1/1/2013, Pepe Escobar, em Russia Today [vídeo e entrevista transcrita e traduzida]
http://www.youtube.com/watch?v=L5SF8pNCaFc
Russia Today: Pepe Escobar é um dos nossos correspondentes estrangeiros prediletos. Olá, Pepe, como vai? Que lindo sorriso, amigo! Feliz Ano Novo, Pepe!
Pepe Escobar: Feliz Ano Novo!
Russia Today: Pepe fala conosco, cada vez, de uma cidade diferente. Você está onde, hoje, Pepe?
Pepe Escobar: London Eye [risos].
Russia Today: Mas, diga, Pepe, por favor. Kofi Annan nada conseguiu. Foi substituído por Lakhdar Brahimi, que parece que pouco está conseguindo. Para onde irá a Síria, afinal?
Pepe Escobar: É muito triste, é muito triste, de fato, para todos, em todo o mundo, porque a principal tragédia geopolítica de 2013 será a principal tragédia geopolítica também de 2012: o estupro da Síria. Vou dizer uma coisa, porque é ‘visual’, permite ver as coisas: há poucos meses, na Suécia, em abril do ano passado, Kofi Annan deu uma palestra, e naquele momento ainda tentava articular algum tipo de acordo na Síria. Mas a palestra, de fato, foi, do começo ao fim, um relato, uma confissão de impotência. Se o próprio Kofi Annan não conseguiu levar todos os atores para uma negociação, sentá-los todos em volta da mesma mesa, até chegarem a algum acordo, sobretudo porque a oposição na Síria não queria acordo algum, é pouco provável que Lakhdar Brahimi consiga mais sucesso, onde Kofi Annan fracassou. Quer dizer: a coisa lá está andando diretamente na direção do que foi a guerra civil no Líbano, e pode durar 15 anos, em vez de alguns meses. É horrível.
Russia Today: O presidente Assad disse que não sairá de lá, quando falou com nosso correspondente em Damasco, há alguns meses. Perguntaram-lhe se tinha medo do futuro. Assad respondeu que não, não tinha medo algum. [A jornalista ao lado intervém:] Ao longo de 2012, praticamente todos os analistas previram que Assad não conseguiria ficar, que não aguentaria. [O jornalista prossegue]. Pois é. Apesar do muito que se disse, o que se vê hoje é que Assad lá está e lá continua. Essa posição do presidente não torna as coisas sempre mais difíceis, não só para a oposição, mas também para os seus seguidores?
Pepe Escobar: A coisa é que não se viram, até agora, as tais fissuras na liderança, que tantos esperavam. Não há deserções nem rupturas de nenhum tipo no centro do poder de Assad. A cada duas, três semanas, ouve-se falar de um desertor de importância secundária, e é o que basta para a imprensa-empresa ocidental pôr-se a noticiar que o mundo estaria desabando sobre a cabeça de Assad, que será derrubado amanhã e, assim, acabou-se a história. Não será derrubado amanhã e a história ainda não acabou. O regime mantém-se em grande parte intacto e operante, De fato, ninguém poderá vencer essa guerra civil. As forças de Assad mantêm-se no controle das grandes cidades. Se alguém conseguir vencer as forças de Assad em Aleppo ou em Damasco, sim, talvez se possa começar a pensar em fim do que se vê lá hoje. Mas, por hora...
Russia Today: Em poucas palavras, que nosso tempo está acabando: o que você acha cabível esperar para o futuro imediato da Síria?
Pepe Escobar: A única possibilidade seria a oposição – se conseguir se organizar para manifestar o desejo dos sírios –, decidir não dar ouvidos aos sauditas, nem aos turcos, nem aos qataris, nem aos norte-americanos, britânicos e franceses. E sentarem-se com o governo de Assad e construírem juntos o projeto de um governo de transição ou, no mínimo, um plano de transição que os leve a eleições livres. Pode acontecer? Acho que não. Não acho que seja provável.
Russia Today: Obrigado, Pepe. Feliz Ano Novo!
Pepe Escobar: Feliz Ano Novo a todos. Feliz Ano Novo.
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