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Textos de Combate: Sem perder a ternura, jamais - Paulo Vinícius da Silva - à Venda
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
As difíceis encruzilhadas da vida... - Dilemas na eleição na Câmara - Gilberto Carvalho
Mais uma vez o Partido dos Trabalhadores vê-se numa encruzilhada, devendo tomar uma decisão polêmica que divide opiniões e provoca discussões apaixonadas. No caso de agora se trata de nossa posição partidária na eleição das mesas diretoras e presidências da Câmara e Senado.
Pensando bem, sempre foi assim em nossa construção e o vigor dos debates em torno das decisões constitui uma das pedras fundamentais de nossa cultura e mesmo, diria, de sua solidez. Quanto mais ampla e abertamente debatidas, as decisões tomadas têm chances de serem corretas e ainda fortalecem nossa marca de democracia interna.
Neste sentido, resolvi “colocar a mão no formigueiro”, simplesmente pelo dever de tentar contribuir com o processo, sabendo que minha posição provocará polêmicas que reputo saudáveis e necessárias.
Nestes dias devo confessar, inclusive, que minha posição a respeito desta “encruzilhada” sofreu alterações, justamente em função de uma série de conversas que desenvolvi com companheiras e companheiros, além dos textos lidos.
Vamos ser claros: a posição mais tranquila neste momento, e que eu sustentava até agora, é de que estando numa situação especial de golpe sofrido, é reclamada uma posição mais dura e clara do nosso Partido, declarando que não votaremos em golpistas e tentando assegurar na justiça a ocupação dos postos que, por proporção do número de parlamentares, temos o direito de reivindicar e ocupar.
A imprensa cumpre, como sempre, seu papel nos dividindo entre “principistas” e aqueles que estão loucos para ocupar boquinhas e nomear companheiros desempregados pelo Golpe e pelas Prefeituras perdidas. Vale dizer, não há caminho bom para nós na opinião publicada, que contamina, de maneira muito forte, nossa militância.
As manifestações que nos chegam da militância são, em ampla maioria, por uma posição de nitidez, de afirmar através deste voto o NÃO ao golpe e aos que o construíram.
Há no entanto, algumas reflexões que precisam ser feitas; arrisco algumas:
- É preciso lembrar que esta tomada de decisão é apenas uma batalha dentro de uma guerra ampla que estamos travando contra os verdadeiros autores do golpe, o capital financeiro internacional, nacional e seus lacaios e representantes. Sabemos que os golpistas que estão hoje na proa do processo podem (e já estão sendo) descartados rapidamente na medida em que deixam de ser funcionais ao processo. Quem viu a arrogância de Geddel, Jucá e outros ontem sabe do que estamos falando hoje; além disso estamos assistindo o desespero do Temer em entregar rápida, eficiente e fielmente o “produto” encomendado, antes que os brasileiros tomem ciência e venham as consequências das denúncias demolidoras que já vieram e virão inevitavelmente.
- Para nós, é preciso ter claro que, perdido o Executivo, o Parlamento é a esfera de atuação institucional que nos resta no plano nacional. Por isso, temos advogado a necessidade de uma atuação forte, consequente e muito articulada de nossas bancadas com os movimentos sociais e a sociedade civil.
- Quem conheceu a Câmara e o Senado de nossos velhos e bons tempos, se espanta com a mudança de clima e comportamento das atuais Presidências, seja em relação aos processos internos, numa ruptura progressiva dos métodos democráticos, seja no empenho para barrar qualquer participação popular em comissões e mais ainda nos plenários. A atuação de Renan Calheiros e Eduardo Cunha foram marcadas pela centralização ditatorial, rompendo tradições de convivência democrática e acordos históricos em torno da ocupação dos postos nas Casas. Foi muitas vezes na “porrada” que nossos parlamentares conseguiram deter atitudes ainda piores destes Senhores e permitir, por exemplo o acesso de militantes e dirigentes dos movimentos sociais aos espaços das duas Casas.
O comportamento da Polícia Legislativa Federal, que naturalmente não é inventado por ela, mas dirigido pelos Presidentes das duas Casas, é de uma parcialidade e de uma violência inéditas.
- É verdade também que o Parlamento tem sido palco de derrotas clamorosas e gravíssimas para nós e nosso Projeto. Quando o governo e sua maioria resolvem passar o rolo compressor, o máximo que conseguimos é adiar por alguns dias as duras decisões que estão deformando o País, a Constituição e assaltando o direito dos pobres, realizando um eficaz, violento e rapidíssimo reenquadramento do País no modelo neoliberal mais duro. Portanto não há que ter ilusões de que poderemos ter grande vitórias, com ou sem a participação nossa nas mesas e na presidência ou relatoria de comissões. A verdade é que enquanto o governo Temer derrete perante a Sociedade e fracassa em seu modelo econômico, apresenta, no entanto, um desempenho de vitórias no Legislativo de causar inveja aos nossos melhores tempos. Portanto trata-se de um palco de lutas fundamental nesta Guerra.
- É preciso reconhecer, ao mesmo tempo que os poucos espaços que ocupamos têm sido de grande valor em nossa luta de resistência ao Golpe e golpistas. Basta ver no Senado nossa atuação na CAE (Comissão de assuntos econômicos), na Comissão de Direitos Humanos e Sociais, assim como na Câmara em comissões como a de Direitos Humanos, a de reforma agrária, entre várias outras. A luta verdadeiramente heroica de nossos parlamentares transformou estes espaços em trincheiras de resistência, de denúncia que criaram muitas dificuldades para os golpistas e animaram nossa militância em sua luta. Além disso, é consenso que o desempenho de nossos Parlamentares na luta contra o golpe nos encheu de orgulho e serviu como estímulo incrível à resistência popular.
