrital, misto ou não, favorece enormemente os grandes partidos que, apesar de grandes, carecem de bases sólidas, são "impermanentes”, fragmentados e fragilmente organizados".
Os 5% de votos do PFL e PMDB juntos, na eleição presidencial de 1989, já mostravam a inconsistência das bases políticas dos dois "maiores" partidos.
No desfecho do Collorgate, dos 87 deputados atuais do PFL, principal sustentação do rei dos marajás, 64 votaram a favor do impeachment. No PTB, outra fortaleza collorida, o "sim" ganhou 24 dos 30 deputados. No próprio PRN, criado especialmente para a candidatura Collor, 18 dos 28 parlamentares votaram sim. Até o padrinho de Collor, Paulo Maluf, movido pela ambição desmedida pela prefeitura de São Paulo, e outros cargos futuros, levou o reacionário PDS a dar 33 dos seus 44 votos a favor do afastamento do presidente.
Será que agrupamentos de tal tipo, que sempre endossaram as medidas antinacionais e antipopulares do Collor, e que se acovardaram pelo confronto com as multidões nas ruas, merecem, a pretexto de fortalecer a democracia, a proteção especial que o voto distrital lhes assegura? E a posse de fabulosos esquemas eleitorais, apoiados no poder econômico, capazes de eleger bancadas numerosas, apesar de tanta incoerência e oportunismo, justificaria o tal percentual mínimo que garante o monopólio dos postos eletivos para essas "grandes" legendas? A reforma pretendida no Congresso Nacional golpeia em particular o Partido Comunista do Brasil que, apesar de perseguido desde seu nascimento em 1922, resistiu a seis décadas de clandestinidade, tem história, tem programa, é estruturado nacionalmente, conta com uma direção reconhecida e tem uma trajetória coerente. Como o PCdoB, outras legendas com compromissos populares, "pequenas" ou "médias" na disputa desigual que travam com as "grandes", serão também atingidas.
Sob o aspecto do fisiologismo (um dos argumentos dos acusadores da dita "farra partidária"), seria ridículo justificar o combate a essa praga golpeando os comunistas e dando cobertura ao PFL, por exemplo.
Partidos "operários" apoiados nas mesmas bases dos que servem ao domínio burguês
Na ofensiva ideológica, a burguesia encontra aliados entre "defensores da modernidade" com fraseologia de esquerda. Realizam-se verdadeiras acrobacias teóricas no sentido de afirmar que a "forma-partido" está obsoleta e que entra na ordem-do-dia o que se poderia denominar "partido-não partido": agrupamentos sem programa definido, apoiados em compromissos ético-abstratos, nos quais os aderentes não têm compromisso com a atividade prática coletiva. Em suma, grupos amorfos, sem capacidade ou vontade de lutar pelo poder.
Capitulando diante da furiosa "tempestade no deserto" travada no terreno da propaganda, tais ideólogos negam a disciplina partidária e o caráter de combate dos partidos que representam os trabalhadores. Apóiam-se em problemas reais de esquematismo e ossificação, que afetaram o movimento comunista, para defender organizações "de esquerda" estruturadas nos mesmos moldes dos grupos dominantes. Tais teóricos esquecem, ou tentam fazer os outros esquecerem, que a burguesia conta com a máquina do poder e com poderosos meios de comunicação para fazer valer seus interesses e suas concepções.
Os despossuídos, pelo contrário, necessitam de partidos que estabeleçam uma estreita ligação entre seus membros, capazes de enraizar-se profundamente entre as massas e mobilizá-las para enfrentar as tenazes dos aparatos estatais. Não podem deixar de ser organizações aguerridas, habilidosas e decididas a demolir as cadeias dominantes e conquistar o poder.
A existência dos partidos está associada ao desenvolvimento da democracia. No início do século passado não se podia falar de partidos políticos com a conotação adotada atualmente. Existiam apenas organizações muito restritas, ou então blocos parlamentares que refletiam principalmente os conflitos entre a aristocracia feudal e a burguesia. Não tinham como preocupação a mobilização de massas.
A marcha dos conflitos sociais, ao colocar a exigência do sufrágio universal, impôs mudanças na conformação dessas organizações, não como instrumentos propriamente de política de massas, mas como máquinas das classes dominantes para arregimentar contingentes populares em suas disputas pelo poder. Marx assinala, no Manifesto Comunista, que a burguesia "se vê forçada a apelar para o proletariado, reclamar o seu concurso e arrastá-lo assim para o movimento político, de modo a fornecer aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria".
Este desenvolvimento permitiu aos trabalhadores superar o terreno das reivindicações de caráter sindical e construir o seu próprio partido político, independente, para defender seus interesses de classe. Forjou-se assim o elemento capaz de ultrapassar os limites burgueses e criar um regime de tipo mais elevado, onde a "maioria" não apenas seja chamada, de tempos em tempos, a escolher os governantes que a burguesia lhes oferece.
Hoje é a reconstrução de um forte movimento revolucionário mundial, rejuvenescido teórica e praticamente com base na experiência acumulada, que pode fazer frente ao desafio da virada do século: conquistar uma alternativa democrática socialista, virando a página das democracias caducas a serviço do capital.
Ao falar da crise dos "partidos" e tentar camuflar a crise da democracia burguesa, os ideólogos do sistema dominante sabem que é vital para sua sobrevivência evitar que os partidos comunistas dêem a volta por cima e que a saída revolucionária frutifique e galvanize a opinião pública.
Os trabalhadores, por seu lado, já aprenderam que precisam da democracia política, mesmo nos moldes burgueses, para elevar sua consciência política e sua organização e criar condições para as transformações radicais da sociedade. Barrar a reforma eleitoral e partidária em tramitação, de cunho reacionário e autoritário, e desmascarar as concepções liberais, pretensamente inovadoras, faz parte, portanto, da batalha maior por um sistema socialista.
Notas do autor
(1) Jornal do Brasil, 9 de agosto de 1992.
(2) Citado no mesmo artigo de Franklin Martins, no JB.
Bibliografia
DUVERGER, Maurice. Os partidos políticos.
JAGUARIBE, Hélio (org.) Sociedade, Estado e Partidos Políticos.
LÊNIN, Vladimir. Que Fazer?
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista.
*Rogério Lustosa foi Secretário Nacional de Agitação e Propaganda do PCdoB e editor da revista Princípios.
** Artigo publicado na Edição nº 27 da revista Princípios, de Nov/Dez/Jan de 1992-1993
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