Paulo Vinícius Silva
O encontro chamou atenção pela representatividade e os propósitos ousados que o motivaram. Se a Coordenação dos Movimentos Sociais sempre se viu limitada ao aspecto gremial, pelas organizações que a congregam, o fórum juvenil se fortaleceu por ser fruto de uma mobilização que, liderada pelas entidades estudantis e o MST, tem a presença de juventudes como a União da Juventude Socialista, a Juventude do PT e a Juventude Pátria Livre. Mas não apenas: Consulta Popular, Juventude da CUT, ANPG, Levante da Juventude, UBM e MMM, o Barão de Itararé, a Nação Hip Hop Brasil, jovens ecumênicos, um amplo espectro de organizações que lembra o exitoso Fórum Nacional de Lutas que existiu até começo dos anos 2000 e que tanto contribuiu para a presente situação de avanços sociais e políticos no Brasil.
O que querem as juventudes? Muita coisa, é óbvio! Veja-se a identidade que marcou o encontro quando foi tomando nome o horizonte de mudanças que aspiram. Naturalmente, mesmo sem definição prévia, logo, logo, surgiu na boca dos representantes a palavra secular que ainda fala ao coração: socialismo. É certo que um socialismo com as esperanças e a face da juventude de hoje. Não um socialismo de cátedra, não um socialismo de passado, mas um socialismo feito das bandeiras do passado e do presente, compreendido na luta para avançar os processos de mudança no Brasil e na América Latina, reconhecendo os limites atuais e propondo que, a partir da luta do povo se avancem para as conquistas que governos não podem dar, mas que a mobilização unitária pode atingir.
Deter-se-ão os e as jovens aonde param os governos? Poderão imprimir uma salutar e rebelde pressão para acelerar as mudanças em curso ou serão apenas mais do mesmo? Exercerão seu viés crítico e próprio, ou se manterão nos marcos existentes da mudança que, de tão negociada, é marcada por inaceitáveis continuidades? Não está definido, e a presença de organizações políticas é decisiva para esse tipo de reflexão e para a abrangência final que terá o espaço. Não há dúvidas que foi convocado sob o signo da luta. A juventude tem pressa.
Concretamente, é a defesa da juventude abandonada, sobretudo, o que caracteriza essa união. Uma grande preocupação com a situação da juventude oprimida pela miséria, pelo racismo, pela homofobia, pela super exploração no trabalho, pelo acesso desigual e elitista à educação, pelo machismo e a violência sexista contra as mulheres, pela propagação da intolerância, inclusive religiosa e as ameaças ao Estado laico, pela manipulação das grandes empresas de mídia, pela poluição nas cidades e o abandono das populações do campo que se soma à ausência de uma reforma agrária e a um modelo de desenvolvimento que respeite o meio ambiente e garanta nossa soberania. Como reflexão dos trabalhadores e trabalhadoras, a Juventude da CTB propôs que as organizações ali reunidas incorporassem à sua reflexão a Agenda Nacional da Classe Trabalhadora aprovada por milhares de trabalhadores e trabalhadoras em São Paulo no ano de 2010.
As juventudes reunidas passaram a limpo em poucas horas os principais problemas do desenvolvimento no Brasil e problematizaram como atuar num sentido unitário, como aprender juntas, como ampliar a sua capacidade de intervir na realidade atual. Indignante e ilustrativa da necessidade de uma Reforma Política é o descaso com a a situação da juventude expresso na decisão da Câmara que na noite anterior rejeitara a aplicação de 100% dos royalties do Pré-Sal na Educação. E entre todas as organizações ali presentes não havia qualquer dúvida que a educação é uma bandeira de todos, pilar importantíssimo da emancipação e do resgate da juventude brasileira. Também o encontro foi marcado pela indignação ante os preocupantes dados de assassinatos de jovens negros e da periferia, em especial em São Paulo.
O cenário político é marcado também pela tentativa da direita, desesperada com seu declínio eleitoral, de judicializar a cena política e de criar condições para intervir na cena política sem o mandato das urnas, situação perigosa, como demonstraram acontecimentos semelhantes recentes em Honduras e no Paraguai. Chama atenção sobretudo pela virulência, expressa no intento de atingir o Ex-Presidente Lula, como observou André Tokarski, pela UJS. Assim, a união do povo e da juventude para ocupar as ruas pode assumir aspecto decisivo num futuro próximo, na defesa da democracia e dos avanços conquistados.
Foi ainda um primeiro encontro. E, que decidiram os jovens ali reunidos? Primeiro, seguir juntos. Um calendário próprio permitirá ampliar a integração das agendas e das ideias dessa juventude que buscará superar as especificidades nas pautas em busca de um sentido geral emancipador para sua luta na sociedade brasileira. Nesse sentido, orientou-se que os Estados reproduzissem durante novembro e dezembro essa reunião. A 19 de dezembro está previsto um outro encontro nacional em São Paulo. No dia 20 de fevereiro a esperança é uma Plenária Nacional. E o objetivo inicial é a unificação de grande e variada uma jornada de lutas da juventude brasileira para o mês de março de 2013 com atos de rua e conscientização para sacudir o país.
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