- Vamos lembrar ainda que neste ano o Legislativo será o campo de batalhas importantíssimas, como a da Reforma da Previdência e Trabalhista, peças chaves na implantação do novo modelo, e que vão atingir em cheio os mais pobres. Sem falar na incrível criatividade da fábrica de Projetos, MPs e PECs em que se converteu o Planalto e suas filiais nas duas Casas, sempre prontas a favorecer o Capital na linha das privatizações, da quebra de nossa Soberania, e perseguição e criminalização progressiva a todos os que resistem a seus projetos.
- Penso que o raciocínio central que devemos fazer é este: como estaremos mais armados e capacitados para fazer o enfrentamento contra o inimigo e contra esta lógica central do golpe? Como teremos mais instrumentos para nos articularmos com a Sociedade e dificultar a passagem deste rolo compressor, no mínimo aumentando o desgaste e fazendo crescer no meio do povo a consciência da natureza real do golpe? Como dificultaremos e tentaremos impedir ou retardar com mais eficácia a atuação dos agentes do Golpe?
- Acho que a resposta é óbvia e a realidade já provou: tendo participação adequada na mesa, presidindo comissões e relatorias, você tem mais condições de impedir e dificultar a marcha golpista.
- A indisfarçável preferência da imprensa dominante para que tenhamos uma posição principista só reafirma esta convicção. Quando desvirtuam nossa luta por espaço democrático como simples busca oportunista de espaço no aparelho é porque certamente para eles é melhor que não os ocupemos e fiquemos apenas nas atitudes declaratórias, de denúncia bem intencionada mas com baixa eficácia real. É preciso atentar para este aspecto.
- Penso ainda que a grande questão é analisarmos primeiro se é possível conquistar estes espaços na base da pressão ou do recurso judicial sem ter que realizar acordos em torno dos nomes da Presidência (até porque são processos separados de escolha e eleição).
- E em segundo lugar, e não menos importante, é a forma como vamos ocupar estes espaços. Esta é uma discussão central, a que não vejo dar-se o devido destaque. Porque é preciso ficar claro que aqueles que os ocupam devem fazê-lo em nome e obedecendo os princípios e determinações do conjunto da Bancada e, por consequência, do Partido. Ocupar tais espaços para se tornar fiador da “institucionalidade e estabilidade” das Casas, de fato não nos leva a nada. Assim como não vale sacrifício nenhum servir-se dos espaços para montar mais e mais aparelhos deste ou daquele grupo. Neste sentido considero extremamente relevante que este debate rompa com a lógica da ocupação do aparelho por correntes internas ou por “personalidades parlamentares”. E o histórico de cada pessoa que se dispõe a uma função tem que pesar nesta hora. Chega de promover quem se aproveitou de nossos coletivos para se projetar e nos abandona no primeiro sinal de crise de nossa viabilidade, como o lamentável episódio da Senadora Marta Suplicy. É preciso assumir compromissos com os objetivos coletivos. É isto que temos que enfrentar de fato neste momento.
- Convenhamos : a situação é grave demais para que nos dividamos entre “principistas” e “oportunistas” e para que brinquemos de divisão de espaços para satisfazer egos ou interesses de grupos.
- Diante deste quadro proponho, sem nenhuma certeza definitiva, mas com forte convicção:
1) vamos realizar o debate dos próximos dias sem posições pré-definidas, definitivas, e vamos evitar alimentar a imprensa com informações ou “impressões” que servem apenas para que eles explorem nossa divisão e fragilidade; vamos ter a capacidade de ouvir a posição do outro, dos outros, sem o preconceito que nos impede de considerar as contribuições que sejam diferentes das nossas. Nessa mesma perspectiva é importante aproveitar os poucos dias que nos restam para ampliar ao máximo o debate interno com nossa militância, buscando esclarecer, demonstrar toda a complexidade da decisão a ser tomada, permitindo o máximo acesso da militância ao debate através das tribunas de redes sociais do Partido e das Bancadas. Sem isso fica difícil para nossa militância compreender todos os elementos que estão envolvidos no debate, e ela tenderá, naturalmente, para as simplificações e rotulações alimentadas pela imprensa do inimigo.
2) Vamos aproveitar o momento e formular coletivamente um projeto de efetiva democratização (ou de combate à tendência autoritária e autocrática) das Casas. O Senador Requião apresentou uma proposta, gravada em vídeo, com pontos muito interessantes para este Projeto, e que merecem ser discutidos por todos nós. Vamos permitir que continuem as arbitrariedades em relação à sociedade civil, ao acesso de grupos organizados às casas? Vamos aceitar as tais “comissões especiais” que cortam o caminho do debate democrático e permitem aberrações como o processo das teles (PLC 79)?
3) Vamos procurar construir a unidade entre as forças de esquerda e centro esquerda. É preciso dar mais organicidade à nossa articulação com nossos aliados, através das lideranças de minoria na Câmara e Senado. No caso de candidaturas à Presidência das Casas de partidos aliados precisamos tratá-las com o maior cuidado, examinando sua viabilidade e seriedade e aproveitar o momento para estabelecer estratégias de unidade e de ampliação de nossos votos pelo menos em temas específicos. Para o governo interessa a atual clivagem estabelecida entre os “pró e contra o golpe.” A nós interessa ir além.
