Paraguai: esquerda se divide e dificulta vitória em 2013 - Portal Vermelho
A Frente Guasú, que reúne partidos progressistas e movimentos sociais paraguaios, em reunião realizada nesta quinta-feira (8), escolheu o candidato que disputará as eleições em abril de 2013. Aníbal Carrillo Iramain, do partido Tekojoja, terá o apoio do ex-presidente Fernando Lugo, que foi deposto após um golpe parlamentar em junho deste ano.
Por Vanessa Silva, para o Portal Vermelho
Patricia Vargas
Fernando Lugo e Aníbal Carrillo
No evento de lançamento de sua candidatura, Aníbal afirmou que “com nosso companheiro Fernando [Lugo], demonstramos que na política é possível realizar o impossível. Fomos capazes de fazer o melhor governo da história política moderna do país. O governo de Lugo atendeu os esquecidos de sempre. Essa é a batalha que ganhamos em nosso país. Não podemos seguir dependendo de um futuro sem futuro das propostas dos partidos tradicionais”.
Nas redes sociais, a recepção à notícia não foi positiva. Na página do senador Carlos Filizzola no Facebook, foram diversas as mensagens lamentando a decisão e a divisão da esquerda paraguaia.
Em entrevista ao Portal Vermelho, o parlamentar do Mercosul e dirigente da Frente Guasu, Ricardo Canese, disse acreditar que, com a aprovação social que o governo de Fernando Lugo alcançou, a Frente Guasu vai vencer: “devido aos avanços sociais, com uma popularidade maior que 50%, a expectativa é que na medida em que seja feita uma campanha intensa, apostando nessa popularidade de Lugo, a Frente Guasu irá triunfar”.
Racha da esquerda
Com o racha entre Mário Ferreiro, que rompeu com a Frente Guasu e lançou candidatura própria pelo P-MAS (Partido do Movimento ao Socialismo) e a Frente Guasu, a esquerda e os movimentos progressistas paraguaios estão polarizados.
Na avaliação de Canese, o que está acontecendo no Paraguai hoje é semelhante ao que ocorreu no Brasil quando “Marina Silva, que foi parte do governo de Lula saiu como candidata à parte, e ainda assim teve uma boa votação, o que, no entanto, não impediu que Dilma Rousseff fosse eleita”.
Na avaliação do dirigente, a tendência é que Ferreiro decline de sua candidatura por não ter chance de concorrer com Aníbal, apoiado por Lugo. Mas, avalia que “ainda que Ferreiro continue, esse não será um problema fundamental. A Frente Guasu tem chance de disputar, são oito partidos com impacto social”, avalia.
Reconhecido dirigente social
Aníbal, de 58 anos, é presidente do partido camponês Tekojoja; médico, atua há 40 anos em organizações políticas, lutou contra a ditadura paraguaia e, segundo Canese, “tem uma trajetória muito conhecida. Foi um dos porta-vozes da campanha de Lugo em 2008 e é uma das pessoas que mais defendem essa alternativa política. Durante todo o governo Lugo ocupou cargos de confiança. Esteve, inclusive à frente da planificação da saúde”, que foi um dos maiores feitos do governo Lugo, que tornou a saúde universal e gratuita pela primeira vez no Paraguai.
Governabilidade
Tal como especulado desde a época do golpe, Fernando Lugo irá encabeçar a lista de senadores, chamada de lista sábana. No Paraguai, a eleição para deputados e senadores é pelo sistema de lista fechada. Assim, quanto mais votos a chapa tiver, mais senadores a lista elege. Como a esquerda terá dois candidatos, serão também duas listas de senadores. Espera-se que não seja repetido o mesmo erro da campanha de 2008, quando concorreram 22 listas separadas e por fim, o governo ficou sem apoio, prejudicando a governabilidade. Por hora, compõem a lista de senadores da Frente Guasu: o ex-presidente Fernando Lugo; os senadores Sixto Pereira e Carlos Filizzola e a ex-ministra da Saúde, Esperanza Martínez.
Críticas
“Com a esquerda dividida, não vamos chegar a lugar nenhum. A força política de Lugo ainda é uma incógnita, tem alguma, mas certamente parte desses votos irá para Mário [Ferreiro]. Carrillo não convence, não tem empatia com as pessoas. Mas Lugo tem o dinheiro que fará falta a Ferreiro. Nestas eleições será necessário muito dinheiro. Os Colorados, com Horácio Cartes, vão jogar dinheiro pela janela e os liberais também têm o seu”, afirmou o ex-diretor de Direitos Humanos do Ministério do Interior do governo Lugo e atual Diretor Geral da Verdade, Justiça e Reparação da Defensoria do Povo, em entrevista pelo Facebook.
O paraguaio residente no Brasil, estudante de Relações Internacionais, Léo Ramirez, teme que, “com isso se oficialize, em abril do ano que vem, o enterro político das forças progressistas paraguaias. Isso que acabam de fazer seria mais ou menos ‘uma soma igual a zero’. Quem realmente saiu ganhando nessas negociações foram os Colorados. A esquerda paraguaia mostrou estar em farrapos quando se trata de perspectivas políticas. Lamentável”, declarou.
A avaliação é a mesma do paraguaio residente no Brasil, presidente da Associação de Integração Paraguai-Brasil Japayke, Humberto Jara. Para ele, “é lamentável que a decisão da Frente Guasu não tenha conseguido o intento de unir a esquerda paraguaia, ainda mais numa situação de emergência como vive o nosso país”.
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