Documentos militares confidenciais encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília, revelam que o ex-deputado Rubens Paiva, tido como desaparecido, na verdade foi executado por agentes do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação do Centro de Defesa Interna) do Primeiro Exército (Rio de Janeiro).
Cláudio Fonteles, presidente da Comissão da Verdade, confirma que deputado foi de fato assassinado após cerca de dez dias de martírio
A informação foi dada pelo ex-procurador geral da República, Claudio Fonteles e coordenador da Comissão Nacional da Verdade em entrevista ao iG , concedida nesta quinta-feira (10). “Ele foi morto por agentes do Doi-Codi”, revela. Segundo Fonteles, a versão oficial contada até hoje é uma “fantasia absoluta”.
A revelação, baseada em documentos oficiais produzidos pelos órgãos de informação do regime militar (1964-1985), desmente duas versões difundidas nos últimos 40 anos: a de que Paiva teria desaparecido em uma suposta operação de resgate pela esquerda ou que tenha sido preso e morto por militares da Aeronáutica. O ex-deputado foi preso em casa, no dia 20 de janeiro de 1971, e levado direto para a sede do DOI-Codi, de onde nunca mais saiu com vida. Fonteles estima que o martírio do deputado durou dez dias.
Os informes e relatórios confirmam também que um dos responsáveis pela prisão, tortura e morte do ex-deputado é o coronel Julio Miguel Molinas Dias, assassinado no dia 1º de novembro do ano passado em Porto Alegre . Na residência do militar, que à época era chefe DOI-Codi do Primeiro Exército, a Polícia Civil gaúcha encontrou documentos indicando a passagem de Paiva pelo órgão.
O procurador Claudio Fonteles afirma que os novos documentos encontrados no Arquivo Nacional podem ajudar a esclarecer definitivamente o caso Rubens Paiva, um dos grandes segredos dos anos de chumbo. Ele vai divulgar um relatório detalhando as informações encontradas nos documentos e que ganham importância histórica por terem sido produzidos pelo próprio regime militar.
Fonteles também lança novas luzes sobre a participação do major Curió na Guerrilha do Araguaia . Curió é tido como o principal agente repressor do período. Mas documentos preliminares apontam que ele não foi o único responsável.
Ele avalia que nesses oito meses de Comissão da Verdade já é possível comprovar que o Estado montou uma estrutura que tinha como prioridade o chamado “paroxismo de segurança” e que o órgão deixará como legado uma cultura democrática, anti-golpista e de respeito aos direitos humanos.
Como ex-membro do Ministério Público Federal (MPF), Fonteles disse que não há qualquer impedimento para que inquéritos contra militares ou agentes repressores sejam abertos após os trabalhos da Comissão da Verdade e defendeu, como cidadão, que todos os crimes ocorridos na Ditatura Militar sejam julgados no futuro.
Fonte: iG
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