4) Vamos aproveitar o ensejo para enfrentar o debate da unidade de nossas bancadas. O que explica nossa dificuldade em reunir e decidir posições a ser seguidas por todos os nossos parlamentares? O que explica as atuações individuais que se dão ao direito, com muita naturalidade, de contrariar posições tomadas pelo conjunto da Bancada, tendendo a transformar em “cultura” aceita o que na realidade é uma ofensa ao princípio da democracia partidária?
5) Vamos analisar a real possibilidade de assegurarmos os espaços (que considero o essencial), sem a necessidade de compromissos com o voto em candidatos a Presidente do bloco golpista. Devemos buscar aliados na busca da prevalência desta tradição que é coerente com os princípios constitucionais e lutar duramente por este objetivo. Se for possível, estaremos no melhor dos mundos. Só alerto que o recurso puro e simples à via judiciária vai esbarrar muito provavelmente numa das famosas decisões que considerarão o assunto como “interna corporis”, assunto interno das casas, e o judiciário lavará provavelmente as mãos.
6) Se, finalmente, formos colocados ante uma inevitável disjuntiva, ou vota-se numa das candidaturas ou estaremos excluídos dos principais espaços, não tenho receio em opinar que devemos sim negociar com altivez, coletivamente, não apenas para assegurar os espaços, como para obter compromissos definitivos dos novos presidentes com a tomada de medidas que restabeleçam o funcionamento democrático das Casas e o retorno do acesso legítimo do povo à Sua casa. Em função dos objetivos principais destacados, eu corro o risco desta atitude que evidentemente nos trará sim desgastes. É preciso reconhecer isso, com a maturidade de quem trava batalhas e trava a grande guerra. É necessário reconhecer que o Parlamento é um espaço sim da negociação, de se sentar com o adversário, com o inimigo, para se buscar avançar posições no xadrez das lutas. Votar eventualmente num representante do grupo golpista não significa endosso de suas atitudes, e sim, conforme as circunstâncias, constrangê-lo a adotar posições que nossa força real no parlamento e na sociedade nos permitem exigir e impor como condição. O voto popular que determinou a dimensão significativa e a qualidade de nossas bancadas nos determina esta maturidade em nossa atuação.
7) Considerados estes objetivos e princípios, devemos enfrentar o debate com nossa militância, sem medo da complexidade do tema, sem medo das simplificações, e aproveitando para resolver problemas de nossa conduta parlamentar que vêm se acumulando feito cultura estabelecida ao longos dos anos, alguns dos quais, apenas alguns, mencionei acima. Se o fizermos com seriedade, coragem e honestidade, tenho a convicção de que estaremos fazendo o melhor para combater o que é o centro do projeto inimigo e dando uma importante contribuição para a reconstrução de nosso Projeto.
Tenho muita convicção que 17 poderá ser o ano de retomada de um processo que nos permitirá a revitalização do nosso Partido e ao mesmo tempo, nosso reencontro com a Sociedade, especialmente com os pobres. Sabemos muito bem que o fracasso cada vez mais evidente do projeto golpista não fará cair por gravidade em nossos braços o apoio e o engajamento da grande massa traída e progressivamente espoliada por eles. Há possibilidades reais das famosas propostas populistas, “para-fascistas”, mistificadoras, que se consolidam cada vez mais.
Por isso tudo, não podemos perder tempo e aproveitar cada episódio, cada “encruzilhada” para lançar uma pedra a mais na construção do nosso Projeto. Um projeto que traga às maiorias não apenas a saudade dos bons tempos dos nossos governos, mas a esperança e a confiança de que é possível, neste Brasil mergulhado em profunda crise, construir um caminho novo que nos levará à retomada da construção do crescimento com justiça, do acesso aos direitos fundamentais, da plena democracia e da convivência pacífica entre os diferentes.
Com nossa ação unitária, ousada, de irmos ao encontro do povo com muito diálogo, e com a autocrítica de quem se sabe comprometido não com os erros passados, mas com a correção de rotas e condutas, haveremos de conquistar de novo a confiança e o apoio das maiorias que clamam por dias melhores.
Isso é o essencial neste momento. E tudo o que fizermos precisa obedecer à lógica desta construção.
*Gilberto Carvalho* Integrante da Assessoria da Liderança da Bancada de Oposição do Senado.
Nivaldo Santana - A conjuntura da eleição na Câmara e a posição do PCdoB
Nesse contexto complexo, de grande imprevisibilidade política e grave crise institucional, é que aí se realizam as eleições da Câmara. O que está em jogo, na eleição da Mesa, não é a agenda ultraliberal do Temer, e sim regras minímas democráticas para assegurar o funcionamento parlamentar de acordo com a Constituição e o regimento interno.
Marcar posição, ser derrotado e ver bloqueado os canais institucionais de diálogo entre os partidos de oposição e a mesa, fragilizaria a própria luta contra o governo e sua base parlamentar (o principal resultado do erro político que levou à eleição do Eduardo Cunha foi a cassação da Dilma). É a aplicação da velha máxima de buscar explorar contradições entre os inimigos, premissas essenciais da resistência e da acumulação de força.
Não existe acordo programático com quaisquer dos candidatos governistas. A posição do PCdoB numa situação de defensiva estratégica e tática, é ter um mínimo de espaço para lutar pela sua sobrevivência no parlamento, influir, minimamente que seja, na luta contra a tramitação das reformas trabalhista, previdenciária e política.
A posição mais cômoda, e inútil, seria cair no canto da sereia de marcar posição e ser defenestrado, amargar o isolamento político quando nossa missão, ao contrário, é realizar urgentes esforços para construir uma frente ampla em defesa da democracia.
A posição mais justa e avançada, embora as singularidades da luta parlamentar possam gerar incompreensões, é compor com o atual presidente, que, diga-se de passagem, até agora honrou compromissos com o funcionamento da casa.
*Nivaldo Santana é Secretário Sindical Nacional do PCdoB.
PCdoB quer resgatar o papel do parlamento na eleição da Mesa da Câmara - PCdoB. O Partido do socialismo.
PCdoB quer resgatar o papel do parlamento na eleição da Mesa da Câmara - PCdoB. O Partido do socialismo.
O líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Daniel Almeida, emitiu nota nesta quarta-feira(18) sobre a posição da bancada em relação à eleição para a mesa diretora da Câmara dos Deputados. Para o parlamentar comunista é preciso resgatar o papel do parlamento numa situação de acentuada crise do país e com graves ameaças ao estado democrático de direito.
Ass. Lid. PCdoB na Câmara
O líder do PCdoB anunciou posição na eleição da Mesa da Câmara dos Deputados
O deputado Daniel Almeida (BA) afirma que a bancada comunista, que esteve reunida nesta terça-feira (17) com a direção partidária, defende " a constituição de um pacto sincero e transparente entre a maioria e a minoria com o objetivo de resgatar o apel do parlamento". O líder comunista defende que a composição da Mesa "tenha como base uma plataforma mínima que respeite os ritos, o regimento e a pluralidade partidária". A bancada do PCdoB leverá essa posição ao seu campo político e a setores mais amplos, entre eles o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que é candidato à reeleição.
Leia abaixo a íntegra da nota:
PCdoB quer resgatar o papel do parlamento na eleição da Mesa da Câmara
O Brasil vive um momento de grande singularidade. Passa por uma grave crise política, econômica e institucional. O desequilíbrio entre os poderes é grave e traz sérias consequências para o Estado democrático de direito.
Nesse contexto é que ocorrerá a eleição para a Mesa da Câmara dos Deputados.
Acreditamos ser necessário a constituição de um pacto sincero e transparente entre a maioria e a minoria parlamentar com o objetivo de resgatar o papel do parlamento.
Defendemos que a composição da Mesa tenha como base uma plataforma mínima que respeite os ritos, o regimento e a pluralidade partidária do parlamento.
O PCdoB e sua aguerrida bancada se orienta pela defesa do equilíbrio e da harmonia entre os poderes, pela defesa da democracia.
Com base nessa referência democrática, dialogaremos com o nosso campo político e com setores mais amplos, entre eles o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A bancada do PCdoB mantém sua agenda em defesa de uma reforma política plural e democrática e de oposição às reformas da previdência e trabalhista.
Brasília, 18 de janeiro de 2017
Daniel Almeida, líder do PCdoB na Câmara dos Deputados
Sobre a Eleição da Câmara e o apoio do PCdoB à candidatura de Rodrigo Maia - Paulo Vinícius
Li sobre o apoio a JK, com o Amazonas fazendo o meio de campo. Li sobre o apoio ao Getúlio, que liderou o Brasil contra os Fascistas depois de tantos crimes, inclusive contra os comunistas. Li também como erramos com o mesmo Getúlio, antes de sua morte, e a reação do povo. E, depois, como erramos em relação ao Jango, e o que veio depois. E sei quem foi mais consequente no apoio a Lula e Dilma, sem recuar das críticas ao hegemonismo, à política econômica, ao conluio com o PIG, à rendição ao financiamento empresarial, que nos trouxe até aqui.
Lembro da eleição da Câmara após o Aldo - e por consequência o Glorioso PCdoB - ter sido decisivo para deter o Golpe. Deu Chinaglia, por menos de dez votos, para pôr o PMDB no centro do poder, até ter chegado onde chegou. Lembro de quem, lastreado no exclusivismo e no hegemonismo, pavimentou a vitória de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara e nos trouxe até aqui, com a mesma expertise tática de quem não apoiou Tancredo, nem assinou a CF de 1988. Lembro de quem ficou no colo das oligarquias, cujo exemplo de Sarney, no Maranhão, é lapidar, afora as facadas nas costas contra Inácio e Manuela e tantos que não podiam crescer sob o aliado eucaliptino. Lembro de quem "defende" a democracia, mas com cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais.
Lembro de quem deixou a Dilma e o PCdoB sozinhos defendendo as diretas, enquanto era tempo.
E tenho anotado no meu caderninho vermelho os nomes dos golpistas arrependidos do bico vermelho, que esperaram os 49 minutos do segundo tempo para seguir com seu oportunismo de quinta coluna, posando de esquerda.
Então, é do alto dessa sucessão de cagadas que, açulados pela Folha e a Globo, vejo as críticas pseudo-esquerdistas ao PCdoB, que luta pela democracia e pela legalidade, conquistas feitas à sangue e bala, e muita política.
Já dizia o Lênin:
"Fazer a guerra para derrotar a burguesia internacional, uma guerra cem vezes mais difícil, prolongada e complexa que a mais encarniçada das guerras comuns entre Estados, e renunciar de antemão a qualquer manobra, a explorar os antagonismos de interesses (mesmo que sejam apenas temporários) que dividem nossos inimigos, renunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais), não é, por acaso, qualquer coisa de extremamente ridículo? Isso não será parecido com o caso de um homem que na difícil subida de uma montanha, onde ninguém jamais tivesse posto os pés, renunciasse de antemão a fazer zigue-zagues, retroceder algumas vezes no caminho já percorrido, abandonar a direção escolhida no início para experimentar outras direções?"
E também:
"Os partidos revolucionários têm de completar sua instrução. Aprenderam a desencadear a ofensiva. Agora têm que compreender que essa ciência deve ser completada pela de saber recuar ordenadamente. É preciso compreender - e a classe revolucionária aprende a compreendê-la através de sua própria e amarga experiência - que não se pode triunfar sem saber atacar e empreender a retirada com ordem. De todos os partidos revolucionários e de oposição derrotados, foram os bolcheviques que recuaram com maior ordem, com menores perdas para seu “exército”, conservando melhor seu núcleo central, com cisões menos profundas e irreparáveis, menos desmoralização e com maior capacidade para reiniciar a ação de modo mais amplo, justo e vigoroso. E se os bolcheviques conseguiram tal resultado foi exclusivamente porque desmascararam impiedosamente e expulsaram os revolucionários de boca, obstinados em não compreender que é necessário recuar, que é preciso saber recuar, que é obrigatório aprender a atuar legalmente nos mais reacionários parlamentos e nas organizações sindicais, cooperativas, nas organizações de socorros mútuos e outras semelhantes, por mais reacionárias que sejam".
O PCdoB diz que a batalha na Câmara é para assegurar o cumprimento do regimento interno, condições mínimas de disputa da agenda do país, condições mínimas para a defesa da democracia, mantendo suas posições em favor da Nação, da Democracia e dos Trabalhadores. A derrota é a única certeza, e há quem a aspire, achando bonito se lascar, como se tivesse mudado a correlação de forças, os votos na Câmara etc. Não mudou, piorou. Apoio sem pestanejar a posição da bancada do PCdoB em apoiar a reeleição do Rodrigo Maia, sabendo que isso não representa, em nada, compromisso programático, nem ilusões. A Câmara não mudou um voto. O PCC está sendo mobilizado para aprofundar o estado de exceção na cara de pau. Há em curso gravíssimos movimentos que podem nos levar a uma situação coerente com os tempos em que Trump ascende à presidência dos EUA. A soberania tá indo pelo buraco. Se isso não é um quadro de resistência, não sei o que é. E, nesse cenário, bravata não serve de porra nenhuma. 90 anos não são noventa dias. Só lamento, mas em nada me surpreendo, com os estrebuchamentos de quem pôs tudo a perder e posa de sapiente.
O Comitê Central e a bancada contam com meu apoio integral. E é preciso ampliar ao máximo, ter uma tática complexa para um momento tão difícil como esse. O amadorismo e o isolamento são a morte, e essa é uma batalha, uma só, no meio de muitas que teremos de travar para retomar as condições mínimas de uma virada.
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
sábado, 14 de janeiro de 2017
Bill Maher, no programa "Real Time", e as desculpas que os EUA devem ao mundo - Televisão do Mundo
Televisão do Mundo
Golpista Temer muda Palácio do Planalto contra Projeto de Niemeyer e tombamento Poder360
Ex-secretário-executivo da Comissão de Curadoria dos Palácios Claudio Soares Rocha em entrevista ao Poder360.
Senadora Mexicana Layda Sansores manda da Tribuna senadores privatizarem "la puta madre que los parió" - Bravo! - Vídeo do Twitter
A senadora mexicana @LaydaSansores mandando seus colegas privatizarem "a puta que os pariu" é de lavar a alma. pic.twitter.com/99GsS9Ar64— Bruno Ribeiro (@brsamba) 13 de enero de 2017
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
domingo, 8 de janeiro de 2017
Haroldo Lima: Juventude e chacina
O Secretário Nacional de Juventude do Governo Temer defendeu "uma chacina por semana". Disse, sobre a chacina em Manaus, onde morreram 56 pessoas, que "tinha era que matar mais". O Governo Temer disse que essas opiniões "não são as do Governo".
Por Haroldo Lima
Essas opiniões, definitivamente, não são é da juventude de parte alguma do mundo, muito menos da juventude brasileira, que é das mais avançadas do planeta.
Um governo que nomeia para Secretário Nacional de Juventude uma pessoa que pensa assim agride toda a juventude do país, revela ser um governo contra os jovens, além de ser golpista e portanto ilegítimo, como de fato é esse governo de velhos, machos,brancos, ricos, corruptos e incompetentes.
Michel Temer chamou para representar a juventude brasileira em seu Governo, como Secretário Nacional da Juventude, um tipo que poderia ser o Secretário Nacional das Chacinas, se esse cargo fosse criado. Anunciou que o homem que queria mais morte nas chacinas "pediu demissão", ante o escândalo provocado por suas declarações, que o governo concordou, e que vai procurar outro secretário.
É impossível esse governo arranjar uma pessoa que represente legitimamente a juventude no meio dos seus quadros, por ser um governo que nem conhece, nem sabe onde fica, nem respeita os grandes órgãos juvenis brasileiros, como a União Nacional dos Estudantes e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Não tem a menor idéia das justas razões que levaram os estudantes secundaristas brasileiros a ocupar cerca de 1.100 escolas em 22 estados da Federação. Acha que isto é baderna e para resolver esse gravíssimo problema só lhe ocorre uma coisa - usar a polícia.
O secretário que se demitiu, embora ainda não oficialmente, falou em seu ideal de "uma chacina por semana". O governo esclareceu que essa não é sua opinião. Ainda bem.
Mas, nem bem o ano de 2018 começou, e já tivemos três chacinas, mais de uma por semana: a chacina de Manaus, com 56 mortos; a de Campinas, com 12 mortos, 9 mulheres; e a de Roraima, com 33 mortos, a maioria decapitada. É o ódio disseminado em todas, a misoginia divulgada em carta bem escrita do assassino da segunda chacina, a crueldade das decapitações da terceira chacina.
O ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame, especialista em segurança pública, chamou a atenção de outros riscos sérios dessas ocorrências. Como há organizações criminosas funcionando nas cadeias superlotadas, diz Beltrame, existe o perigo dessas barbaridades se estenderem para as ruas. A chacina de Roraima seria resposta do chamado Primeiro Comando da Capital , o PCC, ao que ocorreu em Manaus. E há indicações de que isto estaria se ramificando por países vizinhos.
Por onde se vê que o problema é sério, e é a manifestação dramática, em um ponto determinado - o sistema carcerário brasileiro - da doença que vai corroendo a sociedade como conjunto, com a proliferação de idéias de extrema direita, como o antifeminismo, ( que chama a Lei Maria da Penha de Lei Vadia da Penha), a intolerância religiosa e de orientação sexual, a escola sem partido, a corrupção, o uso de pretenso combate à corrupção para acobertar corruptos-amigos e acabar com políticas de integração social, a perda da auto-estima da Nação brasileira com a entrega de nossas riquezas, com a liquidação de nossa engenharia de grandes obras e sua substituição por engenharia estrangeira.
Precisamos estar atentos á gravidade da crise que nos assola. Não se deixar iludir, nem perder o rumo.
Na Alemanha, numa fase de grande crise, no final da década de 1930, essas idéias de extrema-direita ganharam a cabeça de multidões, que começaram a enxergar, no seu amigo seu inimigo, e no inimigo encapuchado, seu amigo, seu líder. O homem que se apresentou como puro, incorruptível , defensor da ordem e da tolerância zero para os que não eram da raça "pura", ou eram comunistas, ou judeus, ou tinham diversidade de orientação sexual, cresceu, sob palmas torrenciais. Foi Hitler.
*Haroldo Lima - é membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
A crise do macho branco adulto no comando, por Sérgio Saraiva - Jornal GGN
A crise do macho branco adulto no comando, por Sérgio Saraiva
SERGIO SARAIVA
TER, 03/01/2017 - 18:10
O macho branco adulto é um ser em crise e perigoso. Frustrado e inseguro e sob um experimento de manipulação social que só encontra paralelo no nazismo, a violência é sua resposta.
por Sérgio Saraiva
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval”.
São versos de Caetano Veloso para a música “Podres Poderes”. A composição é de 1984. O que talvez explique a citação a padres fazendo o carnaval – vivíamos os tempos da Teologia da Libertação, ainda na Ditadura e antes da Constituição Cidadã de 88.
A sociedade da descriminação
Há uma clara dualidade e antagonismo nesses versos: homens se contrapondo a índios e padres e bichas e negros e mulheres e adolescentes. Os podres poderes se contrapondo ao Carnaval. Claramente também se nota não se tratar de qualquer homem e sim do homem branco, adulto e heterossexual.
Há duas coisas que sempre me incomodaram nesses versos.
A primeira é que Caetano atribui todos os podres poderes a uma minoria: o homem branco, adulto e heterossexual. Mas como negar que é a representação do poder. E de um poder conservador e reacionário como fica explicito nos demais versos da canção.
“Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica
que sempre precisará de ridículos tiranos?”.
Caetano não trata especificamente da questão social, mas se lembrarmos que no Brasil a riqueza tem cor e a cor dela é branca, poderíamos reduzir ainda mais esse círculo de poder. Homem, branco, adulto, heterossexual e de classe média acima.
A segunda coisa que me incomoda nos versos de Caetano é a sua generalização.
Somos a sociedade da descriminação.
Negros discriminam mulheres e homossexuais e mulheres brancas discriminam negros e talvez discriminam mais ainda às mulheres negras. Homossexuais discriminam pobres. Adultos desrespeitam crianças e adolescentes a ponto de ser necessário um estatuto para protege-los. Estatuto que é apontado como a causa da nossa criminalidade justamente pelos adultos.
Sulistas e sudestinos discriminam nordestinos… e por aí vai.
Somos a sociedade da discriminação e ela vai além do homem branco, adulto e heterossexual. Mas o tem como referencial.
E aqui a causa do incômodo: a discriminação contamina as vítimas da discriminação, que também discriminam de alguma forma, o que acaba por justificar a discriminação através um círculo vicioso.
Há que se estudar tal contaminação, já que me parece inescapável que ela contribui para que um grupo tão minoritário – o macho branco adulto detenha o poder.
O macho adulto branco sempre no comando e em crise
Tais divagações voltaram-me à mente por causa de duas tragédias acontecidas no final de 2016 onde estava novamente presente o estereótipo do homem branco, adulto, heterossexual e de classe média.
Em novembro, Goiânia – GO, um homem de 60 anos matou o filho de 20 anos. Motivo do assassinato: o pai discordava a posição política do filho. E mais o quê? Quando pais e filhos não tiveram visões diferentes de mundo? E não somo uma sociedade de filicidas. Um caso isolado de um psicopata?
Na noite de fim de ano, em Campina – SP, um homem de 46 anos matou 12 pessoas da família da ex-esposa. Incluindo a ex-esposa e o filho. Motivo dos assassinatos: disputava a guarda do filho com a ex-esposa e havia perdido na Justiça. Deixou uma carta explicando o ato onde misturava misoginia e ódio político característico da extrema-direita. E mais o quê? Separações podem ou não ser traumáticas, mas não acabam em chacinas. Mais um caso isolado de outro psicopata?
Esse mais “o quê” é a chave para entendermos a crise pela qual passa o “macho adulto branco”.
Ocorre que o macho adulto branco sempre no comando é só uma representação. E cada vez menos válida.
Após a revolução sexual dos anos sessenta do século passado que deu às mulheres o poder de decisão sobre sua sexualidade e capacidade reprodutiva; após a tecnologia dispensar a força física nas atividades de produção e privilegiar a capacidade intelectual; após a inserção das mulheres nas escolas e no mercado de trabalho e até nas forças armadas e de segurança interna que deram às mulheres independência econômica, o macho adulto branco deixou de ser importante por si só para manutenção da sociedade. Tornou-se inclusive dispensável.
Após os movimentos de ação afirmativa de negros e homossexuais, o macho adulto branco está deixando de ser a referência do “normal”. Passou a ter de pensar até nas anedotas com que animava suas rodas de amigos.
Mas o macho branco adulto atual – aquele com mais de 35 anos – ainda se espelha muito na figura do seus pais. E esses ainda refletiam a sociedade anterior à revolução sexual e social no Brasil – “um mundo onde cada um sabia o seu lugar”.
O macho branco adulto atual é um ser em crise. Anacrônico e deslocado. Rebaixado em seus status social. É um frustrado e um inseguro que se transformou em poço de mágoas pronto a explodir. Bastava algo que justificasse sua revolta contra “tudo isso que está aí”.
E essa justificativa veio através da instrumentalização da sua frustração na forma do anti-esquerdismo.
Por que o anti-esquerdismo?
Porque foi a esquerda que modernamente encampou as lutas das mulheres, dos homossexuais, dos negros e sua representação como pobres.
Fora Dilma
Não é difícil perceber o porquê do ódio associado aos governos Dilma.
Mas é interessante notar-se que o macho adulto branco foi também arregimentado.
Quando da domingueiras que pediam o impeachment, a Folha traçou o perfil dos participantes: 57% eram homens – na população são 48,6% – 77% tinham mais de 36 anos e 40% tinham mais de 50 anos; 63% tinham renda de mais de 5 salários mínimo e 13% tinham renda acima de 20 salários mínimos e 77% se declararam brancos.
Alguma dúvida do grau de ódio e intolerância exercidos em tais domingueiras?
Tais domingueiras eram eventos de massa com marketing e público alvo bem definidos. E recurso financeiros para planejamento, divulgação e realização.
O estrato da população alvo dessas ações – o macho adulto branco – foi e continua sendo submetido a um experimento de dominação e manipulação cultural e ideológica que só encontra paralelo no nazismo.
Foi lhe dado um inimigo que seja responsabilizado por todos os seus fracassos e frustrações. E o ódio e intolerância decorrentes foram devidamente justificados. Seriam resultados da revolta dos “homens de bem” contra uma sociedade corrupta. O autoengano é uma poderosa ferramenta de persuasão e convencimento.
Pouco importa se a realidade o negue. Aceitar a realidade seria aceitar seu novo papel na sociedade e este é menor, na sua visão.
Seus heróis não se submetem a nada- são o próprio poder salvador e conservador.
Sob tal nível de pressão, o macho branco adulto é um ser em crise. Rebaixado em seu status social, frustrado e inseguro – mas convencido que sua missão é salvar a nação – a violência foi sua reposta.
Inicialmente a violência praticada contra indivíduos associados com a esquerda – foi saudado como alguém com consciência política. Agora a violência praticada contra a própria família. Essa não encontra saudações – mas uma hipócrita compreensão.
O macho branco adulto é mais um dos problemas que esta Nação tem de resolver em seu processo civilizatório.
PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia matando um leão a cada dia.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
ATÉ QUANDO? - Sobre a tragédia em Campinas - Manoel Olavo
Em primeiro lugar, chama a atenção a ausência de qualquer alteração psicopatológica óbvia na carta deixada pelo assassino. Em termos formais, não se verificam alterações de pensamento, conteúdo delirante, referências à alterações de sensopercepção, desorganização formal da escrita ou linguagem. Nada, enfim, que possa sugerir um quadro psicótico agudo ou crônico. Por sua vez, descartando uma alteração de consciência, observa-se um discurso coerente e bem organizado, típico de uma pessoa com formação cultural relativamente elevada, que busca desenvolver, com argumentos lógicos, uma justificativa para seu ato.
Sidnei justifica a chacina múltipla que cometeu, inclusive do filho e da ex-mulher, seguida de suicídio, como um ato de heroísmo exemplar contra as leis de "um paizeco feito para bandidos e bandidas". A carta é raivosa, mas não é irracional. Na tipologia de suicídios proposta por Durkheim, podemos falar dum suicídio de tipo altruístico. Sidnei seria uma espécie de homem-bomba brasileiro. Um vingador solitário de filme norte-americano, acertando as contas com as injustiças que sofreu, oferecendo um exemplo para a sociedade.
Dois temas percorrem a carta de alto a baixo: a misoginia e o ódio. A palavra "vadia" é repetida dezenas de vezes, como sinônimo de mulher. O aparente enquadramento de Sidnei na lei Maria da Penha e sua proibição de ver o filho, segundo ele, por imposição da ex-mulher, teriam sido os elementos que detonaram a sua "loucura". Para Sidnei: "na verdade, somos todos loucos, depende da necessidade dela aflorar". Mas o que nele aflorou, ao invés de loucura, foi ódio passional de tipo fascista.
Um outro aspecto chama a atenção na carta de Sidnei. Ela nos parece estranhamente familiar. Na realidade, é. A carta é um apanhado de quase todos os lugares comuns do pensamento de extrema-direita que tomou conta do Brasil nos últimos anos. A raiva, a misoginia, o horror ao feminismo, o desprezo à democracia, o discurso fanático anticorrupção, o ódio aos direitos humanos, ao Estado, a intolerância social, a glorificação da violência e dos militares. Está tudo lá. É como se ouvíssemos o discurso de algum coxinha exaltado numa mesa de bar, como se assistíssemos a um programa policial na TV bandeirantes, como se ouvíssemos um comentarista da rádio jovem pan, como se lêssemos os comentários odiosos postados na redes sociais sobre os mais diferentes assuntos. O pensamento de Sidnei, em seu conteúdo, é uma expressão sociológica clara do que nos transformamos, graças à ação de grupos de extrema-direita, visando seus interesses políticos, e ao trabalho diário da grande mídia.
Mais um trecho da carta: "Não tenho medo de ficar preso, além do que eu, preso, vou ter 3 alimentações completas, banhos de sol, salário, não precisarei acordar cedo pra trabalhar, vou ter representantes dos direitos humanos puxando meu saco, também não vou perder 5 meses do meu salário em impostos" - Ao pensar sobre si mesmo na cadeia, Sidnei se atribui todos os jargões de extrema-direita sobre bandidos em penitenciárias (vagabundo, recebe salário, come 3 vezes ao dia, tem defensores dos direitos humanos, etc). Vida boa, enfim. Termina referindo-se a uma ideia do ultraliberalismo norte americano que também predomina no pensamento de extrema-direita que nos invadiu: ele será feliz porque não pagará mais impostos.
Noutro trecho, dirigido ao filho, Sidnei escreve: "Morto também já estou, porque não posso ficar contigo, ver você crescer, desfrutar a vida contigo por causa de um sistema feminista e um bando de loucas" - Aqui, uma pretensa declaração de amor paterno encontra seu grande obstáculo: são elas, "as loucas feministas"; outra ideia onipresente no pensamento de extrema-direita brasileiro. Mais adiante, Sidnei nega sua misoginia: "filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres"; mas acrescenta: "tenho raiva das vadias que se proliferam e muito, a cada dia se beneficiando da lei Vadia da Penha".
A ideia dum país dominado pela corrupção que sustenta os políticos, o que causa todos os seus males e mortes (o clichê dos clichês do fascismo brasileiro) surge no trecho a seguir, junto a uma referência aos "bandidos que matam por um celular": "No Brasil, crianças adquirem microcefalia e morrem por corrupção, policiais e bombeiros morrem dignamente na profissão, jovens de bem (dois sexos) morrem por celulares, tênis, selfies e por idolos, jornalistas morrem por amor à profissão, muitas pessoas pobres morrem no chão dos hospitais para manter políticos na riqueza e no poder".
O ódio misógino sequer poupa uma citação ao impeachment da presidente "vadia" Dilma Roussef, criticando, pelo viés da extrema-direita, a preservação de seus direitos políticos: "Infelizmente muitas vadias fazem tudo de errado para distanciar os filhos dos pais e elas conseguem, pois as leis deste paizeco são para bandidos e bandidas. A justiça brasileira é igual ao Lewandowski (um marginal que limpou a bunda com a constituição no dia que tirou outra vadia do poder), um lixo!" Quem costuma percorrer os meandros das publicações de direita das redes sociais, sabe que esta expressão - "É um lixo!" - é a maior ofensa possível. É outro jargão muito usado pela extrema-direita.
No trecho a seguir, Sidnei exalta o caráter exemplar de seu ato, definindo-se como o herói de uma classe: "Eu morro por justiça, dignidade, honra e pelo direito de ser pai! Na verdade somos todos loucos, depende da necessidade dela aflorar! A vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos, agora os pais quem irão se inspirar e acabar com as famílias das vadias. As mulheres, sim, tem medo de morrer com pouca idade". A violência do seu ato foi, sobretudo, uma ameaça com endereço certo. As feministas que se cuidem. Assim, a violência extrema é apresentada como um recurso legítimo, quando cometida por alguém verdadeiramente corajoso, honrado e ultrajado.
Esta "violência legítima" contra os diversos "lixos" que infestam o país (feministas, bandidos, corruptos, petistas, gays) é moeda corrente no pensamento de extrema-direita que prolifera entre nós. Esta talvez seja a fórmula mais repetida dentre todas. Só a morte nos libertará dos lixos. É fácil, por exemplo, encontrar postagens nas redes sociais dizendo que o erro da ditadura militar foi só ter torturado, e não ter matado todos os comunistas do país enquanto era possível.
A evidência que se coloca diante desta tragédia é o fato dela pertencer não apenas ao homem que a cometeu e às suas pobres vítimas, mas a todos nós. Ela é o produto de um país. Há pelo menos uma década este pensamento doentio, intolerante, misógino, homofóbico, anticomunista, antihumanista, contrário aos direitos humanos, pregador da barbárie e da violência viceja entre nós.
Era uma questão de tempo para um fato como este acontecer, dentro desse caldo de cultura. O ódio, a agressão ao diferente, o ideário fascista, a ruptura dos padrões mínimos de civilidade, a morte como solução estão impregnados em todas as relações sociais e espaços públicos de discussão no Brasil. E também na carta de Sidnei. Seu ato monstruoso alimentou-se do ideário fascista que existe entre nós.
Significativa parte da elite sócio-política e da grande mídia brasileiras tem estimulado este tipo de pensamento, pois ele foi-lhes útil para chegar ao poder pela derrubada de um governo legitimamente eleito, para desmoralizar a esquerda e para obter o que antes não tinham no Brasil: credibilidade social.
Diante de tamanho horror e irresponsabilidade, deixo no ar uma pergunta simples: até quando?
Manoel Olavo - psiquiatra e psicanalista. Visitem meu blog de poesia http://simetria-do-aluviao.blogspot.com/
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